domingo, 20 de abril de 2014

Devaneios de Andersen em um domingo de páscoa

Domingo de páscoa. Data polêmica, mas a última coisa que me passa pela cabeça nesse momento é falar de equívocos religiosos... É domingo, então, e um domingo véspera de feriado, o que traz um sabor especial à data...
Para o ser humano normal domingo é entendido como dia de repouso, relaxamento, recuperação das energias que foram consumidas durante toda a semana...
Não sou, definitivamente, um ser humano normal! Começo o domingo com a rotina de sempre, ou seja:
Um copo com suco de um limão e completado com água, ainda em jejum;
Em seguida a primeira parte do café da manhã: iogurte com granola, gérmen de trigo, aveia e mel;
Começa, então a meia hora de esteira e a meia hora de musculação; em seguida o alongamento e, logo depois, a natação por alguns minutos;
Aproveitei para lavar os carros e colocar barrilha e cloro na piscina, para manter seu tratamento adequado.
Após o banho vem a segunda parte do café. Dessa vez apenas frutas diversas, de preferência de todas as cores. Terminada a sessão de frutas, começa a parte final, que é ovos com bacon, raízes cozidas ou fruta pão, leite com chocolate e café, pães e queijos...
Terminada a alimentação básica do organismo, começa o trabalho matinal nas pesquisas, estudos diversos, leituras e elaboração de artigo, ensaios e crônicas.
Nesse domingo, em especial, estamos apenas eu e Irani em casa. Caio e Sibele foram para a casa da mãe dela, para o almoço de páscoa. Meu contato com eles foi por mensagens de texto. Ontem Sibele passou o dia aqui em casa, mas hoje é Caio quem passa o dia na casa dela.
Por telefone, Erich e Ivana, de Niterói, comentaram sobre as comidas que eles estão fazendo e sobre o programa especial de hoje, tão especial com qualquer outro domingo...
Mamãe, também em Niterói e também por telefone, comentou sobre o excesso de sono diurno de tia Iza e a consequente falta de sono noturno... Hoje não reclamou de nenhuma das acompanhantes diurnas. As da noite já “sambaram” ... Ela adora ficar sozinha e isso desespera meu irmão... Ela estava, pela manhã, lendo na varanda e apreciando a passagem dos vizinhos que, ao vê-la, cumprimentavam-na alegremente.
Vamos, então, a mais um capítulo do “Devaneios de Andersen”, dessa vez sobre o Mito da Caverna e os Conflitos do EGO:
Há momentos em que a realidade pede uma explicação e não a encontra... Há momentos em que, ao olhar a vida, só são encontradas representações do todo... Há momentos em que há uma certeza absoluta: O ser humano é um mero espectador vislumbrando as sombras de uma realidade distante e inalcançável.
São os personagens do mito da caverna, e que nem imaginam o que isso pode significar para eles... Apenas montam, cada um deles, uma realidade própria, com base nas sombras que chegam às suas mentes.
E. além da limitada capacidade de compreensão tridimensional do ser humano ainda há o domínio de uma tirania espaço-temporal repleta de ontem, hoje e amanhã, sem que seja possível que se entenda corretamente o seu papel no mundo. Há meios de interferir nesse processo ou todos são apenas marionetes de uma peça teatral cujo roteiro já está previamente definido?
Enquanto alguns experimentam interferir, outros acomodam-se ao roteiro traçado, mas nem a interferência e nem a acomodação parecem alcançar a plenitude da realidade externa à caverna! Plenitude essa que pode, por vezes, trazer um forte sentimento de insegurança. E a insegurança é um dos grandes medos da humanidade...
Nesse momento comparo o ser humano normal com alguns autistas e portadores de síndrome de Down que, quando elaboram a sua rotina, transformam-na em um verdadeiro ritual, ritual esse que se transforma na base que dá sentido à sua vida. Seguir a mesma rotina traz a segurança emocional que eles precisam... Sair da rotina pode ser o início do caos!
Autistas e Downs não são diferentes do ser humano normal! Seus sintomas apenas exageram os mesmos sintomas normais, principalmente as inseguranças para com o ilimitado, o pleno, o desconhecido, o infinito e o eterno...
Há momentos em que o ser humano precisa colocar uma cúpula de vidro limitando os seus horizontes até o ponto em que o enxerga, ou até o ponto em que acha que o entende. Além daí é mais seguro que nada exista. Essa existência do desconhecido traz intranquilidade.
Limitado esse espaço-temporal começa a ser construída uma realidade dentro dele, procurando decifrar tudo o que está nesse limite. Para conviver com os demais seres à sua volta traçam-se regras sociais. Mas regras precisam de conceitos e verdades comuns. E essa é outra das partes difíceis dessa caverna... Realidade comum!
Constrói-se, então, uma realidade, mas logo descobre-se que ela não é comum! Mesmo fazendo parte de um mesmo grupo e em uma mesma caverna, cada um percebe as sombras de uma forma diferente. E as percepções individuais, que já são, por si só, diferentes, acabam diferindo de um conceito que surge mais forte que todos, o conceito da mente coletiva.
A mente coletiva interpretou as sombras de uma forma bem diferente das interpretações individuais de cada um, mas o conjunto se faz mais forte e as liberdades individuais acabam tolhidas e cerceadas.
A massa acomoda-se à interpretação do grupo e assume uma verdade imposta, moldando sua mente e modificando seus pensamentos e vontades, para entender aquilo que passa a ser considerado o certo!
Há os que se adaptam facilmente à verdade do grupo, uns por incapacidade total de raciocínio próprio, outros por acomodação passiva e ainda há aqueles que concordam realmente com a interpretação coletiva.
O conceito do que é considerado certo e que, por isso, foi imposto, nem sempre é assimilado ou compreendido pelo indivíduo. O certo nem sempre é compatível com a verdade interior. Mas o indivíduo que precisa sobreviver no grupo, procura uma fórmula para conseguir entender essa verdade externa, mas não a encontra.  É uma verdade incompatível com a sua.
Para não ser excluído ele inicia o processo de construção interior de uma realidade aparente, diferente da que sente, mas compatível com a verdade da massa.
É o seu EGO, nada mais do que uma máscara montada com peças emprestadas das máscaras dos outros, fazendo com que se torne mais um entre tantos, compartilhando da mesma verdade.
E aos poucos percebe que essa máscara mal construída assemelha-se a outras tantas, que parecem terem sido montadas da mesma forma, e que estão estampadas nas faces dos demais componentes desse seu grupo.
Observando cada uma delas percebe-se que todas são montagens, todas são adaptações, todas carregam a necessidade de uma inclusão e que, para tal, houve necessidade de alteração na realidade verdadeira, já que essa parece ser incompatível com a verdade imposta.
A sociedade não acha seguro permitir que as verdades individuais superem a coletiva, cerceando a identidade própria e criando uma identidade padrão, sugerindo que todos se moldem por ela e excluindo aqueles que diferirem dos conceitos estabelecidos.
A sociedade desistiu de questionar a verdade que está fora da caverna e preferiu construir uma interpretação acomodada, fazendo com que todos “vegetem” de uma mesma forma, em busca de um “nada” inexistente, sem qualquer “sentido” mais profundo e até desistindo de encontrar qualquer vestígio que indique um caminho pelo qual a vida mostre que tem sentido!
Um EGO padrão foi estabelecido e, com ele, surgem os conflitos nos que divergem, fazendo surgir as neuroses...
E a manhã de domingo vai sendo consumida aos poucos, até que chega o momento de um aperitivo, dessa vez vodca com laranja, acompanhado por um canapé preparado por Irani, seguindo uma receita com berinjela e pimenta. Delícia! É a forma ideal de aguardar o almoço.

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