Há algum tempo fiz uma crítica sobre uma reportagem que divulgava, em termos mundiais, parâmetros para mensurar a felicidade dos povos. Naquela oportunidade vimos que os países apontados pela reportagem como mais felizes eram, coincidentemente, os que apresentavam os maiores índices de suicídio.
Comentei, então, que a pesquisa realizada por meio de preenchimento de questionários, nem sempre nos mostra a realidade do sentimento das pessoas, mas sim o que as pessoas gostariam de sentir.
Há pessoas com renda individual ou familiar muito elevada que não conseguiram construir verdadeiros relacionamentos afetivos, principalmente por estarem totalmente envolvidos com o aumento de seu capital. Essas pessoas, embora tenham ficado ricas não conseguem entender as razões de se sentir insatisfeitas para com a vida. Elas acabam respondendo que são felizes, simplesmente porque acham que essa é a lógica, embora não sintam isso como sua realidade pessoal.
Da mesma forma há pessoas com renda familiar baixa, mas que convivem satisfatoriamente com os filhos e amigos, sentem amor um pelo outro, ajudam-se mutuamente e não passam necessidades. Essas, muitas vezes, são levadas a entender que não são felizes, já que a mídia mostra que ser feliz é ter o poder do consumo, é comprar carro novo, é ter roupas de marca, e outras coisas mais. Elas acabam respondendo que são infelizes.
Com respostas desse tipo nenhuma pesquisa conseguirá mostrar um mapa de felicidade correto, já que sempre haverá a coincidência entre felicidade e maior poder aquisitivo, o que o mapa do índice de suicídios no mundo demonstra não ser verdadeiro.
A reportagem que comentaremos agora, publicada nas páginas 94 e 96 da revista Veja de 15 de setembro de 2010, dá um valor para a felicidade em dólares, mas não diz, absolutamente, que quem tem mais dinheiro é mais feliz. A ideia é outra. Recomendo a sua leitura.
Mas o foco principal de atenção deve estar, agora, no último parágrafo da reportagem, mostrando uma verdadeira doença emocional que deve ser combatida arduamente: a tendência dos ser humano de só ser feliz se o vizinho tem menos do que ele. Considero isso uma doença. Em uma palestra há muitos anos chamei-a de “felicidade relativa”. Talvez fosse o caso de mudar seu nome para “infelicidade relativa”, mas vamos deixar como está mesmo.
Há, na realidade, duas grandes doenças emocionais impeditivas do estado pleno de felicidade. Uma é essa felicidade relativa que vamos comentar agora. Sobre a outra, que é a necessidade do reconhecimento por tudo o que fazemos, comentaremos em outro momento.
A mídia sempre é sempre colocada como o principal vilão de todos os comportamentos inadequados da sociedade. Em parte isso é verdade. A necessidade de estimular o consumo para aumentar os lucros faz com que ela seja utilizada com essa intenção. A partir dessa ideia são produzidas peças publicitárias mostrando a realização pessoal das pessoas que desfilam defronte de seus vizinhos com carros melhores do que os deles ou que seus filhos usem roupas de marcas melhores do que as dos outros.
Ela, a mídia, colabora muito com essa forma negativa de “ver a vida”, mas temos que lembrar, a todo instante, que o principal programador de nossa mente é o nosso próprio pensamento.
Se “nos deixarmos levar” pelos determinismos consumistas do mercado, estaremos construindo dentro de nós um sentimento incontrolável de “querer mais”, mesmo sem saber o porquê e mesmo sem nem sequer precisar. Isso pode causar ansiedade e insatisfação crescente e incontrolável, como uma bola de neve!
A técnica utilizada pelo mercado é essa! Pessoas satisfeitas com o que tem não dão lucro ao mercado! Provocar a insatisfação é uma estratégia de venda que funciona em todos os lugares! Pode ser uma estratégia antiética, mas ela é usada todos os dias e é o que vemos em todos os canais de TV, é a que lemos em todos os jornais e em todas as revistas!
Provocar a insatisfação e oferecer a solução para o resgate da “felicidade relativa”, até que o vizinho consiga superá-lo novamente... E volta tudo ao estado de insatisfação anterior.
Vamos, então, lembrar, que o tratamento adequado, para que todos consigam iniciar o seu processo de “libertação” dessa ansiedade constante e inibidora do estado pleno de felicidade está dentro de nós mesmos! É a força de vontade para criar verdadeiros objetivos de vida e viver para eles.
Tudo passa pela criação desse seu objetivo de vida! Sim! Um objetivo bem pensado, um objetivo criado após reflexões e que preencha as suas reais necessidades e contemple as suas perspectivas atuais de vida. Para quem já conhece o “Diário do Futuro”, que criei há alguns anos e venho ensinando em minhas palestras, isso é fácil de fazer, já que a criação dessas perspectivas passa a fazer parte da rotina diária.
Não quer dizer que esse objetivo tenha que ser imutável a partir dessa criação! Nada disso! Ele poderá ser revisto e ampliado a cada dia, exatamente como fazemos em nosso “diário de futuro”.
Mas o importante é que, após a criação desse objetivo de vida, trabalhemos nas metas práticas para o alcance do que desejamos, fazendo o planejando diário para a realização de cada uma dessas metas.
Qualquer sugestão de consumo fora desses planos deve ser analisada com cuidado para verificar se está dentro da nossa lista de prioridades. A falta dessa análise consciente é o que nos leva a fugir dos objetivos traçados e entrar pela febre do consumo inadequado e angustiante.
E, em paralelo com isso, criar dentro de nós um sentimento de satisfação para com as coisas que temos. Qualquer momento de reflexão voltado para a análise de nossas conquistas mostrará o quanto já produzimos e permitirá que reconheçamos os valores de tudo o que temos e somos.
Assim pensando estaremos desenvolvendo a nossa capacidade de estar feliz com o que temos, juntamente com o discernimento para criar novas perspectivas de vida e novos planejamentos de futuro.
A satisfação pessoal decorrente da análise de nossas conquistas possibilita nossa libertação da tendência de fazer comparações com os outros. Estaremos trabalhando mentalmente centrados em nós mesmos e em nosso núcleo familiar.
Aprendemos assim que a construção de uma estrutura de felicidade será facilitada pelo exercício de uma comparação diferenciada, ou seja: Entre nossos planejamentos de ontem, nossas conquistas de hoje e nossas perspectivas para amanhã.