quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Resposta a um comentarista anônimo

Num comentário sobre um artigo sobre o cérebro humano e a inexistência do tempo, um anônimo disse:

"De qual tempo você está falando, do psicológico ou físico?
Como você pode dizer que dois eventos são ou não simultâneos se tempo não existe? é o mesmo que dizer que dois corpos estão no mesmo lugar, mas espaço não existe...
Na minha opinião, uma teoria só é boa o bastante se é válida sempre e para tudo, sem qualquer contra exemplo, daí eu te pergunto como você explicaria a deformação espaço temporal devido à presença de um corpo massivo? Como o tempo, assim como a massa e o espaço, são compreendidos da mesma forma nas transformações de Lorentz? Por fim, como você explica o fato da teoria da relatividade inserir o tempo como mais uma dimensão da nossa existência? Ou seja, vivemos num mundo de 4 dimensões, e não de três.
Se tempo não existir, então o GPS não poderia funcionar (são nesessárias correções levando em conta a teoria da relatividade geral, por exemplo). Conclusão: trata-se no artigo acima do tempo psicológico, e não físico!" 

Aqui vão algumas considerações:
Quanto à pergunta (tempo psicológico ou físico) o que o autor se refere é o psicológico. Aquela impressão de que o tempo não passou ou a impressão de que ele voou!
Sem dúvida falar de eventos simultâneos na inexistência temporal seria uma redundância. Todos os eventos serão simultâneos havendo essa inexistência.
Sua declaração de que “uma teoria só é boa o bastante se é válida sempre e para tudo, sem qualquer contra exemplo” me leva a entender que você considera a inexistência de teorias, certo? Digo isso porque até hoje, em todos os estudos que tenho feito, todas as grandes teorias foram invalidadas mais tarde a partir do aparecimento de novas premissas ou da descoberta de novas variáveis.
Um bom exemplo é a física newtoniana que, embora estudada em todos os cursos de física em todas as escolas e universidades, já é sabidamente incorreta em muitos de seus aspectos.
Outro exemplo constantemente em mutação: as teorias de formação do universo.
“As “verdades” que obtemos como a lei da gravitação universal de Newton ou a teoria de relatividade de Einstein, apesar de brilhantes, funcionam apenas dentro de certos limites.” (pg. 25 de Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código da Natureza. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010, de Marcelo Gleiser). E todas são teorias científicas!
Exemplos de teorias que poderão sofrer mudanças: aspectos da teoria da relatividade de Einstein. João Maqueijo, por exemplo, um dos físicos de grande proeminência nas pesquisas atuais, Cientista português radicado na Inglaterra, defende a ideia da velocidade da luz variável e prova isso por meio de teorias da física teórica, mas ainda sem comprovação na física prática. E pelas teorias de Einstein a velocidade da luz é constante.
Quanto ao tempo ser considerado a quarta dimensão, isso realmente é uma prática utilizada por diversos estudiosos. Polêmico seria dar uma opinião conclusiva nesse assunto, já que a própria ciência continua com resultados diferentes, contrários e contraditórios em diversos trabalhos, sejam eles teóricos ou práticos.
Considerando o tempo uma existência, podemos considerar as dimensões em que vivemos com ela (quarta) ou sem ela. Mesmo assim não vivemos em um mundo com três dimensões. Hoje sabemos que existe a possibilidade de estarmos em um mundo de, no mínimo, nove dimensões. O desafio científico é provar essa realidade em laboratório, já que teoricamente existe essa conclusão.
Cada uma das suas outras perguntas deve servir como elemento instigador das pesquisas que concluiram por algo incompatível com elas. Mas sabemos que a ciência funciona assim. Observamos o fato. Analisamos o fato em todos os aspectos que pudermos no estágio atual da nossa tecnologia. Criamos, então, uma teoria para esse fato. O problema é quando alguns cientistas, após elaborarem uma teoria, teimam em considera-la verdadeira para sempre e para qualquer condição. Isso não existe.
Lembre que “(...) não podemos ter certeza se nossas extrapolações estão corretas – e cientistas não deveriam afirmar o contrário – até termos confirmação experimental.” (pg.24 de Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código da Natureza. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010, de Marcelo Gleiser).
O GPS funciona. É fato. Não podemos negar fatos, mas tentar entender se estamos usando uma teoria inadequada para explicá-lo. Então o GPS não parará de funcionar porque o conceito de tempo que utilizamos está errado. A maçã continua caindo da árvore e muitos estudiosos continuam sem ter dúvida nenhuma das razões que a levam para baixo! Mas muitos cientistas ainda não conseguiram entender as razões reais da existência da força da gravidade! Serão eles “burros”? Ou existe, realmente, alguma dúvida a respeito?
Não podemos abandonar uma teoria só porque ela não funciona para explicar alguns fatos. E também não podemos achar que para ser uma teoria válida precisa de comprovação prática. Até hoje a ciência usa o BOZON DE HIGGS e até hoje ninguém descobriu se ele existe mesmo!
Como disse Marcelo Gleiser: “(...) o que importa não é chegar a verdades absolutas, mas ao conhecimento.” Afinal, verdades absolutas estão longe da nossa capacidade de entendimento, mesmo que sejam bastante óbvias! E isso me faz lembrar uma aula que dei sobre humildade, em nossa escola, quando um aluno me perguntou se um cientista, com todo o seu conhecimento, pode ser humilde. Ao que eu respondi: A humildade verdadeira chega exatamente quando o conhecimento começa a se transformar em sabedoria. Enquanto estamos no início do caminho tudo, para nós, é certeza absoluta e contestamos quem nos contradiz. Quando o conhecimento começa a tomar forma é que “caímos na real” e vemos que precisamos das teorias e das conclusões, mas que temos que estar prontos para mudá-las a cada momento em que novos conceitos e novas premissas aparecem.