domingo, 3 de novembro de 2013

Evitando a formação de transgressores

Como evitar a formação de transgressores na sociedade

Certa vez, enquanto eu ministrava uma aula de matemática para uma das séries da educação básica, olhei bem para toda a turma, refleti por alguns instantes, e veio, imediatamente, à minha mente, a imagem do futuro que cada um deles estaria traçando para si mesmo.

Confesso que fiquei um pouco transtornado ao perceber que, por mais que eu estivesse tentando construir, na mente de cada um deles, um alicerce para uma vida de sucesso e de caráter, havia influências que poderiam estar sendo muito mais fortes do que a minha, e que poderiam servir para desviá-los totalmente do caminho que eu, arduamente, insistia em indicar como o mais correto.

No final de semana seguinte, ao dar uma palestra para psicanalistas em formação, comentei sobre a minha observação e como estava fácil identificar, com pequena margem de erro, quais desses alunos teriam sucesso profissional e pessoal com caráter, quais poderiam ter sucesso, mas sem escrúpulos e sem ética alguma, quais se acomodariam em um emprego qualquer, apenas para ter o básico para seu sustento, e quais possivelmente entrariam em uma vida de transgressão e, possivelmente, criminosa.

Fui duramente criticado por alguns dos participantes, mas mostrei, depois de alguns exemplos concretos, que não adianta querer visualizar uma realidade inexistente e tentarmos nos iludir com um resultado diferente do que qualquer um de nós, a partir de uma análise fria, consegue visualizar em um grupo de jovens em uma sala de aula.
Hoje, lendo a entrevista com o psicólogo Stanton Samenow na Veja (edição 2346, ano 46, nº45, de 6 de novembro de 2013, páginas amarelas), encontrei os elementos teóricos que eu precisava para embasar aquelas minhas observações.

Depois de entrevistar criminosos durante mais de quarenta anos de sua vida, as suas conclusões reforçam as minhas observações, mostram que a sala de aula é o local onde todas essas tendências podem ser observadas e, melhor ainda, indicam que o único caminho para reverter esse processo (a menos que haja alguma doença psicogênica associada) é o da educação de valores humanos.

Alguns dos sintomas que indicam a tendência criminosa são, segundo Samenow:

1.     Mentem, não para escapar de situações embaraçosas, mas porque obtêm disso uma sensação de poder.

2.     Sentem prazer em machucar o outro, não só fisicamente.

3.     Para eles ser alguém é ser o centro das atenções.

4.     Se os outros não agem da forma que ele espera, ele os culpa. A sua forma de agir é a única certa.

Para conseguir mudar alguma coisa, então, só por meio das vivências de valores. 
Lembrei-me, então, da magnífica conversa que mantive com Diane Tillman, em Nuneham Courtenay, perto de Oxford, na Grã-Bretanha, sobre os resultados surpreendentes que o programa criado por ela, chamado de Vivendo Valores na Educação, estava apresentando em todos os lugares onde estava sendo aplicado.
Essa é a luz que pode ser utilizada para a reversão de um processo que, à primeira vista, parece impossível de ser revertido!

Mas precisamos juntar todas essas contribuições para que os resultados sejam os mais eficazes possíveis, iniciando, é claro, com um bom planejamento de educação de valores, já que não devemos direcionar nossos esforços apenas para aqueles que estão demonstrando tais tendências. Poderíamos estar deixando alguns “de lado”. O processo deve ser feito de forma geral, para toda a turma.

Por experiência própria recomendo, primeiro, que seja escolhido um valor humano para cada mês. Isso facilita o trabalho constante, o ano inteiro, sem dar a impressão de monotonia.

Além disso é importante que todas as vivências, exercícios, palestras, redações e tudo o mais que for realizado sobre o valor trabalhado naquele mês, aborde apenas exemplos positivos daqueles valores.

Nunca dar exemplos de anti-valores, nem com a desculpa de que os alunos devem conhecer o errado para se proteger dele! O errado eles conhecem muito bem, já que são bombardeados por eles todos os dias por meio da mídia manipuladora. E os exemplo com anti-valores acabam servindo como uma programação negativa na mente de alguns deles.

E agora, depois de vir aplicando e recomendando a aplicação dessa metodologia, percebi que alguns casos merecem uma atenção mais direta, havendo necessidade, então, de uma observação mais minuciosa, levando em consideração alguns elementos comentados pelo psicólogo Stanton Samenow na entrevista publicada na Veja.

Para esses é conveniente um tratamento psicológico em paralelo, se for observado que o problema é comportamental, ou um tratamento terapêutico mais apropriado, como a psicanálise, por exemplo, se o problema estiver relacionado a alguma neurose.

O que não podemos é seguir adiante o processo educacional e escolar sem levar em consideração essa realidade, porque, nesse caso, estaremos apenas melhorando, ainda mais, a capacidade criminosa daqueles que estiverem apresentando tais tendências.

É uma realidade assustadora, mas é uma realidade!