A dúvida, recebida por mensagem diretamente ao Grupo IUPE, é
sobre recuperação de dependentes químicos.
Segundo relato de quem trabalha nessas instituições “de
recuperação”, os dependentes não conseguem se manter longe das drogas ao
terminarem todo o período de tratamento e muitos desistem antes mesmo de
completar o ciclo.
A situação é simples! Está havendo enfoque incorreto no
processo que está sendo chamado de recuperação.
Se alguém desejar montar, de verdade, uma instituição
voltada para esse fim, precisa fazer um rigoroso estudo das características e
particularidades do desafio a ser enfrentado.
Analisando dezenas dessas pessoas ao longo dos anos
percebe-se que tudo começa com a carência afetiva, carência essa que pode ter
surgido por diversos fatores:
- Inexistência real dos pais e falha afetiva na relação de
quem o criou;
- Ausência física dos pais por necessidade de ambos
trabalharem para garantir a sobrevivência financeira da família;
- Ausência afetiva dos pais por não acharem necessário essa
dedicação, para isso contratando cuidadores;
- E muitos outros fatores com resultados semelhantes.
Essa ausência faz surgir uma revolta (consciente ou
inconsciente) contra o mundo, contra a sociedade ou contra si mesmo, provocando
atitudes autopunitivas, como por exemplo, furar várias partes do corpo para
colocação de piercings que chamem a atenção, fazer tatuagens em áreas que
também chamam a atenção, usar vestimentas e costumes chamativos, tudo visando
uma complementação afetiva que compense a carência instaurada.
Mas essa complementação não existe e, com isso, a ansiedade
e a angústia aumentam a cada dia, fazendo com que a única saída seja encontrada
na alteração da consciência provocada pelo consumo das drogas.
O momento em que ele se encontra em estado alterado lhe traz
a sensação de ter se libertado das causas de sua angústia, como se houvesse a
compensação que, de forma consciente ou não, ele estava procurando nas demais
atitudes autopunitivas.
A dependência é o passo seguinte, a partir do exagero no
consumo. Em alguns, cujo organismo é mais frágil ou apresenta intolerância a
certas substâncias, a dependência é quase imediata.
Então, o consumo e, posteriormente, a dependência às drogas,
significam uma FUGA, que a pessoa encontra, para tentar manter sua consciência
alterada e assim “escapar” das fortes neuroses adquiridas.
Por isso que RECUPERAR uma pessoa dessas não pode ser apenas
livrá-la da dependência, já que ela precisa de uma FUGA!
Tratar a dependência passa a ser tratar apenas a
consequência. Se as causas continuam existindo, haverá necessidade de criar
outra forma de FUGA ou, no caso de não se conseguir essa outra forma, é
perfeitamente natural que a necessidade das drogas continue e cada dia mais
forte!
O trabalho verdadeiro de recuperação demanda, inicialmente,
um planejamento, em que leve em consideração muitos pontos importantes.
Em poucas palavras apresento aqui algumas sugestões, com
base em estudos e pesquisas nessa área.
A primeira parte é um psicólogo fazer a tentativa de
identificação das causas mais prováveis de essa pessoa ter necessitado usar as
drogas como fuga.
A segunda parte é o Serviço de Assistência Social traçar um
perfil da família e realizar um planejamento de recuperação do meio familiar.
Com essas duas análises inicia-se o planejamento da
recuperação. Se a condição da família permitir o seu envolvimento, a
recuperação pode ser bastante eficaz.
Caso não exista família ou caso a família não ajude em nada,
o trabalho é mais difícil, mas não impossível. Demanda o encontro de uma
atividade prazerosa que sirva como uma verdadeira “sublimação” dos seus
problemas anteriores.
Isso passa pela descoberta da atividade, estímulo ao seu
envolvimento e reconhecimento dos resultados alcançados, de forma a criar
satisfação pessoal, elevação de autoestima e sensação de completude.
Mas isso demanda tempo, muita paciência, muita perseverança
e muita dedicação, daqueles que estão encarregados do processo e, além de tudo
isso, apoio institucional para criar a estrutura necessária para sediar o
projeto.
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