Um dos sentimentos mais presentes na vida moderna é a
angústia, levando as pessoas a frequentes estados de tristeza e, muitas vezes,
ao mergulho depressivo.
Quais serão os motivos que levam as pessoas a caírem nesse
estado?
Como evitar essa queda?
E, melhor ainda: como reverter esse estado negativo em
estado positivo de reconstrução da própria vida, e descoberta do sentido da sua
existência?
Vamos procurar analisar a partir de um pensador meio
polêmico, que foi Heidegger.
Esse cara, embora seja muito contestado pelas suas atitudes
ligadas ao regime nazista, pode nos ajudar muito devido as suas reflexões
publicadas em “Ser e Tempo”.
Quem leu essa obra poderá recordar esses trechos que vou
utilizar nas nossas análises.
Vamos à primeira parte da obra, que ele define como sendo o
estudo da “Existência Inautêntica” do ser, e que nos explica muita coisa
relacionada às nossas tristezas, ansiedades e angústias.
Quando ele analisa a vida cotidiana, o que mais vem à tona
são três momentos muito interessantes, na visão dele, que são a FACTICIDADE, a
EXISTENCIALIDADE e a RUÍNA:
Vamos à Facticidade
A facticidade pode ser entendida como a surpresa nossa ao
chegar a um mundo que não escolhemos e sem que tenhamos, sequer, expressado
vontade alguma de estar aqui.
Essa é a visão particular de Heidegger, contrariando algumas
crenças espiritualistas.
Mas, cientificamente, pelo menos por enquanto, a realidade é
que viemos para cá sem que alguém nos desse qualquer outra opção.
A facticidade já seria um elemento de existência
inautêntica, podendo ser incompatível com nosso EU interior.
Depois vem a Existencialidade
Essa, diferente do existencialismo de Sartre, pode ser
entendida como a necessidade permanente do homem de conquistar, ou de “se
apropriar” das coisas do mundo, desejando incorporar, à sua existência, algo a
mais, algo além dele mesmo.
Essa necessidade o leva a precisar ter mais do que tem, ser
mais do que é, o que acaba refletindo na necessidade de precisar ser
reconhecido no que faz, ter reciprocidade em seus sentimentos pelos outros, ou
seja, se sentir importante para o mundo, podendo chegar ao estado de narcisismo
ou ao egocentrismo.
O homem constrói, como objetivo principal, a apropriação de
todas essas coisas e sentimentos, o que justificaria a sua existência nesse
mundo.
E, por fim, a ruína
A ruína é um processo decorrente da acomodação à vida
cotidiana, tornando o homem um escravo da rotina, da consciência coletiva e do
envolvimento com problemas e preocupações decorrentes do fato de sua vida ter
sido reduzida à vida com os outros e para os outros.
O ser humano se torna promiscuamente público e se desvia do
seu projeto essencial, que deveria ser a tarefa de se tornar ele mesmo!
Ele! O conquistador do mundo à sua volta e senhor da sua
existencialidade! Tudo isso é perdido devido a esse desvio provocado pelo
cotidiano.
A ruína é, então, a demonstração clara de que há toda uma
existência inautêntica do ser, construindo o sentimento natural de angústia!
A Angústia
Mas é a partir da angústia que o homem se volta para dentro
dele mesmo, observando os “cacos”, ou pedaços que sobraram da sua existência
equivocada.
Nesse mergulho interior, provocado pela falta total de ânimo
e de motivação, resultante da constatação de que ele se perdeu de sua essência,
é que surge a oportunidade de ele começar a juntar seus pedaços e se encontrar
com a totalidade do seu ser.
No encontro dessa totalidade ele começa a construir a sua
existência autêntica, independentemente do mundo à sua volta, das obrigações
sociais, das rotinas, das acomodações e de preocupações criadas por uma cultura
de massa.
A angústia, então, que poderia ser um sinal fatalista, passa
a ser um elemento impulsionador de sua reconstrução, agora, entretanto, a
partir da sua própria verdade interior, uma verdade descoberta a partir da
destruição da máscara social que tomava conta de todo o seu EU anterior.
Sua reconstrução, o mergulho interior
A prática da reconstrução tem início na constatação de que,
não é o elemento externo que importa, mas sim o elemento interno - a sua
verdade interior - e o fortalecimento de tudo o que significa o seu ser
autêntico.
Esse mergulho precisa ser de identificação das suas verdades
mais profundas, de seus sentimentos mais verdadeiros, de constatação de seus
valores e suas virtudes pessoais, da construção de um amor por você mesmo, da
satisfação de ser, de estar vivo, se se sentir autêntico, pelo menos com você
mesmo!
Mas nesse mergulho esteja sob total controle de sua
angústia, agora positiva, realizando exercícios com a musculatura zigomática,
que é fazer caretas e massagens faciais de vez em quando, ou sempre que a
angústia tentar desviar para a tristeza profunda.
Assim, soma e psique, ou seja, seu corpo e sua mente,
começam a ser construídos e fortalecidos a partir da junção dos pedaços que
sobraram da existência anterior.
A reconstrução – o soma (corpo)
O soma, o corpo, a estrutura orgânica, precisa estar nutrido
corretamente, tanto para o fortalecimento dele mesmo, como para dar suporte ao
funcionamento da estrutura neuronal que desenvolve a psique.
Vem, então, o consumo frequente de água, a alimentação
balanceada, o cuidado com as intolerâncias e alergias alimentares, e o prazer
de saber que a escolha correta do que consumimos, resulta na garantia de uma
estrutura saudável. Somos aquilo que comemos.
A reconstrução – a psique (a mente)
Essa nutrição correta estimula o funcionamento perfeito do
sistema nervoso como um todo, especialmente as redes neurais controladoras da
psique, permitindo a geração e liberação equilibrada, de todos os
neurotransmissores, principalmente os responsáveis pelo equilíbrio emocional,
disposição, motivação e entusiasmo, que são a serotonina, a dopamina e a
noradrenalina.
Mas para que a psique esteja perfeita, além da nutrição
adequada, há necessidade de se libertar dos estresses sociais e pessoais.
Os maiores motivadores desses estresses são os problemas
pessoais e profissionais a serem enfrentados, o excesso de tempo em qualquer
atividade, mesmo prazerosa, e o atual carro chefe de todos eles, que é o excesso
de exposição às redes sociais e jogos pela internet.
Jogos e redes sociais, basta limitar tempo e horários.
Atividades diversas basta controlar tempo máximo para cada
uma delas.
Problemas, analise se pode resolvê-los. Se puder, resolva
logo. Se não puder, respeite-o, mas deixe-o do lado de fora da sua mente.
Já ouvi essa frase algumas vezes, e ela é muito válida: “Um
barco não afunda devido a água que está do lado de fora, mas sim devido a água
que deixamos que entre nele. ”
No mais, respeite os sinais do organismo.
Sinais do corpo mostram a necessidade de dormir, descansar e
reduzir atividades. Respeite-os. Nada de forçar a natureza.
Sinais da psique surgem em sonhos frequentes com temas
repetitivos. É sinal de que há algum sinal de neurose que deve ser verificado.
Se não houver meios de procurar um analista, escreva seus sonhos, com todos os
seus detalhes, todos os dias, e leia-os sempre. Sua própria mente estará
trabalhando para reduzir a energia dessa possível neurose.
E pronto!
Vá em frente, transformado a angústia, que antes era
negativa, em um elemento positivo de reconstrução de vida e entendimento mais
profundo do verdadeiro sentido da sua existência.