A metodologia difundida como sendo de uma “sala de aula
invertida” nada mais é do que uma sala de aula comum onde os alunos, ao
chegarem para a aula, já fizeram uma leitura prévia na véspera.
Aos poucos, essa leitura prévia, a depender das condições de
cada aluno ou da própria escola, pode significar que o aluno assistiu a
vídeo-aulas sobre o assunto, pesquisou em biblioteca física ou virtual, debateu
com colegas em estudos em grupo ou via redes sociais, e tudo o mais que possa
dar a ele uma boa noção do assunto, antes mesmo que o professor o apresente em
sala.
Quando tudo isso ocorre, o momento da aula passa a ser um
momento de debate entre alunos e professor, transformando o tradicional aluno
passivo, característico de uma aula regular meramente expositiva, em um
interessado aluno ativo em uma aula onde o ponto alto é o diálogo
aluno-professor, onde o aluno mostra o que entendeu, permitindo ao professor,
com muito mais facilidade, ampliar a compreensão e garantir melhor
aprendizagem.
Dificuldades de implantação “por decreto”
Diversas escolas têm tentado implantar essa metodologia, ao
longo de muitos anos, mas muitas não tiveram o sucesso esperado, principalmente
por não terem conseguido convencer a totalidade dos alunos a realizarem essa
leitura prévia.
Em algumas universidades americanas a solução foi divulgar a
metodologia e criar turmas regulares e invertidas para que os alunos
escolhessem em qual desejariam se matricular.
Ao final de um período de testes sempre se verifica melhor
aproveitamento entre os alunos que optaram pelo método invertido.
Mas o que se percebe é que esses alunos, mesmo em sala
regular, já trazem o costume da leitura prévia, independentemente de o
professor adotar ou não tal método.
Mais uma vez, então, percebe-se que não houve sucesso,
porque não se conseguiu convencer os demais alunos a adotarem tal processo de
estudo, o que seria uma garantia na melhoria do aprendizado de todos os alunos
de uma instituição.
Então, algo precisa ser feito, para que esse método seja
implantado, mas não “por decreto”, pois já se viu que não dá resultado, mas por
alguma estratégia de convencimento coletivo, que é o que vamos ver no método da
“dinâmica grupal”.
Processo de implantação – conhecimentos básicos necessários
Para analisar a estratégia que mais tem dado certo até hoje
durante todas as experimentações realizadas pelos professores-pesquisadores
ligados ao IUPE, precisamos lembrar algum conhecimento básico sobre o processo
de aprendizagem.
Aprendizagem
Aspectos psicológicos
Toda pessoa precisa estar bem equilibrada emocionalmente
para que o processo de aprendizagem funcione de forma eficaz.
E é importante que todo educador saiba que, para o aluno
alcançar esse equilíbrio emocional, ou seja, estar livre de neuroses, ele
precisa estar satisfeito na sua fase de desenvolvimento orgânico e psíquico.
Como a satisfação correta dessas fases depende da família,
surge a necessidade de ser planejado pela escola um programa de Treinamento
Parental.
Os elementos para esse treinamento podem ser encontrados no
meu livro Afetividade na Educação, da página 77 à página 99.
Aspectos neurofisiológicos
Além disso existem as características naturais de
desenvolvimento, tanto da substância branca como da substância cinzenta, que
são as redes neurais responsáveis por todo o comando cerebral do nosso
organismo.
Em alguns momentos, como na adolescência, a energia
necessária ao desenvolvimento das características sexuais reduz a energia que
antes estava toda direcionada para o desenvolvimento intelectual.
Com isso, o aumento da massa cinzenta no controle de
desenvolvimento sexual pode significar uma redução considerável na massa do
intelecto, a menos que esse aluno esteja com uma boa ativação intelectual por
meio da uma rotina prazerosa de estudos e pesquisas.
Elementos para esse entendimento poderão ser encontrados em
nossos artigos sobre neurofisiologia da aprendizagem no portal IUPE – pesquisas
- artigos.
Aspectos neurológicos
O principal dos aspectos neurológicos são os que mostram
como se dá o processo da aprendizagem, ou seja, inicia com o registro diário
das informações pelas redes neurais localizadas no hipocampo, para mais tarde,
durante o sono, essas informações serem transportadas para as para as áreas
corticais correspondentes, configurando a memória consolidada.
Esse processo pode ser mais bem entendido pela leitura do
nosso artigo neurologia da aprendizagem no portal IUPE – pesquisas – artigos.
Dinâmica Grupal em Sala de Aula
Com esse conhecimento prévio podemos, então, analisar cada
passo a ser dado na implantação, pelos professores, da metodologia de “Dinâmica
Grupal em Sala de Aula”, que é o que vai, de forma muito sutil, levar os alunos
a perceberem que, se fizerem uma leitura prévia dos assuntos dados em aula,
terão muito mais tranquilidade e aprendizagem.
Marketing do assunto (estimular o interesse)
Toda aula deve ser iniciada com um “marketing” do assunto,
para aguçar a curiosidade e, assim, estimular o interesse e despertar a
atenção.
Para isso é sempre bom que o professor esteja se atualizando
com as notícias da semana, principalmente aquelas que são do conhecimento dos
alunos.
Esse marketing deve ser feito em uma linguagem que alcance
todos os alunos da turma, incluindo aí os alunos especiais que porventura
houver na sala.
Divisão da turma em Grupos Operativos
Feito o marketing, parte-se para a transformação do aluno,
antes passivo, agora em ativo, quando ele vai trabalhar, em seu caderno,
respondendo ao roteiro ou questionário ou lista de exercícios, referente ao
assunto, consultando, em grupo, o livro texto.
Para isso os alunos são distribuídos em grupos de trabalho,
uma adaptação dos “Grupos Operativos” criados por Pichon Riviere.
A composição dos grupos deve variar, a depender das
observações do professor, para que se obtenha bons resultados nesse estudo
dirigido. A frequência e a forma de se fazer essa variação vai depender das
características de cada turma e das observações do professor.
Os roteiros ou questionários ou lista de exercícios
A preparação desse roteiro deve ser feita de forma que, ao
responder, o aluno estará mostrando que realmente aprendeu o assunto.
Para isso o roteiro deve abranger a totalidade dos conceitos
apresentados no capítulo ou parte do capítulo do livro, cujo tema seja o
assunto dessa aula.
Havendo aluno especial em sala, seu roteiro deverá ter o
mesmo título, os mesmos desenhos, as mesmas cores, mas as questões deverão ser
preparadas rigorosamente dentro da sua capacidade de entendimento.
Acompanhamento de cada grupo com registro de performance
pessoal
Durante o trabalho dos grupos o professor visita cada um
deles, procurando analisar a performance de cada um, registrando as características
de cada componente dos grupos e identificando dúvidas que possam constituir uma
dúvida geral.
Nesse caso o professor interrompe o estudo de todos os
grupos e chama a atenção de todos para a explicação, agora sim, expositiva, que
ele dará para todos.
Essa é a segunda parte expositiva da aula, mas somente no
momento em que surgirem as dúvidas.
Dessa forma essa parte expositiva terá muito mais atenção de
toda a turma do que as tradicionais aulas expositivas de todo o assunto.
Terminada a explanação os grupos voltam ao seu trabalho
ativo seguindo o roteiro.
Dica sobre explanação de dúvidas
O professor pode, em vez de dar a explicação da dúvida,
designar algum aluno para isso, tornando, assim, a aula mais dinâmica ainda.
“Dica” inclusiva no caso de haver aluno especial
Havendo alunos especiais na turma, uma boa dica para
facilitar a inclusão, é a inserção de uma questão final, no roteiro, que seja
de entendimento geral, inclusive dos especiais, para que todos possam resolver,
de forma lúdica, misturando todos os alunos, sejam eles especiais ou não.
Um bom exemplo foi dado em uma aula de geografia para uma
turma do 8º ano sobre Continente Americano, quando a última questão do roteiro
era um mapa para ser colorido.
Nesse momento todos os alunos foram para o chão,
misturando-se com os especiais, colorindo seus mapas.
Avaliações - Preparação para Sala de Aula Invertida
Pontuação processual em grupo
Em cada uma dessas aulas o professor pode, ao terminar, dar
uma nota para cada grupo e, até, caso em algum grupo tenha um componente sem
muita dedicação, uma nota para esse grupo diferente da nota do componente,
assim estimulando todos ao trabalho.
Lembrem que em todos os cursos de pedagogia e matérias de
licenciatura é ensinado que as avaliações mais eficazes são as avaliações
processuais.
Na realidade sabemos que isso é ensinado e, embora todos os
professores respondam dizendo que suas avaliações são dessa forma, é muito
comum vermos apenas provas padronizadas em dois momentos. Uma no meio da
unidade letiva e outra no final da unidade.
Nessa metodologia as avaliações são, verdadeiramente,
processuais, como todos os professores dizem fazer.
Grupos que demonstraram leitura prévia são reconhecidos
publicamente e recebem maior pontuação
Para começar a estimular os alunos à leitura prévia
(característica principal da escola invertida) o professor pode, ao dar uma boa
nota para um determinado grupo, reconhecer em público que eles alcançaram
aquela nota por terem feito a leitura prévia do assunto trabalhado.
Avaliações individuais tradicionais confirmam a aprendizagem
ou indicam a necessidade de mudança de procedimento
Em diversos momentos devem ser realizados testes ou provas
individuais, com os alunos distribuídos de forma tradicional, para que sejam
verificadas as dificuldades que porventura não tenham sido detectadas durante
os trabalhos em grupo.
Ao detectarmos, por meio dessas avaliações individuais,
alguma discrepância de aprendizagem, é o momento de esses alunos serem
analisados em suas dificuldades para o planejamento de providências
específicas.
Observação importante:
Os professores poderão inserir, em seu planejamento, aulas
lúdicas, debates, jogos, passatempos e diversões, tudo sempre com conteúdo do
assunto da matéria, para evitar que o processo do “aluno ativo” no estudo
dirigido fique muito cansativo.
Essas aulas lúdicas podem servir como uma avaliação por meio
de disputa de grupos, após o estudo e um capítulo de cada unidade letiva, por
exemplo.
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