terça-feira, 30 de setembro de 2008

Por que não gosto de Piaget?

Na realidade o título deveria ser um pouco diferente, já que nossa metodologia prevê a utilização de cada pensador educacional no momento certo, ou seja: para cada desafio existe uma forma mais apropriada de enfrentamento.
Vários conceitos de Piaget, por exemplo, nos ajudam a desenvolver trabalhos maravilhosos de recuperação de disléxicos e portadores de discalculia, mas para os super-dotados os conceitos de Vygotsky funcionam bem melhor, evitando o natural desinteresse pelas aulas convencionais.
Da mesma forma, enquanto Pichon-Riviére nos ensina a interferir para manter um clima de entusiasmo cognitivo com alunos de diferentes níveis de conhecimento, utilizando suas técnicas de Grupos Operativos adaptados à sala de aula, Paulo Freire estimula uma atmosfera de liberdade criativa sem muita interferência externa, nos moldes anarquistas da Escola da Ponte, de Portugal ou da Escola Summerhill na Escócia.
Gardner ajuda bastante mostrando como estimular aqueles alunos considerados de baixo nível cognitivo por meio do enfoque do trabalho do grupo na sua inteligência predominante, enquanto Golleman aposta tudo no emocional que, embora seja muito importante, não deveria desprezar o desenvolvimento lógico matemático, principalmente por ser necessário à recuperação do hemisfério esquerdo cerebral das crianças que sofreram abuso sexual.
Freud, Wallon e Erikson mostram, cada um, a sua observância do desenvolvimento do caráter da criança a partir da satisfação de cada uma das fases, mesmo que cada um tenha tido uma visão própria para essas fases. Um correto sistema educacional deve manter seus professores atentos às características apontadas pelos três, além de manter seus pais informados das verdadeiras necessidades temporais de seus filhos.
E o clima de valores humanos para dar apoio a toda a formação do caráter dos alunos poderá vir de Diane Tillman ou de Alan Saunders, a depender do estado cultural desses alunos. Se forem alunos de países em conflito, refugiados de guerra ou vítimas de discriminações fortes, Diane Tillman apresenta melhores soluções. Para religiosos, entretanto, Alan Saunders é a melhor solução.
É por causa dessa maravilhosa diversidade de conceitos que discordo totalmente de uma escola que adota uma linha única educacional, já que, para isso, ela terá também que adotar um tipo único de aluno para freqüentar suas aulas.
O que não concordo, então, é com a aplicação indiscriminada de Piaget em qualquer caso nas escolas, nem também com a mesma forma de aplicação de todas as teorias de Vygotsky. Cada caso exige uma teoria ou a soma de ambas ou nenhuma delas.
Tento passar para meus alunos que todas as teorias devem ser muito bem estudadas e muito bem entendidas, mas para serem colocadas em um arquivo consciente de fácil acesso para possibilitar a nossa tomada de decisões por nossa própria construção do conhecimento.
E que a cada momento e para cada caso especial precisaremos lançar mão desses conceitos, não para aplicá-los indiscriminadamente, mas para analisarmos a aplicabilidade de cada um deles em seus adequados momentos.

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