Será que a inteligência das pessoas, ou a sua capacidade
intelectual e de memória, é uma característica própria, determinada
geneticamente, ou é uma característica que pode ser desenvolvida?
Se fosse uma simples determinação genética, a solução para
quem tem alguma dificuldade de raciocínio ou intelectual seria apenas “estar
conformado” com sua incapacidade intelectual!
A sorte de todos nós é que ela, a inteligência, é
desenvolvida o tempo todo, desde o nascimento, impulsionada por uma força
interior, essa sim, que nasce com a gente, e que nos acompanha toda a vida.
Essa força tem sido definida por alguns pensadores como a
força da busca pelo poder, como fez o filósofo Nietzsche, ou a força da busca
pelo prazer (libido), como fez Freud, o criador da psicanálise.
Seja poder ou prazer, o que nos interessa, na prática, é que
é ela quem nos impulsiona para a busca do entendimento do desconhecido, para
tentar entende-lo e criar meios de lidar com ele.
Tudo, no início, nos é desconhecido.
Esse trabalho de entendimento já é o primeiro passo para
provocar o trabalho das nossas redes neurais, tanto para que elas sejam
formadas, criando as famosas substâncias cerebrais, cinzentas e brancas, como
para que elas sejam corretamente programadas, criando algoritmos de raciocínio
que vão constituir toda a nossa capacidade intelectual.
Essas redes, que foram criadas e programadas pela
necessidade de entender o mundo, vão dando, ao ser humano, a capacidade de
entender os sons que ouve, as imagens que vê, as sensações e as emoções que
sente, ou seja, tudo o que ele consegue perceber à sua volta e nele mesmo.
Mas como tudo isso funciona?
Primeiramente vamos ver como somos formados.
Nosso corpo é constituído por quase cem trilhões de células,
e cada uma delas pode ser considerada como um ser vivo, bastante complexo,
seguindo uma programação característica do local onde se encontra e de acordo
com o órgão ao qual faz parte.
As células que nos interessam no momento são especiais, são
as chamadas células neurais, ou neurônios, cerca de 100 bilhões delas, e que
são responsáveis pelo nosso raciocínio e todo o comando motor de nosso
organismo.
Embora nosso estudo esteja ligado ao cérebro craniano, ou
seja, a essas 100 bilhões de células, é bom saber que também existem cerca de
100 milhões delas no intestino, chamado por muitos de segundo cérebro e, além
disso, temos também cerca de 40 mil no coração, constituindo o cérebro
cardíaco.
Esses dois outros cérebros são também muito importantes para
nós, mas vamos deixar para falar sobre isso em outro momento.
Vamos ao cérebro craniano, então, que a partir de agora
chamaremos apenas de cérebro, mesmo sabendo que existem aqueles outros dois,
para facilitar nossa conversa.
No centro do cérebro é formado um centro de controle e
comando, chamado de sistema límbico.
Esse sistema recebe informações de todo o nosso organismo e
mantém o controle de tudo o que deve ser feito para mantê-lo em funcionamento
perfeito.
Para garantir isso o sistema límbico determina a geração e
liberação de todas as substâncias químicas, entre elas os neurotransmissores e
hormônios, que sejam necessários a cada momento, para que possamos enfrentar
qualquer dificuldade, doença, perigo, etc.
Ele também interfere nas nossa emoções e sentimentos, como a
raiva, a tristeza, a alegria, a satisfação, a insatisfação, o medo, a coragem,
a disposição, a indisposição, a motivação, ou a perda dela, ou seja, ele
controla tudo.
Há muitas coisas que são automáticas e parecem não depender
do sistema límbico, mas sim do cerebelo, do tronco encefálico e de outras áreas
consideradas independentes do raciocínio consciente, mas não veremos agora.
O que precisamos ver agora é, como podemos estimular a
formação e programação das nossas redes neurais, para que a nossa inteligência
seja muito bem desenvolvida, e junto com ela a nossa capacidade de memória, a
nossa velocidade de raciocínio, a capacidade de associação de ideias e, com
isso, alcançarmos a inteligência ideal para:
- Conhecer
- Saber lidar com o conhecimento
- Questionar o conhecimento
- Ampliar ou alterar o conhecimento
E assim construir a inteligência necessária para ser
criativo, inventivo e descobridor.
A máquina está aí, à nossa disposição. Basta estimular seu
desenvolvimento e colocá-la em ação.
Dá trabalho? Não! Tudo o que precisamos é de método. Somente
método. E, para isso, seguir algumas dicas fundamentais em cinco etapas, que
são:
PERCEPÇÃO – PROCESSAMENTO – ENTENDIMENTO – DEFINIÇÃO DE
PRIORIDADES – CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA
Fase 1: PERCEPÇÃO
A percepção é um trabalho intenso realizado pelas células
transceptoras existentes em todo o nosso corpo.
Elas transformam a informação externa (ondas luminosas,
ondas sonoras, ondas térmicas, pressão, atrito, substâncias químicas, etc.) em
sinais elétricos para serem enviados aos respectivos processadores.
Assim, são elas que permitirão entender o mundo à nossa
volta, seus sons, suas imagens, os aromas, a humidade, a temperatura e tudo o
mais.
Essas células devem ser estimuladas o tempo todo, para que
estejam sempre em funcionamento perfeito.
DICA PARA ESTIMULAR A PERCEPÇÃO:
Procurar sempre visualizar, ouvir e sentir tudo o que
estiver à disposição, em todos os ambientes em que estiver. Procurar ouvir
todos os sons, procurar perceber aromas, gostos, variações de temperatura,
humidade, textura etc.
Para as escolas de educação infantil devem ser realizados
exercícios de percepção frequentes, revezando os elementos sensores, o que é
imprescindível, por exemplo, para o desenvolvimento da criança com
microcefalia.
Fase 2: PROCESSAMENTO
Cada área do cérebro, Lobo Cerebral, é especialista em
processar sinais de um elemento sensor. Assim tem o processador para imagens,
para sons, para aromas, para gostos, para sensação térmica, para humidade, e
tudo o mais.
Nesses processadores chegam as informações PERCEBIDAS, mas
chegam em forma de pulsos elétricos, para serem processados e “montarem”,
dentro do cérebro, as imagens correspondentes à realidade externa.
Assim as imagens visuais, sonoras, olfativas, gustativas,
etc., passa a ser conscientizadas. É o momento em que vemos, ouvimos, sentimos,
etc.
DICA PARA ESTIMULAR O PROCESSAMENTO:
Concentrar toda a sua atenção em cada sabor, cada imagem,
cada efeito sonoro, cada aroma, procurando sentir o prazer dessa
conscientização.
Essa concentração é o que fez especialistas desenvolverem,
na Europa, o processo de “Mindfull-based stress reduction”, que nada mais é do
que essa concentração com foco permanente em cada momento perceptivo de seu
dia, para desenvolver seu cérebro. Isso provoca o aumento da espessura da massa
cinzenta cerebral.
Fase 3: ENTENDIMENTO
O entendimento de tudo o que está sendo conscientizado é
feito no hipocampo, que é parte do sistema límbico do raciocínio diário,
semelhante à memória de trabalho dos computadores.
Nessa fase ocorre o raciocínio, as comparações, a
atualização das informações já existentes, assim como a criatividade, a
inventividade, o estímulo à descoberta, ou seja, aí está todo o trabalho
intelectual.
Para esse raciocínio ocorrer, o sistema límbico traz, dos
arquivos de memória existentes no córtex cerebral, todas as informações lá
arquivadas e que sejam necessárias ao raciocínio do momento, num sistema
semelhante ao “copiar e colar”.
Nessa fase o maior perigo é o raciocínio ser atrapalhado
pelo disparo do Sistema Nervoso Simpático, já que esse disparo se dá pela
excitação da amígdala cerebral, órgão colado no hipocampo.
Se a pessoa estiver com raiva, medo, muita tristeza, etc.,
significa que a amígdala cerebral está em atividade, atrapalhando o
funcionamento correto do hipocampo, ou seja, perturbando o raciocínio.
Por isso, aqui vai a DICA PARA ESTIMULAR O ENTENDIMENTO:
Evitar estresse, raiva, etc., quando estiver em processo de
estudo e raciocínio, para não disparar a amigdala cerebral.
Importante saber que o suporte da inteligência, que é a
APRENDIZAGEM, ainda não ocorreu. Por enquanto só houve ENTENDIMENTO.
ENTENDIMENTO é a fase de conhecimento temporário, que dura no
máximo uns dois ou três dias, já que está arquivado no hipocampo, que é a
memória de trabalho, ou temporária.
Para a garantia da construção da inteligência, as duas fases
finais são imprescindíveis, que são a fase 4 – definição de prioridades e a
fase 5 – consolidação da memória.
Para que fique bem clara a necessidade da definição de
prioridades, vamos ver, primeiro, como funciona a fase final, que é a
Consolidação da Memória, ou seja, a construção da memória definitiva, para
depois terminarmos a explicação com a fase 4.
Fase 5 – CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA
Esse é o processo de transferência de todo o entendimento do
dia, que está no hipocampo, para as suas áreas de arquivamento definitivo, no
córtex cerebral.
Se essa transferência não for realizada em cada noite, o
conhecimento entendido naquele dia acabará sendo “esquecido”, em dois ou três
dias, por falta de espaço suficiente para armazenagem.
Então, por isso, existe o processo de transferência. Como
esse processo utiliza muita energia, ele só pode ser feito durante o sono.
Imaginemos um período de oito horas de sono, que é o mais
recomendado pelos médicos.
Nos primeiros sessenta minutos a frequência cerebral vai
sendo reduzida, levando a pessoa da sonolência ao sono profundo.
Dos sessenta minutos a aproximadamente duas horas, essa
frequência vai aumentando até chegar ao pique máximo conhecido como MRO
(Movimento Rápido dos Olhos), que é o período em que se dá a primeira de uma
série de quatro a cinco períodos de transferência.
Cada período desses leva aproximadamente uns dez a vinte
minutos, entremeado com períodos de redução de frequência, para aliviar o
esforço.
Ao final do período de sono houve quatro a cinco desses
períodos, quando a maior parte de tudo o que foi memorizado durante o dia,
passa a formar a memória definitiva, no córtex cerebral.
Temos três observações importantes para essa fase:
A primeira é que o sono deve ser muito bem planejado, para
que tudo corra muito bem.
Isso significa desligar todos os equipamentos eletrônicos,
principalmente celulares, computadores e televisão, pelo menos meia hora antes
de dormir.
A segunda é que, para o cérebro realizar todo esse processo
dentro do período exato do sono da pessoa, ela precisa, ao se preparar para
dormir, dizer para si mesma a hora que terá que acordar.
Assim o relógio biológico cerebral, o mais preciso do mundo,
ajustará todo o processo de transferência para que ele termine uns dois minutos
antes da hora determinada para acordar.
A terceira é que, se o cérebro não sabe quais são as
informações realmente importantes, ele pode ter perdido muito tempo nesse
processo e consumido muita energia, mas pode ter consolidado na memória
informações totalmente desnecessárias, e pode não ter tido tempo de transferir
as realmente importantes.
Então, exatamente para que o cérebro não perca tempo, e para
que nessa transferência esteja garantida a consolidação do conhecimento que
precisa ser aprendido, é que vem a necessidade da quarta fase, que é a
DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES.
Fase 4: DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES
Para entender essa fase precisamos entender como se dá a
elaboração de nosso raciocínio, da área de Vernicke, que é o processamento dos
sons, caminhando para a nuca e passando pela área de Geschwind, que é onde
sons, imagens, aromas e todas os demais percepções são associadas, e retornando
em direção à parte frontal da cabeça, até a área de Broca, onde a musculatura
da boca é acionada para podermos comunicar o que raciocinamos.
Todo esse trajeto de nosso raciocínio é feito por meio de
sinais elétricos (pulsos elétricos) trafegando por um feixe de neurônios, como
se fosse um feixe de fios elétricos
Antes da área de Broca, quando a elaboração de nosso
pensamento ou raciocínio estiver em andamento, esses feixes de sinais elétricos
se cruzam com os feixes elétricos do córtex motor.
Embora ainda não se tenha a evidência científica, em
laboratório, de que é esse processo de cruzamento de pulsos elétricos quem
alerta o sistema límbico sobre as prioridades de memórias a serem consolidadas,
o resultado disso é fato comprovado.
Então, se estivermos escrevendo ao mesmo tempo em que
estamos estudando ou raciocinando ou elaborando nossos pensamentos, nosso
raciocínio, associado ao comando da escrita, mostra ao cérebro a importância desses
arquivos.
Experiências realizadas em algumas universidades americanas
mostraram que isso ainda não ocorre quando, em vez da escrita manual, o aluno
estiver digitando em um computador.
Por enquanto, pelo menos, isso só é verdadeiro, para quem
escreve à mão.
Dessa forma fica definida a importância dos arquivos que
passarão a ter prioridade na transferência durante o sono, e as primeiras
memórias a serem consolidadas serão as que, realmente, nos interessam arquivar.
Isso significa construção da memória definitiva.
Ter acesso a essa memória significa aprendizagem real.
Inteligência é a capacidade de acessar a memória, sintetizar
o conhecimento e elaborar o raciocínio.
A partir daí surge a sabedoria, que é a utilização da
inteligência para desenvolver a criatividade, estimular a inventividade e
provocar a descoberta.
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