Por maior que seja o esforço
do professor, sempre haverá uma imensa diferença entre a escola ideal e a
escola real, aquela que é o palco da realização docente.
Essa imensa diferença nem
sempre será fruto de incompetência, nem de falta de apoio ou de falta de
estrutura física ou material. O principal motivo, para o bom professor, está
ligado ao resultado da evolução de suas próprias exigências.
Observem que, a cada
resultado positivo alcançado, por melhor que ele seja, vislumbram-se novos
caminhos, e com possibilidades ainda melhores!
Mas há armadilhas!
Uma dessas é quando o
professor, que é reconhecido em seu primeiro sucesso, acomoda-se, acreditando
que alcançou seu objetivo de educador. Ele não acredita que precisa evoluir
nem, muito menos, mudar alguma coisa, já que o “seu time está ganhando”...
Essa armadilha pode trazer o
declínio da sua capacidade criativa ou de sua força de vontade para evoluir.
Mas se, ao invés da
acomodação, leva-se adiante cada novo desafio vislumbrado, estará sendo
cumprindo o verdadeiro papel de professor, mesmo sabendo que isso exigirá dele,
a cada dia, mais planejamento, mais estudo, mais esforço, mais paciência e mais
dedicação.
Falamos de sucesso, mas há
também o perigo do fracasso.
Há que se tomar mais cuidado
ainda com a forma como são enfrentados os erros! Esses, que também são
frequentes, devem ser tão valorizados quanto às vitórias. Eles também apontam
para novos caminhos a perseguir para superar as dificuldades encontradas e
assim vencer os antigos e os novos desafios.
Os sucessos e os erros,
quando bem trabalhados, vão alimentar a criatividade para que, aos poucos, a
mente docente elabore novas formas de transformar o espaço existente em um
ambiente de aprendizagem verdadeira e prazerosa.
A escola ideal, então, não é
um objetivo estático final. Ela deve ser considerada como uma estrada pedagógica
dinâmica, construída minuto a minuto na mente do professor, e a ser percorrida
durante todo o tempo em que ele estiver se dedicando ao ensino, à aprendizagem
e à educação.
Essa forma de ver a escola
explica o fato de que dois professores, em uma mesma escola, possam ter visões
completamente opostas do seu ambiente de trabalho.
Um exemplo muito simplório,
mas elucidativo, é o do professor desestimulado, que reclama da impossibilidade
de ele dar aula de geografia sem mapas, enquanto que o outro ensina aos seus
alunos a elaboração de mapas, com o material que eles encontrem em casa ou na
escola, e os afixa nas paredes da sala.
Além de o segundo ter
facilitado a aprendizagem devido ao trabalho prático realizado pelos alunos, há
agora, nessa sala, os meios físicos necessários para que a turma consolide o
que aprendeu.
Lembremos que nessa escola
ideal a estrada existe para que os alunos caminhem nela! Em seu caminho esses
alunos são orientados pelo professor.
O professor cria a estrada e
orienta seus alunos sobre a forma de percorrê-la. Mas a estrada, mesmo
parecendo igual para todos, apresenta desafios diferentes para cada aluno. Muitos
desses desafios não haviam sido percebidos pelo professor.
Essa é uma grande realidade:
a estrada é a mesma, mas os alunos são diferentes.
E o professor observa que,
enquanto alguns alunos passam tranquilos por obstáculos, como se eles não
existissem, outros se sentem incapazes de vencê-los!
É nessa hora que o aluno
mais precisa do professor.
“Por que algumas coisas tão
normais para meus colegas aparecem como desafios imensos só para mim?” – pensa
o aluno!
Ao constatar isso, a mente
do professor começa a enxergar mais longe e com mais cuidado.
Agora ele vê
desafios que estavam camuflados pela hipocrisia da perfeição.
O que fazer agora na estrada
real da escola ideal?
Acompanhar e orientar os
alunos que vencem qualquer desafio, para que sigam em frente e vençam, e
abandonar os que estão com dificuldades?
Ou dar apoio aos que
encontraram dificuldades e deixar os demais seguirem sozinhos?
Nesse momento o professor
percebe que a estrada, que é orientada por ele, é composta de várias faixas.
São duas, três, quatro ou mais faixas paralelas, com os alunos percorrendo-as,
lado a lado, animando, uns aos outros, mesmo que as características de sua
caminhada e de seus desafios sejam diferentes.
Estarem caminhando juntos
significa também acostumar o aluno com as diferenças e, principalmente, a se
sentir responsável pelo entendimento, aceitação e inclusão daquele seu colega
com alguma dificuldade.
Na prática do professor em
sala de aula, um exemplo também simplório é:
Enquanto que para o aluno
sem dificuldades está sendo exigida a conjugação perfeita de todos os tempos
verbais, para o aluno com dislexia estaremos muito satisfeitos quando ele
consegue aprender como identificar o verbo na frase e como saber que esse é o
elemento que denota ação!
Ambos estão caminhando em
paralelo, orientados pelo mesmo professor, sempre aprendendo alguma coisa todos
os dias, mas cada um dentro da sua possibilidade de aprendizagem e na
profundidade adequada.
O desafio nessa orientação de
múltiplas faixas duplica, triplica ou quadriplica a depender das diferentes
caraterísticas cognitivas encontradas entre os alunos.
O sucesso nessa orientação,
em contrapartida, também trará satisfações duplicadas, triplicadas ou
quadriplicadas!
A escola ideal, então, é uma
estrada dinâmica, que está sendo construída, a cada momento, pelos alunos e
pelo professor.
Cada aluno vê, nessa
estrada, um caminho ligeiramente diferente daquele visto pelo seu colega ao
lado. Desafios encontrados por uns, não são sequer percebidos por outros.
O aluno aprende aquilo que
ele pode aprender, caminhando, lado a lado, com seu colega, que aprende um
pouco mais ou um pouco menos que ele, já que enfrentam níveis diferentes de
dificuldade.
O professor que, além da orientação cuidadosa, estimula,
avalia e reconhece cada um dos passos dados por cada um dos alunos em sua
respectiva faixa na estrada do conhecimento, esse está na escola ideal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário