quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Como o cérebro aprende parte 2


Como o cérebro aprende - Segundo capítulo

Esse é o segundo capítulo da série “Como o cérebro aprende”

No primeiro capítulo dessa série analisamos, inicialmente, o sentido o termo competência, para deixar bem claro de que:

Receber um certificado, diploma ou título não significa termos alcançado a competência naquele assunto, mas sim que, a partir disso, passa a ser de nossa competência, o estudo e a pesquisa, com mais profundidade, de tudo o que tenha a ver com essa nossa formação.

Em seguida tratamos do neurônio, como elemento principal da aprendizagem, e enfocamos, com mais profundidade a ideia dos neurônios espelho.

Esses estão ativos tanto quando a pessoa realiza uma atividade comandada por ele, como quando apenas observa essa mesma atividade realizada por outra pessoa.

É uma forma de aprendizagem neural, muito semelhante à relação entre alteridade e identidade, muito estudada na antropologia, quando a observação do outro é o que nos ajuda a criar a nossa noção de identidade.

Falamos, em seguida, que neurônios sozinhos nada fazem. Precisam constituir uma rede, com milhares deles, para que tenham alguma finalidade em nossos cérebros.

Vamos, então, ao segundo capítulo:

Primeiro vamos ver, bem suscintamente, como se dá a aprendizagem como um todo e, aos poucos, a cada capítulo, como cada momento desses acontece no nível das redes neurais.

Fiquem tranquilos, aqueles que não fizeram medicina nem biologia, porque a linguagem que uso é accessível a todos nós, sem exceção!

Afinal, sou um entusiasta da inclusão, logo, não posso excluir ninguém dessas explicações!

Vamos ao modelo atual mais simples possível de como se dá a aprendizagem como um todo.

Tudo começa no hipocampo, que é uma área bem pequena, no sistema límbico, e que pode ser considerada como a área da nossa memória de trabalho, como num computador.

O hipocampo contém muitas redes neurais, mas a duração dessa memória não passa de três dias, já que a cada informação nova que entra, as mais antigas são apagadas.

Então, em nosso modelo, construído depois de uma síntese de todo o processamento cerebral da aprendizagem, tudo o que é observado, lido, conversado, visto, ouvido, sentido e tudo o mais, é registrado nas redes neurais temporárias do hipocampo.

Se a informação é nova, é feito um registro simples.

Quando, no entanto, a informação tem alguma relação com algo que já sabemos, o sistema límbico vai até a área onde essa informação original está arquivada, no córtex cerebral, e faz algo bem semelhante a “copiar e colar”, copiando a informação do córtex, na memória que chamamos de definitiva, ou consolidada, e a cola no hipocampo, onde são feitas as comparações e atualizações.

Agora temos, nas redes neurais do hipocampo, a cópia da memória antiga, igual à que ainda está arquivada no córtex, mas devidamente atualizada com as novas informações recebidas.

Isso acontece o dia todo, com tudo o que vemos, ouvimos, sentimos, estudamos, pesquisamos e experimentamos.

Mas lembrem: essa atualização está ainda no hipocampo, que é uma memória de trabalho temporária, e que se apagará em três dias.

Precisamos, agora, providenciar o envio da atualização para a memória consolidada, para que se torne aprendizagem.

Como é feito isso?

Apenas durante o sono.

Sim. Esse envio de memórias do hipocampo para o seu local definitivo no córtex cerebral é muito mais complexo, porque não basta “copiar e colar”.

Cada rede neural na massa encefálica cortical tem ramificações com todas as demais redes neurais, uma se utilizando de pedaços de informações de outras.

É como a instalação de um programa em nosso computador, quando ele se utiliza de partes dos programas já instalados, para economizar espaço de memória.

Tanto que não podemos apenas “apagar” um programa. Temos que proceder a sua desinstalação.

Então, da mesma forma que no computador, essa informação atualizada constitui um verdadeiro algoritmo, que vai substituir o que foi atualizado, mas que terá que se interligar a todas as demais redes neurais existentes, para que tudo continue funcionando corretamente.

Isso demanda tempo e muita energia. Por isso só pode ser feito em repouso completo, e em quatro ou cinco momentos, entremeados com períodos de relaxamento cerebral.

Observando o gráfico do sono vemos que cada período de transferência de memória dura pouco, tendo o cérebro que esfriar para voltar a retomar a tarefa.

Durante cada transferência dessas, diversos arquivos acabam mudando um pouco o seu local de armazenagem.

Por isso que a última etapa dessas transferências pode ser entendida como a atualização do índice de todas as memórias.

Só para constatar essa interrelação de uma rede neural, que contém uma informação, com todas as demais, basta lembrarmos de um fato muito comum que ocorre com todos nós.

Você foi regar as plantas do jardim e, quando estava no meio da tarefa, lembrou de algo que precisava fazer e que já havia esquecido.

Imediatamente parou o trabalho e entrou em casa para anotar ou fazer. Ao entrar em casa esqueceu novamente!

O que nossos avós nos dizem que você deve fazer para lembrar?

Volte ao que estava fazendo e recupere a lembrança!

Por quê?

Porque a lembrança veio exatamente quando diversas informações que estão gravadas em conjunto com o assunto principal, apareceram em sua mente durante a tarefa de regar as plantas.

Voltando, a memória volta.

Agora vamos a alguns detalhes importantes:

Primeiro: o cérebro precisa saber quais as informações que devem ser transferidas com prioridade, para evitar transferir coisas sem importância e deixar de transferir o que precisa ser aprendido.

O melhor artifício para isso é estarmos, durante os estudos, as pesquisas, os debates, as aulas e palestras, escrevendo, anotando, rabiscando ou desenhando algo que represente o que se está procurando entender.

Todo ano fazemos experiências para verificar se a melhor estratégia continua sem do “escrevendo” ou se já estamos tendo a mesma facilidade “digitando”.

Até esse ano (2019) ainda tivemos como resultado muito mais eficácia na aprendizagem escrevendo, do que digitando.

Segundo: para que esse processo dê início sem atrasos devido a interferências, deve-se desligar todo aparelho que emita ondas eletromagnéticas, como televisão, computador, celular, etc.

Terceiro: para que todo o processo do sono seja feito, principalmente dando a oportunidade de ser ajustado o índice de todas as memórias, avise a você mesmo (que significa avisar ao seu cérebro), a hora que você terá que acordar. Ele ajustará todo o processo para que tudo termine um minuto antes da hora definida. E te acordará, a tempo de você poder desligar o despertador.
Se você não fizer isso e alguém o acordar antes do ajuste dos índices, pode haver uma perda temporária de memória da seguinte forma:

“Eu sei que sei, mas não sei onde está!”

Você sabe que sabe, mas o sistema límbico está demorando a encontrar.

Então, resumindo o que vimos nesse segundo capítulo:

Entendemos o hipocampo, nesse nosso modelo, como uma memória temporária, ou memória de trabalho, e que precisa ser salva no disco rígido (córtex cerebral), para não ser apagada em três dias. 

Esse “salvar” ocorre durante o sono.

Entendemos que precisamos estudar, ler, pesquisar, assistir a palestras e aulas, escrevendo para que o cérebro possa estabelecer as prioridades nas transferências.

Entendemos que precisamos nos livrar dos equipamentos eletrônicos pelo menos meia hora antes de dormir, para que não haja qualquer tipo de interferência no processo de aprendizagem.

Entendemos que precisamos dizer a hora que vamos acordar, para que seja realizado o processo de aprendizagem completa durante o sono.

No próximo capítulo veremos como ocorre o aprendizado nas próprias redes neurais, a partir da fecundação. É uma coisa fenomenal! Você vão adorar, eu garanto!

Forte abraço, e até lá.

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