quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Exclusão Social

No momento em que o desfile do Sete de Setembro apresenta, em sua formação, um desfile paralelo chamado de “Grito dos Excluídos”, não podemos deixar de comentar sobre outro tipo de exclusão social que está sendo realizado com a nossa participação inconsciente!
Essa exclusão não é a daqueles que estão no desfile dos excluídos, mas sim a exclusão daqueles que nem sabem que estão sofrendo esse tipo de problema, principalmente por estarem sendo “dopados” oficialmente, já que foram rotulados como “doentes” por meio de diagnósticos precipitados.
Enquanto alunos deficientes estão sendo “incluídos” nas escolas normais, mesmo porque hoje isso é lei, alunos normais estão sendo transformados em deficientes, como resultado dos efeitos colaterais de remédios controlados que nunca precisariam ser tomados por eles.
Minha preocupação é que essa exclusão social tem a nossa participação inconsciente, já que é nas escolas que esses alunos são mal compreendidos e rotulados como portadores de anomalias, por nós mesmos!
Nossa ação quase que inconsciente, como professores ou como psicopedagogos, tem sido o envio de relatório de acompanhamento, mostrando ao psiquiatra ou ao neurologista toda a sintomatologia apresentada pela criança, claramente característica de tais anormalidades.
O médico percebe os sintomas e confirma que é um comportamento continuado por meio do relatório da escola, restando a ele apenas confirmar o diagnóstico e receitar o tratamento medicamentoso adequado.
Mas nossa constatação é preocupante:
Mais de oitenta por cento desses alunos com sintomatologia característica de dislexia, discalculia, déficit de atenção com hiperatividade, transtorno de espectro autista, esquizofrenia, déficit cognitivo, memória seletiva e outras anomalias, e que estão ou estiveram sendo acompanhados pelos educadores e psicopedagogos sob a orientação do IUPE, sejam na escola em Salvador (onde é a sede também de nosso instituto de pesquisas) como por professores de outras cidades e países, estão, hoje, apresentando comportamento e características cognitivas perfeitamente normais.
A conclusão que temos chegado é que essas crianças e adolescentes nunca tiveram qualquer dessas anomalias, mas sim bloqueios emocionais graves com causas diversas, provocando o aparecimento de todo um comportamento sintomático característico desses distúrbios, transtornos e doenças.
Só temos conseguido chegar a tais conclusões devido ao nosso processo metodológico de adequar o ensino às habilidades e possibilidades do aluno, independente da série que ele está matriculado, tendo o professor, como única preocupação, entender o seu nível de entendimento cognitivo, a sua habilidade desenvolvida e, a partir daí, elevar a sua autoestima e fazê-lo progredir de onde ele está para mais além.
Esses alunos, aos poucos, foram abandonando os medicamentos e voltando a ter uma vida normal (alguns deles nunca a tiveram antes) e, em pouco tempo, todos já acompanhavam a turma na qual estavam matriculados, com resultados semelhantes à média dos seus colegas ditos “normais”.
Gostaria, nesse ponto, de deixar claro que as anomalias realmente existem, ou seja, há alunos com doenças reais, dislexias e discalculias verdadeiras, esquizofrenias constatadas, déficit de atenção e hiperatividade patogênica e outras.
Mas a nossa preocupação é com aqueles que, sem estarem verdadeiramente acometidos dessas doenças, estão sendo tratados como tal, fazendo uso de medicamentos controlados cujos efeitos colaterais serão extremamente prejudiciais ao seu desenvolvimento intelectual e psíquico.
Para exemplificar já tivemos casos de alunos sendo equivocadamente diagnosticados como portadores de déficit de atenção com hiperatividade e que, na realidade, apresentavam elevado grau de capacidade cognitiva (superdotados).
Alguns deles já faziam uso de medicamentos controlados quando houve a constatação do fato. Todos mudaram seu comportamento em relação aos estudos após passarem por um processo de adequação do método às suas necessidades de enfrentamento de desafios acima de sua capacidade atual.
A Conselheira Theresinha Guimarães Miranda, do Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia, relatou em seu Parecer 170/2009 (referendado pela Resolução CEE 79/2009) procedimentos interessantes e maravilhosos para a adequação das escolas à inclusão social dos deficientes. Já é um excelente passo para mudarmos alguma coisa.
Mas precisa haver um meio de, além de incluir os deficientes, não transformar alunos normais em deficientes, como estamos fazendo. Aos poucos, devido aos efeitos colaterais dos remédios que não precisariam estar sendo tomados, limitamos sua capacidade cognitiva. Mais tarde vamos precisar incluí-los entre os que precisam de atenção especial.
Na mesma Resolução 79 do Conselho Estadual de Educação da Bahia, o art. 15 do cap. IV já determina que “(...) Os professores, diretores, especialistas e outros profissionais da Educação deverão participar de programas de formação continuada, para qualificação específica.” Ou seja: o Conselho está atento a isso e já tem uma forma de possibilitar o treinamento dos professores para evitar tais problemas.
Mas precisa haver um meio desse programa de formação incluir, necessariamente, esse tipo de entendimento, para evitar que mais crianças e adolescentes sejam prejudicados em sua formação intelectual e emocional, simplesmente por não estarem sendo compreendidos em suas carências, nem em suas necessidades básicas de comunicação e entendimento de vida.
Precisamos refletir muito sobre isso e, além de refletir, agir! Tentar, a cada momento, compreender, em cada aluno, qual a verdadeira causa de seu comportamento e de suas características cognitivas e psíquicas. Podemos estar diante de um caso grave de bloqueio emocional, que necessita de um acompanhamento psicopedagógico ou neuropedagógico, ao invés de um caso, também grave, mas de anomalia neurológica ou psiquiátrica.
Antes de enviar um relatório conclusivo com a sintomatologia da doença, precisamos esgotar todas as possibilidades de tais comportamentos ou dificuldades serem fruto de bloqueios emocionais.
Nossa responsabilidade é grande, o trabalho é árduo, a dedicação tem que ser total, tudo isso pode ser até cansativo, mas estamos falando de crianças que poderão ser prejudicadas se não agirmos com total cautela e com total compreensão.

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