Estamos acostumados a estudar todos os tipos de anomalias comportamentais, cada uma com uma classificação diferente, de simples dificuldades a síndromes e transtornos, mas todas trazendo prejuízos incalculáveis ao crescimento intelectual e emocional do aluno. Nossos estudos visam reduzir tais prejuízos a partir do entendimento dessas anomalias e do desenvolvimento de metodologias educacionais apropriadas a cada caso.
Uma delas, entretanto, tem sido ignorada pela maioria dos educadores e pelas famílias, já que a entendem como simples atitude de “revolta adolescente” ou de “apatia intelectual” típica da idade ou coisa parecida. É o “desânimo escolar”!
Esse desânimo faz com que o aluno desista de fazer qualquer esforço para aprender algo, procure sempre fazer algo, na sala, que nada tenha a ver com a aula, resista bravamente a qualquer atividade passada pelo professor ou esteja sempre com ar de cansado e desanimado.
Em casa ele nada faz. Se os pais perguntarem sobre atividades escolares, as respostas variam entre:
- Os professores não passaram nenhuma atividade para casa;
- Os professores não deram nada na aula hoje;
- Já fiz todos os deveres antes de sair da escola, hoje mesmo.
Basta observarmos qualquer sala de aula para identificarmos pelo menos dois alunos com essas características. Dois porque normalmente as atitudes desses alunos podem ser consideradas como “quase contagiosas”. Esse aluno não se sente bem sendo o único em sala a proceder assim. Devido a isso, ele trabalha, até de forma inconsciente, como “sabotador”, levando colegas a adotarem esse mesmo procedimento em sala.
Vamos hoje analisar de forma diferente. Não vamos tentar identificar as causas, mas vamos identificar meios de reduzir e até eliminar essa anomalia, principalmente por ser ela responsável pela maioria dos insucessos escolares, médias baixas, reprovações e, em casos mais graves, decepções emocionais dos pais, alguns chegando ao ponto de “desistir” da educação de seu próprio filho, como já tive a infeliz oportunidade de presenciar.
Temos um caminho simples a seguir, mas que deve ser seguido tanto pelos pais, em casa, como pelos professores, na escola.
Iniciaremos pelos pais:
Não interessa quanto tempo você tem disponível para estar com seu filho. Esse tempo deve ser verdadeiro. Esse tempo deve ser bem aproveitado com assuntos que estejam sempre contribuindo para estimulá-lo aos estudos, pesquisas, trabalhos e lazer programado.
Um dos maiores perigos nessa relação de responsabilidade é achar que o outro é o que deve dar mais atenção ao filho. Nessa relação cada um tem um papel individual importantíssimo e insubstituível. O filho precisa ter a atenção de um e de outro individualmente e em conjunto. Mas precisa de atenção verdadeira, ou seja, que seja mostrado interesse real pelo que ele faz, pelos seus estudos, pelos assuntos que está pesquisando e pelas suas próprias conclusões.
Uma criança ou um adolescente que escreve um texto e não percebe interesse de ninguém pelo que escreveu, começa a ficar desgostoso com seus estudos e pode entrar no processo do desânimo de que estamos tratando.
Assistir telejornais na companhia do filho para discutir assuntos do momento e que podem estar relacionados aos assuntos estudados na escola é uma das formas de reduzir e até evitar esse desânimo.
Dedicar-se a ler a produção diária de seu filho, não para confirmar se foi feito alguma coisa, mas para elogiar suas ideias e sugerir novos questionamentos aos mesmos fatos, é a melhor forma de “vaciná-lo” contra desânimos. Assim você também estará garantindo o seu sucesso.
Em nossa escola você ainda tem a possibilidade de fazer todo esse acompanhamento mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, já que esse contato pode ser feito diariamente pela internet, através do acesso ao BLOG individual de seu filho.
Agora os professores:
Só mesmo alunos muito bem resolvidos em sua vida pessoal e familiar podem conseguir ficar em uma sala de aula ouvindo um professor tagarelar o tempo todo, mesmo que o assunto seja interessante!
Mesmo assim se esses alunos não tiverem capacidade intelectual acima da média, já que para esses a inquietação é imediata e o sentimento de estar “perdendo tempo” pode fazer aparecer toda a sintomatologia de um aluno mal educado, desanimado, hiperativo e tudo o mais.
Uma aula precisa, antes de tudo, ter objetivos mais realistas e menos teóricos. O importante da aula não é o assunto a ser “dado”, mas a forma de entusiasmar cada aluno, na sua individualidade, pela matéria, pelo assunto, pela pesquisa e pelo questionamento sobre o tema do dia.
O ponto básico da aula é o uso de todos os minutos reservados para essa aula, sem “espaços vazios”! Espaços criam expectativas e ansiedades, a princípio, e desânimos perigosos, mais tarde. Os alunos devem sentir que estão sendo úteis para consigo mesmo, durante todo o tempo da aula. Deixá-los “à vontade” não os deixa à vontade. Cria-se uma insatisfação por perda de tempo. Eles podem até “achar” que estão gostando desse momento do nada fazer, mas sentem a “perda de tempo” e começam a ficar inquietos e estressados. O tempo parece demorar mais a passar e a campainha de final de aula fica sendo aguardada com mais ansiedade do que nunca!
Por isso que o planejamento da aula deve prever vários tipos de atividades, principalmente debates em grupo logo após o assunto do dia ter sido explanado, incluindo aí tarefas extras para quem terminar um teste antes dos outros. Um aluno não consegue ficar quieto em sala se não tiver algo importante e útil para fazer.
Visto o ponto básico do uso de todos os minutos, vamos ao entusiasmo do aluno.
Conseguir entusiasmar a todos com a mesma forma metodológica é praticamente impossível. Cada aluno reage de uma forma diferente a depender de suas características próprias.
E a única forma deles expressarem suas características e assim descobrirmos a forma de alcançá-los é deixando-os livres para trabalhar individualmente ou em grupo, assim que o tema principal da aula tiver sido apresentado. A partir desse momento o professor, passeando pelos grupos, começa a procurar entender as características dos indivíduos e dos grupos, podendo adaptar suas metodologias e conseguir melhores resultados.
Querer ensinar o assunto do programa sem procurar descobrir o que cada aluno pode aprender e de que forma ele conseguirá se entusiasmar, é desperdício de tempo e serve apenas para criar um sentimento de incompetência no professor, criando estresse e provocando descontrole emocional e intolerância. Comenius já dizia isso desde antes da didática ser criada no mundo: “Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja” (Comenius, século XVII, na Didacta Magna)
Se cada professor observar esses dois detalhes em suas aulas e se todos os pais passarem a demonstrar interesse pelos assuntos estudados pelos filhos, não haverá alunos desanimados, não haverá médias baixas e não haverá reprovações.
Somos nós os responsáveis pelo desânimo ou pelo entusiasmo dos nossos filhos e alunos. Então está em nossas mãos essa mudança! Mas precisamos todos agir independente do outro estar fazendo ou não a sua parte!
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