De repente surge, na escola, um menino!
Todos olham espantados!
Vejam aquilo: um menino!
Como será que ele nos ouve? Como será que ele nos enxerga?
Como será que ele nos compreende? O que será que ele sabe da vida? Quais são os
conhecimentos que ele tem? Será que ele fala? Como ele se comunica? Como será
que nós poderemos entende-lo? O que será que ele pode aprender conosco?
O que
será que poderemos aprender com ele?
Pois é! Parece estranho o que eu disse?
Pode parecer estranho, mas esse procedimento deveria ser o
certo!
Mas, pena que isso não aconteça em nossas escolas.
Isso talvez acontecesse em Antares, ou em algum outro
sistema estelar, se um menino do nosso planeta tivesse sido abduzido por uma
nave espacial alienígena e levado para lá.
Aí sim, esse menino seria analisado em suas habilidades e
conhecimentos para que, a partir daí ele começasse a ser instruído com os
conhecimentos que, aos poucos, ele fosse sendo capaz de entender.
Mas estamos no planeta Terra!
Aqui em nossas escolas os meninos ao entrarem em uma escola
são considerados todos iguais, com as mesmas habilidades, com a mesma
capacidade de aprender, com os mesmos conhecimentos básicos, mesmo que esse
menino seja autista, seja disléxico, seja discalcúlico, seja microcéfalo, ou
tenha lá a característica intelectual ou cognitiva que tiver.
Suas diferenças serão ignoradas e ele vai ter que aprender
da mesma forma que todos os outros, ou melhor, ele vai receber as mesmas
instruções que todos os outros, mesmo que não esteja entendendo uma só palavra
daquilo que está sendo mostrado a ele.
Mas não faz mal. A escola, ao final do ano, vai colocar em
seu histórico escolar:
Notas obtidas: 0,0 (zero)
Aprovado por ser aluno especial.
E pronto!
Nossa obrigação está cumprida, lavamos as mãos, e vamos para
casa satisfeitos com o dever cumprido.
Mas, quanto ao aluno?
Ah, bom! Faltou pensar no tal menino.
Esse, que já vem sofrendo uma violência simbólica desde que nasceu,
vai perder tudo o que restava da sua autoestima, vai se considerar inferior a
todo o resto da humanidade, nunca mais vai conseguir aprender coisa alguma, vai
desistir da escola e ficará eternamente na dependência de alguém para
sobreviver.
Então nossa escola é assim?
Sim! Infelizmente é exatamente assim que pensam muitos
professores, coordenadores e dirigentes escolares por esse nosso mundo...
Não bastou Comenius, em sua Didática Magna, escrita e
publicada ainda no século XVII, dizer bem claro que:
“Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não
quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja”
Então, vamos refletir um pouco:
Antes de decidirmos o que devemos fazer com algum menino na
nossa sala de aula, vamos tentar entender quem é ele, como ele nos entende,
como ele lê, como ele ouve, como ele processa as informações, como ele
raciocina, quais os seus conhecimentos básicos, quais as suas habilidades e
tudo o mais, para, aí sim, começarmos a trabalhar com ele.
Partir do princípio que todos são iguais seria muito prático
para nossa atividade docente, mas, na realidade, poderemos estar cometendo um
verdadeiro crime de abandono intelectual!
E o mais interessante é que, quando estávamos estudando os
teóricos da educação, todos diziam que a educação, a aula, os conteúdos, as
tarefas e as avaliações devem tomar como centro o aluno!
Só esqueceram de nos avisar, com mais clareza, que esse “o
aluno” não é uma padronização de cérebros com o mesmo conhecimento e as mesmas
habilidades, mas que cada aluno tem as suas características especiais, e que assim,
cada um deverá receber uma atenção de acordo com as suas características
específicas.
Então, seguir um cronograma educacional padronizado para uma
série escolar só funciona para os alunos, daquela sala de aula, que estiverem
no mesmo nível cognitivo e intelectual.
Os demais precisam que esse conteúdo esteja adaptado à sua
realidade de entendimento, raciocínio e elaboração.
Assim sendo, ao dar uma aula para os alunos de sua sala de
aula, esteja seguro de que suas palavras e seu ensinamento está sendo entendido
por todos, incluindo o autista, o disléxico, o discalcúlico, o microcéfalo e
todos os demais.
Como dar uma aula assim?
Experimente a aula por dinâmica grupal, que serve tanto para
uma sala com todos os alunos no mesmo nível, como para alunos em diferentes
situações de aprendizagem.
Assista o vídeo sobre o assunto e experimente. Se quiser
mais detalhes, escreva para nós. Essa metodologia foi baseada nos Grupos
Operativos, de Pichon Riviere.
Como passar tarefas e avaliações em sala com alunos especiais
incluídos? As tarefas têm a mesma capa, as mesmas figuras, os mesmos desenhos,
mas os conteúdos terão que estar exatamente dentro da capacidade de
entendimento e elaboração de cada um dos alunos com dificuldades de
aprendizagem.
Se não for assim, de que vai adiantar passar uma tarefa para
um aluno que, ao tentar lê-la, nada entende do que está ali escrito?
Mas se o conteúdo estiver adaptado à sua compreensão, embora
com o mesmo formato, os alunos especiais não se sentirão diferentes.
Se eles perceberem que as tarefas ou avaliações são
diferentes, a resposta é bem simples:
Todas são diferentes, para evitar que um copie a do outro!
Só isso!
E as tarefas para casa?
Infelizmente os pais de grande parte dos alunos especiais
não aceitam a deficiência do próprio filho, e assim só atrapalham o seu
desenvolvimento.
Por isso, o professor só deve passar para casa, as tarefas
que ele tem certeza absoluta de que o aluno especial saberá resolver sozinho!
De preferência esse aluno já deve ter resolvido tarefa
semelhante na sala e, assim, a tarefa para casa servirá para elevar a sua
autoestima, já que os pais ficarão espantados positivamente, por ele resolver
sozinho, além de elevar a autoestima dos próprios pais, que assim não
atrapalharão o desenvolvimento de seu filho.
No mais, o que precisamos ter bem claro em nossa mente,
todas as vezes em que temos um aluno de inclusão, é que o ponto principal de
todo o processo é elevar, e manter elevada, a sua autoestima, todo o tempo.
Fazendo assim teremos certeza de que o cérebro desse menino
estará trabalhando a favor do seu desenvolvimento, reduzindo as suas
deficiências e aumentando a sua capacidade cognitiva e intelectual.
Mas para que isso dê certo, é melhor que coloquemos um quadro bem grande na sala dos professores, nas secretarias de educação, nos conselhos municipais e estaduais de educação e no MEC, com a frase que Comenius criou, em sua Didática Magna, do século XVII, e que repetimos aqui:
“Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja”
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