domingo, 26 de abril de 2009

UNIVERSO EMOCIONAL E BIOCENTRISMO

Emoções, sentimentos e pensamentos são causas ou consequências dos intrincados processamentos neurológicos e sinápticos no interior de nosso cérebro? É o pensamento que determina a existência e a realidade ou é a existência real que permite o pensamento e as emoções? Existe alguma possibilidade de tais perguntas serem respondidas hoje com a devida precisão ou pode-se apenas escolher uma resposta da mesma forma que se escolhe uma verdade religiosa ou espiritual?

Para podermos divagar com mais tranqüilidade nessa área é bom lembrar que existem conjecturas e certezas científicas. Embora a maioria das certezas científicas venha sendo contestada, a cada dia, por certezas mais atualizadas, na medida em novos parâmetros são descobertos.

A certeza científica vem da análise metodológica do fato ou do evento com os meios que nossos laboratórios dispõem. Por isso mesmo estamos ainda muito aquém do necessário para o encontro dessas respostas. Isso não impede a divulgação de muita "certeza científica", como se já fossemos os donos da verdade universal. Louvamos o esforço dos cientistas, mas nos assusta muito a divulgação de certezas em assuntos tão acima de nossa atual capacidade de pesquisa.

Já na religiosidade temos total liberdade para escolher nossas crenças sem qualquer necessidade de comprovação laboratorial. Não se procura isso! Procura-se apenas alcançar um estado de paz interior que faz bem ao ser humano e à sua saúde neuropsíquica.

Judeus escolhem acreditar no Torá com fonte de toda verdade universal, mas rejeitam o Novo Testamento, por negarem a importância dada pelo cristianismo a Jesus. Muçulmanos e Cristãos escolhem acreditar nas compilações realizadas depois de Cristo e pouca importância dão ao Velho Testamento. Muçulmanos ficam com a verdade compilada por Maomé e os cristãos ficam com a verdade compilada a partir de escritos de pessoas que ouviram os apóstolos, muitos anos depois da morte de cristo e dos próprios apóstolos. E todos têm o direito de acreditar nessas fontes como fonte da verdade absoluta e inquestionável. Isso porque estamos falando de religião! Isso é crença. É verdade dogmática!

São duas áreas completamente distintas, embora uma deva sempre recorrer a outra para aumentar o seu conhecimento de mundo e de vida, mas nunca para denegrir a sua importância. A tradição é original, sempre existiu. A ciência surgiu de dentro de própria tradição, para encontrar meios de interferir no ambiente e facilitar a nossa vida.

Mas há aqueles que, na religião, combatem o progresso científico, com argumentos totalmente alicerçados em seus próprios dogmas, assim como há os que, na ciência, tentam desmistificar a tradição, utilizando-se de meios tão desprovidos de precisão científica quanto os das idéias que pretende combater.

Não devemos ignorar qualquer hipótese ou tese apenas pelo fato de não acreditarmos em sua veracidade. Muito pelo contrário devemos abraçar todas as idéias contrárias ou diferentes das nossas e analisá-las com total isenção, exatamente por ser esse o melhor meio de ampliar nosso conheci mento real sobre qualquer assunto.

Voltando agora para nossas perguntas, vamos analisar o que passava pela cabeça de alguns pensadores em relação a mente, cérebro, pensamentos, emoções e sentimentos.

Platão, por exemplo, dizia que a mente estaria na cabeça. Até hoje os estudos neuropsíquicos procuram mostrar isso como verdade. Aristóteles, entretanto, defendia a mente no coração. Platão venceu até o final do século passado, mas foi quando começaram a aparecer evidências de transferências de memórias através do transplante de órgãos, principalmente o coração! Aristóteles ficaria satisfeitíssimo se soubesse disso!

Então não sabemos ainda sequer onde está a nossa mente! Mas lembro que, na década de setenta, em contato com um grupo de aborígenes em plena Austrália, um Xamã me passou a sua convicção de que nossa mente é externa ao corpo, mas inerente a nossa identidade como pessoa. Ela interfere em todas as células de nosso organismo, principalmente nas células cerebrais, mas, de alguma forma muito especial, ela também interfere no meio ao nosso redor e essa interferência pode ser muito mais ampla do que possamos imaginar.

Mente externa ao corpo ainda não responde a nossa indagação principal sobre quem determina o que, mas ao falar sobre interferência começamos a chegar mais perto de alguma trilha sobre o assunto, cujo tema é: pensamos sobre a realidade pré-existente e a sentimos como ela é em sua forma absoluta, ou a realidade se configura a partir de nossos pensamentos, sentimentos e emoções?

Sentimentos e emoções individuais determinados por uma mente externa ao corpo nos leva ao conceito do inconsciente coletivo de Jung. Comportamentos sociais também determinados por uma mente externa ao corpo nos leva ao conceito de consciência coletiva de Durkhéim. Lembrem que nosso interlocutor era um sacerdote aborígene totalmente analfabeto, sem qualquer tipo de tradição escrita, em pleno deserto Australiano, em 1975. Isso merece uma análise bem criteriosa e certa reflexão.

Os estudantes de sociologia durkheiniana e psicologia junguiana sabem que a consciência e o inconsciente coletivos interferem na mente coletiva da sociedade e na mente individual do homem. Mas o momento é mais para contestadores do que para quem estudou o assunto para fazer prova.

Isso porque a evidência que está para aparecer é no sentido oposto, ou seja: que alguma força biológica gerada a partir das nossas células determina a formação dessa onda do pensamento interferente no meio à nossa volta. Essa interferência determina alterações na estrutura do meio de forma a permitir a nossa sobrevivência.

Essa interferência pode vir a mudar o próprio entendimento de mundo, como procuram demonstrar Robert Lanza e Bob Berman em sua obra BIOCENTRISMO publicada em abril de 2009. A proposta deles é que as leis que regem o universo são determinadas pela vida e pela consciência. Assim o universo, como um todo, é modelado pelas nossas próprias mentes, mesmo inconscientemente, para nos acolher. A idéia tradicional de um universo exterior pronto, independente de existirmos ou não, seguindo leis físicas inquestionáveis, parece estar chegando ao fim.

Segundo eles e os aborígenes não somos apenas um visitante ocasional de um planeta cuja existência independe de nós. Somos os elementos geradores e transformadores da própria estrutura desse planeta ou, mais ainda, de todo o universo.

Pode parecer muita pretensão da raça humana, mas as pedras começam a se encaixar. Vejam a célula universal, chamada de célula tronco embrionária. Uma mesma célula que toma a forma do que quiser, a partir de uma programação biológica que não temos acesso ainda. Ela se modela para criar todos os diferentes órgãos de nosso corpo.

Vejam agora a idéia de Stephen Hawking, um dos maiores físicos atuais da humanidade e que sempre se disse materialista e ateu, sobre a Teoria Unificada do Universo. Ele declarou estar perto de encontrar a lei que mostra todo o universo totalmente ligado entre si e dependente de uma fonte energética biológica única e fundamental. Uma só lei biológica controlando todo o universo conhecido.

Nosso caminho mostra a existência da unicidade e, mais ainda, que essa unicidade está centrada na mente individual e no self! Mas como entender isso se o modelo científico ao qual estamos acostumados mostra um universo composto por partículas sem vida colidindo entre si e obedecendo a regras predeterminadas e misteriosas?

Nosso primeiro passo é quebrar esse paradigma e reconstruir tudo a partir do elemento consciência biológica. A consciência biológica seria a verdadeira matriz a partir da qual o cosmos é compreendido. É a tela por meio da qual nossa visão de mundo é projetada. Se ela estivar torta ou distorcida ou contiver alguma característica estranha, então toda a nossa percepção do cosmos estará fundamentalmente errada.

Reforçando essa idéia é bom lembrar que a presença de um observador, segundo Werner Heisenberg e Niels Born, determina o resultado da experiência. No mínimo a criatura biológica é quem dá forma a história, faz as observações e nomeia as coisas. Ou seja, a vida e a consciência estão no centro do entendimento do universo.

Estudando o sistema perceptivo vemos que toda a realidade exterior é criada dentro de nosso cérebro. Nós criamos a realidade, o que nos leva a discutir se o filme Matrix é uma obra de ficção ou se existe a possibilidade de estar representando parte da nossa realidade.

Afinal, desde George Berkeley, filósofo irlandês, que a idéia de criarmos a realidade vem se somando a idéia de que as experiências subjetivas interagem com a realidade física. É a percepção que determina a realidade.

No estudo astronômico percebemos que existe uma longa lista de traços mostrando que tudo no universo, dos átomos às estrelas, parece ter sido feito exatamente para nós. Cerca de duzentos parâmetros físicos são tão exatos que seria estranho aceitarmos como obra do acaso. E nenhuma delas é previsível por nenhuma teoria conhecida! Elas parecem ter sido cuidadosamente escolhidas e, freqüentemente, apresentam uma precisão milimétrica, ou talvez até nanométrica, apenas para permitir a existência de vida. Modifique-se qualquer uma delas e nós jamais teríamos existido!

Alguns cientistas estão dando nome a esse princípio, tentando encontrar uma razão que não os obrigue a ter que aceitar a possibilidade da existência de uma "Vontade Divina". Isso é muito bem definido, ou seja, para o cosmos não existe um "muito isso" ou "muito aquilo", mas todas as medidas que encontramos são "exatamente a necessária à vida".

Para evitar explicações teleológicas e também evitar entrar pelo dogmatismo religioso, o biocentrismo define que o universo é criado pela vida! Segundo esse conceito um universo que não suportasse vidas possivelmente não existiria.

Toda a realidade quântica, que hoje já se delineia como a verdadeira conceitualidade histórica do universo, mostra que os resultados dependem da observação de alguém. Ela não faz sentido se não houver uma base biocêntrica para o cosmos. Espaço e tempo, de acordo com o biocentrismo, são formas do senso perceptivo animal.

Vejam os conceitos de tempo e espaço. Vemos tempo como mudança. Mas será a realidade? São coisas distintas. Tudo o que percebemos está ativamente sendo reconstruído no interior de nossas cabeças independente da conceituação temporal. O tempo, dessa forma, pode ser definido como o somatório dos espaços ou dimensões, como em um filme, ocorrendo dentro de nossas mentes. Então o que é real? Se a próxima imagem mental for diferente da anterior, então estamos em um período diferente. Podemos atribuir essa mudança ao tempo no mundo, mas isso não significa que exista uma matriz invisível em que o tempo se modifique. Isso é apenas a maneira de fazermos com que as coisas tenham sentido para nós.

E o espaço? Já o espaço nos apresenta uma realidade de intangibilidade peculiar, já que não podemos pegá-lo e trazer para o laboratório. Ele não é um objeto externo, mas parte de uma programação mental que modela, em formas multidimensionais, as nossas sensações. Tempo e espaço são realidades criadas pela nossa mente e dependentes dela.

Então emoções, sentimentos e pensamentos não são apenas os causadores dos processos neurológicos e sinápticos no interior de nosso cérebro, mas sim os elementos determinantes da realidade externa, incluindo aí os conceitos de espaço e tempo, a harmonia do meio à nossa volta e a estética estrutural do próprio universo que nos acolhe.

Nosso universo é um UNIVERSO EMOCIONAL, comandado pelos conceitos do BIOCENTRISMO.

Bibliografia complementar:

Maturana, Humberto R. A árvore do conhecimento. São Paulo: Palas Athena, 2001.

Carter, Rita. O livro de ouro da mente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

Lemkow, Anna Freifeld. O princípio da totalidade. São Paulo: Aquariana, 1992.

Nicholson, Shirley. Sabedoria antiga e visão moderna. Brasília: Editora Teosófica, 1991.

Andrade, Vivian Maria. Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.

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