Mais uma vez estamos observando um fato social muito grave,
ocorrendo no meio adolescente, que é a automutilação, ou seja, os adolescentes
se cortando nos braços e pernas, muitos deles sem conseguir sequer dizer o
motivo disso.
Alguns chegando a apresentar sintomas de um transtorno de
repetição sem controle, que pode até ser considerado como um vício.
Como as reportagens apresentadas pela mídia só procuram
obter sensacionalismo para ganhar audiência, tudo o que foi mostrado, inclusive
no fantástico, de nada serviu como orientação para pais nem para professores.
Só serviu para apavorar mais ainda.
O principal problema, que nem sempre s pessoas estão
entendendo, é encontrar as razões pelas quais esses adolescentes estão sentindo
essa necessidade.
Vamos fazer uma abordagem, hoje, só para os pais.
Em um próximo artigo abordaremos o papel dos professores e
dos psicólogos.
Em outro artigo vamos nos dirigir diretamente aos próprios
adolescentes, enfocando suas motivações específicas.
Identificação do fato
É importante que os pais estejam sempre atentos à forma como
os filhos se portam em casa.
A insistência em se vestir com camisas de manga comprida,
por exemplo, ou não usar short em casa, mesmo no calor, pode significar que
estão querendo esconder as marcas dessa automutilação.
Se o adolescente passa a maior parte do tempo isolado em seu
quarto, sem muita conversa com ninguém, pode ter o mesmo significado.
É importante, então, estar sempre por perto do filho e
observar se ele parece estar triste, desanimado, ansioso ou com qualquer tipo
de atitudes estranhas já é um alerta.
Qualquer desses sintomas já serve de alerta.
Atitude repressiva após a descoberta
Ao descobrir isso muitos pais tem a tendência imediata à
repressão, ou seja, a chamar a atenção do filho sobre o fato, a proibir ele de
continuar a fazer isso e a impedir o acesso a objetos cortantes.
Tudo isso parece muito interessante, mas não funciona!
Quem quer se cortar sempre encontra um meio de fazer isso,
mesmo que não tenha acesso a giletes ou facas.
E a bronca ou a punição pode até fazer com que o filho pare
de fazer isso na sua frente, mas ele vai tentar fazer escondido ou, em alguns
casos, substituir os cortes pela utilização de uma droga qualquer, como a
maconha, por exemplo.
Atitude correta após a descoberta
A atitude correta é, assim que descobrir o fato, analisar
rapidamente onde está o NOSSO ERRO COMO PAIS!
Sim, porque todos esses casos têm origem na falta de um
relacionamento aberto e correto em casa, fazendo com que o adolescente não se
sinta bem em compartilhar, com os seus pais, os problemas e as dúvidas que
surgem e que são característicos da adolescência.
Quando os pais mantêm, desde o nascimento do filho, um
relacionamento de imposição de limites e controle, mas com muito afeto, eles
estão construindo um equilíbrio emocional que nunca vai permitir que uma coisa
dessas aconteça.
Para quem já tiver meu livro AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO isso
está mostrado em detalhes da página 76 à página 105.
Mas nesse momento nós temos que correr para eliminar o prejuízo que já está ocorrendo, agora na fase adolescente, dos 12 aos 18 anos.
Essa fase é quando ocorrem todas as mudanças em seu corpo, em
seus sentimentos e em suas emoções, e é quando eles precisam de mais orientação
e mais apoio emocional.
E muitas vezes os pais acreditam que já são quase adultos, e
não dão mais o carinho que davam quando ele era criança.
Não existe um momento de conversa franca e aberta. Não
existe o abraço e o beijo. Não há carinho.
Não são compartilhadas as emoções,
os sentimentos. Normalmente cada um está mais preocupado com seus afazeres e uj
não tem tempo para o outro.
Essa falta de carinho gera um afastamento e, logicamente, a perda
de confiança para conversas mais íntimas.
É muita coisa que muda. É o próprio corpo do adolescente. A
sua forma de ver o mundo. Os sentimentos que surgem, as emoções e as atrações
sexuais.
Ele precisa perguntar, precisa de orientação, precisa
entender o que se passa em sua mente.
Mas se não tiver confiança em se abrir com os pais vai,
inicialmente, se sentir perdido, e ele se fecha em si mesmo ou vai procurar
apoio externo.
É exatamente nessa poio externo ou em falta de apoio, que
vão surgir as carências afetivas e, em seguida, as angústias.
Carência e angústia:
Se ele conseguisse alguém que o ouvisse sem criticá-lo, de
forma que ele pudesse colocar para fora, sem medo algum, o que sente, essa
angústia não apareceria.
A carência e a angústia chegam a um ponto em que ele se
sente culpado por estar se sentindo abandonado e rejeitado ou até discriminado,
criticado e, em algumas vezes, até sofrendo agressões orais por parte de seus
pais.
Ao se sentir culpado ele procura alguma atitude que compense
a carência, como as drogas, por exemplo, e em muitos casos, como os que estamos
vendo, eles procuram algo para sentirem alguma dor física que compense a dor
psíquica do que estão sentindo.
Mais motivos que trazem dúvidas e conflitos aos
adolescentes:
Conflito de personalidade
Ao chegar a adolescência ele percebe que a sua
personalidade, ou seja, a sua forma de ser, de sentir, de se emocionar e de
gostar, está em conflito com ele mesmo e
com a personalidade que ele achava que tinha.
Um exemplo disso é quando o adolescente se descobre
homossexual.
Algumas vezes ele pode estar com muita dificuldade ele mesmo
entender e aceitar a sua própria personalidade, ou com muito medo de sofrer uma
rejeição por parte de sua família e de ser discriminado pelos amigos.
Ele só vai entender o que está acontecendo e saber como
proceder, se tiver pleno apoio de seus pais para que, juntos, possam analisar
suas emoções, seus sentimentos e sua forma de sentir atração, e a partir daí
receber a orientação adequada para não vir a sofrer socialmente com essa nova
face de sua personalidade.
Para quem não sabe como se dá, no cérebro, a formação da
personalidade sexual, meu outro livro “Sexo: a escolha é sua” mostra em
detalhes da página 69 até a página 94.
Em outro artigo enfocarei isso com mais detalhes.
Lógico que a sexualidade é apenas uma das causas dessa
angústia disparadora desse processo de compensação com dor física, mas todas as
outras carências levam ao mesmo fato.
Outros fatos que só agravam ainda mais essa angústia:
Muitas coisas que estão, normalmente, na rotina dos
adolescentes, ainda servem para piorar ainda mais essas neuroses.
Por exemplo:
Estresse psíquico por excesso de exposição às emissões das
telas (celulares, videogames, computadores, TVs)
Estresse por sedentarismo – falta de atividade,
principalmente atividade física
Estresse por falta de objetivos na vida – não sabe o que vai
querer ser na vida
Estresse por incapacidade de se satisfazer com as coisas que
tem, que é normal na nossa sociedade consumista
Vamos às atitudes preventivas e corretivas
Para tirar essa diferença, vamos fazer todo esforço possível
para resgatar o amor de seus filhos.
Precisamos parar para ouvi-lo até o fim de cada uma de suas
frases.
O ideal é que seja criado um momento em família, de
preferência em uma refeição com todos à mesa, mas sem TV nem celular nem rádio
ligado, para que o momento seja real, de conversa pessoal presencial, cada um
podendo olhar o outro e sentir as emoções do outro.
E que esse momento seja combinado para que ocorra
periodicamente, por exemplo: no mínimo uma vez por semana.
Esses momentos, então, devem ser, principalmente, de escuta,
ou seja, pais devem escutar com atenção o filho, estimulando-o a se abrir
totalmente, deixando-o com a segurança de que ele pode falar tudo o que sente
sem que tenha medo de ser criticado.
Qualquer crítica aos seus pensamentos terá como consequência
o medo de se abrir e de compartilhar seus sentimentos.
Nesses momentos os pais devem sempre lembrar que seu filho
pode ter sentimentos, emoções, desejos e opções de vida completamente
diferentes das que seus pais desejariam que ele tivesse!
Ele é uma pessoa com personalidade própria, embora ainda em
formação. Não podemos desconstruir emoções e sentimentos que existam na mente
de nossos filhos. Podemos apenas analisa-los, para tentar dar todo o apoio que
ele necessita.
Resumindo a orientação aos pais:
Estar sempre disponível para ouvir o filho e criar
oportunidades para isso sempre que puder!
Sempre que ouvir o filho, ouvir sem interrompê-lo,
deixando-o falar as frases até o fim, mesmo que você já saiba o que ele vai
dizer. Ele tem que ter a segurança de que vai ser ouvido até o fim.
Analisar seus sentimentos e emoções sem criticá-lo. As
orientações só devem ser dadas quando se percebe que ele está querendo ou está
em dúvida de alguma coisa.
Lembre-se sempre que ele não vai ser engenheiro só porque
você quer. A profissão dele tem que ser a que ele goste ou que tenha condição
de gostar.
Ele não vai ser heterossexual só porque você assim deseja.
Se ele se descobre sentindo atração por pessoa do mesmo sexo, ele não mudará
isso por ordem de pai nem mãe.
Nosso papel é orientá-lo para que ele possa analisar suas
emoções e sentimentos, sem que seja obrigado a escondê-los de seus próprios
pais.
E, acima de tudo, lembrar de abraça-lo sempre que chegar em
casa ou antes de sair. Ou mesmo abraça-lo de vez em quando “por nada”, só para
sentir que existe um amor em você que pode ser transmitido para ele por meio
desse momento de afeto.
Esse abraço, ou seja, esse afeto, precisa estar acompanhado,
sempre, da imposição de limites, ou seja, mostrar que existe ume preocupação
sua, real, de saber sempre onde ele está, com quem ele está, porque isso, junto
com o afeto, é o que constitui o amor verdadeiro.
Essas atitudes de amor verdadeiro e abertura no diálogo são
as bases da segurança emocional que ele precisa.
A segurança emocional evita a geração de angústias.
Sem angústias não haverá necessidade de atitudes de
compensação como drogas, automutilação e até coisas mais sérias com entrar em
estado de depressão e, até, suicídio.
Criem esses momentos e vocês terão a solução desse sério
problema.
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