Oi, amigos!
Entre
as mensagens recebidas ontem, havia um tema recorrente: a relação entre fé e
razão.
Pensei,
então, numa pesquisa que iniciei há algum tempo, visando descobrir o que as
pessoas sentem, de verdade, quando dizem “ter fé”.
O
que, afinal, pode significar tal afirmação?
Analisei
o termo: “Ter Fé”. Analisei, também, diversas pessoas que se dizem “crentes” em
algo superior e transcendente.
Ter
fé é, segundo grande parte delas, acreditar em algo, preferencialmente
sobrenatural, que provoque alguma transformação, que permita uma realização,
que traga soluções, principalmente em relação a objetivos considerados quase
impossíveis e, normalmente, de uma forma transcendente ou metafísica, muito
além do que pode ser considerado como um acontecimento lógico normal.
Acreditar
dessa forma parece ser, sem dúvida alguma, ter fé. Mas isso significa que a
pessoa deixa de ser racional? Ou seja: a crença em algo sobrenatural pode
eliminar a necessidade de raciocinar logicamente sobre o assunto?
A
resposta é não! Não há qualquer necessidade disso!
Mas,
na verdade, Fé e razão estão, e estiveram, em alguns momentos e em alguns
lugares, dissociadas. Há períodos históricos longos em que isso foi uma
característica social marcante, assim como há regiões do planeta em que essa
separação sempre foi, e continua sendo, a tônica!
Acreditar
em algo sobrenatural, para alguns grupos sociais, necessita que seja eliminada
a possibilidade de se vivenciar coisas terrenas. Nesses grupos sociais a “fé
oficial” é uma necessidade, fazendo surgir a crença imposta, de fora para
dentro, sem qualquer sustentabilidade racional.
Essa
“fé por acomodação” não resiste ao debate e fragiliza a mente, provocando a
insegurança em relação aos seus próprios valores. Esse tipo de fé imposta,
impede o raciocínio lógico, dificulta a tolerância e impossibilita a
compreensão verdadeira das crenças alheias.
Dogmas
são impostos à força. Surge aí a lavagem cerebral, a hipnose coletiva e coisas
semelhantes. É a fé cega, podendo alcançar níveis de radicalismo exagerado e
fanatismo criminoso.
Como
consequência surgem guerras, massacres e demais conflitos.
São
crimes que observamos ocorrer em todas as partes do mundo, em nome de uma fé
equivocada ou de um Deus particular, exclusivo daquele grupo ao qual pertence...
Saindo
da parte doentia da fé, vamos a parte mais racional:
A
crença consciente, no entanto, significa a construção de um acreditar, de
dentro para fora. Essa fé é antiga e continua sendo encontrada nos estudos de
todos os povos, incluindo as primeiras civilizações em nosso planeta, quando as
pessoas elegiam, como deuses, as energias responsáveis pela sua sobrevivência.
A
fé, inicialmente, visava algo externo, algo compreensível, ou algo
sobrenatural. Muito tempo depois começou a surgir a fé na energia interior, no
poder da sua própria mente, como é comum observarmos nos dias atuais.
E
o avanço do conhecimento científico não mudou muito a forma de as pessoas
acreditarem em algo superior, ou em alguma energia voluntariosa além da
compreendida fisicamente. Ainda sobrevivem todos os tipos de fé.
Há
os que buscam comprovações totalmente materialistas, sem acreditar em algo fora
do exclusivamente científico. Tenho muitos amigos nesse caminho, cujas ideias e
conclusões são fantásticas e dignas de todo respeito.
Há
os que buscam as mesmas comprovações, sem, entretanto, duvidarem da existência
de uma energia superior voluntariosa e criadora. Eu me incluo nesse grupo.
E
há os que ignoram qualquer pesquisa científica, montando seu conhecimento de
mundo exclusivamente no entendimento religioso, a partir da fé em algo
superior.
Os
primeiros são os materialistas e ateus, que constroem seus argumentos com base no
conhecimento científico, procurando comprovar que o universo e a vida não
necessitam nem necessitaram, em momento algum, de alguma interferência
superior, como fez Richard Dawkins em sua obra: “Deus, um Delírio”; e como
disse Stephen Hawking, certa vez, em uma conferência: “Deus pode até existir,
mas nunca foi necessário”.
Para
essa parcela da população mundial, a fé está dirigida à capacidade inventiva e
produtiva de cada um de nós, mas também da sociedade, como um todo, não havendo
interferência de nada além daquilo o que entendemos como matéria.
O
segundo modelo de pesquisador se utiliza dos mesmos argumentos dos primeiros,
analisando-os criteriosamente, de forma neutra, sem qualquer interferência de
sua fé, na busca de explicações científicas para todos os mistérios da natureza
e da vida.
Eles
procuram encontrar meios de obter tais explicações sem, entretanto, duvidar da
existência de uma energia superior, que pode ser a responsável por toda a
arquitetura e programação dinâmica do universo. Mas suas pesquisas nunca são
interrompidas por conclusões teológicas.
A
diferença está no fato de que, mesmo acreditando que possa existir tal energia,
essa parcela da população busca incessantemente, na ciência, explicações
específicas para cada mistério encontrado. Isso é saudável!
O
terceiro modelo de pesquisador limita-se aos ensinamentos a partir da sua fé,
acreditando nada haver fora dela e se sentindo muito bem assim. Esse também é
digno de todo o respeito, principalmente porque, na realidade, nenhum dos três
pode afirmar, convictamente, que a sua forma de pensar é a única correta.
É
por essa razão que sempre procuro colocar, em uma mesa redonda, para efeito
didático, debatedores dos mais diferentes pontos de vista, visando esclarecer,
aos participantes, as diferentes formas de entendimento de mundo.
Isso
mostra a necessidade de procurar entender os argumentos do outro, principalmente
se esses forem diferentes ou até opostos ao seu. Isso amplia o nosso
conhecimento de mundo e aperfeiçoa a nossa forma de compreendê-lo.
Bem
a propósito, ao reler a obra “Deus único, mito e realidade”, de Luiz Henrique
Almeida, deparei-me com sua afirmativa de que: “(...) Cada célula do nosso
corpo contém todas as informações acerca da história de cada um de nós, neste
planeta (...)”
Isso
me remeteu, imediatamente, aos xamãs aborígenes, com quem tive a oportunidade
de dialogar por diversas vezes, ainda na década de setenta, em pleno deserto
australiano.
Esses
iam um pouco mais além. Afirmavam que nossa mente possui uma antena interna,
capaz de captar as ondas do pensamento de todas as pessoas que viveram em nosso
planeta, desde o início da civilização.
Então,
segundo eles, as células conteriam informações da história de toda a
humanidade!
Com
base na afirmação de Almeida e no conhecimento dos xamãs, percebemos que será
um imenso atraso de vida ou, melhor dizendo, um atraso para o conhecimento
científico, se evitarmos analisar textos provenientes das diversas tradições
religiosas.
A
análise e o questionamento de afirmações dogmáticas podem, sim, abrir novos
caminhos para conhecimentos ainda distantes da nossa atual capacidade de
compreensão. Ignorá-las, por serem do domínio da fé, pode constituir um grande
atraso para o desenvolvimento científico.
Isso
me lembra um trecho de “O Princípio da Totalidade”, de Anna Freifeld Lemkow,
quando ela diz: “(...) limitar o real apenas ao quantificável não é científico,
é cientístico – uma perversão da ciência (...)”
Vamos
dar uma ligeira olhada em alguns momentos científicos de hoje e o que podemos
esperar a mais, desde que não estagnemos na ideia de que só o quantificável e
visualizável é científico...
Em
primeiro lugar, nesse passeio, vamos à memória. Sua capacidade é quase infinita
na tarefa de arquivar todos os conhecimentos que processa. A dinâmica de
funcionamento das redes neurais é algo assustadoramente admirável! Nossa
capacidade para gravar informações ainda não foi superada por nenhum
equipamento cibernético.
Por
que tanta memória? Qual a finalidade real de tanta potencialidade? Haverá
alguma outra função que não estamos exercendo com deveríamos? Nossas trilhões
de conexões neurais estarão à nossa disposição apenas para jogarmos dominó e
levantarmos um copo de cerveja? E toda essa capacidade ou potencialidade “se
acaba” simplesmente com a morte?
Em
segundo lugar vamos analisar a constatação, pelos psicólogos e terapeutas, de
transferência de memórias do doador para o receptor, nos casos de transplante
de coração.
Há, hoje em dia, diversos relatos de transplantados que mudaram totalmente
o seu comportamento e estilo de vida, assumindo os de seu doador, mesmo sem ter
conhecimento disso! Essas memórias só poderiam estar nas células do órgão
transplantado.
Mas,
se já temos constatações de que todas as nossas memórias localizam-se no cérebro,
essas memórias seriam back-ups nas células do coração? Uma célula não
dependeria de uma rede neural para arquivar uma informação? Então, mais uma vez, a declaração de Almeida
faz todo sentido!
E,
em terceiro lugar, a identificação feita por Philip Low, das ondas cerebrais
emitidas pela área de Broca, área que elabora a fala. Ele, em seguida,
desenvolveu os equipamentos para a sua captação e transformação em sinais
digitais. Esses sinais serão enviados a um computador, representando a “fala”
da pessoa.
Seu
desenvolvimento já está sendo testado por Stephen Hawking que, assim que o
equipamento estiver pronto, voltará a comandar seu sintetizador de voz em tempo
real! Os paralíticos cerebrais poderão se comunicar! Haverá a possibilidade de
verdadeira inclusão escolar de uma imensidão de crianças com esclerose lateral
amiotrófica ou com paralisias não progressivas.
Essas
ondas geradas são produto de nosso pensamento. Isso significa que outros
cérebros poderão captá-las e tornar seus sinais conscientes. É a telepatia em
desenvolvimento tecnológico.
Mas,
a telepatia existe? Só existe para quem acredita (tem fé) que se “pensarmos
forte” alguma mensagem dirigida à pessoa que está à nossa frente,
principalmente um paralítico cerebral mudo, nossa mensagem estará chegando a
essa pessoa. Mas precisa haver fé. Precisa haver ciência e fé.
Cada
uma dessas constatações e desenvolvimentos nos impulsiona a estudos muito mais
profundos sobre o funcionamento dos elementos primordiais da nossa formação
orgânica: as nossas células.
Seu
funcionamento é, como podemos perceber, muito mais complexo e muito mais
abrangente do que o conhecimento anterior mostrava e, além disso, sua energia
pode ter efeitos muito mais importantes e objetivos muito mais nobres.
Os
estudos dos idealizadores da neurolinguística apontam para isso desde a década
de setenta. Lembro que eu não acreditei nas suas propostas e, devido a essa
descrença, escrevi um artigo criticando a ideia. Sorte que o artigo “se perdeu”
no tempo...
Hoje
temos referência ilustres, como o físico quântico Amit Goswami, que apresenta
essa realidade em sua obra: “Universo: Como a consciência cria o mundo
material”.
O
estudo quântico da consciência e de sua energia em forma de ondas, realizado
por Goswami, nos leva a um momento intermediário em que as constatações da
energia gerada por nossas células e seus efeitos no mundo material externo ao
nosso corpo, aproximam a ciência da fé, provocando os céticos e empolgando os
pesquisadores mais complacentes.
E
mais que isso: Estamos mesmo em um cosmos com início, meio e fim? Estamos mesmo
em uma realidade com passado, presente e futuro? Em “O Grande Projeto”, Stephen
Hawking e Leonard Mlodinow mostram, entre outras declarações “alucinantes”, que
o cosmos não possui uma realidade única, mas que cada realidade possível do
universo coexiste com as demais, ou seja, existem simultaneamente!
Se
é assim, nem o materialismo é real. Dizer que a matéria existe pode ser uma
forma de crença...
Vamos
conversar mais sobre isso assim que chegarem os seus comentários.
Para
os amigos que desejam mais informações e mais debate sobre o tema, recomendo a
leitura das obras citadas, repetindo:
Amit
Goswami. Universo: Como a consciência
cria o mundo material.
Anna
Freifeld Lemkow. O Princípio da
Totalidade.
Luiz
Henrique Almeida. Deus único, mito e
realidade.
Richard
Dawkins. Deus, um Delírio.
Stephen
Hawking. O Grande Projeto.
Mas
recomendo, também, que mantenham o número telefônico de um bom psiquiatra, em
mãos... Nunca se sabe...