sábado, 19 de julho de 2014

A índole perversa de uma criança com quatro anos de idade

Abrir um "link" de vídeo, no facebook, e assistir a uma criança de quatro anos cometer frequentes atos de pura perversidade com crianças ainda mais novas, é algo que me deixa perplexo e revoltado!
Talvez alguns de vocês já tenham assistido a algum desses vídeos, onde uma menina americana é mostrada como assassina em potencial.

Pior quando recebemos relatos de colegas, comentando casos semelhantes ocorridos nas suas escolas. Isso mostra que, ou tais fatos estão se tornando mais frequentes, ou a instalação de câmeras de segurança passou a permitir a constatação do que já existia, mas que não tomávamos conhecimento.

Num desses relatos mais recentes, um menino de quatro anos mantém algumas características que precisam de análise:

Ele ainda se diverte, no banheiro, brincando com as  próprias fezes, espalhando-as por todas as paredes;
Ele  mostra comportamento muito agressivo.
Ele tem um irmão mais novo que age da mesma forma.
A mãe está grávida de mais um.

Os comportamentos inadequados existem. A agressividade, infelizmente, está mais comum do que o minimamente aceitável como exceção.  que precisamos, então, é o entendimento básico dessas situações, para tentar reduzir a sua incidência nas comunidades onde estamos trabalhando.

Fica muito difícil partir do zero, ou seja, sem recorrer ao conhecimento já analisado e divulgado por alguns dos teóricos, como Freud, Wallon, Erikson, Piaget, Wygotsky, Richard Dawkins e vários outros. Além disso precisamos, é claro, adaptar essas teorias ao nosso público alvo em seu contexto atual.

Nossas conclusões, mesmo assim, poderão estar incorretas, já que cada criança tem suas particularidades, o que torna algumas delas únicas em sua característica comportamental.

Sabemos, como base psíquica, que todas recebem, no momento da fecundação, uma programação original composta de determinantes genéticos (genes) e determinantes meméticos (memes). Essa herança já pode estar trazendo componentes importantes para o desenvolvimento de anomalias psíquicas e comportamentais.

Os genes continum sendo estudados e, a cada dia, surgem mais descobertas, mas quase todas relacionadas ao desenvolvimento orgânico. É a análise do SOMA.

Os memes (que foram apresentados por Dawkins em sua obra: "O gene egoísta") seriam os responsáveis pela herança culrtural, passada de geração em geração, independente da influência do maio. É a análise da PSIQUE.

Soma e psique, em sua formatação original, são alteradas, a partir da fecundação, pelos diversos fatores externos, muitos durante a gravidez e outros a partir do nascimento.

Violências físicas, sexuais ou mesmo violências simbólicas, são importantes elementos na alteração de toda a programação original e, também, da provocação do momento do disparo de alguma anomalia psíquica pré-existente.

Teremos, então, alguns caminhos a seguir, e eu destaco dois:

Um deles é o entendimento das causas e a análise da possibilidade de elas serem eliminadas ou reduzidas, não somente para reduzir o problema da criança em observação, mas para evitar que outras sofram a mesma influência.

Outro é o processo de tentativa de recuperação dessa criança. Em caso de esses comportamentos serem característicos de neuroses, os caminhos mais adequados são as terapias comportamentais, terapias ocupacionais, terapias psicanalíticas e, principalmente, exercícios de vivências de valores humanos.

Alguns desses procedimentos podem, e devem, ser realizados na própria escola, como as terapias ocupacionais e a vivência de valores humanos, preferencialmente por profissionais de psicopedagogia.

Outros devem ser realizados em atendimento específico, preferencialmente por psicólogos (quando for constatado que o problema é comportamental), ou por psicanalistas (quando for constatada uma neurose), ou por psiquiatra infantil (quando estiver caracterizada, na criança, uma realidade distante do real).

Para saber em que caso a criança se enquadra, é bom que os psicopedagogos da escola tomem o devido cuidado para não entender que todas as crianças devem apresentar o mesmo padrão de comportamento. Isso nunca será verdade!

Há crianças que gostam de brincar com as fezes. Se ela estiver na faixa etária da fase anal (aproximadamente entre um ano e meio e três anos), essa paixão pelo cocô é perfeitamente normal, para desespero dos pais... (Veja as explicações nas páginas 81 em diante do meu livro "Afetividade na Educação - Psicopedagogia"). Só precisamos dar a ela a oportunidade de se lambuzar com argila molhada, por exemplo, o que será mais tranquilo para os pais e substituirá a paixão pelo cocô, com a maior naturalidade.

Esse menino, do relato, já tem quatro anos, mas pode estar ainda nessa fase. A experiência da argila ou coisa semelhante poderá eliminar a paixão pelo cocô.

Se não eliminar, nem essa paixão, nem a sua agressividades, o ato de se sujar (e sujar o banheiro) pode estar sendo o extravasar de um sentimento de sadismo. Esse sadismo pode estar relacionado a alguma violência sofrida quando mais novo (ou que ainda está sofrendo).

Nesse caso se torna necessária a descoberta das origens do problema, ao mesmo tempo em que deve-se encaminhá-lo para tratamento psicológico (em caso de não apresentar sintomas de estar fora da realidade) ou para o psiquiatra infantil (caso haja sinais de estar criando a sua própria realidade).

Mas, lembrem-se, que é muito importante que os terapeutas indicados tenham se especializado em crianças, já que há comportamentos infantis perfeitamente normais que se parecem com alucinações de adultos! Um psiquiatra ou um neurologista não está preparado para entender a mente de uma criança. Para isso existe o neuropediatra e o psiquiatra infantil.

Um dos exemplos  mais claros dessa realidade é a fase em que a criança cria o "amigo imaginário" que, para um olhar psiquiátrico de adulto, constitui um processo de alucinação, mas que para o psiquiatra infantil, não existe nenhuma anormalidade psíquica. É uma criança perfeitamente normal.

E, para fechar essa conversa de hoje, aproveito para reforçar um dos detalhes que considero dos mais importantes no entendimento e acompanhamento de qualquer criança:

Para acompanhar, tratar, ou educar qualquer criança, desenvolva, antes, um verdadeiro sentimento de amor por ela.