terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Educação: polêmica nacional

EDUCAÇÃO: POLÊMICAS NACIONAIS
Com a notícia, publicada na Folha de São Paulo de ontem, da aprovação, pelo MEC, das Novas Diretrizes para o Ensino Fundamental de nove anos, algumas coisas me chamaram a atenção.
Tenho muitas críticas à forma como foi feita a troca dos oito para os nove anos, achando eu que nenhuma estrutura na burocracia dos registros escolares precisaria ter sido mudada, já que a única diferença entre os oito anos anteriores e os nove anos atuais foi a inclusão da série anteriormente chamada de alfabetização, como 1º ano do novo sistema de nove anos.
E como o sistema particular de ensino de nosso país já continha essa série como última série de um grupo de quatro anos de Educação Infantil, em nada mudou, exceto pela imensa dificuldade de efetuar os registros escolares, ora atendendo ao regime anterior e ora ao regime atual.
Bastava que o governo determinasse a inclusão, no sistema público de ensino, da série chamada de alfabetização e determinasse que a matrícula para essa série fosse obrigatória para as crianças que completarem seis anos de idade.
Mais tarde o governo poderia pensar em fazer o mesmo para as demais três séries da Educação Infantil, dando oportunidade a matrícula, no sistema público de ensino, a todas as crianças a partir dos três anos de idade.
Aí sim, estaria sendo iniciada a revolução positiva no ensino desse país. O resto é querer ganhar pontos de audiência com atitudes de puro exibicionismo sem resultado prático algum!
Mas minha observação hoje não é essa! Apenas eu não consigo ficar calado, ou melhor, sem escrever, quando vejo algo escrito sobre as mudanças do sistema de oito para nove anos...
Minha observação é sobre o que os conselheiros nacionais de educação determinam, mas que parece estar sendo mal interpretado pela sociedade, no texto publicado na reportagem e que resumo abaixo:
1.       Os alunos devem ser plenamente alfabetizados até os oito anos de idade.
2.       Os alunos não devem ser reprovados até o terceiro ano dessa etapa.
3.       As crianças têm direito de aprender e as escolas devem assegurar todos os meios para que o letramento ocorra até os oito anos de idade (não é uma concepção simplista de que defendemos a aprovação automática).
4.       Cada criança tem seu ritmo e por isso cada uma delas será alfabetizada num momento diferente, por isso um período de alfabetização até os oito anos de idade, sem reprovações nessas etapas.
Então vamos a nossa análise, agora com base nas nossas pesquisas e na aplicação prática dos resultados que obtemos em nossa metodologia.
O nosso professor não é formado para entender o que está escrito nesses quatro itens, mas sim para tentar fazer com que o aluno aprenda o que está determinado no conteúdo daquela série em que ele está matriculado, esquecendo que educar não é “enfiar” conteúdo na cabeça das crianças!
Nessa hora eu gostaria de usar a frase de Comenius, em sua obra Didacta Magna, escrita no século XVII: “Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja”.
Vamos, então, ver o que o professor encontra em sala, e como ele é preparado para agir:
Se ele encontra o aluno dentro do padrão “X”, que são os que absorvem, entendem e progridem dentro do que está especificado nos livros textos daquela série, no caso 1º, 2º e 3º ano no Ensino Fundamental de nove anos, o professor consegue “ensiná-lo”, ele é alfabetizado no tempo certo e todos ficam felizes e satisfeitos.
Já no caso dele encontrar o aluno dentro do padrão “Y”, que são os que demoram muito a absorver o conteúdo, têm dificuldade de entendimento e não acompanham os colegas da sala, o professor não consegue “ensiná-lo”, pede para chamar os pais e leva-lo ao neurologista, ou simplesmente o reprovam.
Quando o professor encontra o aluno do padrão “Z”, aqueles que apresentam tanta facilidade e tanta rapidez no entendimento que não conseguem ficar quietos em sala, levantam toda hora e implicam com os colegas, o professor também não consegue “ensiná-lo”, pede para chamar os pais e leva-lo, também, ao neurologista, porque a criança é hiperativa (já diagnosticado pelo próprio professor) e deve iniciar seu tratamento com Ritalina (já receitada pelo próprio professor...).
Ora! Eu sou professor também e, portanto, não estou falando mal de uma classe diferente da minha, mas da minha, e não estou falando mal, mas analisando uma realidade! Porque sei que essa é a nossa tendência, já que somos formados sem a menor noção do que seria entender criança diferente do padrão estabelecido!
Então, quando lemos que a autoridade de educação pede para que os três primeiros anos sejam entendidos como um “pacote de alfabetização” e que não deve haver reprovação, já que cada criança vai se desenvolver num tempo próprio e que esse tempo para uma pode ser um mês e para outra, três anos, somos levados a entender que as autoridades querem “forçar” uma aprovação em massa! Mas não é nada disso! É a realidade!
É a realidade, mas para um professor que não está sendo preparado em nosso país! Os nossos estão sendo preparados para turmas homogêneas, ou que deveriam ser homogêneas. Quem estiver fora do padrão deve ser “eliminado”.
O professor que a criança precisa é o professor preparado para classes multiseriais, ou seja, aquele que desenvolve a capacidade de se dedicar de forma diferente e com conteúdo diferente a cada grupo de alunos em uma mesma sala de aula.
E essa é a realidade de todas as salas de aula desse país! Não encontrei, até hoje, uma sala em que não houvesse alunos tipo X, tipo Y e tipo Z. O que é o mesmo que dizer que a sala é multiserial, pelo menos no que diz respeito à capacidade cognitiva dos alunos.
Concluindo:
Sou terminantemente contra, mas tenho que aceitar, a mudança da estrutura do Ensino Fundamental de oito para nove anos, já que, no meu entender, bastava inserir a alfabetização antes da primeira série, como sempre foi feito em todo o ensino privado no Brasil. Isso só está causando uma tremenda “dor de cabeça” às secretarias escolares para oficializar os registros de notas e séries.
Sou terminantemente a favor da não reprovação nas três séries iniciais, já que o importante nessa fase é o entendimento, a compreensão e a ajuda pessoal do professor a cada aluno, estimulando seu interesse pelo estudo e descobrindo suas habilidades para despertar sua autoestima.
Mas vou mais além: nosso entendimento de classe multiserial não deve ficar apenas nas três primeiras séries escolares, mas deve se estender a todas as demais séries do Ensino Fundamental e Médio, já que a sempre haverá os três tipos de alunos, fora os que apresentam anomalias, que são ainda mais diferentes! E todos, ao que eu saiba, merecem respeito, consideração e têm direito à educação.
Vamos, então, repensar a forma como nos dedicamos à avaliação, à cobrança e a consequente aprovação ou reprovação de nossos alunos. Será que estamos dando mais importância à cobrança do que ao ensino? Será que não seria mais produtivo se, ao invés da simples cobrança, nos dedicássemos a encontrar meios, estratégias e metodologias para despertar o interesse pela matéria, despertar o espírito crítico, despertar a curiosidade pela leitura e despertar o entusiasmo pela produção própria?
Fica aqui o desafio!
Publicado também em: http://alturl.com/ewp5k

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