quinta-feira, 28 de março de 2019

Humildade na ciência




HUMILDADE NA CIÊNCIA, mais que virtude, é condição essencial para evitar a estagnação do conhecimento humano.

Várias estradas são trilhadas pelos trabalhadores em ciências.

Ao longo de toda a minha vida nesse campo, tenho observado três delas, com muita atenção.

Primeira estrada

Vamos chamar de primeira estrada aquela por onde trilham os aficionados pelo entendimento do já sabido e pela descoberta do novo.

Esses longe de discriminar conhecimentos, os buscam onde estiverem, tanto dentro como fora da academia.

Eles tanto ouvem os Doutores em suas respectivas áreas, como registram e analisam o conhecimento passado de pai para filho pelas avós, pajés, xamãs ou curandeiros, nem que seja para, mais tarde, contestar alguns desses conhecimentos.

Esses assumem que é da análise do conhecimento, venha de onde vier, que podemos vislumbrar trilhas nunca antes imaginadas pela nossa limitada capacidade de entendimento do ainda misterioso ser humano, do misterioso universo em que vivemos e, mais ainda, da nossa própria existência.

Esses impulsionam o conhecimento do mundo.

Segunda estrada

Numa segunda estrada estão os que batalham, também arduamente, pela evolução do conhecimento, mas fechados dentro dos limites do “academicamente correto”, limitando seus horizontes aos conhecimentos já publicados pelos colegas, após as célebres conferências por pares.

É óbvio que as conferências por pares são extremamente necessárias, é claro, para que o publicado tenha sido conferido e aprovado por pesquisadores de credibilidade.

O que limita, a meu ver, a velocidade na expansão desse conhecimento, não é só o desprezo pelo senso comum, pelo conhecimento milenar não acadêmico, pelo conhecimento adquirido pelas culturas indígenas, aborígenes, xamânicas e todas as demais.

O que mais limita é o desprezo pelos desenvolvimentos fora do tradicionalmente aceito, como aqueles ligados aos efeitos psicossomáticos, ao trabalho independente do cérebro na manutenção de um equilíbrio homeostático, sem interferência externa alguma, o desprezo em relação ao que seria o tal do efeito placebo, como se nada disso existisse.

Ignorar evidências, só porque ainda não podem ser explicadas pela ciência acadêmica não me parece um bom caminho para o crescimento do conhecimento.

Terceira estrada

Nessa estão os trabalhadores da ciência, médico, engenheiro, farmacêutico, psicólogo, pedagogo e todos os demais, que aprendem a utilizar os conhecimentos publicados para a sua atuação no dia-a-dia. Essa estrada possui diversas trilhas. Vamos analisar duas delas:

Primeira trilha

São os que estão aplicando o que aprenderam, mas reservando um tempo diário ou semanal para investir na atualização desse conhecimento, estudando em todas as fontes disponíveis, sem desprezar nenhuma.

Esses são os que mais colaboram para o avanço do conhecimento mundial porque, estando na linha de frente da aplicação prática de todos os conceitos teóricos, são os mais capazes para dar os devidos retornos, referentes aos novos conceitos publicados.

É o médico que, antes de pensar em prescrever as drogas que os manuais recomendam para tratar os sintomas, analisa o paciente em sua inteireza, procurando encontrar motivos emocionais que possam estar causando o desequilíbrio orgânico do paciente.

É o engenheiro que, antes de iniciar cada obra, analisa os novos desenvolvimentos tecnológicos ligados à sua área, visando obter resultados mais eficazes.

É o farmacêutico que acompanha as publicações referentes aos novos medicamentos, para poder recomendar, aos médicos, aqueles que já reduziram os efeitos colaterais nos pacientes.

É o psicólogo que, investindo em sua formação neuropsicológica, amplia seus horizontes profissionais, capacitando-se para o entendimento da psique humana como um todo e, além disso, podendo analisar os resultados de todas as mais diferentes terapias em cada paciente.

Segunda trilha

São os que estão aplicando o que aprenderam, mas não têm tempo para se atualizar.

Esses são os que mais destroem a fama de qualquer profissão.

É o médico que, ao receber seu paciente, ouve os sintomas e, imediatamente, prescreve as drogas que os manuais recomendam para trata-los.

Se os sintomas forem resultados de algum desequilíbrio emocional, o mal se agrava ainda mais, mas ele cumpriu o que aprendeu na faculdade e, portanto, ninguém poderá condená-lo por isso.

É o engenheiro que, ao iniciar cada obra, “copia e cola” os detalhes do projeto anterior, sem procurar se atualizar com os novos estudos e desenvolvimentos tecnológicos ligados à sua área.

É o farmacêutico que se atualiza apenas pelo que os representantes dos laboratórios lhes dizem, sem procurarem se inteirar das publicações científicas mais recentes ligadas à sua área.

É o psicólogo que se fecha no conhecimento adquirido, na linha que escolheu para sua atuação, sem procurar expandir seu conhecimento para as demais formas de entendimento humano.

Visto isso, chegamos a conclusão de que o que falta, não é bem tempo para investir no conhecimento, mas sim HUMILDADE para assumir, no mínimo, duas verdades:

Uma é que, por mais que tenhamos nos saído muito bem em todos os cursos de nossas formações, e por mais que tenhamos certificados, diplomas e títulos, o conhecimento científico continua evoluindo e, se não estivermos nos atualizando, nossa prática estará estagnada, ou andando em círculos, e isso poderá trazer péssimos resultados em nossa atuação profissional.

Outra é que o conhecimento da nossa área nunca é suficiente como um todo! Temos que ter a humildade de ouvir a opinião dos colegas de todas as demais áreas, já que a forma de cada um olhar o mesmo fato pode trazer evidências que, para nós, passariam despercebidas.

Isso tanto vale para o profissional de linha de frente, como para o pesquisador em seu laboratório.

Então, conforme iniciei nossa conversa, confirmamos que:

HUMILDADE NA CIÊNCIA, mais que virtude, é condição essencial para evitar a estagnação do conhecimento humano.

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