Como o cérebro aprende - Segundo capítulo
Esse é o segundo capítulo da série “Como o cérebro aprende”
No primeiro capítulo dessa série analisamos, inicialmente, o
sentido o termo competência, para deixar bem claro de que:
Receber um certificado, diploma ou título não significa
termos alcançado a competência naquele assunto, mas sim que, a partir disso,
passa a ser de nossa competência, o estudo e a pesquisa, com mais profundidade,
de tudo o que tenha a ver com essa nossa formação.
Em seguida tratamos do neurônio, como elemento principal da
aprendizagem, e enfocamos, com mais profundidade a ideia dos neurônios espelho.
Esses estão ativos tanto quando a pessoa realiza uma
atividade comandada por ele, como quando apenas observa essa mesma atividade
realizada por outra pessoa.
É uma forma de aprendizagem neural, muito semelhante à relação
entre alteridade e identidade, muito estudada na antropologia, quando a
observação do outro é o que nos ajuda a criar a nossa noção de identidade.
Falamos, em seguida, que neurônios sozinhos nada fazem.
Precisam constituir uma rede, com milhares deles, para que tenham alguma
finalidade em nossos cérebros.
Vamos, então, ao segundo capítulo:
Primeiro vamos ver, bem suscintamente, como se dá a
aprendizagem como um todo e, aos poucos, a cada capítulo, como cada momento
desses acontece no nível das redes neurais.
Fiquem tranquilos, aqueles que não fizeram medicina nem
biologia, porque a linguagem que uso é accessível a todos nós, sem exceção!
Afinal, sou um entusiasta da inclusão, logo, não posso
excluir ninguém dessas explicações!
Vamos ao modelo atual mais simples possível de como se dá a
aprendizagem como um todo.
Tudo começa no hipocampo, que é uma área bem pequena, no
sistema límbico, e que pode ser considerada como a área da nossa memória de
trabalho, como num computador.
O hipocampo contém muitas redes neurais, mas a duração dessa
memória não passa de três dias, já que a cada informação nova que entra, as
mais antigas são apagadas.
Então, em nosso modelo, construído depois de uma síntese de
todo o processamento cerebral da aprendizagem, tudo o que é observado, lido, conversado,
visto, ouvido, sentido e tudo o mais, é registrado nas redes neurais
temporárias do hipocampo.
Se a informação é nova, é feito um registro simples.
Quando, no entanto, a informação tem alguma relação com algo
que já sabemos, o sistema límbico vai até a área onde essa informação original
está arquivada, no córtex cerebral, e faz algo bem semelhante a “copiar e colar”,
copiando a informação do córtex, na memória que chamamos de definitiva, ou
consolidada, e a cola no hipocampo, onde são feitas as comparações e
atualizações.
Agora temos, nas redes neurais do hipocampo, a cópia da
memória antiga, igual à que ainda está arquivada no córtex, mas devidamente
atualizada com as novas informações recebidas.
Isso acontece o dia todo, com tudo o que vemos, ouvimos,
sentimos, estudamos, pesquisamos e experimentamos.
Mas lembrem: essa atualização está ainda no hipocampo, que é
uma memória de trabalho temporária, e que se apagará em três dias.
Precisamos, agora, providenciar o envio da atualização para
a memória consolidada, para que se torne aprendizagem.
Como é feito isso?
Apenas durante o sono.
Sim. Esse envio de memórias do hipocampo para o seu local
definitivo no córtex cerebral é muito mais complexo, porque não basta “copiar e
colar”.
Cada rede neural na massa encefálica cortical tem
ramificações com todas as demais redes neurais, uma se utilizando de pedaços de
informações de outras.
É como a instalação de um programa em nosso computador,
quando ele se utiliza de partes dos programas já instalados, para economizar
espaço de memória.
Tanto que não podemos apenas “apagar” um programa. Temos que
proceder a sua desinstalação.
Então, da mesma forma que no computador, essa informação
atualizada constitui um verdadeiro algoritmo, que vai substituir o que foi
atualizado, mas que terá que se interligar a todas as demais redes neurais
existentes, para que tudo continue funcionando corretamente.
Isso demanda tempo e muita energia. Por isso só pode ser
feito em repouso completo, e em quatro ou cinco momentos, entremeados com
períodos de relaxamento cerebral.
Observando o gráfico do sono vemos que cada período de
transferência de memória dura pouco, tendo o cérebro que esfriar para voltar a
retomar a tarefa.
Durante cada transferência dessas, diversos arquivos acabam
mudando um pouco o seu local de armazenagem.
Por isso que a última etapa dessas transferências pode ser
entendida como a atualização do índice de todas as memórias.
Só para constatar essa interrelação de uma rede neural, que
contém uma informação, com todas as demais, basta lembrarmos de um fato muito
comum que ocorre com todos nós.
Você foi regar as plantas do jardim e, quando estava no meio
da tarefa, lembrou de algo que precisava fazer e que já havia esquecido.
Imediatamente parou o trabalho e entrou em casa para anotar
ou fazer. Ao entrar em casa esqueceu novamente!
O que nossos avós nos dizem que você deve fazer para
lembrar?
Volte ao que estava fazendo e recupere a lembrança!
Por quê?
Porque a lembrança veio exatamente quando diversas
informações que estão gravadas em conjunto com o assunto principal, apareceram
em sua mente durante a tarefa de regar as plantas.
Voltando, a memória volta.
Agora vamos a alguns detalhes importantes:
Primeiro: o cérebro precisa saber quais as informações que
devem ser transferidas com prioridade, para evitar transferir coisas sem
importância e deixar de transferir o que precisa ser aprendido.
O melhor artifício para isso é estarmos, durante os estudos,
as pesquisas, os debates, as aulas e palestras, escrevendo, anotando,
rabiscando ou desenhando algo que represente o que se está procurando entender.
Todo ano fazemos experiências para verificar se a melhor
estratégia continua sem do “escrevendo” ou se já estamos tendo a mesma
facilidade “digitando”.
Até esse ano (2019) ainda tivemos como resultado muito mais
eficácia na aprendizagem escrevendo, do que digitando.
Segundo: para que esse processo dê início sem atrasos devido
a interferências, deve-se desligar todo aparelho que emita ondas
eletromagnéticas, como televisão, computador, celular, etc.
Terceiro: para que todo o processo do sono seja feito,
principalmente dando a oportunidade de ser ajustado o índice de todas as
memórias, avise a você mesmo (que significa avisar ao seu cérebro), a hora que
você terá que acordar. Ele ajustará todo o processo para que tudo termine um
minuto antes da hora definida. E te acordará, a tempo de você poder desligar o
despertador.
Se você não fizer isso e alguém o acordar antes do ajuste dos índices, pode
haver uma perda temporária de memória da seguinte forma:
“Eu sei que sei, mas não sei onde está!”
Você sabe que sabe, mas o sistema límbico está demorando a
encontrar.
Então, resumindo o que vimos nesse segundo capítulo:
Entendemos o hipocampo, nesse nosso modelo, como uma memória
temporária, ou memória de trabalho, e que precisa ser salva no disco rígido
(córtex cerebral), para não ser apagada em três dias.
Esse “salvar” ocorre
durante o sono.
Entendemos que precisamos estudar, ler, pesquisar, assistir
a palestras e aulas, escrevendo para que o cérebro possa estabelecer as
prioridades nas transferências.
Entendemos que precisamos nos livrar dos equipamentos
eletrônicos pelo menos meia hora antes de dormir, para que não haja qualquer
tipo de interferência no processo de aprendizagem.
Entendemos que precisamos dizer a hora que vamos acordar,
para que seja realizado o processo de aprendizagem completa durante o sono.
No próximo capítulo veremos como ocorre o aprendizado nas
próprias redes neurais, a partir da fecundação. É uma coisa fenomenal! Você vão
adorar, eu garanto!
Forte abraço, e até lá.