Nossa conversa de hoje é sobre a dislexia, já que está havendo muita dúvida, tanto de pais, como de professores, em relação à forma de acompanhar uma criança com dislexia.
A criança com dislexia tem sido, de forma frequente, rotulada como preguiçosa, lerda e tudo o mais, porque ela não consegue acompanhar a velocidade dos seus colegas na leitura, na escrita e, principalmente, em copiar o que o professor escreveu no quadro.
Mas é óbvio que essa criança nunca vai acompanhar nenhum colega, pois a característica da sua dificuldade está exatamente na leitura e escrita.
Precisamos, todos nós, pais e professores, deixarmos a nossa cegueira sobre o problema de lado e começar a tentar entender o que significa a dislexia e quais as providências que temos que tomar para que essa criança não seja prejudicada.
Tem que ser dada, à criança disléxica, tempo suficiente para que ela consiga decifrar cada sílaba de uma palavra e, aos poucos, ela consiga juntar as sílabas e entender a palavra e, muito tempo depois, juntar as palavras para entender a frase.
Como uma criança dessas vai acompanhar a velocidade de cópia dos colegas não disléxicos? Impossível!
Mas o seu cérebro poderá melhorar bastante e começar a reduzir seus sintomas em relação à instabilidade de processamento da escrita, se as pessoas que a acompanharem tiverem o máximo de paciência e dedicação para a estimularem a ler sílaba por sílaba, com alegria com cada acerto, e demonstrando reconhecimento por cada dificuldade vencida.
A elevação da autoestima dessa criança é de fundamental importância para a redução de seus sintomas e até, em alguns casos, a eliminação completa deles.
Nesses casos de eliminação completa, fato que temos encontrado com muita frequência, tanto em nosso colégio como nas demais instituições cujos profissionais de educação mantém contato conosco, acreditamos que os sintomas de dislexia tenham sido absorvidos pela criança devido a algum bloqueio emocional, tipo comparação entre irmãos, primos ou mesmo colegas de classe.
O processo de desenvolvimento do disléxico, e até mesmo daqueles que apresentam os sintomas, mas com características de bloqueio emocional e não neurológicas, é demorado e pode levar meses ou mesmo anos.
Não podemos criar expectativas de resultados imediatos, porque só em criar essas expectativas já estaremos criando uma situação emocional desfavorável ao desenvolvimento desse disléxico, já que qualquer fracasso pode reduzir ainda mais a sua autoestima e dificultar todo o seu processo de desenvolvimento.
Então, como vimos aqui, o desenvolvimento do disléxico visando reduzir seus sintomas, deve ser feito de forma lenta, respeitando sua velocidade e dando tempo para que seu cérebro consiga ir, aos poucos, estabilizando as imagens das letras, sílabas e palavras.
Há muitos brinquedos educativos de alfabetização que se adaptam perfeitamente a esse desenvolvimento do disléxico, e que podem ser utilizados pelos pais e pelos professores.
Como podemos observar, o acompanhamento do disléxico, assim como de outras formas de dificuldade de aprendizagem, necessita de três enfoques:
Primeiro: O processo didático, emocional e metodológico para reduzir seus sintomas.
Segundo: O processo didático metodológico específico para a aprendizagem do disléxico.
Terceiro: A inclusão propriamente dita, para que ele não se sinta inferiorizado em relação aos demais colegas. Essa parte não trataremos hoje.
Vimos o primeiro. Então vamos ver o segundo:
Na aprendizagem, os professores terão que estar cientes de que, enquanto o disléxico ainda estiver em processo de desenvolvimento da sua capacidade de leitura e escrita, toda a aprendizagem e, principalmente, todo processo avaliativo, terá que ser realizado de forma oral.
Essa é a maior dificuldade que os disléxicos encontram, porque a maioria dos professores não consegue perceber que é obrigação nossa, como professores, dar a oportunidade da aprendizagem e avaliação oral.
Tenho encontrado disléxicos que são reprovados em suas séries escolares simplesmente porque não conseguem obter a pontuação mínima necessária em provas escritas! PROVAS ESCRITAS!
Isso deveria ser considerado um crime. Isso é, no mínimo, uma perversidade para com a criança com dislexia.
Uma criança disléxica, com 15 anos de idade, cursando o 6º ano significa que tem alguém errado aí! E eu acredito que não seja a criança!
Os errados são todos aqueles que dizem estar acompanhando essa criança, mas que, na realidade , apenas a estão "deixando lá", sem dar a ela qualquer oportunidade de aprendizagem e, ainda por cima, exigindo que ela leia e escreva corretamente...
Há, como relatei, muitos exercícios, jogos, passatempos e diversões, apropriados para o desenvolvimento do disléxico, mas que serão abordados em outra oportunidade.
Hoje peço apenas que reflitam sobre a necessidade de estarmos constantemente adaptando as nossas metodologias de forma a atendermos a necessidade de crianças com as mais diferentes necessidades, entre elas a criança com dislexia.
Aguardo seus comentários, críticas e sugestões.