quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Estudos sobre educação e inclusão 3ª parte


O TEATRO DA SALA DE AULA

Há quem diga, com muita frequência, que ser professor é um grande sacrifício e que não vê a hora de se aposentar!

Sinto muita pena dessas pessoas!

Ou erraram muito no momento em que escolheram a profissão, ou acharam que a pedagogia ou as licenciaturas eram os cursos superiores mais fáceis para ingressar e para conseguir emprego, ou foram “jogados” nela por perversidade dos pais ou, quem sabe, lá estão para resolver algum karma gerado em uma das suas vidas passadas...

O fato é que esses estão na profissão errada, principalmente porque, em qualquer dessas situações, quem vai “pagar o pato” é a educação e, principalmente, os alunos, provocando o que hoje estamos vendo claramente, que é a péssima situação de nossa realidade de aprendizagem, ou melhor, de não aprendizagem!

Há, na realidade, toda uma forma de entendermos a tarefa docente como uma tarefa produtiva e prazerosa.

Tudo depende de, primeiramente, estarmos bem conosco mesmo, o que significa estar “bem resolvido” de forma pessoal, conosco mesmo, e conjugalmente, com nosso cônjuge.

Essa profissão exige que estejamos psicologicamente e emocionalmente bem estruturados, porque estamos lidando com crianças, adolescentes e jovens provenientes de todo tipo de realidade social e familiar!

Já conversamos sobre tudo isso desde a página 17 até a página 30, em nosso livro “Afetividade na Educação-Psicopedagogia”.

Estando “bem resolvidos” teremos condição de entender que cada um de nossos alunos deve ser assumido como um projeto pessoal de nossa vida profissional.

O fracasso de qualquer um deles, mesmo que esteja claro que os motivos fugiram de nossa alçada, significará uma mancha em nosso projeto de vida, já que passaram por nós!

Mas como poderemos estar preparados para assumir esses projetos, se são tantas as diferenças comportamentais, intelectuais, cognitivas, emocionais, temperamentais e tudo o mais?

Bem! Aqui vai uma dica, que é apenas uma das ideias que eu mais gosto, só para ajudar na montagem inicial de tais projetos, mas que pode ajudar bastante. Sempre deu certo para mim e para todos os colegas que experimentaram!

É, na realidade, mais um dos muitos exercícios de imaginação criativa, no qual vamos transformar nossa sala de aula em um palco e nossos alunos em atores de uma peça teatral.

A ideias é enxergar todos os alunos da sua turma como se fossem atores de uma peça teatral, peça essa da qual você tentará ser o diretor.

Essa peça terá início no seu primeiro dia de aula e só terminará no final do ano letivo, com um pequeno recesso para as férias do meio do ano.

Cada um dos seus alunos representa um personagem diferente, fruto da reação psíquica e emocional ao ambiente em que ele está inserido, tanto em casa, na sua família, como na rua, com seus amigos, e também na própria escola, com seus colegas.

Eles tentam assumir personagens próprios, diferentes daqueles que você gostaria de ter criado para eles, porque sempre procuram, em seus personagens, reduzir suas carências afetivas, ou até demonstrá-las.

Alguns personagens servem para demonstrar, até para eles mesmos, que eles existem, já que alguns são ignorados por suas famílias, outros sofrem discriminações em seu próprio meio, e também há os que são violentados, mesmo que simbolicamente.

E não existe ambiente mais propício do que o da escola, para dar vida a esses personagens! Há toda uma plateia à disposição, que são os seus colegas, os colegas de outras turmas, os professores e os funcionários.

E as características de seus personagens podem até ser fortalecidas, muitas vezes negativamente, quando passam a atuar em grupo, devido à forte influência da consciência coletiva, muito bem analisada por Émile Durkeim.

Está montado, então, o teatro!

Quem entende de arte teatral sabe que o ator precisa estar preparado para não confundir sua identidade com a de seu personagem, para não viver uma vida que não é sua.

Para isso existe a escola de teatro e todos os seus exercícios de arte dramática.

Mas nossos alunos-atores não tiveram esse treinamento, logo não foram preparados para o exercício da arte dramática.

Isso significa que facilmente confundem seus personagens com sua própria personalidade!

Aí então começa uma das primeiras tarefas do professor, que é a tentativa de identificar o que é personagem e o que é real no comportamento do aluno.

Agora é só planejar uma primeira reunião do Conselho de Classe, para que seja iniciado o acompanhamento de cada aluno, visando o alcance do objetivo principal da educação escolar, que é a aprendizagem e a formação do caráter.

Para essa primeira reunião é importante que todos os profissionais da escola participem, para identificar se há mudanças comportamentais nos diferentes ambientes.

A partir dessa análise inicia-se a identificação das causas, para traçar o planejamento das estratégias necessárias.

Um professor sozinho poderá até realizar esse trabalho, mas a parceria com os demais é sempre muito mais proveitosa.

Embora na maioria das vezes o aluno seja o reflexo da realidade comportamental de seus pais, há muitas exceções.

Identificadas as causas temos alguns caminhos a percorrer. Um deles é a tentativa de anular a causa, que frequentemente está no ambiente familiar. Se isso for possível podemos ter certeza de que os resultados serão os mais eficazes.

Caso isso seja muito difícil, a opção é anular o personagem, antes que esse anule a real identidade do aluno!

Há diversos caminhos para isso:

O primeiro é recorrer ao acompanhamento psicopedagógico que, caso identifique a necessidade de outro profissional, vai fazer esse encaminhamento.

Outro, muito eficaz, é a utilização de exercícios de vivência de virtudes e valores humanos.

Há vários livros no mercado com esse tema, alguns deles com exercícios específicos para determinadas faixas etárias e outros específicos para situações sociais diferenciadas, como refugiados de guerra, meninos de rua, etc... Os que eu mais utilizei, até hoje, foram os do Instituto Vivendo Valores, escritos pela educadora Diane Tilman.

Realizando esse trabalho teremos de volta o aluno normal, livre de seu personagem, podendo, agora, aprender com mais facilidade e construir o seu caráter como desejamos.

Essa é uma das dicas.


Mais uma vez recomendo a todos que assistam ao filme “Escritores da Liberdade”. 

São ideias que ajudam muito a nossa necessária criatividade.

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