Como evitar a formação de transgressores na sociedade
Certa vez, enquanto eu ministrava uma aula de matemática para
uma das séries da educação básica, olhei bem para toda a turma, refleti por
alguns instantes, e veio, imediatamente, à minha mente, a imagem do futuro que
cada um deles estaria traçando para si mesmo.
Confesso que fiquei um pouco transtornado ao perceber que,
por mais que eu estivesse tentando construir, na mente de cada um deles, um
alicerce para uma vida de sucesso e de caráter, havia influências que poderiam
estar sendo muito mais fortes do que a minha, e que poderiam servir para
desviá-los totalmente do caminho que eu, arduamente, insistia em indicar como o
mais correto.
No final de semana seguinte, ao dar uma palestra para
psicanalistas em formação, comentei sobre a minha observação e como estava fácil
identificar, com pequena margem de erro, quais desses alunos teriam sucesso
profissional e pessoal com caráter, quais poderiam ter sucesso, mas sem
escrúpulos e sem ética alguma, quais se acomodariam em um emprego qualquer,
apenas para ter o básico para seu sustento, e quais possivelmente entrariam em
uma vida de transgressão e, possivelmente, criminosa.
Fui duramente criticado por alguns dos participantes, mas
mostrei, depois de alguns exemplos concretos, que não adianta querer visualizar
uma realidade inexistente e tentarmos nos iludir com um resultado diferente do
que qualquer um de nós, a partir de uma análise fria, consegue visualizar em um
grupo de jovens em uma sala de aula.
Hoje, lendo a entrevista com o psicólogo Stanton Samenow na
Veja (edição 2346, ano 46, nº45, de 6 de novembro de 2013, páginas amarelas), encontrei
os elementos teóricos que eu precisava para embasar aquelas minhas observações.
Depois de entrevistar criminosos durante mais de quarenta
anos de sua vida, as suas conclusões reforçam as minhas observações, mostram
que a sala de aula é o local onde todas essas tendências podem ser observadas
e, melhor ainda, indicam que o único caminho para reverter esse processo (a
menos que haja alguma doença psicogênica associada) é o da educação de valores
humanos.
Alguns dos sintomas que indicam a tendência criminosa são,
segundo Samenow:
1. Mentem, não
para escapar de situações embaraçosas, mas porque obtêm disso uma sensação de
poder.
2. Sentem
prazer em machucar o outro, não só fisicamente.
3. Para eles
ser alguém é ser o centro das atenções.
4. Se os
outros não agem da forma que ele espera, ele os culpa. A sua forma de agir é a
única certa.
Para conseguir mudar alguma coisa, então, só por meio das
vivências de valores.
Lembrei-me, então, da magnífica conversa que mantive com Diane Tillman, em Nuneham Courtenay, perto de Oxford, na Grã-Bretanha, sobre os resultados surpreendentes que o programa criado por ela, chamado de Vivendo Valores na Educação, estava apresentando em todos os lugares onde estava sendo aplicado.
Lembrei-me, então, da magnífica conversa que mantive com Diane Tillman, em Nuneham Courtenay, perto de Oxford, na Grã-Bretanha, sobre os resultados surpreendentes que o programa criado por ela, chamado de Vivendo Valores na Educação, estava apresentando em todos os lugares onde estava sendo aplicado.
Essa é a luz que pode ser utilizada para a reversão de um
processo que, à primeira vista, parece impossível de ser revertido!
Mas precisamos juntar todas essas contribuições para que os
resultados sejam os mais eficazes possíveis, iniciando, é claro, com um bom
planejamento de educação de valores, já que não devemos direcionar nossos
esforços apenas para aqueles que estão demonstrando tais tendências. Poderíamos
estar deixando alguns “de lado”. O processo deve ser feito de forma geral, para
toda a turma.
Por experiência própria recomendo, primeiro, que seja
escolhido um valor humano para cada mês. Isso facilita o trabalho constante, o
ano inteiro, sem dar a impressão de monotonia.
Além disso é importante que todas as vivências, exercícios,
palestras, redações e tudo o mais que for realizado sobre o valor trabalhado
naquele mês, aborde apenas exemplos positivos daqueles valores.
Nunca dar exemplos de anti-valores, nem com a desculpa de que
os alunos devem conhecer o errado para se proteger dele! O errado eles conhecem
muito bem, já que são bombardeados por eles todos os dias por meio da mídia
manipuladora. E os exemplo com anti-valores acabam servindo como uma
programação negativa na mente de alguns deles.
E agora, depois de vir aplicando e recomendando a aplicação
dessa metodologia, percebi que alguns casos merecem uma atenção mais direta,
havendo necessidade, então, de uma observação mais minuciosa, levando em
consideração alguns elementos comentados pelo psicólogo Stanton Samenow na
entrevista publicada na Veja.
Para esses é conveniente um tratamento psicológico em
paralelo, se for observado que o problema é comportamental, ou um tratamento
terapêutico mais apropriado, como a psicanálise, por exemplo, se o problema
estiver relacionado a alguma neurose.
O que não podemos é seguir adiante o processo educacional e
escolar sem levar em consideração essa realidade, porque, nesse caso, estaremos
apenas melhorando, ainda mais, a capacidade criminosa daqueles que estiverem
apresentando tais tendências.
É uma realidade assustadora, mas é uma realidade!
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