Na conversa anterior conversamos sobre a
primeira fase do desenvolvimento, a fase oral. Hoje vamos enfocar a fase anal
da criança, que vai de um ano e meio a três anos, aproximadamente.
Sou
o professor Roberto Andersen, pesquisador, educador e psicanalista. Minha área
de pesquisa é a neuropsicoeducação. Tenho três livros publicados e que podem
ser adquiridos acessando-se nosso portal ou nosso blog e clicando na minha foto
com os livros.
Vamos
à fase anal, mas lembrem que, na conversa sobre fase oral, eu comentei que há
estudos de economia, mostrando que cada dólar investido da educação representa
um retorno de sete dólares na vida dessa criança quando for um adulto. Isso é
importante!
A
fase anal é quando os pais mais erram! Meu esforço com essa nossa conversa é
para que vocês não errem! E não é difícil, como vocês vão ver, a partir de
agora.
Freud a chamou de fase anal e é a fase em que ela começa a
aprender a pensar. Enfim, essa fase não tem o problema da chupeta, mas, em
compensação, como ela sente necessidade de mexer sempre com as mãos para
agarrar coisas que se amoldem, se transformem ao seu toque, se modele ao seu
comando, ela faz isso com argila, com massa de modelar, com barro, lama e, se
nada disso estiver à sua disposição, com as próprias fezes.
A própria criança mostra que mudou de fase. Mas nem sempre
de uma forma tranquila, já que o mais comum é dando um verdadeiro susto nos
pais ao levar as fezes à boca! E é nesse momento que são cometidos todos os
maiores erros de quem está junto às crianças! E, mais grave ainda, esses erros
trarão consequências terríveis para toda a vida dessa criança que está sendo
formada!
Os erros dos adultos ocorrem de diversas formas. Uma delas é
o tradicional: “Que fedor!”. Outra forma é dando um “tapa” na mão da criança
quando ela pega nas fezes. Também existe o célebre: “Vamos limpar toda essa
sujeira!” E assim por diante! Eles sempre deixam claro para a criança que o que
ela fez não foi uma boa coisa...
A mente dessa criança analisa o ocorrido e conclui que “se o
que ela está fazendo é errado, feio, sujo e fedorento, devo parar de fazer!” E
surge, inicialmente, a prisão de ventre!
Agora, são os pais que, desesperados, correm com a criança
para o médico, exigindo que ele conserte um mal provocado por eles mesmos! E
começam os supositórios de glicerina e laxantes infantis, totalmente
inadequados a essa tenra idade e que poderia ter sido evitado com o simples
entendimento dessa fase. É claro que nenhum pai quer ver seu filho comendo as
fezes... Mas um pouco de criatividade soluciona totalmente esses instintos
necessários ao bom desenvolvimento de seu sistema digestivo, sem que seja
necessário proibir a criança de se sujar.
Uma dessas soluções é a massa de modelar da cor das fezes,
para que a criança possa manipulá-la em substituição. A criança substitui com a
maior naturalidade. Outro substituto perfeitamente à altura é a argila. Uma
caixa de argila para que a criança possa brincar e se lambuzar é um excelente
artifício.
Mas temos que entender que ela precisa se lambuzar, se sujar, se
divertir... Mais tarde dá-se um banho, ora! O importante é ser feliz!
Por que será que a criança gosta tanto de brincar com as
fezes? É mais uma maravilhosa programação mental! Seu sistema digestivo está em
franco desenvolvimento e ela já tem algum domínio de seus movimentos
musculares, achando interessante o autocontrole do ato de defecar.
É um momento de raro prazer o da produção das fezes. Por
isso, elas são tão importantes e exercem sobre a criança uma grande atração. Porém,
se no momento desse namoro entre a criança e suas fezes aparece um adulto
“estragando” o prazer, a criança nada entende e um forte sentimento de dúvida
substitui o necessário sentimento de autonomia.
É nessa fase que ela direciona sua energia para experiências
exploratórias. Ela precisa desenvolver o seu senso de autonomia. E como ela vai
perceber que não pode usar sua energia exploratória de forma totalmente livre,
mas que existem regras sociais para serem respeitadas e que devem fazer parte
de seu raciocínio, ela começa a construir sua autonomia entendendo os limites.
O aprendizado social começa aí. Surge o entendimento
relacionado ao que os adultos e as outras crianças esperam dela. Surgem os
conceitos de limitações, de obrigações e de direitos, e aparece a sua
capacidade de realizar certos julgamentos.
Os adultos atrapalham muito, como podemos observar, mas também
podem ajudar de vez em quando! O problema é que não existe uma escola para
ensinar pais a serem pais, pelo menos não as conheço ainda. Eu soube que
existia na Alemanha ou na Suíça, mas não aqui... Mas, dentro de nossas
possibilidades e limitações, tenho tentado fazer exatamente isso, em todas as
oportunidades em que me reúno com pais e professores.
Depois que li, em um trabalho de psiquiatria, a recomendação
de treinamento parental como elemento redutor de sintomas patológicos, passei a
recomendar às escolas uma total mudança nas reuniões de pais e mestres,
conforme já relatei no capítulo ESCOLA.
Minha ideia é enfatizar nessas reuniões o treinamento
parental, com vivência de valores humanos, debate sobre relacionamento familiar
e tudo o mais. Afinal, para que serve falar mal de seus filhos se esses são o
reflexo de uma educação equivocada em casa? Melhor então é fazer o treinamento
dos pais! Os filhos melhorarão naturalmente na medida em que os pais melhorarem
o entendimento da criança, o entendimento das necessidades de cada fase e o
relacionamento familiar.
Mas agora vem a parte boa para os profissionais de
fonoaudiologia. É nessa fase que podemos, sem qualquer medo, afastar a criança
da chupeta, caso ela esteja fazendo uso. Mesmo que isso provoque choro e manha,
a necessidade vital já não é o sugar, logo, qualquer imposição de limites no
que diz respeito à chupeta é perfeitamente aceitável e não vai provocar
qualquer neurose futura.
Mais do que isso, eu insisto que nessa fase DEVEMOS afastar
a chupeta da criança. O que antes era uma necessidade, agora passa a ser um
grande erro. Isso porque a partir do início dessa fase ela abandona o instinto
da satisfação oral e o desloca para o ânus. Esse deslocamento vai facilitar, no
momento certo, a formação correta de todo o processo digestivo. Essa fase
coincide com o início da mudança alimentar, que faz com que o sistema digestivo
(ou digestório como querem os filólogos) e o intestino comecem a ser mais
exigidos. Não existe mais a necessidade do prazer oral e, por isso mesmo, da
chupeta.
Então, se a fase anterior era a da chupeta, do mordedor, da
presença afetiva e do exercício dos limites, nessa fase a chupeta deve ser
eliminada. O mordedor nem tanto. A presença afetiva continua muito necessária, contudo,
já se deve dar mais liberdade, mas com controle. Os limites continuam sendo uma
grande necessidade por toda a vida. Mas o mais importante é entender que existe
o prazer de defecar e que esse prazer constitui a base do correto
desenvolvimento psico-emocional-cognitivo.
Mandem seus questionamentos, perguntas, comentários e
sugestões para meu e-mail:
robertoandersen@gmail.com
Ou para meu whatsapp 71 9-9913-5956
Responderei as demais perguntas no próximo vídeo.
Prazer estar com vocês.
Forte abraço e até o próximo encontro.
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