quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Afetividade adolescente

Foi providencial o artigo de Márcio Ferrari na Nova Escola de dezembro, lembrando idéias de Winnicott sobre a brincadeira e a criatividade, num momento em que pais e professores se esquecem dessa realidade, principalmente quando essa criança já alcança a puberdade e passa a ser encarada como um quase adulto!
É primordial o afeto, o controle e o respeito durante a educação da criança, mas isso passa a ser mais importante ainda no momento em que essa criança se torna um adolescente, que é o período em que as mudanças naturais trazem conflitos dificílimos e, para piorar as coisas,  sua capacidade intelectual cai a níveis baixíssimos.
 Exatamente nesse momento os pais começam a abandoná-los, alguns com a desculpa de que eles não admitem mais controle e não gostam de muita afetividade. Mas, na realidade, eles querem e precisam tanto da afetividade como do controle, mas não têm escolha, já que a mãe perde a coragem de ouvir os segredos da filha e o pai acha que o filho, sendo homem, já sabe tudo da vida e não precisa de sua ajuda.
Professores e pais transformam esses adolescentes em adultos antes do tempo, induzindo-os a largar as brincadeiras juvenis e a pensar como eles, em família, em trabalho e em sexualidade, sem que estejam no momento certo para assumir tais responsabilidades.
A mídia enfatiza apenas o namoro e a prevaricação, abandonando qualquer referência a jogos e brincadeiras para essa idade, eliminando totalmente as opções de lazer e ludicidade. Sobram apenas os jogos nos computadores e vídeo-games, elementos que ajudam no desenvolvimento da velocidade de raciocínio, se limitado em uma hora por dia, mas que trazem danos graves e definitivos na capacidade de raciocínio futura, quando excedido esse limite.
Esses adolescentes "precocemente adultecidos" criam um "self" totalmente falso, construindo uma personalidade ansiosa e angustiada, cujas conseqüências podem ser desastrosas para eles e para seus pais. A falta da criatividade proveniente da falta de brincadeiras, jogos e diversões, somada a ausência de afetividade e controle, provoca o nascimento de distúrbios emocionais graves e a conseqüente procura por "tribos" que os acolham.
Surgem, então, as drogas, a banalização da sexualidade, a revolta social e a agressividade, que são apenas algumas dessas conseqüências, fruto da busca por alguém ou algum grupo que o ampare nesse período de necessidade afetiva insatisfeita.
A solução está no oferecimento de opções prazerosas e construtivas: opções de jogos ao ar livre, preferencialmente vôlei, basquete e natação, que alongam, satisfazem a liberação de energia e acalmam; opções de jogos de mesa e tabuleiro, preferencialmente xadrez, que junta a ludicidade com o estímulo ao desenvolvimento do raciocínio lógico (hemisfério esquerdo cerebral); opções de passeios por parques, zoológicos e campos, provocando o contato com a natureza e o despertar da mentalidade social e ecológica; opções de idas a teatros, exposições de arte, apresentações de orquestras e espetáculos de dança, estimulando o hemisfério direito cerebral e facilitando a harmonia intelecto-emocional e criativa.
Tudo isso é possível e eu digo mais: é nossa obrigação, como pais e professores. Afinal ninguém, além de nós (nem governo, nem mídia, nem ninguém), está interessado em formar cidadãos verdadeiramente felizes e satisfeitos consigo mesmos e, conseqüentemente, livres de ansiedades e angústias.
Não estão interessados porque tal tipo de gente não dá o lucro consumista que o sistema necessita. Esses consomem apenas o que realmente precisam, mas nunca para compensar uma angústia sem sentido...

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