Robert Lanza e Bob Berman tentam mostrar em sua obra BIOCENTRISMO, publicada em abril/2009, que o entendimento correto de mundo não pode ser baseado na física, mas sim na vida e na consciência.
Em seu passeio pelos mistérios do mundo, eles lembram que a biologia já está desvendando os mistérios da célula universal, a célula tronco embrionária, e que cientistas, como Stephen Hawking, antevêem uma teoria unificada do universo. É hora, então, de percebermos que a unicidade existe e ela, além de não ser obra do acaso, está centrada na mente individual e no self. Mas como chegar a essa conclusão?
O modelo científico ao qual estamos acostumados mostra um universo composto por partículas sem vida colidindo entre si e obedecendo a regras predeterminadas e misteriosas. Nessa visão a idéia de vida abrigando consciência não é bem entendida pela ciência, embora seja relevante para a descrição do universo.
Mas o que seria a consciência? Ela é a verdadeira matriz a partir da qual o cosmos é compreendido. É a tela por meio da qual nossa visão de mundo é projetada. Se ela estivar torta ou distorcida ou contiver alguma cor estranha, então toda a nossa percepção do cosmos estará fundamentalmente errada.
Eles lembram que, desde maio de 1926, Werner Heisenberg e Niels Born apresentaram a idéia de que a presença do observador determina o resultado da experiência. No mínimo a criatura biológica é quem dá forma a história, faz as observações e dá nome as coisas.
Em "Experiência" Ralph Waldo Emerson afirma que não vemos as coisas diretamente, mas de uma forma mediada. Nossas lentes distorcem a realidade e não temos condições de entender-la exatamente como deve ser.
O filósofo irlandês George Berkeley disse que só percebemos as nossas próprias percepções! E é aí que o biocentrismo se baseia. Somos nós que criamos a nossa realidade. A vida e a consciência estão no centro do entendimento do universo, As experiências subjetivas interagem com a realidade física. É a percepção que determina a realidade.
A acomodação a um determinismo fora de nossa capacidade de interferência é o primeiro desafio. Enquanto os materialistas estão acomodados a uma realidade externa autônoma e imutável, os religiosos acomodam-se a um determinismo Divino, ambos eliminando a possibilidade da sua intervenção em todo o processo externo.
Antes de aplicar os conceitos biocentristas em escala universal precisamos aprender a utilizá-lo dentro de uma realidade local bem próxima a nós. O exemplo dado pelos autores da obra foi interessante: "(...) considere você em sua cozinha. Seu conteúdo assume todas as formas familiares, desenhos e cores, com ou sem a nossa presença. Será que assumem mesmo? Á noite você desliga a luz e vai para o seu quarto. Sua cozinha permanece a mesma durante toda a noite. Certo? Errado! O refrigerador, fogão e tudo o mais são compostos de matéria e energia. A teoria quântica nos diz que nenhuma parte, por mais simples que seja, dessas partículas subatômicas existe em um espaço definido. Ou melhor, eles existem apenas como uma probabilidade. Na presença do observador – ou seja, quando você resolve voltar para tomar uma água, cada onda dessas partículas entra em colapso e ela assume uma posição, uma realidade física. Além disso, as formas e cores conhecidas como sua cozinha são vistas como elas são porque os fótons de luz, que não têm qualquer propriedade visual inerente, retornam as imagens desses objetos e interagem com seu sistema sensorial."
A dificuldade das pessoas em entender dessa forma deve-se a forma como fomos educados, ou seja, percebendo uma realidade externa totalmente alheia a nossa presença, existindo independente de nossa existência e sobre a qual nossa interferência é praticamente nula. A aparência desse mundo exterior é exatamente a aparência que temos registrado por nossos órgãos sensores, sem qualquer interferência nossa. Nossos olhos e nossa mente só nos permitem ver as coisas exatamente como elas são sem alterar nada. O biocentrismo mostra exatamente o inverso!
Analisando mais detalhadamente os argumentos biocêntricos encontramos uma longa lista de traços mostrando que tudo no universo, dos átomos às estrelas, parece ter sido feito exatamente para nós. Cerca de duzentos parâmetros físicos são tão exatos que seria estranho aceitarmos como obra do acaso. E nenhuma delas é previsíveis por nenhuma teoria conhecida! Elas parecem ter sido cuidadosamente escolhidas e, freqüentemente, apresentam uma precisão milimática, ou talvez até nanométrica, apenas para permitir a existência de vida. Modifique-se qualquer uma delas e nós jamais teríamos existido!
Alguns cientistas estão dando nome a esse princípio, tentando encontrar uma razão que não os obrigue a ter que aceitar a possibilidade da existência de uma "Vontade Divina". Isso é muito bem definido, ou seja, para o cosmos não existe um "muito isso" ou "muito aquilo", mas todas as medidas que encontramos são "exatamente a necessária à vida".
Para evitar explicações teleológicas e também evitar entrar pelo dogmatismo religioso, o biocentrismo define que o universo é criado pela vida! Segundo esse conceito um universo que não suportasse vidas possivelmente não existiria.
Toda a realidade quântica, que hoje já se delineia como a verdadeira conceitualidade histórica do universo, mostra que os resultados dependem da observação de alguém. Ela não faz sentido se não houver uma base biocêntrica para o cosmos. Espaço e tempo, de acordo com o biocentrismo, são formas do senso perceptivo animal.
O tempo, por exemplo, é muito confundido com mudança! Mas mudanças não são o mesmo que tempo. Tudo o que percebemos está ativamente sendo reconstruído no interior de nossas cabeças independente da conceituação temporal. O tempo, dessa forma, pode ser definido como o somatório dos espaços ou dimensões, como em um filme, ocorrendo dentro de nossas mentes. Então o que é real? Se a próxima imagem mental for diferente da anterior, então estamos em um período diferente. Podemos atribuir essa mudança ao tempo no mundo, mas isso não significa que exista uma matriz invisível em que o tempo se modifique. Isso é apenas a maneira de fazermos com que as coisas tenham sentido para nós.
O espaço nos apresenta uma realidade de intangibilidade peculiar, já que não podemos pegá-lo e trazer para o laboratório. Ele não é um objeto externo, mas parte de uma programação mental que modela, em formas multidimensionais, as nossas sensações.
A idéia de espaço como um imenso container sem paredes e independente de nossa vontade é totalmente falsa! Espaço e tempo não devem ser tratados como coisas independentes e fundamentais. São realidades criadas pela nossa mente e dependentes dela. O biocentrismo traz esse sentido biológico integrado ao físico para a correta compreensão de mundo.
Esse é o início da compreensão do universo a partir de uma realidade biocêntrica e que pode abrir caminho para a unificação de toda a ciência. Mas para isso ser possível há que se abandonar os incertos conceitos do entendimento histórico do universo.
O século XXI pode vir a ser o século da biologia, uma mudança radical no foco que o século XX deu à física.
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