terça-feira, 29 de novembro de 2016

Automutilação adolescente

Mais uma vez estamos observando um fato social muito grave, ocorrendo no meio adolescente, que é a automutilação, ou seja, os adolescentes se cortando nos braços e pernas, muitos deles sem conseguir sequer dizer o motivo disso.

Alguns chegando a apresentar sintomas de um transtorno de repetição sem controle, que pode até ser considerado como um vício.

Como as reportagens apresentadas pela mídia só procuram obter sensacionalismo para ganhar audiência, tudo o que foi mostrado, inclusive no fantástico, de nada serviu como orientação para pais nem para professores. Só serviu para apavorar mais ainda.

O principal problema, que nem sempre s pessoas estão entendendo, é encontrar as razões pelas quais esses adolescentes estão sentindo essa necessidade.

Vamos fazer uma abordagem, hoje, só para os pais.

Em um próximo artigo abordaremos o papel dos professores e dos psicólogos.

Em outro artigo vamos nos dirigir diretamente aos próprios adolescentes, enfocando suas motivações específicas.

Identificação do fato

É importante que os pais estejam sempre atentos à forma como os filhos se portam em casa.

A insistência em se vestir com camisas de manga comprida, por exemplo, ou não usar short em casa, mesmo no calor, pode significar que estão querendo esconder as marcas dessa automutilação.

Se o adolescente passa a maior parte do tempo isolado em seu quarto, sem muita conversa com ninguém, pode ter o mesmo significado.

É importante, então, estar sempre por perto do filho e observar se ele parece estar triste, desanimado, ansioso ou com qualquer tipo de atitudes estranhas já é um alerta.

Qualquer desses sintomas já serve de alerta.

Atitude repressiva após a descoberta

Ao descobrir isso muitos pais tem a tendência imediata à repressão, ou seja, a chamar a atenção do filho sobre o fato, a proibir ele de continuar a fazer isso e a impedir o acesso a objetos cortantes.

Tudo isso parece muito interessante, mas não funciona!

Quem quer se cortar sempre encontra um meio de fazer isso, mesmo que não tenha acesso a giletes ou facas.

E a bronca ou a punição pode até fazer com que o filho pare de fazer isso na sua frente, mas ele vai tentar fazer escondido ou, em alguns casos, substituir os cortes pela utilização de uma droga qualquer, como a maconha, por exemplo.

Atitude correta após a descoberta

A atitude correta é, assim que descobrir o fato, analisar rapidamente onde está o NOSSO ERRO COMO PAIS!

Sim, porque todos esses casos têm origem na falta de um relacionamento aberto e correto em casa, fazendo com que o adolescente não se sinta bem em compartilhar, com os seus pais, os problemas e as dúvidas que surgem e que são característicos da adolescência.

Quando os pais mantêm, desde o nascimento do filho, um relacionamento de imposição de limites e controle, mas com muito afeto, eles estão construindo um equilíbrio emocional que nunca vai permitir que uma coisa dessas aconteça.

Para quem já tiver meu livro AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO isso está mostrado em detalhes da página 76 à página 105.

Mas nesse momento nós temos que correr para eliminar o prejuízo que já está ocorrendo, agora na fase adolescente, dos 12 aos 18 anos.

Essa fase é quando ocorrem todas as mudanças em seu corpo, em seus sentimentos e em suas emoções, e é quando eles precisam de mais orientação e mais apoio emocional.

E muitas vezes os pais acreditam que já são quase adultos, e não dão mais o carinho que davam quando ele era criança.

Não existe um momento de conversa franca e aberta. Não existe o abraço e o beijo. Não há carinho. 
Não são compartilhadas as emoções, os sentimentos. Normalmente cada um está mais preocupado com seus afazeres e uj não tem tempo para o outro.

Essa falta de carinho gera um afastamento e, logicamente, a perda de confiança para conversas mais íntimas.

É muita coisa que muda. É o próprio corpo do adolescente. A sua forma de ver o mundo. Os sentimentos que surgem, as emoções e as atrações sexuais.

Ele precisa perguntar, precisa de orientação, precisa entender o que se passa em sua mente.

Mas se não tiver confiança em se abrir com os pais vai, inicialmente, se sentir perdido, e ele se fecha em si mesmo ou vai procurar apoio externo.

É exatamente nessa poio externo ou em falta de apoio, que vão surgir as carências afetivas e, em seguida, as angústias.

Carência e angústia:

Se ele conseguisse alguém que o ouvisse sem criticá-lo, de forma que ele pudesse colocar para fora, sem medo algum, o que sente, essa angústia não apareceria.

A carência e a angústia chegam a um ponto em que ele se sente culpado por estar se sentindo abandonado e rejeitado ou até discriminado, criticado e, em algumas vezes, até sofrendo agressões orais por parte de seus pais.

Ao se sentir culpado ele procura alguma atitude que compense a carência, como as drogas, por exemplo, e em muitos casos, como os que estamos vendo, eles procuram algo para sentirem alguma dor física que compense a dor psíquica do que estão sentindo.

Mais motivos que trazem dúvidas e conflitos aos adolescentes:

Conflito de personalidade

Ao chegar a adolescência ele percebe que a sua personalidade, ou seja, a sua forma de ser, de sentir, de se emocionar e de gostar, está em conflito com ele mesmo  e com a personalidade que ele achava que tinha.

Um exemplo disso é quando o adolescente se descobre homossexual.

Algumas vezes ele pode estar com muita dificuldade ele mesmo entender e aceitar a sua própria personalidade, ou com muito medo de sofrer uma rejeição por parte de sua família e de ser discriminado pelos amigos.

Ele só vai entender o que está acontecendo e saber como proceder, se tiver pleno apoio de seus pais para que, juntos, possam analisar suas emoções, seus sentimentos e sua forma de sentir atração, e a partir daí receber a orientação adequada para não vir a sofrer socialmente com essa nova face de sua personalidade.

Para quem não sabe como se dá, no cérebro, a formação da personalidade sexual, meu outro livro “Sexo: a escolha é sua” mostra em detalhes da página 69 até a página 94.

Em outro artigo enfocarei isso com mais detalhes.

Lógico que a sexualidade é apenas uma das causas dessa angústia disparadora desse processo de compensação com dor física, mas todas as outras carências levam ao mesmo fato.

Outros fatos que só agravam ainda mais essa angústia:

Muitas coisas que estão, normalmente, na rotina dos adolescentes, ainda servem para piorar ainda mais essas neuroses.

Por exemplo:

Estresse psíquico por excesso de exposição às emissões das telas (celulares, videogames, computadores, TVs)

Estresse por sedentarismo – falta de atividade, principalmente atividade física

Estresse por falta de objetivos na vida – não sabe o que vai querer ser na vida

Estresse por incapacidade de se satisfazer com as coisas que tem, que é normal na nossa sociedade consumista

Vamos às atitudes preventivas e corretivas

Para tirar essa diferença, vamos fazer todo esforço possível para resgatar o amor de seus filhos.

Precisamos parar para ouvi-lo até o fim de cada uma de suas frases.

O ideal é que seja criado um momento em família, de preferência em uma refeição com todos à mesa, mas sem TV nem celular nem rádio ligado, para que o momento seja real, de conversa pessoal presencial, cada um podendo olhar o outro e sentir as emoções do outro.

E que esse momento seja combinado para que ocorra periodicamente, por exemplo: no mínimo uma vez por semana.

Esses momentos, então, devem ser, principalmente, de escuta, ou seja, pais devem escutar com atenção o filho, estimulando-o a se abrir totalmente, deixando-o com a segurança de que ele pode falar tudo o que sente sem que tenha medo de ser criticado.

Qualquer crítica aos seus pensamentos terá como consequência o medo de se abrir e de compartilhar seus sentimentos.

Nesses momentos os pais devem sempre lembrar que seu filho pode ter sentimentos, emoções, desejos e opções de vida completamente diferentes das que seus pais desejariam que ele tivesse!

Ele é uma pessoa com personalidade própria, embora ainda em formação. Não podemos desconstruir emoções e sentimentos que existam na mente de nossos filhos. Podemos apenas analisa-los, para tentar dar todo o apoio que ele necessita.

Resumindo a orientação aos pais:

Estar sempre disponível para ouvir o filho e criar oportunidades para isso sempre que puder!

Sempre que ouvir o filho, ouvir sem interrompê-lo, deixando-o falar as frases até o fim, mesmo que você já saiba o que ele vai dizer. Ele tem que ter a segurança de que vai ser ouvido até o fim.

Analisar seus sentimentos e emoções sem criticá-lo. As orientações só devem ser dadas quando se percebe que ele está querendo ou está em dúvida de alguma coisa.

Lembre-se sempre que ele não vai ser engenheiro só porque você quer. A profissão dele tem que ser a que ele goste ou que tenha condição de gostar.

Ele não vai ser heterossexual só porque você assim deseja. Se ele se descobre sentindo atração por pessoa do mesmo sexo, ele não mudará isso por ordem de pai nem mãe.

Nosso papel é orientá-lo para que ele possa analisar suas emoções e sentimentos, sem que seja obrigado a escondê-los de seus próprios pais.

E, acima de tudo, lembrar de abraça-lo sempre que chegar em casa ou antes de sair. Ou mesmo abraça-lo de vez em quando “por nada”, só para sentir que existe um amor em você que pode ser transmitido para ele por meio desse momento de afeto.

Esse abraço, ou seja, esse afeto, precisa estar acompanhado, sempre, da imposição de limites, ou seja, mostrar que existe ume preocupação sua, real, de saber sempre onde ele está, com quem ele está, porque isso, junto com o afeto, é o que constitui o amor verdadeiro.

Essas atitudes de amor verdadeiro e abertura no diálogo são as bases da segurança emocional que ele precisa.

A segurança emocional evita a geração de angústias.

Sem angústias não haverá necessidade de atitudes de compensação como drogas, automutilação e até coisas mais sérias com entrar em estado de depressão e, até, suicídio.


Criem esses momentos e vocês terão a solução desse sério problema.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Educação inclusiva e os cinco passos básicos da coordenação

Em matéria de Educação Inclusiva, as dúvidas continuam e, pior que isso, a má vontade supera todas as capacitações, treinamentos e ensinamentos, por melhores que sejam.

Vamos enfocar, hoje, o papel do coordenador escolar no processo de Educação Inclusiva, em alguns passos bem definitivos e que espero que sejam fáceis de seguir:

Passo um – análise e formação da equipe:

O coordenador deve, antes de qualquer coisa, analisar a equipe existente, os serviços que poderão ser executados e planejar a capacitação de toda ela.

Para a escola ideal, a equipe consiste de:

01-Todos os professores regulares da escola;

02-Profissionais de apoio escolar de cada aluno especial ou de cada grupo de alunos, e demais acompanhantes dos alunos especiais que assim necessitarem, como tradutores e intérpretes, por exemplo;

03-Professores de AEE, ou equipe de AEE (Atendimento Educacional Especializado).

Passo dois – motivação de toda a equipe já mostrando as funções básicas de cada um:

Primeiro o coordenador deve motivar os componentes da equipe para a importância desse trabalho e, principalmente, mostrar que só conseguiremos sucesso no processo se aprendermos, todos, a gostar de verdade, de cada um dos alunos que estiverem sob nosso acompanhamento.

A partir daí o coordenador deve deixar bem claro, para toda a equipe da escola, quais são as funções de cada um desses profissionais, para evitar que haja falha no processo de Educação Inclusiva.

Para ajudar o coordenador nessa tarefa aqui vão as dicas:

Vamos começar pela síntese das funções:

Funções do professor regular:

Desenvolvimento intelectual, inclusão social e elevação da autoestima do aluno – realizada na sala de aula regular sob a sua responsabilidade.

No artigo Educação Inclusiva 03 – Dinâmica grupal em sala e no Educação Inclusiva 05 – Tarefas e avaliações, nós discutimos a melhor forma de fazer isso.

Profissionais de AEE:

Desenvolvimento cognitivo, ou seja, desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, estímulo das habilidades e elevação da autoestima do aluno.

Profissional de apoio escolar:

Acompanha o aluno nas suas necessidades de alimentação, higiene e locomoção e o ajuda nas atividades escolares em que isso seja necessário, conforme determina a Lei Brasileira de Inclusão da 
Pessoa com Deficiência.

Esse profissional não é para fazer o papel de professor nem de profissional de AEE, como alguns professores regulares acham, ou gostariam que assim fosse.

Passo três – os profissionais de AEE ou a equipe de AEE

Nessa etapa a coordenação deve providenciar a capacitação da equipe de AEE, de preferência com visitas às APAEs locais, e outras escolas de educação especial, como escola para surdos e instituições de apoio a deficientes visuais.

Funções principais do profissional de AEE:

A capacitação é o que vai servir para que essa equipe tente, com o máximo esforço e dedicação possível, substituir a escola especializada, em um ambiente dentro da própria escola ou em outro ambiente em convênio com a escola, para aplicar técnicas que desenvolvam a capacidade cognitiva, ou seja, a capacidade de aprender.

Nessa sala serão aplicados os métodos específicos de desenvolvimento pessoal dos alunos especiais daquela escola, mas esses profissionais podem recorrer a todas as técnicas pedagógicas já existentes, independentemente de seus teóricos, ou seja, usar Piaget, Wygotsky, Montessori, e também as ideias publicadas nos portais, no facebook, das Professoras Criativas, da Psicopedagoga Valéria e muito mais.

Os profissionais terão que ser especializados em cada uma das características encontradas nos alunos especiais da escola: autistas, tdah, disléxico, discalcúlico, retardo mental, síndrome de down, surdos, cegos, etc.

Lógico que será muito difícil substituir, dessa forma, uma escola especializada como a APAE, mas a ideia é tentar se aproximar disso.

A coordenação deverá, também, organizar quantas vezes por semana cada aluno terá esse atendimento e como ele será realizado, de preferência no turno oposto.

O coordenador deverá organizar como será a troca de informações entre a equipe de AEE e os professores regulares, para que esses possam preparar seus planos de aula inclusiva.

Isso porque é a equipe de AEE que vai informar aos professores regulares qual o nível intelectual e quais as características cognitivas do aluno especial, para que esse possa preparar seus planos de aula devidamente adaptados, como determina a Educação Inclusiva.

O coordenador deve certificar-se de que está sendo passada a informação completa sobre o aluno especial, pela equipe de AEE e que o professor regular está adaptando sua aula, seus planos de aula, suas tarefas e suas avaliações, de acordo com as informações de nível intelectual e características cognitivas informadas.

Mais uma vez lembro que temos já dois artigos explicando a forma de fazer isso tudo Educação inclusiva 03 e 05.

Passo quatro – o professor regular:

O coordenador deve providenciar a capacitação continuada dos professores regulares para que suas aulas sejam realmente aulas inclusivas produtivas e eficazes.

É comum percebermos professores dando aula para uma turma e, lá no fundo, isolado em uma carteira, e completamente abandonado, está depositado o aluno especial, como se essa atitude fosse uma atitude de educação inclusiva.

A desculpa que mais tenho ouvido é a de que não houve nenhuma instrução sobre isso em sua formação e que ele não sabe o que deve fazer.

Mais absurdo ainda é quando esse aluno depositado na sala é de nível intelectual muito abaixo do de seus colegas e o professor entrega para ele as mesmas tarefas, as mesmas avaliações e as corrige da mesma forma, ou seja, sua nota será sempre zero!

Pior ainda é quando eles dizem que isso é inclusão! Para evitar esse verdadeiro crime moral contra essas crianças, leiam o artigo Educação Inclusiva 03 e 05, como tenho repetido desde o início dessa nossa conversa.

O coordenador deve estudar a técnica dos grupos operativos de Pichon Riviére, para fazer a devida adaptação a uma sala de aula regular com alunos com diferentes níveis intelectuais e diferentes características cognitivas.

As dicas para a utilização dessas técnicas estão nos meus artigos anteriores, como já comentei.

Passo cinco – a Assembleia de Classe para formar o aluno inclusivo:

Estando devidamente “engrenados” os passos anteriores, agora é o momento de planejar e executar as 
Assembleias de Classe.

O que é isso?

São reuniões dos alunos de uma turma, orientados por algum professor, preferencialmente um psicopedagogo, para que eles sejam motivados para o entendimento, a aceitação e a compreensão dos seus colegas especiais e, em seguida, para que planejem a forma como cada um deles, individualmente e em grupo, possam contribuir para o desenvolvimento de seu colega e para a sua inclusão na turma.

Precisamos estar cientes de que a verdadeira inclusão só ocorrerá se for realizada pelos colegas do aluno especial, e não pelos seus professores.

Conclusão:

Seguindo esses cinco passos eu acredito que, nessa escola, o processo de Educação Inclusiva funcione de verdade.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Estudos sobre a consciência humana

Estudos sobre a consciência humana

Para que se preocupar com limites entre realidade, sonho e ilusão, se tudo isso é criado da mesma forma, em nosso cérebro?

Vamos iniciar, então, analisando a conscientização da realidade.

Olhamos um objeto. O reflexo da luz que incide sobre ele vai direto para nossa retina.

Na retina milhares de células, que são chamadas de cones, as que percebem as cores, e bastonetes, as que percebem a luminosidade, se sensibilizam com esse reflexo e geram pulsos elétricos.

Esses pulsos vão para o cérebro, por um nervo chamado nervo ótimo, direto para a área que processa esse tipo de percepção.

Nesse caso do exemplo, que é uma imagem visual, vai para o lobo occipital, na parte de trás da cabeça.

No cérebro o processador começa o processo de construção de uma imagem que deve corresponder ao objeto real.

Para essa construção ele utiliza os sinais elétricos recebidos e os compara com todos os demais arquivos de imagens já memorizados, para que haja a compreensão do que está sendo visualizado.

A compreensão correta do que a gente vê depende de já termos alguma referência anterior memorizada.

Quando todas as partes dessa imagem foram comparadas com nossa memória, a imagem é formada e só agora, ela se torna consciente em nosso cérebro.

Até esse ponto podemos concluir que a imagem que vemos ao olhar o objeto, corresponde exatamente aquele objeto, ou seja, a imagem conscientizada é a representação exata do real.

É mesmo? Mas veja o seguinte:

Todos sabemos o que é hipnose, certo?

A coisa começa a complicar quando constatamos que qualquer bom hipnotizador pode pular todas as etapas iniciais da percepção e ir direto para os processadores mentais, sugestionando-os para gerarem uma imagem que, na verdade, não existe.

Temos, então, uma imagem, essa de um objeto inexistente, construído mentalmente na área consciente do cérebro, exatamente da mesma fora que a outra imagem, que acreditamos ser de um objeto real, só que não há qualquer objeto ali.

Como a conscientização é feita exatamente da mesma forma, nunca teremos condições de saber se aquilo que se tornou consciente é fruto da realidade ou de uma sugestão hipnótica.

Vamos complicar um pouco mais?

Analisemos um paciente esquizofrênico. Esse nem precisa do hipnotizador para ver o que não existe! 

Sua patologia se encarrega, sozinha, de criar imagens, sons, sabores e cheiros, apenas com base nos arquivos mentais, sem que nada disso seja real!

O caso mais conhecido mundialmente é o de John Nash, o cientista que deu origem ao filme “Uma Mente Brilhante”.

Ele nunca conseguia diferenciar as pessoas reais das pessoas criadas pela sua mente! As imagens, os fatos, os sons e as sensações eram idênticas, fossem elas reais ou frutos da sua alucinação esquizofrênica.

E os sonhos?

Saindo da esquizofrenia e indo para um sonho normal, constatamos, também, que nossos arquivos constroem verdadeiros roteiros de filmes, sem que precisemos estar vendo nem ouvindo nada daquilo!

E há sonhos que nos parecem totalmente reais!

Então, pelo que estamos percebendo, o fato de estarmos conscientes de alguma coisa, seja a imagem de um objeto, um som, um acontecimento, uma sensação, ou até você estar mesmo lendo esse artigo ou assistindo a esse vídeo, não nos garante que isso esteja acontecendo de verdade!

E, logicamente, se quisermos ir um pouco mais longe, basta lembrar do filme Matrix, e a dúvida passa a ser: existe mesmo o real, ou tudo, na nossa vida, nada mais é do que fruto da nossa imaginação?

Depois dessa sacudida em nossa mente vamos, agora, ao assunto de hoje, que é: como trabalha a nossa conscientização de mundo!

Quando chegamos ao mundo “damos de cara” com uma infinidade de informações, todas recebidas como sensações, que nos chegam por meio de imagens, sons, cheiros, sabores, diferenças de temperaturas, humidade e secura, atrito e pressão.

Percebemos outras, também, que parecem vir pelo pensamento, imaginação ou ilusão, como se estivéssemos em um sonho, mesmo que estejamos acordados.

E cada uma dessas imagens (percebam que estou falando imagens, mas que podem ser sons, cheiros, sabores e demais sensações captadas por nossos elementos sensores) pode provocar sentimentos de curiosidade, medo, tristeza, raiva, satisfação, insatisfação, prazer, dor, ansiedade, angústia, embora algumas nos passem despercebidas ou somos nós mesmos que as desprezamos.

Mas é com essas percepções que vamos formando a nossa “base de dados”, que são os nossos arquivos cerebrais.

É com base nessa base de dados que poderemos entender o que nos cerca, sejam objetos, pessoas, ambientes, imagens, sons, fatos, acontecimentos, atitudes das pessoas, carinhos, agressões, violências, emoções, sentimentos e tudo o mais.

E, para não esquecer o que dissemos no início, essa mesma base de dados também serve para apoiar a formação dos sonhos, a realização do surto hipnótico e a criação das alucinações esquizofrênicas.

Mas, como ocorrem essas gravações, ou seja, como são formados esses arquivos?

Esse conjunto de informações vai sendo registrado em cada uma das nossas redes neurais e passam, aos poucos, a fazer parte da nossa memória definitiva, como elementos fundamentais para o nosso entendimento de mundo.

Na medida em que essas informações são transformadas em memória, em cada uma das nossas redes neurais, é como se estivéssemos programando o nosso computador mental.

Quando uma rede neural guarda uma informação significa que essa rede criou um conjunto de regras internas, que podemos chamar de um algoritmo.

Essa rede já programada com esse algoritmo transforma a comunicação entre seus neurônios (sinapses) nas atividades conscientes que temos, como as diferentes percepções, os pensamentos, as lembranças, os sentimentos e as emoções.

Francis Crick[i] e Christof Koch[ii] concluíram que deve haver uma infinidade de códigos neurais (algoritmos) operando em diferentes escalas, por todo o cérebro, e que a própria mente deve inventar novos códigos em resposta a todas as diferentes experiências que temos em nosso dia-a-dia.

Isso não é difícil de concluir, ainda mais hoje, quando a informática faz isso em todos os computadores.

Hoje confirmamos que esses códigos existem e que, certamente, são muito mais complexos do que o próprio código genético, como Christof Koch já havia dito.

Nossas atitudes, nossos pensamentos, nossos desejos, nossos sentimentos e nossas emoções são, então, o produto de uma série de equações (códigos ou algoritmos), contidas nessas redes neurais.

Francis Crick vai mais longe ainda quando nos diz, em sua obra “The Astonishing Hypothesis” (a espantosa hipótese), que nós, nossas brincadeiras, nossos sofrimentos, nossas memórias e nossas ambições, nossa personalidade e o livre arbítrio, nada mais são do que o resultado do comportamento de um imenso conjunto de neurônios.

Nós não somos nada mais, nada menos, do que um pacote de neurônios reunidos em grupos e seguindo alguma programação!

Ou seja, o que achamos que é nossa consciência, nada mais é do que a conscientização coletiva de aproximadamente cem bilhões de seres interdependentes, chamados neurônios, compondo milhões de redes neurais, e cada rede seguindo as determinações matemáticas dos algoritmos ali estabelecidos por algum tipo de programação ou por algum programador.

Ufa! Que ducha de água fria em quem se achava que era alguma coisa importante...!

Essa ideia é tão espantosa (por isso o nome do livro), e pode deixar a gente tão “para baixo”, que John Horgan[iii] achou que ele deveria ter dado outro título: “A hipótese depressiva”.

Já vimos, então, que não somos nada mais do que um conjunto de códigos neurais (algoritmos), pré-programados.

Mas isso pode não ser bem assim. São apenas elucubrações científicas e filosóficas sobre a consciência humana.

E agora, uma curiosidade:

Por que as crianças de hoje parecem nascer sabendo?

Nossa mente, ao nascermos, não deveria estar limpa, sem nada na memória, sem qualquer conhecimento prévio? Tudo não deveria ser novidade?

Antes a resposta a ser dada era: sim!

Hoje, pela observação das crianças, desde o seu nascimento, percebemos que não é bem assim. 

Algum conhecimento prévio de mundo já parece existir. Qualquer pai percebe que seu filho parece já saber coisas que não aprendeu com ninguém!

Alguma informação parece já estar em sua mente, e foi isso que Richard Dawkins[iv] chamou de meme, em sua obra; “O Gene Egoista”.

Meme seria, então, a herança cultural, passada de geração a geração, da mesma forma que acontece com os genes. Seria uma explicação para a evolução cultural do homem.

Só não descobrimos, ainda, onde estaria localizado, em nosso corpo, esses memes.

Será na parte do DNA que ainda chamamos de DNA lixo?

Bem. Uma parte desse DNA que era chamado de lixo, está todo o comando dos nossos genes, mas pode sobrar alguma coisa para os memes...

Nada sabemos, então, sobre a localização dos memes, mas sabemos que ele tem tudo para existir!

As crianças não nascem com sua consciência zerada! Já existe um acervo cultural previamente programado, da mesma forma que o acervo genético.

Por isso elas hoje estão espantando a todos, parecendo que já nascem sabendo de tudo!


[i] Francis Harry Compton Crick: Britânico, biólogo, biofísico e neurocientista, descobridor, junto com James Watson, da estrutura da molécula do DNA. Faleceu em 2004. Autor de The Astonishing Hypothesis, As moléculas do homem;
[ii] Christof Koch: Americano, neurocientista. Autor de The Quest for Consciousness, Biophysics of Computation: Information processing in single neurons.
[iii] John Horgan: Jornalista americano especializado em ciências. Publicou The end of Science, The undiscovered mind entre outros.
[iv] Richard Dawkins: Britânico, biólogo, professor da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, autor de The God Delusion, O Gene Egoísta, The Greatest Show on Earth, O relojoeiro cego, A Magia da Realidade, The ancestor’s tale, A escalada do monte improvável e o fenótipo estendido.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Treinamento Parental

Olá amigos,

Hoje vamos enfocar:

- A rebeldia, irritação e agressividade do aluno sem qualquer síndrome, transtorno nem qualquer tipo de doença comportamental;

- O treinamento parental visando corrigir essa tendência de comportamento;

- Uma outra vantagem do Treinamento Parental: A redução das dificuldades de aprendizagem.

Vamos começar pela rebeldia, irritação e agressividade do adolescente:

O que mais ouço de diversos pais é: “eles não nos ouvem mais”, ou “eles não nos respeitam como nós respeitávamos os nossos”

E vem a culpa: Isso é culpa da TV, da mídia, das novelas ou da influência dos colegas da escola.

Não, meu caro pai! Não é bem assim!

A sociedade, a TV, as novelas e os amigos são influências sim, mas para que essa influência transforme o adolescente em um aborrecente irritado, revoltado e agressivo, precisa que a relação familiar esteja incorreta e com algumas falhas.

Vamos analisar o fato?

O adolescente precisa ser ouvido. Se ele não é ouvido com atenção e com respeito, ele aprende a não ouvir mais ninguém.

O adolescente precisa sentir confiança em alguém para relatar seus problemas. Se ele não sente confiança em relatar seus problemas aos pais, ele vai relatar a colegas, e nem sempre as respostas serão as melhores.

O adolescente precisa se sentir seguro, amado e protegido. Se ele faz o que quer sem restrição, se sente abandonado ou rejeitado.

Se ele é proibido de tudo, nada pode fazer, sem receber explicações convincentes, ele se sente perseguido e violentado.

Então se o adolescente percebe que:

Dificilmente será ouvido quando quiser relatar alguma coisa; ou

Não sente confiança em se abrir para os pais; ou

Se sente abandonado ou violentado;

Ele estará, naturalmente, criando uma personalidade apática e depressiva ou, pior ainda: rebelde, irritada e agressiva.

Se sua fuga for para a TV, computador, celular e jogos eletrônicos, esses equipamentos, sozinhos, já ajudam a aumentar bastante o seu índice de irritabilidade.

Como acabar com esses e outros erros na educação doméstica?

Há pais que até sabem educar, mas que dizem não ter tempo para isso.

Largam os filhos aos cuidados de alguém, ou de alguma escola, desde muito cedo.

Poderiam até fazer isso, como eu mesmo fiz com ao meus, desde que dedicassem alguma parte de seu tempo para passar a afetividade e a segurança emocional que eles precisam.

Há pais que nunca aprenderam! E que não fazem a menor ideia do que fazer.

Até tentam mas podem estar agindo de forma totalmente errada.

Muitas vezes apoiam erros dos filhos quando deveriam impor limites e, outras vezes, são rígidos demais, sem qualquer sinal de afetividade, ou seja, não passam o sentimento de amor para o filho.

Então alguém tem que assumir esse treinamento, e não vejo, no momento, quem poderia fazer isso, senão a própria escola, por meio do treinamento parental.

Então vamos passar para o segundo item:

O treinamento parental visando corrigir essa tendência de comportamento

Como realizar esse treinamento de modo a conseguir os resultados esperados!

Não adianta inventar um novo momento na escola chamado de escola de pais, treinamento parental, orientação familiar, ou coisa parecida.

Precisamos utilizar o momento já existente das reuniões de pais, normalmente uma a cada unidade letiva.

Aos poucos, conseguindo que essas reuniões fiquem populares, podemos aumentar sua frequência.

Então vamos esbarrar numa dificuldade que todos já perceberam:

Os pais que mais precisam estar nas reuniões são os que mais faltam!

Feita uma enquete com diversos pais que não comparecem, muitos disseram mais ou menos a mesma coisa, ou seja, que não iriam passar o vexame de estar numa reunião onde a diretora iria reclamar, novamente, do mau comportamento do filho ou falar que ele está mal nas notas.

Então, para que essas reuniões ocorram com o público que precisa estar, nossa prática tem que ter início eliminando essa fala, ou seja, vamos cortar de nossas reuniões os comentários sobre comportamentos inadequados e notas baixas dos alunos.

Façamos essas outras comunicações (de comportamento e notas) durante os dias normais de aula, em comunicados via telefone ou por meio de sistemas de informação, hoje bastante comum nas instituições

Vamos então mudar o foco dessas reuniões e já transformá-las em reuniões de pura orientação de pais, escolhendo como temas exatamente as necessidades que são facilmente detectadas em sala de aula.

Os temas, então, devem ser passados de maneira a empolgar os pais, mostrando que vale a pena todo esforço para estimular o filho e para impor os limites que ele precisa.

Tudo isso é muito simples e não demandam muito tempo nem muito conhecimento.

A análise dos temas necessários deve ser realizada em conjunto com todos os professores e funcionários, para que sejam priorizados os mais urgentes.

Em dois de meus livros, tanto o “Afetividade na Educação” como o “Sexo: a escolha é sua”, eu listo alguns temas que podem ajudar muito esses encontros.

A preparação da exposição deve ser de forma que empolgue a plateia e eleve a autoestima de todas as famílias presentes.

Assim elas divulgarão para as que não compareceram, o que vai, certamente, trazer mais gente para a próxima.

Vamos, agora a dois outros pontos, também necessários, para fechar essa orientação sobre Treinamento Parental.

Ambientação agradável.

Os pais devem ser recebidos com afeto e atenção pelos professores e dirigentes, e o ambiente deve ser aconchegante, agradável, com música ambiente leve antes do início da conversa.

Lanche.

Um simples lanche, ao final, com os professores ou funcionários servindo ou levando os pais à mesa para se servirem, ajuda a integração entre pais e professores e vai estimulá-los a voltar para o próximo encontro.

Vamos agora a pergunta final para hoje:

O Treinamento Parental pode reduzir as dificuldades de aprendizagem?

Sim! Com certeza!

Vamos dar alguns exemplos:

Tenho encontrado crianças com dificuldades de leitura e escrita, já no 6º ano, com 10 ou 11 anos, resultado da desinformação em relação às atividades necessárias durante o período da Educação Infantil.

O que houve?

Essa criança, quando estava na fase da Educação Infantil, antes dos seis anos de idade, deve ter sido forçada a aprender a ler e escrever seu nome.

Nessa fase a criança deve estar apenas desenvolvendo as atividades sensório motoras, sem qualquer preocupação com alfabetização.

Por isso a escola deve proporcionar muita ludicidade, muito exercício de coordenação motora, e demais atividades físicas, explorando todos os seus elementos sensores, como visão, audição, tato, paladar e olfato, além de vivências que explorem as sensações e os sentimentos.

Mas os pais, mal informados, tiram seus filhos da escola que faz isso, para matriculá-lo nas que oferecem alfabetização precoce, tudo isso para poderem dizer que seu filho já escreve seu nome ou até que já resolve equações do quinto grau com trezentas incógnitas e recita Camões, mesmo ainda com quatro ou cinco anos de idade!

Esse erro é o mais comum e o que mais traz dificuldades futuras de aprendizagem, com sintomas muito semelhantes aos da dislexia e discalculia.

Outro erro grave, causado por desinformação dos pais, é a comparação de seu filho com o irmão mais habilidoso, ou com um outro parente ou vizinho.

Isso bloqueia emocionalmente a criança e provoca o aparecimento de sintomas semelhantes aos mais diversos transtornos de aprendizagem.

Ou seja:

Pais bem preparados evitam bloqueios emocionais em seus filhos e, por consequência, evitam o surgimento de síndromes e transtornos cuja causa pode estar nesses bloqueios.

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