domingo, 22 de junho de 2008

Reprogramação cerebral

Em minhas aulas e palestras costumo enfatizar a programação cerebral como a base para a construção de nossa realidade de vida. Minha convicção sobre o assunto aumentou bastante quando Edward Wilson (Consiliência) apresentou a idéia de que nossa realidade biológica é toda uma complexa programação cerebral: parte genética, parte biológica e parte social.

Quando, por sua vez, Antônio Damásio (Mistérios da Consciência), acabou por concluir que existe uma mente e um cérebro, interdependentes mas diferenciados em suas funções e responsabilidades, as informações começaram a fazer sentido.

Nossas pesquisas, a partir desses conceitos e de outros mais antigos aprendidos na década de setenta com os xamãs aborígenes da Austrália, apontaram para: um cérebro material, constituído de neurônios e suas ligações; e uma mente comandando todo o processo de formação do próprio cérebro desde o momento da fecundação até o momento da morte.

Essa mente seria a responsável pelo nosso pensamento, embora o próprio Damásio tenha colocado o pensamento como simples fruto da atividade neuronal em seu primeiro livro (O Erro de Descartes), quando parodiou a cérebre frase de René Descartes – “Penso, logo existo!” – pela sua: “Existo e sinto, logo penso”

Nossas pesquisas somadas às observações a nós apresentadas e mais ainda aos resultados de diversos outros institutos de pesquisa mostram-nos, agora sem sombra de dúvidas, que nosso mundo está muito mais para Matrix e realidade quântica do que para o materialismo exacerbado e a Física Newtoniana.

O ceticismo no que não é puramente tradicional constitui, hoje, um entrave para o correto andamento do próprio mundo como um todo e, principalmente, do desenvolvimento do conhecimento científico. Afinal, estamos numa época em que precisamos de todas as inteligências do planeta trabalhando em prol de uma correta transformação social e científica, já que os desafios agora estão cada vez maiores e mais globais.

Quando, numa conferência que proferi em Seul em 2000 enfatizei a necessidade da integração entre ciência e espiritualidade eu estava procurando alertar aos pesquisadores e estudiosos ali presentes da necessidade de se estudar a fundo os mistérios das diferentes tradições ao invés de ignorá-los. Esse estudo, mesmo com o propósito da contestação, seria muito mais útil à humanidade do que ignorá-lo por não compreendê-lo.

Um desses mistérios é a força do pensamento. A incomensurável força que todos nós temos e que não sabemos explicar... e que grande parte dos cientistas, por não encontrarem explicação na ciência tradicional, abandonam o caso como “coisas sobrenaturais...”

É bom estarmos conscientes de que ser um cientista não significa ser o “dono da verdade!” Devemos ter a humildade de aceitar que a existência de eventos ou fatos que não podemos explicar, significa apenas que nosso conhecimento científico ainda está muito aquém do necessário para esse entendimento.

A reprogramação neurológica por que passou a cientista neuroanatomista Jill Bolte Taylor após sofrer um derrame cerebral (My Stroke of Insight, USA, 2006) mostra, mais uma vez, o imenso poder mental, de localização ainda misteriosa, existente dentro (ou fora) de cada um de nós.

Essa força misteriosa, que é a força do pensamento, possibilita a reorganização de todas as nossas ligações neuronais e até estimula o nascimento de novos neurônios, desde que sejam necessários e mesmo que isso tenha sido considerado impossível até alguns anos atrás.

O trabalho dessa força depende totalmente das ligações emocionais envolvidas no processo e isso pode ser constatado pela atenção, afeto e paciência de sua mãe ajudando-a passo a passo a ler novamente, a fazer quebra-cabeças, a se alimentar, a ir ao banheiro e deixando-a dormir bastante para reconstruir, aos poucos, os arquivos cerebrais danificados.

Esse trabalho é lento e necessita de treinamento intenso e repetitivo, sendo realizado com muito afeto e entusiasmo por parte do terapeuta, seja ele um profissional ou um simples amigo ou parente, desde que esteja realmente interessado e acreditando na plena recuperação do paciente.

Nesse momento barreiras imensas surgem de toda parte, principalmente de profissionais que, do alto da sua imensa sabedoria (?) neurológica, apresentarão um quadro pessimista (que dirão ser realista) desmotivando os parentes, amigos e o próprio paciente e, com isso, atrapalhando todo o processo de cura.

Neurologistas mais céticos tentam, infelizmente, minimizar todas as recomendações de reprogramação afetivo-emocional para a reconstrução cerebral, dizendo que isso só é possível quando a área afetada é muito pequena.

Ao mesmo tempo eles são obrigados a reconhecer que existe uma permanente transformação das ligações neuronais a partir das atividades do dia-a-dia. Ou seja: a teimosia desses céticos acaba por construir um verdadeiro paradoxo nas suas declarações.

Quando ouço esses profissionais justificarem a sua descrença dizendo que “não existe comprovação científica sobre isso” chego a “tremer nas bases”, já que esse procedimento marca o início de uma fatal acomodação na ciência pré-estabelecida, como se nada mais houvesse a descobrir no mundo. Se não está provado ainda é porque não é verdade!

Tais declarações me remetem ao episódio de um transeunte que, ao passar por uma rua e observar uma árvore que, após forte ventania, caiu sobre um carro, esperar a exibição da reportagem pelo Jornal Nacional para acreditar no que viu.

Está na hora de acreditarmos mais: no que vemos; no que ouvimos; e no que sentimos; e utilizar nossa inteligência para pesquisar a fundo as razões de todos os fatos ao invés de os ignorarmos.

Eliminar totalmente o pessimismo e criar idéias novas, por mais absurdas que possam parecer, é o que vai estimular novas pesquisas e possibilitar a descoberta de novos caminhos, mudando repentinamente a nossa visão de mundo e trazendo mais esperança a todos nós.

E, na prática, esse trabalho deve ser realizado diretamente com todas as crianças e adolescentes, em casa e na escola, por todos os educadores, sejam oficiais ou “de oportunidade”, ou seja: pais, professores, parentes, funcionários, etc.

O processo deve começar pela eliminação de toda forma educacional castradora e bitolada, substituindo-a pelo incentivo à criatividade e ao questionamento fundamentado.

O trabalho seguinte é a comparação de todos os conteúdos à realidade da vida atual, possibilitando o entusiasmo pelo aprender e pesquisar, complementando com: o desenvolvimento de todas as inteligências; o exercício do controle das emoções e sentimentos e;

Para evitar o surgimento das “sabedorias absolutas”, a vivência dos valores humanos, onde a humildade é ensinada como forma de entender que não somos os “donos da verdade”.

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