P: Fui demonstrar meus sentimentos e perdi a amizade forte
que eu alimentava como sendo a mais importante de toda a minha vida. Por que
isso acontece? Perdi a vontade de viver. Perdi toda a minha motivação.
Vamos refletir sobre isso e recuperar a estabilidade
emocional perdida?
Há dias em que nada deve ser lido nem respondido. Hoje é
esse dia. Não se deve ler mensagens, nem responder a ninguém. Hoje é um dia importante
para refletir sobre a verdade, mas sem interferências emocionais nem afetivas.
Sempre há muita dúvida no ar. São frequentes as indefinições
e a confusão nos sentimentos. Emoções palpitam sem parecer ter sentido. Há
vazios no coração. Há palpitações no meio do vazio. Há, por vezes, uma mistura
de tristeza pela falta do que não havia, mas que montamos em nossa mente como
se tudo fosse real.
Há sensações de alegria pelas recordações de momentos que podem
ter sido verdadeiros, ou apenas parecerem verdadeiros. Há um momento em que se
descobre que muitas dessas coisas não foram reais.
Foram ilusões
convenientemente programadas por nós mesmos.
Temos sempre certeza de que provocamos algo bom no coração
do outro, mas será verdade? Há corações duros. Há corações insensíveis. Há
sempre uma dúvida no ar. Há dúvida sobre a verdade na emoção demonstrada. Há, por
vezes, a constatação de que não havia reciprocidade na emoção demonstrada. E as
pessoas sentem necessidade de sentir reciprocidade. Cria-se a sensação de que
está havendo reciprocidade. Autoengano criando uma alegria artificial. Uma
alegria artificial e superficial, frágil, pronta para trazer auto decepções.
O outro, como objeto da emoção, pode, mesmo sem saber que
está fazendo isso, demonstrar, artificialmente, um retorno, um reconhecimento,
uma aceitação. Mas isso pode ser apenas uma acomodação aos sentimentos
recebidos, mas não absorvidos completamente.
Embora sentimento forçado sempre dê pistas, essas pistas só
são percebidas por quem as quer ver.
Muitas vezes somos cegos por conveniência.
A mente pode nos enganar, e ela faz isso com muita propriedade, com muita
técnica.
As neuroses são fruto exatamente dessa técnica que,
escondendo de nós mesmos, os motivos que nos levariam ao sofrimento, provocam a
explosão das neuroses, trazendo sofrimentos ainda maiores.
Esse ponto é mais um desentendimento entre o aparelho
psíquico e a minha compreensão do todo psicanalítico.
A verdade escondida não afasta o sofrimento, mas o transfere
para mais tarde, quando a energia do escondido se alimenta das emoções e toma
corpo, procurando extravasar de alguma forma.
Relatar o que sente é a válvula de escape para reduzir a
intensidade dessa energia catexizada. Mas não a elimina. A eliminação da energia
só se dá quando ela é extravasada completamente, e isso significa chegar a
verdade.
Mas a verdade nem sempre é bem aceita! Muitas vezes o outro
tem conhecimento da verdade na relação e nos sentimentos, mas não quer aceitar
como sendo real. Prefere alimentar uma relação pela metade, sem grandes
envolvimentos sentimentais, talvez pelo medo de um envolvimento mais forte.
Mas a mente não para e, a cada momento vivido, intensifica a
energia da emoção escondida, sendo contida, a duras penas, pelo Ego.
Um dia a mente decide extravasar! A verdade surge clara e
límpida! A energia é liberada! É um momento de forte emoção, mas de verdadeiro
alívio. É um UFA! Falei!
Aliviou uma mente, mas mostrou uma verdade que pode ser bem
recebida ou mal recebida, a depender do estado da emoção e dos sentimentos do
outro.
Se o outro estiver apenas acomodado a um relacionamento
intermediário, haverá um choque! Haverá uma sensação de perplexidade, espanto,
talvez até irritação, confusão de ideias e pensamentos, necessidade de
afastamento, de solidão, de mergulho profundo na mente. É o momento do AFFF!!
Na realidade não há engano. Há a construção de uma ideia
inexistente de um amor pela metade, mas que, a partir da declaração do outro,
cai a ficha! A metade só existe na mente de um. Na do outro o amor é real e
ilimitado. Um conseguiu declarar. O outro sentiu como ato perverso, como se
houvesse um desejo incorreto, perverso, maldoso, malicioso e mal-intencionado,
ao ponto de surgir um trauma muito forte! Um trauma com consequências
psicológicas muito fortes.
Pode surgir, então, um verdadeiro choque emocional, acabando
com toda uma ilusão de amizade. Pode ser interpretado como se a amizade tivesse
sido traída por um desejo inconveniente. Mesmo que tenha havido, durante todo o
relacionamento, a confissão de amor.
Mas a palavra amor está sendo tão mal utilizada que não se
sabe mais qual o seu significado verdadeiro. Ao dizer amor, as pessoas sentem
afeição simples ou apenas atração física ou até sexual, mas nada completo nem
real. Não se sabe mais o que é amor de verdade. Não se conhece mais amor sem
limites, o amor em que tudo é permitido, porque tudo faz parte da totalidade do
ser, como um ser de emoções e sentimentos.
Um ser que foi criado para gerar amor, adquirir conhecimento
e compartilhar tudo isso pelo verbo.
Nada há de mais importante na nossa vida.
Mas esses momentos são bons para dar um alerta aos
sentimentos enganados. É sempre bom estar “na real” para não ter que “cair na
real”.
A lição começa com o amar a si mesmo. O amor que sentimos
tem que ser considerado como nosso, mesmo que sintamos a sensação do amor
mirando uma imagem que não a nossa. Essa imagem tem que ser absorvida como um
alimento para nosso próprio EU, em forma de admiração pelo perfeito, em forma
de admiração pela obra, em forma de admiração pela natureza, mesmo que essa
natureza seja uma outra pessoa.
A emoção que surge como uma atração física ou sexual deve
ser encarada como uma forma de nos manter vivos na alimentação do amor
interior. Uma forma de nos manter ativos na capacidade de criar e desenvolver o
amor que devemos sentir por nós mesmos, mesmo que usando a imagem do outro, mas
como parte de nós mesmos.
Embora isso faça surgir o narcisismo e o egoísmo,
considerados como negativos por muitos, são ambos sentimentos necessários à
construção do caráter altruísta. Não há como ser altruísta sem que se tenha um
forte alicerce de felicidade, de amor interior, de alegria interior, de
capacidade de compartilhar. Só se compartilha aquilo que se tem.
É sempre bom “estar na real” para estarmos preparados para
amar a nós mesmos antes de compartilhar esse amor com outra pessoa.
Fazer planejamentos de vida com total dedicação ao outro,
como se só a felicidade do outro lhes interessasse, e como se a sua felicidade
dependesse de fazer a felicidade do outro, pode ser o caminho para nossa
anulação total, como pessoa.
Estaríamos desperdiçando toda a nossa capacidade de sentir
prazer por estar vivo, em primeiro lugar, por ser quem somos, em segundo lugar,
e de ter o que temos, em terceiro lugar.
Afinal, todos nós somos um ser, cuja missão principal é
gerar amor dentro de nós mesmos e de adquirir conhecimento, a cada dia, para
podermos compartilhar, com todos os que convivem conosco, construindo uma onda
de felicidade que, aos poucos, transformará esse nosso mundo, a começar pelo
nosso grupo social.
Pode parecer exagero, mas não é! Nosso poder começa
individualmente, mas aos poucos se multiplica.
Não podemos parar.
O amor é o alimento. O conhecimento é a estrutura mental. A
felicidade é o resultado elaborado de todo esse processo.
Para quem tem o meu quarto livro “O Menino dos Jornais”,
leia as seguintes reflexões:
Angústia e reconstrução da vida – pg 163
Reflexões sobre o sentido da vida – pg 171
Reflexões sobre a angústia no relacionamento amoroso – pg
179
Amor adolescente: mistérios da atração afetiva – pg 185
Leiam, reflitam, e vamos conversar...
Forte abraço!
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