Sempre que eu reúno professores, a cada início de ano
letivo, deixo claro que, para termos sucesso em nossos objetivos precisamos
aprender a gostar do aluno e gostar de ensinar.
Mas sempre lembro que nenhum de nós conseguirá fazer isso se
não estiver bem resolvido emocionalmente, o que passa obrigatoriamente com
estar bem resolvido na relação conjugal.
Mas isso não é apenas para professores. Todos os
profissionais estarão melhores em seus objetivos se estiverem bem resolvidos.
Por causa disso, hoje, a nossa conversa é dirigida a nós,
adultos, e o tema é:
Como garantir a felicidade conjugal, para sempre!
E não apenas enquanto os corpos estão jovens e cheios de
energia!
O assunto é difícil e polêmico, ainda mais em um período em
que o amor está sendo confundido com sexo e em que a felicidade tem sido
apontada como uma utopia!
Mas nessa abordagem de hoje vamos analisar o que diz
Olímpia, na obra de Aluísio Azevedo, “O livro de uma sogra”.
Quem não lembra ou não leu, pode baixa-lo gratuitamente em
nossa biblioteca virtual: iupe.webnode.com/biblioteca
Esse é o livro de número 308.
Sabemos que, nos dias atuais, a separação de casais é uma
prática tão constante e tão frequente que se tornou tão comum como o desvio de
verbas públicas realizados por alguns congressistas. A gente já acha quase uma
coisa normal!
Sentir "felicidade conjugal" passou a ser, para
muita gente, o momento de uma relação sexual. Mais que isso está sendo visto
como uma utopia!
Mas o pior é que essa carência vai afetar todas as demais
atividades da pessoa, porque não há como estar bem com as pessoas se não se
está bem resolvido em casa!
Então, acho que podemos começar com a análise dos conselhos
que Olímpia deixou escrito em seu diário, para ser lido por sua filha Palmira e
ao seu genro Leandro.
Olímpia foi bem clara quando disse que a felicidade
material, aquela que se funda na vida orgânica da nossa espécie, essa pode ser
alcançada em qualquer relacionamento afetivo e sexual. É o que mais se estimula
hoje. Sexo pelo sexo! Amor descartável!
Casamento como resultado de simples atração sexual, etc.
etc.
Só que essa não garante a continuidade desse sentimento.
Essa é a tal felicidade dos quarenta minutos...
A felicidade mais alta e mais perfeita, a que durará para
sempre, e a que ela, Olímpia, só conheceu quando se juntou ao segundo esposo,
essa precisa de muito mais do que isso.
Essa, que é, segundo Olímpia, a que se baseia e garante o
verdadeiro prazer da vida moral, precisa que cada um dos cônjuges tenha, além
do cônjuge, um amigo, um amado de espírito, um eleito da inteligência.
Segundo ela todo homem e toda mulher precisa, não só de um
companheiro para sua carne, mas também de um companheiro para sua alma!
Pode parecer estranho, mas o ser humano é um animal social,
e precisa satisfazer, também, a sua necessidade de relacionamento afetivo
fraternal e intelectual.
Esse é o amor que Olímpia chama de amor da alma, sem relação
com o amor conjugal!
“(...)A vida é o amor e o amor não é só a procriação(...)! ”
Olímpia diz que um dos maiores perigos da carne é que ela é
egoísta e ainda afirma: “(...)temam o despotismo da carne! A carne é irmã
degenerada — é o Caim da alma!
Afastem um do outro, esses dois irmãos irreconciliáveis,
para que o ideal não caia assassinado pela besta(...)! ”
Olímpia recomendou aos dois, então, que buscassem o esposo
das suas almas, bem longe do leito matrimonial “(...)com os olhos bem limpos de
luxúria, com a boca despreocupada de beijos terrenos, com o sangue tranquilo e
o corpo deslodado das lubrificações carnais! Minha filha — toma um amante —
para teu espírito! Meu filho — elege uma amiga — para o teu coração de
homem(...)! ”
E nossa reflexão começa aqui.
Há quem diga que essa neurose da busca pela felicidade
estressa muito mais a pessoa do que acomodar-se ao sofrimento.
Realmente! Acomodar-se pode até estressar menos, mas destrói
todas as expectativas de vida!
Mas o que pretendo nessa conversa de hoje, é lançar essa
reflexão sobre esse pensamento de Olímpia.
Juntar em uma mesma pessoa o amor conjugal, o amor fraternal
e o amor intelectual pode ser, mesmo, uma carga muito grande, levando a relação
a um sufocamento!
Talvez ela tenha exagerado ao dizer que juntar todos esses
amores em uma só pessoa possa fazer com que “(...)o ideal caia assassinado pela
besta(...)”
Mas, assim como Freud exagerava muito nas suas
interpretações das emoções e sentimentos das crianças, Olímpia pode ter
exagerado na interpretação do amor da alma.
Mas vemos que muita coisa tem sentido quando analisamos as
brigas conjugais provocadas por praticamente nada!
E briga por nada significa que a relação está desgastada.
E esse desgaste pode ter como causa o sufocamento provocado
pela sobrecarga de amores em uma só pessoa.
Pelo que pode ser deduzido do pensamento de Olímpia, a
dedicação exclusiva ao cônjuge, fazendo dele o representante de todas as
satisfações necessárias, da carnal à intelectual e fraternal, mistura emoções
incompatíveis e irreconciliáveis, e pode destruir qualquer casamento!
E ainda segundo essa mesma linha de pensamento, essa
destruição tanto pode ser emocional, transformando o casamento em um fardo
pesado a ser carregado pelos dois, como pode provocar intolerâncias perigosas,
transformadas até em atos de violência doméstica.