segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Devolução de livros: um equívoco educacional

Chegando o final do ano letivo uma das obrigações dos professores das escolas públicas é exigir dos seus alunos a devolução de seus livros didáticos. Anúncios são veiculados nas emissoras de televisão mostrando a necessidade de conservarem bem seus livros para que, no ano seguinte, outros possam usufruir desse valioso bem. Mensagem muito bonita, mas com objetivos que devem ser bem analisados. Segundo eu soube, o governo distribui os livros didáticos de quatro em quatro anos apenas. Sendo assim os alunos são obrigados a utilizar livros usados durante três anos.

Para ajudar nessa análise é conveniente lembrar que nosso cérebro trabalha permanentemente em regime de autoprogramação. Mas quando essa programação não é realizada pela própria pessoa, alguém externamente a realiza... à sua conveniência. E um dos detalhes mais prejudiciais ao trabalho cerebral é a programação negativa, em todos os seus aspectos.

Vejamos, então, o que ocorre no período posterior às férias escolares. As crianças chegam à escola dando demonstrações claras de que esqueceram "de quase tudo" o que aprenderam no ano anterior. Poucas crianças chegam com o embasamento que todos os professores desejam encontrar. A insatisfação desanima os professores quando eles percebem a necessidade de revisar todo o conteúdo para conseguir ensinar o que está em seu planejamento.

Por que esqueceram de tudo? Porque programaram "esquecer" e o cérebro simplesmente cumpriu a programação estabelecida. Como foi feita essa programação? Simples demais! Observe apenas o que se comenta em casa mesmo sobre as férias escolares: "Agora esqueça escola e livros. Vamos curtir as férias". Se simplesmente dissessemos a nós mesmos: "Vamos curtir as férias" e eliminássemos a parte de "Agora esqueça a escola e os livros", estaríamos programando nosso cérebro para ter um excelente período de férias, mas sem programar qualquer tipo de esquecimento.

Um bom planejamento de férias inclui leitura de jornais, revistas e livros em algum momento do dia. O período de um dia é suficiente para atividades lúdicas, atividades esportivas, atividades intelectuais, incluindo aí momentos de ócio criativo, como bem define Domenico de Masi. Um momento de pesquisas relacionando um fato jornalístico a um assunto aprendido na escola vai sedimentar conhecimentos extremamente necessários à vida como um todo, incluindo aí a vida pessoal e profissional.

Imagine agora uma casa em que o único objeto de leitura é o livro escolar da criança. Imagine essa família sendo influenciada para ler alguma coisa. E agora perceba que não há o que ler. O único elemento para isso foi devolvido para a escola. E todo esforço feito pelos professores dessas crianças para que elas desenvolvam o interesse pelo conhecimento e pelo saber será perdido! Escoará pelo ralo da incompetência ou irresponsabilidade...

Nenhum comentário:

Postar um comentário