Esse tema, amigos, é um dos mais importantes para que
possamos estabelecer rotas de vida bem direcionadas para a nossa real
satisfação pessoal, e não para a satisfação das crenças limitantes, impostas a
nós, desde o nascimento.
Então vamos à reflexão:
Precisamos, o tempo todo, nos relacionar com as pessoas e
com o mundo à nossa volta.
E o que mais ouvimos dos nossos “coachs” é que, para essa relação
seja bem desenvolvida, precisamos estar “de bem conosco mesmo”.
Segundo muitos “coachs”, só estando bem conosco mesmo
poderemos entender corretamente os outros, compreender suas atitudes para que,
no caso de nossos alunos, encontrar meios de conquistá-los e, assim, mais
facilmente direcioná-los para as estradas que poderão levá-los ao encontro do
sentido e do propósito de suas vidas.
Isso é sabido por todos nós, pais, terapeutas e professores.
Mas, hoje, vamos analisar algo que deve vir antes, e que,
por mais que possa parecer contraditório, constitui, na verdade, o alicerce
para a construção de todo esse auto entendimento.
Esse algo é a alteridade, um termo não muito conhecido, mas
que significa o entendimento das nossas próprias características, qualidades e
defeitos, por meio das relações de contraste, distinção e diferença em relação
ao outro.
Nos estudos antropológicos somos levados ao entendimento de
que a identidade do ser humano é construída pelo processo de alteridade, por
meio da observação do outro e pela imitação das suas características.
Esse mesmo estudo foi o que nos levou ao entendimento de que,
ao se incluir um aluno com deficiência em uma sala de aula, quando todos os demais
não possuem qualquer tipo de deficiência, o processo de alteridade levará seu
cérebro a imitar os demais e reduzir todos os sintomas que possam vir a ser
reduzidos.
Esse, aliás, será o tema de um próximo ensaio.
Então, voltando ao nosso tema, o auto entendimento, vemos
que o processo deve ter início na tarefa de entendimento do outro, na
observação cuidadosa das características comportamentais aparentes dos outros, no
esforço para compreendermos, da melhor forma possível, as atitudes, ideias, opções,
escolhas e opiniões dos outros para que, a partir desse conhecimento, possamos
reunir informações suficientes que nos levem ao entendimento de nós mesmos.
Nesse processo há uma parte fundamental, que eu, de alguma
forma, já expliquei em meu livro “Afetividade na Educação”, desde a edição de 2009:
O incômodo e a irritação que sentimos com alguma
característica do outro, que consideramos como defeito.
Esse incômodo é um alarme, que nos serve para buscar, em nós
mesmos, isso que chamamos de defeito do outro, já que, certamente, esse
incômodo pode estar indicando que essa é uma característica nossa, mas que, por
algum motivo inconsciente, a mantemos latente dentro de nossa psiquê, escondida
de nós mesmos.
E se tem algo em nossa psiquê escondido de nós mesmos, esse
algo constitui uma fonte de ansiedades, angústias ou até problemas mais sérios
de origem psicossomática.
É o momento de fazer essa busca, entender o seu significado,
aceitar essa realidade e, a partir daí, analisar a possibilidade de
transformação ou até a própria aceitação dessa característica, antes latente e,
agora, conhecida, pelo menos por nós mesmos.
O outro, então, passa a ser a base do entendimento de nós
mesmos, desde que tenhamos a possibilidade de observar, entender e compreender
todos esses muitos “outros”, em todas as suas múltiplas características, já que
quanto maior a quantidade e a qualidade do observado, maior será a eficácia de nossa
busca pelo nosso próprio eu interior.
É, então, a partir daí, com esse autoconhecimento produzido
a partir da alteridade, que estaremos um pouco mais aptos para a nova fase da
observação, entendimento e compreensão do outro, do ambiente à nossa volta, e do
próprio mundo em que vivemos.
No relacionamento pais-filhos isso significa a possibilidade
de um entendimento muito mais profundo da evolução intelectual, comportamental
e emocional da criança e do adolescente, já que o nosso olhar passa a ser um
olhar quase como que:
Pra nós mesmos, mas no corpo do outro.
Isso também se aplica na clínica, quando o terapeuta, ao atender
a uma criança ou a um adolescente com esse novo olhar, consegue estabelecer o
processo empático de:
Se sentir como se estivesse no corpo e na mente do próprio
paciente.
E nas salas de aula, desde que utilizando metodologias
inclusivas, em que o docente consegue atender individualmente todos os seus
alunos, essa nova visão estabelece um maravilhoso vínculo afetivo.
Esse vínculo afetivo é o mesmo que tem sido difundido como
olhar Pikler-Loczy, aquele que foi criado na Hungria, por Emmi Pikler, e que evidencia
a importância fundamental da afetividade no processo de desenvolvimento
intelectual, emocional e comportamental de toda a criança.
Vamos colocar em prática?
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