domingo, 21 de dezembro de 2014

Afetividade Adolescente (reedição)

Em dezembro de 2008, ao  ler um artigo de Márcio Ferrari na Revista Nova Escola, onde ele lembrava idéias de Winnicott sobre a brincadeira e a criatividade, lembrei-me que essas duas necessidades, brincar e criar, estavam, e ainda estão, desprezados pelos pais e pelos professores.

Pais e professores andam tão ocupados com o seu dia-a-dia que esquecem que são eles os responsáveis pelo ensino dos jogos, dos passatempos e das diversões sadias para seus filhos e alunos.

Já não se ensina praticamente nada à criança, deixando essa função ao encargo da televisão e dos jogos no computador.

Para o adolescente, então, é que esses ensinamentos mais fracassam, pois é o momento em que essa criança, já alcançando a puberdade, passa a ser encarada como um quase adulto! Eles passam a ter nas redes sociais os seus professores e mestres.
Sempre soubemos que é primordial o afeto, o controle e o respeito durante a educação da criança, mas isso passa a ser mais importante ainda no momento em que essa criança se torna um adolescente, que é o período em que as mudanças naturais trazem conflitos dificílimos e, para piorar as coisas,  sua capacidade intelectual cai a níveis baixíssimos.
Exatamente nesse momento os pais começam a abandoná-los, alguns com a desculpa de que eles não admitem mais controle e não gostam de muita afetividade. Mas, na realidade, eles querem e precisam tanto da afetividade como do controle, mas não têm escolha, já que a mãe perde a coragem de ouvir os segredos da filha e o pai acha que o filho, sendo homem, já sabe tudo da vida e não precisa de sua ajuda.
Professores e pais transformam esses adolescentes em adultos antes do tempo, induzindo-os a largar as brincadeiras juvenis e a pensar como eles, em família, em trabalho e em sexualidade, sem que estejam no momento certo para assumir tais responsabilidades.
A mídia enfatiza apenas o namoro e a prevaricação, abandonando qualquer referência a jogos e brincadeiras para essa idade, eliminando totalmente as opções de lazer e atividades lúdicas. Sobram apenas os jogos nos computadores e videogames, elementos que ajudam no desenvolvimento da velocidade de raciocínio, se limitado em uma hora por dia, mas que trazem danos graves e definitivos na capacidade de raciocínio futura, quando excedido esse limite.
Esses adolescentes "precocemente adultecidos" criam um "self" totalmente falso, construindo uma personalidade ansiosa e angustiada, cujas consequências podem ser desastrosas para eles e para seus pais. A falta da criatividade proveniente da falta de brincadeiras, jogos e diversões, somada a ausência de afetividade e controle, provoca o nascimento de distúrbios emocionais graves e a consequente procura por "tribos" que os acolham.
Surgem, então, as drogas, a banalização da sexualidade, a revolta social e a agressividade, que são apenas algumas dessas consequências, fruto da busca por alguém ou algum grupo que o ampare nesse período de necessidade afetiva insatisfeita.
A solução está no oferecimento de opções prazerosas e construtivas: opções de jogos ao ar livre, preferencialmente vôlei, basquete e natação, que alongam, satisfazem a liberação de energia e acalmam; opções de jogos de mesa e tabuleiro, preferencialmente xadrez, que junta o lúdico com o estímulo ao desenvolvimento do raciocínio lógico (hemisfério esquerdo cerebral); opções de passeios por parques, zoológicos e campos, provocando o contato com a natureza e o despertar da mentalidade social e ecológica; opções de idas a teatros, exposições de arte, apresentações de orquestras e espetáculos de dança, estimulando o hemisfério direito cerebral e facilitando a harmonia intelecto-emocional e criativa.
Tudo isso é possível e eu digo mais: é nossa obrigação, como pais e professores. Afinal ninguém, além de nós (nem governo, nem mídia, nem ninguém), está interessado em formar cidadãos verdadeiramente felizes e satisfeitos consigo mesmos e, conseqüentemente, livres de ansiedades e angústias.

Não há esse interesse porque esse tipo sadio de gente não dá lucro consumista, já que estão satisfeitos e felizes em suas brincadeiras, seus jogos ao ar livre e suas diversões em passeios aos parques, sem necessidade de completar suas angústias por meio de excesso de consumo.


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