segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

O autoconhecimento e a sua dependência ao entendimento do outro

Esse tema, amigos, é um dos mais importantes para que possamos estabelecer rotas de vida bem direcionadas para a nossa real satisfação pessoal, e não para a satisfação das crenças limitantes, impostas a nós, desde o nascimento.

Então vamos à reflexão:

Precisamos, o tempo todo, nos relacionar com as pessoas e com o mundo à nossa volta.

E o que mais ouvimos dos nossos “coachs” é que, para essa relação seja bem desenvolvida, precisamos estar “de bem conosco mesmo”.

Segundo muitos “coachs”, só estando bem conosco mesmo poderemos entender corretamente os outros, compreender suas atitudes para que, no caso de nossos alunos, encontrar meios de conquistá-los e, assim, mais facilmente direcioná-los para as estradas que poderão levá-los ao encontro do sentido e do propósito de suas vidas.

Isso é sabido por todos nós, pais, terapeutas e professores.

Mas, hoje, vamos analisar algo que deve vir antes, e que, por mais que possa parecer contraditório, constitui, na verdade, o alicerce para a construção de todo esse auto entendimento.

Esse algo é a alteridade, um termo não muito conhecido, mas que significa o entendimento das nossas próprias características, qualidades e defeitos, por meio das relações de contraste, distinção e diferença em relação ao outro.

Nos estudos antropológicos somos levados ao entendimento de que a identidade do ser humano é construída pelo processo de alteridade, por meio da observação do outro e pela imitação das suas características.

Esse mesmo estudo foi o que nos levou ao entendimento de que, ao se incluir um aluno com deficiência em uma sala de aula, quando todos os demais não possuem qualquer tipo de deficiência, o processo de alteridade levará seu cérebro a imitar os demais e reduzir todos os sintomas que possam vir a ser reduzidos.

Esse, aliás, será o tema de um próximo ensaio.

Então, voltando ao nosso tema, o auto entendimento, vemos que o processo deve ter início na tarefa de entendimento do outro, na observação cuidadosa das características comportamentais aparentes dos outros, no esforço para compreendermos, da melhor forma possível, as atitudes, ideias, opções, escolhas e opiniões dos outros para que, a partir desse conhecimento, possamos reunir informações suficientes que nos levem ao entendimento de nós mesmos.

Nesse processo há uma parte fundamental, que eu, de alguma forma, já expliquei em meu livro “Afetividade na Educação”, desde a edição de 2009:

O incômodo e a irritação que sentimos com alguma característica do outro, que consideramos como defeito.

Esse incômodo é um alarme, que nos serve para buscar, em nós mesmos, isso que chamamos de defeito do outro, já que, certamente, esse incômodo pode estar indicando que essa é uma característica nossa, mas que, por algum motivo inconsciente, a mantemos latente dentro de nossa psiquê, escondida de nós mesmos.

E se tem algo em nossa psiquê escondido de nós mesmos, esse algo constitui uma fonte de ansiedades, angústias ou até problemas mais sérios de origem psicossomática.

É o momento de fazer essa busca, entender o seu significado, aceitar essa realidade e, a partir daí, analisar a possibilidade de transformação ou até a própria aceitação dessa característica, antes latente e, agora, conhecida, pelo menos por nós mesmos.

O outro, então, passa a ser a base do entendimento de nós mesmos, desde que tenhamos a possibilidade de observar, entender e compreender todos esses muitos “outros”, em todas as suas múltiplas características, já que quanto maior a quantidade e a qualidade do observado, maior será a eficácia de nossa busca pelo nosso próprio eu interior.

É, então, a partir daí, com esse autoconhecimento produzido a partir da alteridade, que estaremos um pouco mais aptos para a nova fase da observação, entendimento e compreensão do outro, do ambiente à nossa volta, e do próprio mundo em que vivemos.

No relacionamento pais-filhos isso significa a possibilidade de um entendimento muito mais profundo da evolução intelectual, comportamental e emocional da criança e do adolescente, já que o nosso olhar passa a ser um olhar quase como que:

Pra nós mesmos, mas no corpo do outro.

Isso também se aplica na clínica, quando o terapeuta, ao atender a uma criança ou a um adolescente com esse novo olhar, consegue estabelecer o processo empático de:

Se sentir como se estivesse no corpo e na mente do próprio paciente.

E nas salas de aula, desde que utilizando metodologias inclusivas, em que o docente consegue atender individualmente todos os seus alunos, essa nova visão estabelece um maravilhoso vínculo afetivo.

Esse vínculo afetivo é o mesmo que tem sido difundido como olhar Pikler-Loczy, aquele que foi criado na Hungria, por Emmi Pikler, e que evidencia a importância fundamental da afetividade no processo de desenvolvimento intelectual, emocional e comportamental de toda a criança.

Vamos colocar em prática?


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