sexta-feira, 20 de março de 2015

Arte no riacho

E a água vai, linda, voluntariosa, decidida, mas trazendo a infinita sabedoria que a leva a contornar, com arte e com amor, todos os obstáculos à sua frente.
Mais do que, simplesmente, o ato de contornar, ela consegue, em seu maravilhoso percurso, transformar tudo o que faz em arte.
A primeira, e a que mais nos chama a atenção, é a arte visual, pela beleza cristalina de sua imagem, refletindo raios da luz incidente e recheando de espumas os contornos das pedras.
Em seguida surge a arte auditiva, sentida pela beleza harmônica das ondas sonoras, essas sendo o resultado do agradável roçar de seu curso nas arestas das pedras.
 E, se estivermos parados em sua margem, sentiremos também a sua arte olfativa, provocada pelo estimular da vegetação, banhada pela sua passagem, produzindo uma imensa diversidade de aromas, com a sutileza desse roçar afetivo entre dois reinos distintos, o mineral e o vegetal.
Quanta sabedoria em um simples ato de contornar os obstáculos, mas deixando a sua marca, por meio de seu contato afetivo, repleto de uma energia transformadora, a energia do amor!
Quanta sabedoria ela demonstra, conseguindo, sutilmente, com o passar do tempo, tornar lisas e arredondadas, todas as pedras que, antes, só apresentavam arestas perigosas e ameaçadoras!
Essa é a sabedoria da água do riacho, essa é a sabedoria de uma artista que já nasceu assim, humilde, da nascente à foz, crescendo no percurso, muito forte ao se transformar em cachoeira, e desafiadora ao encontrar a imensidão do mar.


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