Em relação aos alunos especiais o que mais se ouve são
detalhes das deficiências, dos impedimentos, da falta de capacidade cognitiva,
da baixa intelectualidade, do mau comportamento, da agressividade, ou seja: Para
quem escuta pela primeira vez, parece que esse aluno é constituído
exclusivamente de problemas em forma de síndromes, transtornos, bloqueios,
dificuldades e patologias!
E como somos acostumados a entregar aos médicos a
responsabilidade pela cura de todos os nossos males, incluindo males que, na
realidade, são da nossa própria competência, como baixa autoestima, preguiça de
realizar atividades físicas, falta de controle com o que come e com o que bebe,
falta de planejamento de uma rotina saudável, e outras coisas, fazemos a mesma
coisa com esse tipo de aluno, e exigimos que a família nos traga o seu “laudo
médico”.
É óbvio que, havendo um acompanhamento médico e que
necessite cuidados especiais na escola, precisamos ter o laudo, ou um relatório
para tomar conhecimento disso e dar a devida atenção.
Mas o nosso foco principal não pode ser a doença, o
transtorno, ou a síndrome já identificada ou diagnosticada, mas sim a atenta
observação e análise de todas as características que possam interferir na sua
aprendizagem, no seu comportamento, no seu estado emocional e no seu
desenvolvimento como um todo, independentemente de qualquer laudo ou
diagnóstico que nos seja apresentado.
Nossos objetivos principais, então, são: a garantia da
aprendizagem; do desenvolvimento de autonomia; e da elevação da autoestima de
cada um dos nossos alunos.
Para isso teremos uma infinidade de metas, entre elas a
cautelosa identificação de todas as características importantes para o seu
desenvolvimento integral, como as percepções, equilíbrio, comando motor,
entendimento geral e capacidade de elaboração.
Para tudo isso há testes específicos e protocolos
pedagógicos, identificando os níveis de percepção e entendimento: visual;
auditivo; táctil; gustativo; e olfativo.
Em audição e visão é importante realizar, também, testes
telemétricos, para identificar possíveis desequilíbrio de lateralidade.
Os testes de equilíbrio e comando motor podem identificar,
desde cedo, anomalias no cerebelo. Hoje isso está aparecendo com mais
frequência em crianças com microcefalia, por exemplo.
Os testes de entendimento podem mostrar bloqueios de
raciocínio lógico ou linguístico importantes.
Aí teremos que nos aprofundar um
pouco mais, mas continua sendo nossa área, a de aprendizagem.
Outra meta, a partir dessa fase de identificação, é o
desenvolvimento e aplicação de metodologias e técnicas didáticas que reduzam,
superem ou até eliminem as dificuldades de aprendizagem.
Nesse ponto, se a dificuldade mostrar sintomas claros de
síndromes, transtornos ou patologias, aí sim, além de continuar o
desenvolvimento e aplicação de metodologias e técnicas didáticas que reduzam,
superem ou até eliminem tais dificuldades, o educador deve preparar um
relatório específico, para encaminhar o aluno para atendimento especializado.
Esse encaminhamento, parte importante das metas do educador,
é crítico, e nunca deve ser realizado sem conhecimento básico da relação entre
os sintomas observados e a especialidade que detenha a devida competência.
Os atendimentos iniciais devem ser realizados,
preferencialmente, pelo psicopedagogo, que analisa se o procedimento está em
sua competência ou o encaminha ao demais profissionais, entre eles: psicólogo,
neuropsicopedagogo, nutricionista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e, na
área médica, o pediatra. O encaminhamento para a área médica deve sempre ser
para o pediatra. A partir dele virão os demais profissionais.
É importante eliminar a tendência de pais e professores em
“diagnosticar” seus filhos e alunos, encaminhando-os diretamente a um
neurologista, por exemplo!
O especialista fica sem a possibilidade de realizar um
acompanhamento mais demorado, e acaba prescrevendo medicamentos ligados ao
sintoma, mas sem condições de analisar as suas origens. Isso, frequentemente,
prejudica mais a criança do que ajuda.
Então, estamos vendo que, até a responsabilidade de
encaminhar corretamente o aluno para acompanhamento terapêutico, é uma das
metas que compõe nosso objetivo principal.
É bom sempre lembrar que o acompanhamento médico ou o
tratamento terapêutico é a parte clínica do processo, que corre em paralelo com
o processo educacional.
A aprendizagem continua, todo o tempo, sob a nossa
responsabilidade, e isso significa que o educador não depende de laudo médico
algum para o desenvolvimento e aplicação das suas metodologias, visando a
aprendizagem e o desenvolvimento do aluno!
O ideal, em todos os casos de patologias mais sérias, é que
o educador, responsável pelo desenvolvimento do aluno, mantenha contato com o
terapeuta, responsável pela parte clínica, tanto para analisar se deve adequar
alguma metodologia, como para dar informações sobre a redução ou não dos sintomas.
É bom lembrar sempre de nossos objetivos. “Dar aula” é uma
parte de uma das nossas metas, mas nunca objetivo! Garantir aprendizagem, sim,
é objetivo!
Por isso que o desenvolvimento de metodologias apropriadas à
realidade de nossos alunos é de suma importância!
Esse detalhe está muito mal-entendido, provoca muita
polêmica e gera um verdadeiro “exército” de sabotadores!
Sabotadores não querem alterar sua metodologia e não se
acham obrigados a isso!
Tais profissionais sabotadores, ao receberem alunos especiais
em suas turmas, quando muito acabam concordando em “acolhê-los”, deixando-os
“depositados” em um canto da sala e, mesmo assim, ainda acham que estão fazendo
um grande favor ao aluno e à sua família.
Voltando às nossas metas vamos proceder, então, a
observação, identificação e análise do nível de inteligência e da capacidade
cognitiva existente em cada um dos alunos, sejam eles especiais ou não, já que
precisamos disso para garantir a realização de nossa missão principal.
Nessas nossas observações, nosso interesse estará na
inteligência existente (sempre há), no conhecimento já adquirido, nas
habilidades potenciais ou em desenvolvimento, ou seja, em toda a parte positiva
ligada ao seu processo de aprendizagem.
Um detalhe primordial, mas frequentemente esquecido por
muitos professores, é a necessidade de se encontrar o “ponto de entendimento”
do aluno naquela matéria ou naquele assunto.
Nunca teremos sucesso na realização de nossas metas rumo ao
objetivo principal, se ignorarmos o tal “ponto de entendimento” do aluno!
Tentar ensinar a um aluno algo além de seu ponto de
entendimento é total “perda de tempo”. Seu cérebro jamais conseguirá acompanhar
o raciocínio de quem explica e, muitas vezes, isso faz com que o cérebro do
aluno seja totalmente bloqueado para qualquer outro tipo de entendimento
naquela matéria, ou até nas demais!
Com isso traçamos, imediatamente, os principais objetivos da
educação responsável, que são:
Proporcionar a aprendizagem real de todos os alunos;
Desenvolver e estimular a intelectualidade, o conhecimento e
as habilidades para que ele alcance a sua autonomia, com autoestima elevada;
Prepará-lo para uma convivência social saudável e produtiva,
juntamente com a formação do caráter.
Traçados os objetivos poderemos desenvolver, com
tranquilidade, todo o nosso trabalho.
Mas é importante que, a cada dúvida sobre a atividade a ser
apresentada ao aluno, sobre a forma de estimulá-lo ou, principalmente, sobre a
forma de avaliar seu desempenho, voltemos sempre a análise dos objetivos, para
termos certeza de que não estamos fugindo deles!
Refletir sobre isso é fundamental para desenvolver a nossa própria criatividade, e para que nosso trabalho seja muito mais eficaz.
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