E eis que, repentinamente, a sociedade parece ter mudado! Crianças já nascem com todos os tipos de síndromes e transtornos: hiperatividade, déficit de atenção, déficit cognitivo, esquizofrenia e outros! Desde a mais tenra idade necessitando de tratamento médico especializado e consumindo remédios controlados fortíssimos para que consigam estar em sala de aula sem perturbar seus colegas e professores.
E ao se tornar adolescentes, evitam a companhia de seus pais. É comum o aparecimento de sentimento de revolta. Alguns querem aparecer como transgressores. Outros desejam apenas escandalizar. E, junto com a revolta, surgem as doenças, síndromes e transtornos com características bastante semelhantes às dislexias, discalculias, disgrafias e outras tantas anomalias neuro-cognitivas e, inclusive, psiquiátricas.
O que está havendo, afinal? É o resultado de uma nova ordem social? É a influência da TV, das revistas e jornais? Faz parte de um determinismo evolutivo não previsto por Darwin nem Lamarck? Será falta de religiosidade, segundo Bento XVI? Ou será a existência da religião, segundo Richard Dawkins?
De forma totalmente antagônica percebemos que grande parte das crianças está nascendo com uma elevadíssima potencialidade intelectual, muito acima de todas as gerações anteriores! Estudiosos da mente humana de todas as linhas de pensamento já nomearam essas crianças de "crianças índigo" e "crianças cristal", analisando suas características e realizando previsões sociais relacionadas a essa nova realidade.
As crianças estão com maior potencial intelectual e suas anomalias estão aumentando a cada dia! Como explicar toda essa mudança no intelecto, no emocional e no comportamento infanto-juvenil?Elas estão se perdendo dentro de sua intelectualidade ou o mundo não está preparado para absorvê-las?
Professores, pais, terapeutas, psiquiatras, neurologistas, psicólogos, psicanalistas, psicopedagogos e todos os demais profissionais ligados ao entendimento da formação da criança e do adolescente e, principalmente, aqueles em missão de intervenção nessa formação, precisam estar agora com atenção redobrada e manter-se em atualização constante!
A maioria dessas crianças e adolescentes trouxe, juntamente com essa elevada potencialidade intelectual, um nível tão alto de inquietação que torna difícil a sua satisfação plena! Elas até tentam encontrar explicações para suas angústias, mas não encontram, na maioria das vezes, quem esteja disposto a indicar-lhes o caminho.
Professores e pais, na escola e em casa, apresentam explicações que só satisfazem as crianças que não estão desenvolvendo essa potencialidade. Para as mais desenvolvidas a explicação traz apenas mais angústia pela insatisfação. E essa angústia dispara uma inquietação comportamental inadequada e inconveniente, provocando o aparecimento de sintomas muito semelhantes aos de diversas anomalias cognitivas, neurológicas e psiquiátricas.
Pais, professores e profissionais mal preparados para essa nova realidade, confundem tais sintomas com os das verdadeiras doenças, transtornos e síndromes. Essa confusão tem levado crianças sadias a sofrerem tratamentos equivocados, reduzindo a sua potencialidade intelectual original e limitando a suas perspectivas de crescimento integral.
Anomalias neurológicas, psiquiátricas, psicológicas e comportamentais existem, mas a sua incidência é infinitamente inferior à quantidade apresentada pela sociedade. A maior parte dessas anomalias nada mais é do que o mau entendimento dessa inquietação intelectual ou também resultado de um bloqueio emocional grave, provocado por uma educação equivocada.
No primeiro caso a criança tem potencial intelectual muito elevado e está inquieta com a falta de entendimento do mundo à sua volta. No segundo caso a criança, independente de ter ou não esse nível muito elevado, está sendo criada num ambiente com um relacionamento familiar inadequado, trazendo bloqueios emocionais graves e gerando toda espécie de sintomas, também semelhantes aos de doenças, transtornos e síndromes.
O problema, então, é evidente! Ele existe! O comportamento inadequado e as dificuldades e deficiências são visíveis em toda a sociedade, principalmente nas escolas. E os sintomas dos que apresentam apenas bloqueios são muito semelhantes aos portadores de distúrbios reais. Mas e a forma de tratá-los? É a mesma? Como diferenciá-los?
Muitas crianças com elevados potenciais cognitivos ou com bloqueios psíquicos estão sendo tratadas como doentes ou portadoras das deficiências devido aos sintomas que apresentam. Essas crianças aumentam o seu grau de envolvimento com essa anomalia, tornando-se escravos dela! Eles, praticamente, se escondem por trás da doença, assumindo uma incapacidade intelectual inexistente e perdendo todo o seu entusiasmo pelo aprendizado.
Exatamente por isso que novos caminhos no entendimento neuropedagógico e psicanalítico se fazem necessários nesse momento! Todos os que estão em contato com essa nova geração precisam estar atentos às mudanças e, principalmente, aos bloqueios que surgem a partir da nova relação familiar na sociedade atual e à incompreensão da inquietação daqueles que apresentam elevado potencial cognitivo.
E essa atenção deve estar voltada principalmente para a própria sociedade formadora (ou deformadora) das crianças e adolescentes, já que o permanente estado de estresse está levando pais a esquecerem a sua obrigação educacional e afetiva, escondidos que ficam na capa da "falta de tempo", justificando-a com a necessidade de garantir um futuro melhor para seus filhos...
Além de não entenderem que tempo para dar afeto e limites "se cria" com facilidade e independe de compromissos profissionais ou sociais, esses pais fogem da relação com seus filhos, com medo de não entenderem as suas angústias e com verdadeiro pavor de ter que admitir sua responsabilidade na sua deseducação.
Esses bloqueios em forma de resistências e mecanismos de defesa construídos pelas crianças aparecem, de forma bastante clara, durante o processo ensino-aprendizagem. Alguns desses sintomas já podem até estar evidentes em casa, mas é na escola que eles tomam maior importância, já que esse é o ambiente do trabalho cognitivo, exigindo um esforço mental direcionado e um maior equilíbrio emocional.
A divulgação constante, por meio de palestras, seminários e portais na internet, de questionários avaliativos para indicar a existência ou não de alguma dessas síndromes, faz com que todos os envolvidos com a criança e o adolescente sintam-se competentes o suficiente para diagnosticar tais doenças. Essa competência é perigosa! Ela, na realidade, não existe sequer entre os profissionais mais experientes! Nossa ciência não está avançada a esse ponto. Os cientistas menos ainda!
Mas os pais já chegam ao consultório com a certeza do diagnóstico! Esperam, do médico, apenas a prescrição do medicamento, para começar o tratamento. Os pais já sabem, inclusive, o nome dos medicamentos e as suas dosagens padronizadas!
Exatamente para evitar que tais diagnósticos precipitados continuem a destruir o cérebro e o futuro dessas crianças é que há necessidade de se informar pais e profissionais sobre tais assuntos e de forma bastante abrangente, possibilitando um melhor conhecimento interdisciplinar entre a neuropsicologia, as neurociências, a neurodidática, a psicopedagogia e a psicanálise.
A ampliação do horizonte dos pais e educadores levará a um maior entendimento da criança no processo de sua evolução intelectual, emocional e cognitiva e evitará que diagnósticos precipitados impeçam o seu correto desenvolvimento.
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