terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Estamos destruindo as competências de nossas crianças


Por que a nossa educação, em vez de preservar a inteligência e as competências da criança, acaba destruindo o que ela traz, dentro dela, e padroniza seu cérebro, para ser mais um papagaio numa sociedade que se chama de ser humano?

Pois é, amigos.

Não é por falta de ideias, já que sempre surge um pensador, um filósofo ou um educador, que percebe, desenvolve e aplica metodologias fantásticas, que mudam totalmente essa infeliz realidade.

Foi assim que, estudando sobre a Grécia antiga podemos entender as formas totalmente opostas nas metodologias educacionais em Athenas e Esparta, assim como os seus resultados.

Em Esparta, onde havia uma educação coletiva, impessoal, realizada pelo Estado, sem participação da família e sem qualquer vínculo afetivo, ela criava guerreiros.

Embora muitas inteligências brilhantes surgissem, a massa era apenas obediente, seguidora fiel de todas as ordens dos seus chefes.

Afinal, essa qualidade é a necessária para que as estratégias e táticas de guerra, elaboradas pelos pensantes, resultem na vitória em campo de batalha.

Já em Athenas, num processo de educação individualizada, cada criança era analisada pelo seu preceptor, para que fossem identificadas as suas potencialidades e competência e, a partir daí, era planejado e executado todo o seu processo de aprendizagem.

Em Athenas, então, se preservava toda a inteligência nascida com a criança, parte dela vinda do mundo inteligível, segundo Platão, ou da cultura dos antepassados, segundo Aristóteles.

Essa preservação da “inteligência nata” permitia que suas competências aflorassem e a criança pudesse, futuramente, vir a ser alguém que, certamente, faria a diferença no mundo.

Em Esparta, entretanto, o processo coletivo impessoal padronizava as mentes em uma espécie de “lavagem cerebral”.

Essa padronização alcançava pensamentos, atitudes e comportamentos, sempre estimulada por meio de estratégias de criação de entusiasmos, muitas vezes contrariando a dimensão consciente de alguns dos indivíduos.

Estava criada a ideia de “consciência coletiva”, estudada mais tarde por Émile Durkheim, em seus estudos sociológicos.

Então, a depender do nosso objetivo em relação à sociedade que desejamos formar, podemos nos basear, ou em Esparta, ou em Athenas.

Se o objetivo é o de criar mentes pensantes, então vamos para Athenas e, assim sendo, por que não analisar, para início de nossas reflexões, o “Olhar Pikler-Loczy”?

Eu nem diria apenas analisar, mas sim, colocá-lo em prática imediatamente, vamos ver por quê?

O vínculo segundo o “Olhar Pikler-Loczy”

A necessidade de se desenvolver crianças, em orfanatos, durante a guerra, fez com que Emmi Pikler desenvolvesse a sua metodologia afetiva, que foi chamada de “Olhar Pikler-Loczy”, cujas características mais importantes têm sido absorvidas por diversos educadores em suas próprias metodologias de desenvolvimento infantil.

A influência desse seu “Olhar” já alcançou, portanto, educadores de todo o mundo, embora, infelizmente, em escolas pontuais, com poucos alunos, quando temos a oportunidade de encontrar profissionais de educação dedicados a incorporar o processo educacional de seus alunos em seu próprio propósito de vida.

Nas demais são mantidas as metodologias tradicionais, impessoais, herdadas das escolas públicas de Esparta, da Grécia Antiga, quando o coletivo supera o individual e o aluno, passivo, segue as ordens determinadas pelo docente, sem possibilidade de qualquer tipo de questionamento ou reflexão individual.

Características mais marcantes

Atividade autônoma da criança

A criança é considerada como, já tendo nascido como sujeito ativo, com suas próprias potencialidades e competências, e com condições de aprender pela observação do outro, do meio ambiente e do mundo, ou seja, pelo processo de “alteridade formando identidade”.

Vínculo afetivo

O professor/cuidador deve estabelecer o vínculo afetivo por meio, inicialmente, de seu olhar ativo, com afetividade, buscando captar as reações da criança, os momentos em que ela demonstra sensações prazerosas, ou sensações de desagrado.

Assim o professor/cuidador deve procurar transformar em sensações agradáveis, todas as suas ações com a criança, como dar a alimentação, dar banho, trocar fraldas ou trocar roupas.

Essa presença afetiva e respeitosa do professor/cuidador é o que dá segurança e encoraja o bebê (ou a criança) a iniciar a exploração do ambiente.

Sem essa segurança emocional o bebê (ou a criança) estará em processo defensivo, desenvolvendo uma sensação de desconfiança em relação ao outro, ao meio e ao mundo.

Consciência de si e do outro

Estabelecido o vínculo, o professor/cuidador deve manter uma postura de “não intervenção”, mas demonstrando participação afetiva (troca de olhares e apoio verbal), compartilhando os momentos de alegria e as atividades lúdicas, como se ambos estivesse no mesmo processo de descoberta.

Essa relação permite o desenvolvimento, na criança, da consciência de si e do outro, reforçando o seu auto entendimento desde a mais tenra idade.

O professor/cuidador deve estar atento os momentos em que a criança demonstra o prazer de estar só, consigo mesma, e manter a postura de observação afetiva, sem interferência.

Mas deve fazer isso com atenção total aos seus gestos, olhares e outras demonstrações de suas potencialidades e competências latentes e em processo de descoberta.

O olhar do professor/cuidador deve ser o mesmo olhar do psicanalista para o seu paciente ou, melhor ainda, o olhar do psicomotricista, já que, nesse caso, além da observação da psiquê, necessita-se da observação, com interferência afetiva, nos movimentos corporais, já que o contato físico também tem importância fundamental no estabelecimento do vínculo.

Equilíbrio orgânico-psíquico e o bem estar

A teoria do vínculo pressupõe que a criança esteja equilibrada orgânico-psiquicamente, o que significa que toda a atenção também deve ser dada ao seu processo de alimentação, eliminação de parasitas, complementação de níveis de vitaminas e todos os demais cuidados do processo digestório, como por exemplo, o tratamento de comorbidades como a disbiose intestinal, por exemplo.

Essa atenção é primordial, principalmente devido a que os principais neurotransmissores responsáveis pelo seu bem estar, sejam liberados pelo cérebro entérico, o cérebro do intestino.

Assim é com 90% de toda a serotonina, 50% de toda a dopamina e outros 30 diferentes hormônios neurotransmissores.

 

Pois é, a amigos!

Esse é mais um tema para a reflexão de todos nós.

 

Mas acredito que, com isso, daremos passos largos rumo a uma nova realidade educacional em nosso país.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

O autoconhecimento e a sua dependência ao entendimento do outro

Esse tema, amigos, é um dos mais importantes para que possamos estabelecer rotas de vida bem direcionadas para a nossa real satisfação pessoal, e não para a satisfação das crenças limitantes, impostas a nós, desde o nascimento.

Então vamos à reflexão:

Precisamos, o tempo todo, nos relacionar com as pessoas e com o mundo à nossa volta.

E o que mais ouvimos dos nossos “coachs” é que, para essa relação seja bem desenvolvida, precisamos estar “de bem conosco mesmo”.

Segundo muitos “coachs”, só estando bem conosco mesmo poderemos entender corretamente os outros, compreender suas atitudes para que, no caso de nossos alunos, encontrar meios de conquistá-los e, assim, mais facilmente direcioná-los para as estradas que poderão levá-los ao encontro do sentido e do propósito de suas vidas.

Isso é sabido por todos nós, pais, terapeutas e professores.

Mas, hoje, vamos analisar algo que deve vir antes, e que, por mais que possa parecer contraditório, constitui, na verdade, o alicerce para a construção de todo esse auto entendimento.

Esse algo é a alteridade, um termo não muito conhecido, mas que significa o entendimento das nossas próprias características, qualidades e defeitos, por meio das relações de contraste, distinção e diferença em relação ao outro.

Nos estudos antropológicos somos levados ao entendimento de que a identidade do ser humano é construída pelo processo de alteridade, por meio da observação do outro e pela imitação das suas características.

Esse mesmo estudo foi o que nos levou ao entendimento de que, ao se incluir um aluno com deficiência em uma sala de aula, quando todos os demais não possuem qualquer tipo de deficiência, o processo de alteridade levará seu cérebro a imitar os demais e reduzir todos os sintomas que possam vir a ser reduzidos.

Esse, aliás, será o tema de um próximo ensaio.

Então, voltando ao nosso tema, o auto entendimento, vemos que o processo deve ter início na tarefa de entendimento do outro, na observação cuidadosa das características comportamentais aparentes dos outros, no esforço para compreendermos, da melhor forma possível, as atitudes, ideias, opções, escolhas e opiniões dos outros para que, a partir desse conhecimento, possamos reunir informações suficientes que nos levem ao entendimento de nós mesmos.

Nesse processo há uma parte fundamental, que eu, de alguma forma, já expliquei em meu livro “Afetividade na Educação”, desde a edição de 2009:

O incômodo e a irritação que sentimos com alguma característica do outro, que consideramos como defeito.

Esse incômodo é um alarme, que nos serve para buscar, em nós mesmos, isso que chamamos de defeito do outro, já que, certamente, esse incômodo pode estar indicando que essa é uma característica nossa, mas que, por algum motivo inconsciente, a mantemos latente dentro de nossa psiquê, escondida de nós mesmos.

E se tem algo em nossa psiquê escondido de nós mesmos, esse algo constitui uma fonte de ansiedades, angústias ou até problemas mais sérios de origem psicossomática.

É o momento de fazer essa busca, entender o seu significado, aceitar essa realidade e, a partir daí, analisar a possibilidade de transformação ou até a própria aceitação dessa característica, antes latente e, agora, conhecida, pelo menos por nós mesmos.

O outro, então, passa a ser a base do entendimento de nós mesmos, desde que tenhamos a possibilidade de observar, entender e compreender todos esses muitos “outros”, em todas as suas múltiplas características, já que quanto maior a quantidade e a qualidade do observado, maior será a eficácia de nossa busca pelo nosso próprio eu interior.

É, então, a partir daí, com esse autoconhecimento produzido a partir da alteridade, que estaremos um pouco mais aptos para a nova fase da observação, entendimento e compreensão do outro, do ambiente à nossa volta, e do próprio mundo em que vivemos.

No relacionamento pais-filhos isso significa a possibilidade de um entendimento muito mais profundo da evolução intelectual, comportamental e emocional da criança e do adolescente, já que o nosso olhar passa a ser um olhar quase como que:

Pra nós mesmos, mas no corpo do outro.

Isso também se aplica na clínica, quando o terapeuta, ao atender a uma criança ou a um adolescente com esse novo olhar, consegue estabelecer o processo empático de:

Se sentir como se estivesse no corpo e na mente do próprio paciente.

E nas salas de aula, desde que utilizando metodologias inclusivas, em que o docente consegue atender individualmente todos os seus alunos, essa nova visão estabelece um maravilhoso vínculo afetivo.

Esse vínculo afetivo é o mesmo que tem sido difundido como olhar Pikler-Loczy, aquele que foi criado na Hungria, por Emmi Pikler, e que evidencia a importância fundamental da afetividade no processo de desenvolvimento intelectual, emocional e comportamental de toda a criança.

Vamos colocar em prática?


domingo, 27 de dezembro de 2020

Sinônimos que mudam com a cultura

Todos nós sabemos exatamente o porquê de o termo “político” ter sido associado ao termo “corrupto”, não só no nosso país, mas na maioria dos países do mundo.

Logicamente, nas duas últimas décadas, o nosso país extrapolou todos os limites desse sinônimo e se tornou palco dos maiores desvios de verba a jamais vistos em todo o mundo.

Mas a nossa preocupação não está diretamente ligada aos corruptos de agora, já que as atitudes criminosas desses, dificilmente serão anuladas, já que aqueles que os julgariam estão, também, ou até mais ainda, mergulhados até o pescoço nessa mesma lama.

Isso não sou eu quem estou dizendo! São eles mesmos que mostram isso, todos os dias, com suas atitudes criminosas, sem qualquer preocupação com o anonimato. Soltam criminosos perigosos e mantém presos pequenos ladrões de galinha.

Mas nossa preocupação, como eu disse, é com aos jovens de agora, aqueles que estão sob a nossa responsabilidade e que, mais tarde, assumirão papéis importantes, em nossa sociedade e que, por isso mesmo, devem ser preparados para eliminar esse mal, não pela força, mas pela substituição.

Esses precisam descobrir, por meio das nossas orientações, o prazer de viver em harmonia consigo mesmo e com o outro. O prazer do exercício da honestidade e do caráter. O prazer de compartilhar atitudes positivas e produtivas, visando sempre o bem comum.

E para isso precisamos, todos, investir urgentemente nessa formação, de forma a eliminar a nefasta influência que chega às mentes jovens, pelos péssimos exemplos que eles assistem, todos os dias, pela mídia tendenciosa e, também, criminosa.

Convido vocês a refletirem sobre isso, mas que não fique apenas na reflexão. Vamos conversar sobre o tema e planejar atitudes que sejam eficazes o suficiente para mudarmos essa realidade.

Mandem seus comentários, suas sugestões ou suas críticas, para debatermos em nossas lives pelo nosso canal no yiuitube, e em nossos Encontros de Formação Continuada.

Inscrevam-se em nosso canal, ativem o sininho de notificação, deem o seu “like” e compartilhem com seus amigos.

Vamos, juntos, fazer essa diferença, para garantir uma sociedade melhor a partir dos nossos filhos ou alunos.

Um forte abraço para todos.