HUMILDADE NA CIÊNCIA, mais que virtude, é condição essencial
para evitar a estagnação do conhecimento humano.
Várias estradas são trilhadas pelos trabalhadores em
ciências.
Ao longo de toda a minha vida nesse campo, tenho observado
três delas, com muita atenção.
Primeira estrada
Vamos chamar de primeira estrada aquela por onde trilham os
aficionados pelo entendimento do já sabido e pela descoberta do novo.
Esses longe de discriminar conhecimentos, os buscam onde
estiverem, tanto dentro como fora da academia.
Eles tanto ouvem os Doutores em suas respectivas áreas, como
registram e analisam o conhecimento passado de pai para filho pelas avós,
pajés, xamãs ou curandeiros, nem que seja para, mais tarde, contestar alguns
desses conhecimentos.
Esses assumem que é da análise do conhecimento, venha de
onde vier, que podemos vislumbrar trilhas nunca antes imaginadas pela nossa
limitada capacidade de entendimento do ainda misterioso ser humano, do
misterioso universo em que vivemos e, mais ainda, da nossa própria existência.
Esses impulsionam o conhecimento do mundo.
Segunda estrada
Numa segunda estrada estão os que batalham, também
arduamente, pela evolução do conhecimento, mas fechados dentro dos limites do
“academicamente correto”, limitando seus horizontes aos conhecimentos já
publicados pelos colegas, após as célebres conferências por pares.
É óbvio que as conferências por pares são extremamente necessárias,
é claro, para que o publicado tenha sido conferido e aprovado por pesquisadores
de credibilidade.
O que limita, a meu ver, a velocidade na expansão desse
conhecimento, não é só o desprezo pelo senso comum, pelo conhecimento milenar
não acadêmico, pelo conhecimento adquirido pelas culturas indígenas,
aborígenes, xamânicas e todas as demais.
O que mais limita é o desprezo pelos desenvolvimentos fora
do tradicionalmente aceito, como aqueles ligados aos efeitos psicossomáticos,
ao trabalho independente do cérebro na manutenção de um equilíbrio homeostático,
sem interferência externa alguma, o desprezo em relação ao que seria o tal do
efeito placebo, como se nada disso existisse.
Ignorar evidências, só porque ainda não podem ser explicadas
pela ciência acadêmica não me parece um bom caminho para o crescimento do
conhecimento.
Terceira estrada
Nessa estão os trabalhadores da ciência, médico, engenheiro,
farmacêutico, psicólogo, pedagogo e todos os demais, que aprendem a utilizar os
conhecimentos publicados para a sua atuação no dia-a-dia. Essa estrada possui diversas
trilhas. Vamos analisar duas delas:
Primeira trilha
São os que estão aplicando o que aprenderam, mas reservando
um tempo diário ou semanal para investir na atualização desse conhecimento,
estudando em todas as fontes disponíveis, sem desprezar nenhuma.
Esses são os que mais colaboram para o avanço do conhecimento
mundial porque, estando na linha de frente da aplicação prática de todos os
conceitos teóricos, são os mais capazes para dar os devidos retornos,
referentes aos novos conceitos publicados.
É o médico que, antes de pensar em prescrever as drogas que
os manuais recomendam para tratar os sintomas, analisa o paciente em sua
inteireza, procurando encontrar motivos emocionais que possam estar causando o
desequilíbrio orgânico do paciente.
É o engenheiro que, antes de iniciar cada obra, analisa os
novos desenvolvimentos tecnológicos ligados à sua área, visando obter
resultados mais eficazes.
É o farmacêutico que acompanha as publicações referentes aos
novos medicamentos, para poder recomendar, aos médicos, aqueles que já
reduziram os efeitos colaterais nos pacientes.
É o psicólogo que, investindo em sua formação
neuropsicológica, amplia seus horizontes profissionais, capacitando-se para o
entendimento da psique humana como um todo e, além disso, podendo analisar os
resultados de todas as mais diferentes terapias em cada paciente.
Segunda trilha
São os que estão aplicando o que aprenderam, mas não têm
tempo para se atualizar.
Esses são os que mais destroem a fama de qualquer profissão.
É o médico que, ao receber seu paciente, ouve os sintomas e,
imediatamente, prescreve as drogas que os manuais recomendam para trata-los.
Se os sintomas forem resultados de algum desequilíbrio
emocional, o mal se agrava ainda mais, mas ele cumpriu o que aprendeu na
faculdade e, portanto, ninguém poderá condená-lo por isso.
É o engenheiro que, ao iniciar cada obra, “copia e cola” os
detalhes do projeto anterior, sem procurar se atualizar com os novos estudos e
desenvolvimentos tecnológicos ligados à sua área.
É o farmacêutico que se atualiza apenas pelo que os
representantes dos laboratórios lhes dizem, sem procurarem se inteirar das
publicações científicas mais recentes ligadas à sua área.
É o psicólogo que se fecha no conhecimento adquirido, na
linha que escolheu para sua atuação, sem procurar expandir seu conhecimento
para as demais formas de entendimento humano.
Visto isso, chegamos a conclusão de que o que falta, não é
bem tempo para investir no conhecimento, mas sim HUMILDADE para assumir, no
mínimo, duas verdades:
Uma é que, por mais que tenhamos nos saído muito bem em todos
os cursos de nossas formações, e por mais que tenhamos certificados, diplomas e
títulos, o conhecimento científico continua evoluindo e, se não estivermos nos
atualizando, nossa prática estará estagnada, ou andando em círculos, e isso
poderá trazer péssimos resultados em nossa atuação profissional.
Outra é que o conhecimento da nossa área nunca é suficiente
como um todo! Temos que ter a humildade de ouvir a opinião dos colegas de todas
as demais áreas, já que a forma de cada um olhar o mesmo fato pode trazer
evidências que, para nós, passariam despercebidas.
Isso tanto vale para o profissional de linha de frente, como
para o pesquisador em seu laboratório.
Então, conforme iniciei nossa conversa, confirmamos que:
HUMILDADE NA CIÊNCIA, mais que virtude, é condição essencial
para evitar a estagnação do conhecimento humano.
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