quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Corrupção X Educação Política

Corrupção X Educação Política
Muita gente pode não ter percebido que, de dez anos para cá, as pessoas em função de poder não estão mais tão preocupadas em esconder as falcatruas que cometem e não tem mais a menor vergonha em serem apontadas como corruptas e ladras! A impressão que temos é a de que a população já se acostumou à salafrarice, como atitude normal e aceitável, ou então o povo se considera submisso aos políticos, como se esses fossem os senhores do poder, tendo que assistir calados às suas atitudes desonestas e corruptas.
Confesso que me faz até mal lembrar que, diariamente, mais e mais desmandos continuam ocorrendo, sem que vislumbremos algum indício de que, algum dia, alguns desses políticos tentarão passar a ter uma vida menos corrupta e mais dentro do que foram eleitos para fazerem.
Basta lermos os jornais de hoje para tomarmos conhecimento, mais uma vez, de motivos bastante justos para que o povo fizesse uma verdadeira revolução democrática contra a corrupção, encarcerando para sempre aqueles que são os responsáveis por tais abusos de poder, entre esses motivos: Aumento abusivo amoral e criminoso do salário do legislativo; Manobra política (lobby) claramente corrupta para liberação dos bingos; Desvio escandaloso de verbas milionárias para festas, shows e espetáculos culturais; Desvios de verbas em centenas de projetos com camuflagem social; Desvio de montante bilionário para obras na Bahia, Compra “criminosa” de todas as terras da margem direita e esquerda do Rio São Francisco, nas áreas que serão transpostas, por políticos ligados ao processo de transposição; Pais corruptos, dando péssimos exemplos de caráter para seus filhos e que, por isso mesmo, acobertam os crimes de seus filhos que queimam mendigos, espancam homossexuais, arrombam carros nas garagens de seus próprios prédios para comprarem drogas, desrespeitam e humilham seus professores, etc.
Algumas perguntas que me foram feitas por correio eletrônico, que servem para nossa reflexão, e que aproveito para inserir minhas respostas:
1.       Se nós estivermos no poder agiremos de forma diferente ou seremos contaminados pela podridão política atual?
“A institucionalização da corrupção faz com que o político honesto seja alijado de toda e qualquer participação decisória importante, sofrendo represálias, perseguições e, inclusive, sendo ameaçado de ter seu nome envolvido em escândalo pré-fabricado, exclusivamente para eliminá-lo do meio.”
2.       Se todos nós nascemos perfeitos e com todos os valores corretos (segundo Rousseau), em que momento surge, nesse ser político, a desconstrução moral, a destruição do caráter e o descaminho para a podridão da desonestidade desmedida?
“O momento surge quando a criança ou o adolescente começa a perceber o mundo à sua volta e desenvolve a sua capacidade de análise. Essa observação mostra a banalização da relação interpessoal, com exemplos de pessoas sendo beneficiadas por atitudes ilícitas, pessoas prejudicando outras em seu próprio benefício, pessoas querendo “tirar vantagem” em tudo o que fazem sem medir méritos, ou seja: “A sociedade corrompe o homem”.”
3.       Há remédio para “curar” essa doença nas pessoas que já foram contaminadas e estão agindo de forma desonesta, corrupta e criminosa?
“Há dois tipos de remédios, o alopático e o homeopático. O alopático é o de maior eficácia, que é a punição exemplar, rigorosa e escandalosa, fazendo com que todos tenham receio de transgredir, ou seja, cura pelo medo! O homeopático é o que vai reconstruindo os verdadeiros valores humanos aos poucos, com exemplos e vivências, e com convencimento por meio de observação de resultados positivos.”
4.       Há vacina para evitar o descaminho das crianças e adolescentes ainda em processo de formação?
“A vacina mais perfeita é a educação responsável, incluindo aí a educação política, ou seja, a educação voltada para a responsabilidade social e comunitária, além da responsabilidade pessoal, profissional e familiar.”
Observando a história do mundo constatamos que as grandes mudanças ocorreram a partir de Paris, durante a “Revolução Francesa”, provocada pelos estudantes, cujas mentes estavam ansiosas pela realização de seus ideais de vida. Mas era outro tipo de estudantes.
Os que temos hoje não se dão conta de que estão sendo “manipulados” pela massa corrupta de uma forma quase sutil, fazendo com que eles pensem que estão atuando politicamente, mas na realidade estão sendo “massa de manobra” para a continuidade do sistema atual.
Basta observarmos as festas “rave” regadas a drogas, quando os organizadores comentam, sem nenhum escrúpulo, que “nas nossas festas nunca houve caso de overdose”... Deixam bem claro que o tráfico e o consumo são livres, para que todos estejam bem “desligados” do mundo real e não atrapalhem seus planos mirabolantes para dar continuidade ao sistema corrupto sem interferência de estudantes mais esclarecidos e com verdadeiros ideais.
Basta analisarmos os procedimentos dos Diretórios Acadêmicos que, na esteira dos sindicatos de classe, passaram a seguir o modelo político corrupto e desonesto do sistema como um todo. Sei que nem todos seguem a mesma linha, mas a realidade mostra uma maioria desmotivadora...
Em nosso colégio, a Professora Jaselma, de História, me pediu para incentivar os alunos a criarem o Grêmio Estudantil e achei ótimo, desde que possamos dar aos alunos uma excelente formação em educação política antes de eles iniciarem seus trabalhos.
E a solução para a mudança definitiva, logicamente em longo prazo, está por aí! Lembrei-me do grêmio do qual eu participei. Naquela época chamávamos pessoas com excelente exemplo de vida para discutirmos as formas de também podermos contribuir para a melhoria social, por meio da escolha correta de nossas profissões.
Mas não é um trabalho fácil. Se apenas criarmos um grêmio sem um processo sério de orientação política, as influências serão as do sistema... Estaremos apenas aumentando o número de “felizes marionetes”, alimentados por “pão e circo”, e ajudando a engrossar a massa de manobra necessária à manutenção desse sistema corrupto e moralmente degradante que nos cerca hoje.
Então: Mãos à obra!
a.       Educação política na escola e educação política em casa!
b.      Exemplo de vida na escola (por parte dos professores) e exemplo de vida em casa (por parte da família)!
c.       Apoio emocional (afetividade) e orientação disciplinar (limites) na escola e em casa!
É só isso o que precisamos! Estarei fazendo a minha parte em nosso colégio! Nossos professores serão orientados a fazerem o mesmo em suas classes todos os dias! Tenho certeza de que os pais de nossos alunos estarão fazendo o mesmo em suas casas. A mudança, certamente, ocorrerá! Precisamos apenas de mais escolas, mais professores e mais famílias fazendo o mesmo! Os resultados serão multiplicados e a abrangência cada vez maior.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Programação cerebral pela educação

(Roberto Andersen – 19/12/2010)
É fascinante o estudo do cérebro humano e, mais ainda, quando se constata a sua imensa potencialidade, mas o mais empolgante é a percepção de que, por maior que seja o avanço da ciência tecnológica baseada no funcionamento dos neurônios, mais misterioso fica o entendimento da mente humana.
É fantástico observar o nosso “hardware cerebral” composto pelos neurônios e por toda uma estrutura orgânica supercomplexa, e saber que ele é o responsável por todos os nossos pensamentos, sentimentos, emoções e atitudes.
Empolgante perceber que toda essa estrutura funciona a partir de uma programação biogenética, a princípio, mas também social, após o nascimento, programação essa que determina o estabelecimento de uma intrincada rede de interligações neurais, interligações essas que possibilitam nosso pensamento e o controle de todo nosso organismo.
Impossível não compararmos essa estrutura à dos computadores! Há diferenças imensas, é lógico! Mas há semelhanças interessantes. No computador o hardware ainda está num estágio muito atrasado, pois ainda é fixo, necessitando de substituição de peças para qualquer tipo de evolução, ou “upgrade”.
E a nossa estrutura fixa? Para começar ela nem é propriamente fixa! Muito pelo contrário, ela inicia num tamanho ínfimo, no momento da fecundação, e evolui de acordo com uma programação biogenética, durante toda a vida. É como se comprássemos apenas o processador do computador e, a partir dele, o computador inteiro fosse crescendo e se formando até estar com teclado, mouse, monitor, CPU, etc. Quem sabe, um dia, teremos esse tipo de máquina?
E a programação? O computador, em sua instalação inicial, recebe uma programação (software básico) para o exercício das suas atividades. Nós também! A nossa parece vir na nas células tronco.
A básica do computador vem no processador e as complementares são instaladas no disco rígido. Elas são desenvolvidas pelos engenheiros de sistema, de acordo com uma finalidade específica e será alterada, a depender da necessidade, pelo seu operador, para alcançar os seus objetivos de trabalho.
A nossa é recebida dos nossos pais, uma delas traz as características da nossa espécie (programação biológica) e a outra vem com as características específicas das linhagens das duas famílias (genética) e também será alterada ou complementada por nós mesmos, de acordo com a nossa vontade, embora sofrendo as influências do meio.
E é nesse entendimento que surgem os maiores mistérios. A cada dia descobre-se mais um pouco sobre o funcionamento de toda a máquina biológica, incluindo aí os complicados mecanismos cerebrais, mas quem é o responsável pelas alterações de programação?
Existe a influência da sociedade, da mídia, da educação doméstica, da educação escolar, mas existe a necessidade da aceitação dessa influência para que a programação faça efeito, ou seja, nossa máquina escolhe se quer ou não seguir a programação pré-estabelecida. Que força é essa que está acima da programação e que permite ao ser humano escolher seus próprios caminhos?
Aí está a grande diferença entre o aparelho cibernético, característico do computador, e o aparelho psíquico, característico do ser humano. O funcionamento cibernético ainda está num estágio possível de ser explicado em detalhes pelos seus engenheiros e programadores, mas o psíquico tem apresentado, a cada dia, mais mistérios em seu entendimento, alguns tão inexplicáveis ao ponto de criar perplexidade aos profissionais dedicados a esses estudos.
Para entender o aparelho cibernético prepara-se o analista de sistemas. Para o entendimento do aparelho psíquico surgem médicos e terapeutas, entre eles os neurologistas, psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, psicopedagogos, neuropedagogos, etc., cada um estudando uma diferente área na tentativa de encontrar explicações para as anomalias e cura para as enfermidades.
A complexidade do ser humano e das suas anomalias exige o estudo profundo e especializado de cada uma das suas áreas, ficando cada vez mais difícil encontrar um profissional que consiga entender do ser como um todo.
Exatamente por causa dessa dificuldade é que o entendimento da criança e do adolescente precisa de um estudo especializado em generalidades! Sim! Generalidades! Só a visão globalizada envolvendo todos os aspectos comportamentais, cognitivos, psíquicos e emocionais poderá evitar erros gravíssimos nesse entendimento.
O estudo das disciplinas pedagógicas é o primeiro passo para esse entendimento. As complementações psicopedagógicas e neuropedagógicas ampliam o horizonte desse entendimento e reduzem, substancialmente, muitos erros.
Os defeitos na máquina cibernética são lógicos e, portanto, facilmente identificados. Os defeitos na máquina humana são fruto de uma complexidade lógica, orgânica, psíquica e emocional, fazendo com que os mesmos sintomas possam ter significados completamente diferentes, a depender da pessoa e de seu estado psíquico.
Essa realidade do ser humano, que desespera quem espera uma “receita de bolo” no entendimento da criança e do adolescente e na relação educacional com eles, é o que entusiasma quem gosta de desafios, porque há sempre uma possibilidade de exercermos o papel do “programador cerebral” e reconfigurarmos partes importantes da mente da criança e do adolescente no intuito de resgatar sua autoestima, sua força de vontade e suas perspectivas de vida.
Então, para quem gosta de desafios, essa relação entre pais e filhos e entre professor e alunos é um verdadeiro paiol inesgotável de situações e realidades prontas para serem trabalhadas.
E para o IUPE, nosso instituto de pesquisa e educação, cujo trabalho é exatamente desenvolver metodologias, aplicá-las, analisar seus resultados e aperfeiçoá-las, esses desafios são fundamentais!
E para quem quer fazer o mesmo ou acompanhar nosso trabalho aqui vão alguns passos importantes e imprescindíveis para programar nosso cérebro e o de nossos filhos e alunos:
a)      Realidade da criança:
Observe cada aluno ou seu filho e analise a sua realidade cognitiva, psíquica e comportamental. Preste atenção às suas habilidades, capacidades e potencialidades desenvolvidas.
Se há alguma anomalia, seja ela qual for, esqueça suas impossibilidades e dificuldades, pois elas em nada nos ajudam e, pelo contrário, só atrapalham o planejamento de nosso trabalho e reduzem a nossa autoestima e a da criança, que tudo percebe. Identifique apenas as suas possibilidades, habilidades e capacidades, para trabalharmos a partir delas.
b)      Autoestima:
Analise se seu filho ou seus alunos demonstram alguma baixa na autoestima e, caso isso seja constatado, inicie, imediatamente, um trabalho de resgate! Há vivências e atividades apropriadas para isso e elas devem ser colocadas em  prática imediatamente.
c)       Relação familiar:
Analisar o seu ambiente familiar, em casa, e a relação familiar e social dos seus alunos, para planejar mudanças, no caso da sua família e, sugestões por meio de reuniões de treinamento parental, no caso das famílias de seus alunos.
d)      Relação pai-filho e relação professor-aluno:
Fazer uma autoanálise na sua forma de se relacionar com cada um de seus filhos e com cada um de seus alunos. É imprescindível que eles confiem em você, admirem seu exemplo de vida e gostem de você. Se isso não estiver ocorrendo procure erros em você, nunca neles!
e)      Cuidados com o cérebro:
Programar para você, seus filhos e seus alunos a realização rotineira de técnicas de nutrição e ginástica cerebral, para facilitar o desenvolvimento intelectual, criativo e emocional.
f)       Curiosidade intelectual e espírito científico:
Leia muito! Estude muito! Pesquise muito! E desenvolva o prazer em fazer isso! Aí, sim, crie formas de estimular seus filhos e seus alunos a fazerem o mesmo. Nunca os mande fazer aquilo que você não gosta de fazer e só faz por obrigação.
Concluindo: Vamos à prática?
Um grande abraço e lembro que estou à disposição de vocês por e-mail (robertoandersen@gmail.com) ou presencialmente em nosso instituto (IUPE), onde estou preparando o novo programa educacional para os alunos de nosso colégio em 2011. Dessa vez o aluno estará sendo estimulado a desenvolver a criatividade e o espírito científico desde o sexto ano do Ensino Fundamental. Vamos ver os resultados no final de 2011!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Educação: polêmica nacional

EDUCAÇÃO: POLÊMICAS NACIONAIS
Com a notícia, publicada na Folha de São Paulo de ontem, da aprovação, pelo MEC, das Novas Diretrizes para o Ensino Fundamental de nove anos, algumas coisas me chamaram a atenção.
Tenho muitas críticas à forma como foi feita a troca dos oito para os nove anos, achando eu que nenhuma estrutura na burocracia dos registros escolares precisaria ter sido mudada, já que a única diferença entre os oito anos anteriores e os nove anos atuais foi a inclusão da série anteriormente chamada de alfabetização, como 1º ano do novo sistema de nove anos.
E como o sistema particular de ensino de nosso país já continha essa série como última série de um grupo de quatro anos de Educação Infantil, em nada mudou, exceto pela imensa dificuldade de efetuar os registros escolares, ora atendendo ao regime anterior e ora ao regime atual.
Bastava que o governo determinasse a inclusão, no sistema público de ensino, da série chamada de alfabetização e determinasse que a matrícula para essa série fosse obrigatória para as crianças que completarem seis anos de idade.
Mais tarde o governo poderia pensar em fazer o mesmo para as demais três séries da Educação Infantil, dando oportunidade a matrícula, no sistema público de ensino, a todas as crianças a partir dos três anos de idade.
Aí sim, estaria sendo iniciada a revolução positiva no ensino desse país. O resto é querer ganhar pontos de audiência com atitudes de puro exibicionismo sem resultado prático algum!
Mas minha observação hoje não é essa! Apenas eu não consigo ficar calado, ou melhor, sem escrever, quando vejo algo escrito sobre as mudanças do sistema de oito para nove anos...
Minha observação é sobre o que os conselheiros nacionais de educação determinam, mas que parece estar sendo mal interpretado pela sociedade, no texto publicado na reportagem e que resumo abaixo:
1.       Os alunos devem ser plenamente alfabetizados até os oito anos de idade.
2.       Os alunos não devem ser reprovados até o terceiro ano dessa etapa.
3.       As crianças têm direito de aprender e as escolas devem assegurar todos os meios para que o letramento ocorra até os oito anos de idade (não é uma concepção simplista de que defendemos a aprovação automática).
4.       Cada criança tem seu ritmo e por isso cada uma delas será alfabetizada num momento diferente, por isso um período de alfabetização até os oito anos de idade, sem reprovações nessas etapas.
Então vamos a nossa análise, agora com base nas nossas pesquisas e na aplicação prática dos resultados que obtemos em nossa metodologia.
O nosso professor não é formado para entender o que está escrito nesses quatro itens, mas sim para tentar fazer com que o aluno aprenda o que está determinado no conteúdo daquela série em que ele está matriculado, esquecendo que educar não é “enfiar” conteúdo na cabeça das crianças!
Nessa hora eu gostaria de usar a frase de Comenius, em sua obra Didacta Magna, escrita no século XVII: “Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja”.
Vamos, então, ver o que o professor encontra em sala, e como ele é preparado para agir:
Se ele encontra o aluno dentro do padrão “X”, que são os que absorvem, entendem e progridem dentro do que está especificado nos livros textos daquela série, no caso 1º, 2º e 3º ano no Ensino Fundamental de nove anos, o professor consegue “ensiná-lo”, ele é alfabetizado no tempo certo e todos ficam felizes e satisfeitos.
Já no caso dele encontrar o aluno dentro do padrão “Y”, que são os que demoram muito a absorver o conteúdo, têm dificuldade de entendimento e não acompanham os colegas da sala, o professor não consegue “ensiná-lo”, pede para chamar os pais e leva-lo ao neurologista, ou simplesmente o reprovam.
Quando o professor encontra o aluno do padrão “Z”, aqueles que apresentam tanta facilidade e tanta rapidez no entendimento que não conseguem ficar quietos em sala, levantam toda hora e implicam com os colegas, o professor também não consegue “ensiná-lo”, pede para chamar os pais e leva-lo, também, ao neurologista, porque a criança é hiperativa (já diagnosticado pelo próprio professor) e deve iniciar seu tratamento com Ritalina (já receitada pelo próprio professor...).
Ora! Eu sou professor também e, portanto, não estou falando mal de uma classe diferente da minha, mas da minha, e não estou falando mal, mas analisando uma realidade! Porque sei que essa é a nossa tendência, já que somos formados sem a menor noção do que seria entender criança diferente do padrão estabelecido!
Então, quando lemos que a autoridade de educação pede para que os três primeiros anos sejam entendidos como um “pacote de alfabetização” e que não deve haver reprovação, já que cada criança vai se desenvolver num tempo próprio e que esse tempo para uma pode ser um mês e para outra, três anos, somos levados a entender que as autoridades querem “forçar” uma aprovação em massa! Mas não é nada disso! É a realidade!
É a realidade, mas para um professor que não está sendo preparado em nosso país! Os nossos estão sendo preparados para turmas homogêneas, ou que deveriam ser homogêneas. Quem estiver fora do padrão deve ser “eliminado”.
O professor que a criança precisa é o professor preparado para classes multiseriais, ou seja, aquele que desenvolve a capacidade de se dedicar de forma diferente e com conteúdo diferente a cada grupo de alunos em uma mesma sala de aula.
E essa é a realidade de todas as salas de aula desse país! Não encontrei, até hoje, uma sala em que não houvesse alunos tipo X, tipo Y e tipo Z. O que é o mesmo que dizer que a sala é multiserial, pelo menos no que diz respeito à capacidade cognitiva dos alunos.
Concluindo:
Sou terminantemente contra, mas tenho que aceitar, a mudança da estrutura do Ensino Fundamental de oito para nove anos, já que, no meu entender, bastava inserir a alfabetização antes da primeira série, como sempre foi feito em todo o ensino privado no Brasil. Isso só está causando uma tremenda “dor de cabeça” às secretarias escolares para oficializar os registros de notas e séries.
Sou terminantemente a favor da não reprovação nas três séries iniciais, já que o importante nessa fase é o entendimento, a compreensão e a ajuda pessoal do professor a cada aluno, estimulando seu interesse pelo estudo e descobrindo suas habilidades para despertar sua autoestima.
Mas vou mais além: nosso entendimento de classe multiserial não deve ficar apenas nas três primeiras séries escolares, mas deve se estender a todas as demais séries do Ensino Fundamental e Médio, já que a sempre haverá os três tipos de alunos, fora os que apresentam anomalias, que são ainda mais diferentes! E todos, ao que eu saiba, merecem respeito, consideração e têm direito à educação.
Vamos, então, repensar a forma como nos dedicamos à avaliação, à cobrança e a consequente aprovação ou reprovação de nossos alunos. Será que estamos dando mais importância à cobrança do que ao ensino? Será que não seria mais produtivo se, ao invés da simples cobrança, nos dedicássemos a encontrar meios, estratégias e metodologias para despertar o interesse pela matéria, despertar o espírito crítico, despertar a curiosidade pela leitura e despertar o entusiasmo pela produção própria?
Fica aqui o desafio!
Publicado também em: http://alturl.com/ewp5k

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Psicanálise atacada por filósofo Francês

Admiro a coragem que determinadas pessoas tem em tentar destruir uma imagem consolidada e séria, como a teoria psicanalítica iniciada por Freud e desenvolvida por muitos outros psicanalistas de projeção mundial. 

Admiro mais ainda a tremenda "cara de pau" dessa pessoa quando, após "chocar" e confundir meia dúzia de incautos, mostrar ao que veio, tentando impingir uma nova teoria, baseada na que tenta destruir, mas sem qualquer fundamentação, e ainda chamando-a de "Psicanálise não Freudiana".
 
É assim que surge Michel Onfray, filósofo francês, autor de "A Morte de Deus" e, agora, autor de "Crepúsculo de um Ídolo", atribuindo a cura psicanalítica a um simples efeito placebo e rotulando Freud de charlatão.

Suas declarações começam a fazer sentido no momento em que descobrimos o que ele pretende: Nada mais do que lançar suas ideias sobre uma nova terapia, chamada por ele de Psicanálise não-freudiana, essa sim, segundo ele, a que realmente cura (tema de seu próximo livro)!

Na sua entrevista, publicada na Superinteressante 285 / Dez-2010, ele aponta os erros de Freud:

1) Michel Onfray diz que Freud omitiu seus erros médicos, considerando como erro ter receitado cocaína a Fleischl von Marxow, que morreu.

Meus comentário: 

- Em diversas obras sérias em alemão e em francês há relatos sérios sobre tal assunto, evitando o "reducionismo perverso" cometido por Onfray nessa sua tentativa destruir a imagem desse gênio que foi Freud. Há também uma tradução muito boa em português: "Freud: o lado oculto do visionário", de Louis Breger, editado no Brasil pela Editora Manole Ltda, de São Paulo em 2002.

- Na página 97 desse livro consta todo o processo que levou Freud a receitar cocaína a Fleischl. Todos os médicos, na época, utilizavam a cocaína sem ter ainda noção dos seus efeitos colaterais. Só com a constatação de resultados negativos foi que a cocaína passou a ser banida dos tratamentos e do consumo livre. 

- Lembrem-se, para não serem ludibriados por mais espertalhões como Onfray, que na medicina a coisa funciona exatamente assim. Antigamente usava-se a radiografia (raio-X) livremente e sem qualquer proteção. Os cuidados que são tomados hoje são resultado do imenso número de mortes por radiação, principalmente entre enfermeiros e médicos que trabalhavam com esse equipamento. Da mesma forma a peniscilina. Lembro que, em mina infância, qualquer enfermidade que eu tinha era receitado peniscilina. Hoje sabe-se que o consumo exagerado desse antibiótico pode causar problemas sérios. 

- Então falar mal de Freud por ter receitado cocaína naquela época é querer ignorar a noção de tempo, época e cultura. Teríamos que falar mal também de todos os grandes da época, entre eles Fliess, Breuer, Karl Koller e muitos outros.  

2) Michel Onfray diz que Freud não curou Sergei Pankejeff (o homem dos lobos).

Meu comentário:

- Sempre existe uma cura de alguma neurose quando se aplica a terapia psicanalítica de forma correta. E o próprio Onfray vai dizer isso, mais tarde, quando começar a divulgar a sua "nova forma" de fazer a mesma psicanálise! E no caso de Sergei, se existia uma neurose ela foi curada. 

- O problema insolúvel que ele manteve durante toda a sua vida era relacionado a uma atrofia cerebral que jamais poderia ter sido descoberta naquela época, já que não havia equipamento adequado para isso ainda. Só nesse nosso século XXI conseguiu-se detetar a principal consequencia do abuso sexual na infância e que fez com que muitos pacientes passassem por terapias maravilhosas, mas que nada resolveram. Freud nunca poderia ter descoberto isso sem os equipamentos de visualização dos neurônios que temos hoje. 

- O problema de Sergei Pankejeff, o abuso sexual que sofreu na infância por parte de pessoa da família, provocou (só hoje sabemos) uma atrofia neural no hemisfério esquerdo cerebral, reduzindo a sua capacidade de raciocínio lógico. Grande parte dos adolescentes que, na infância, sofreram abusos sexuais, acabam cometendo suicídio, exatamente por não terem o raciocínio lógico desenvolvido o suficiente para evitar atitudes exclusivamente de cunho emotivo.

- Para essa anomalia provocada não se aplica a psicanálise, mas isso não se sabia antes e até hoje ainda não é de conhecimento geral. A única forma de se reduzir as terríveis consequencias da redução do raciocínio lógico e assim evitar o suicídio de tantos jovens, é fazer a terapia lógica, que nada mais é do que estimular jogos de xadrez, exercícios de lógica matemática e muitos exercícios de matemática! 

Concluindo acredito a palavra charlatanismo empregada por Onfray para definir Freud deveria estar sendo mais bem empregada para definir a si  mesmo.

Reflexões preliminares no estudo da neuropedagogia

Reflexões preliminares ao estudo da neuropedagogia
 
Nos dias 19, 20 e 21 de novembro passado teve início do estudo neuropedagógico na cidade de Jequié. Essa área, ainda nova no Brasil, veio preencher uma lacuna imensa no entendimento, acompanhamento e tratamento das crianças e adolescentes com anomalias neurológicas, psíquicas e comportamentais. Nesse primeiro encontro surgiram algumas reflexões que podemos considerar básicas para o sucesso dessa nova área profissional. Leia o artigo completo em:
http://iupe.webnode.com/educacao-/neuropedagogia-em-jequie/

domingo, 5 de dezembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

Inclusão de autistas e outras anomalias

Mais uma vez vemos o autismo ser discutido nos jornais, após a realização do seminário "Autismo: boas práticas da inclusão escolar". Mais uma vez se tenta mostrar ao público responsável (professores e pais) que a inclusão do autista na escola normal, seja qual for o seu grau de autismo, deve ser uma realidade e deve despertar em todos os profissionais envolvidos, o entusiasmo pelo desafio de desenvolver métodos e técnicas que melhorem, a cada dia, a relação do autista com o meio em que vive. Isso é a mais pura verdade!

Mas percebi que um dos enfoques do seminário foi a falta de profissionais capacitados, nas escolas, para o atendimento dessas crianças, o que desloca o centro de atenção do problema para uma grande falha no sistema educacional, já que ele determina uma inclusão e não dá meios para tal possibilidade real. Vamos analisar esse enfoque para verificar se realmente isso é verdade e se alguma coisa pode e deve ser feita para reduzir essa dificuldade apontada no seminário.

Não precisamos ir muito longe para perceber que o problema não está diretamente ligado a essa falha no sistema educacional nem mesmo na falta de profissionais capacitados para essas anomalias, mas sim na forma como o sistema de formação profissional dos educadores mostra as diferentes anomalias comportamentais e cognitivas e, além disso, na forma como estão sendo entendidos os objetivos educacionais como um todo. O mau entendimento de um prejudica o entendimento do outro.

Todas as crianças que apresentam sintomas característicos das mais diferentes anomalias, incluindo aí o déficit de atenção, dislexia, discalculia, esquizofrenia, déficit cognitivo, hiperatividade e, nesse caso, os transtornos de espectro autista, são rotuladas como crianças doentes e que devem estar sob a responsabilidade de terapeutas e médicos, e que devem ser atendidas, na escola, por profissionais devidamente preparados para tais anomalias. Onde estão os erros desses enfoques?

a) Crianças rotuladas como anormais:

O maior erro dessa declaração está na análise dos sintomas. A pressa em "se livrar" da responsabilidade faz com que professores e pais criem um diagnóstico precipitado, rotulando seus filhos ou alunos como crianças anormais. Assim rotulando a responsabilidade pelo seu acompanhamento deixa de ser dos pais e professores e passa para a esfera terapêutica ou médica, muitas vezes com uso de remédios controlados. 

Deixando de lado os casos evidentemente diferenciados, como no caso de surdos, mudos, cegos, deficientes físicos e outros que, pela sua especificidade podem, realmente, necessitar de atendimento especializado, os demais casos devem ser analisados com muita cautela, principalmente devido ao constante aparecimento de "falsos sintomas".

Embora haja crianças e adolescentes com anomalias verdadeiras, a grande maioria das crianças de hoje apresenta os mesmos sintomas, considerados, então, como "falsos sintomas". As características desses sintomas são muito semelhantes às das doenças reais, mas os motivos são outros. Essas crianças são normais, sem qualquer tipo de anomalia, mas apresentando bloqueios emocionais gravíssimos, sempre provenientes de carência afetiva, carência de limites, educação equivocada, maus tratos, incompreensão familiar, intolerância social, bullying ou outros atos prejudiciais à sua formação. 

Como a carência afetiva e a carência de limites estão na esfera da educação doméstica, entende-se a razão da "fuga" de responsabilidade por parte de alguns familiares que não querem assumir que os seus erros no relacionamento familiar possam ser os principais causadores dos sintomas dessas crianças. 

b) Professores precisam de preparação específica para atender cada anomalia:

Para aqueles casos diferenciados comentados anteriormente (surdos, mudos, cegos e outros) há necessidade de profissionais devidamente especializados. Os demais casos estão dentro da competência que cada professor precisa desenvolver a partir de seu curso de técnica de magistério, formação pedagógica ou durante o período de licenciatura.

Isso significa que o seu acompanhamento deve ser exatamente o mesmo acompanhamento que todos os professores deveriam estar dando a todos os alunos de suas turmas, ou seja: procurar analisar quais as características de entendimento e compreensão que cada um dos alunos de sua turma possui para, a partir dessa realidade, entusiasmar a todos eles para que queiram adquirir mais conhecimentos e desenvolver mais habilidades.

Temos que deixar bem claro que não existe turma homogênea! E temos que mostrar, a cada momento, que é um grande erro querer que todos os alunos  de uma mesma turma obtenham resultados semelhantes, entendam as explicações da mesma forma, entusiasmem-se a partir dos mesmos elementos motivacionais.

Outro grande erro, consequente do primeiro, é querer fazer comparações entre alunos! O desempenho e a habilidade de um aluno só pode ser comparado com o desempenho e a habilidade dele mesmo, no dia de ontem! Nunca com o de outro aluno! E a cada progresso de cada aluno, por menor que seja, deve haver o devido reconhecimento e deve ser clara a expressão de alegria do professor durante essa constatação de progresso.

O erro complementar, que é normalmente compartilhado por professores e pais, constitui o entendimento do aluno como uma vítima, um "pobre coitado", que deve ser visto "com pena e resignação", e que não deve, por isso, ser submetido a exigências muito severas de aprendizagem. Erro gravíssimo, sendo, inclusive, o principal responsável pelo fracasso na evolução cognitiva e comportamental de todas as crianças, sejam elas as que apresentam falsas anomalias, como as que possuem anomalias verdadeiras.

Todas as crianças são diferentes e devem ser entendidas assim, mas essas diferenças determinam apenas o tipo de trabalho que vai ser exigido delas, mas nunca a dispensa de exercícios, atividades, trabalhos escolares e deveres de casa. Esse é o momento mais polêmico, já que grande parte dos professores perde a noção do tipo de trabalho a ser determinado para tais alunos, e também grande parte dos pais reclama das exigências dos professores de seus filhos. 

Ajuda aos professores:

a) Anomalias que dificultam o entendimento e limitem as habilidades:

- Os trabalhos devem ser sempre em nível abaixo do nível de entendimento desse aluno, já que o objetivo inicial é elevar a sua auto-estima para que ele se entusiasme pelos exercícios a partir dos resultados alcançados. 
- Todo e qualquer resultado deve ser reconhecido com alegria e entusiasmo. 
- Os trabalhos devem ser constantes e com exigência de prazos, para evitar a preguiça mental camuflada por trás da deficiência presumida. 
- O professor deve "esquecer" a necessidade de "cumprir" um programa padrão para esses alunos, já que seu programa será determinado pelo seu próprio progresso, independente da série escolar em que ele estiver matriculado.
- Por ocasião do Conselho de Classe, ao final do ano letivo, deve ser analisada se o aluno terá mais chances de progredir repetindo a série em que está ou se sua necessidade afetiva exige manter a companhia dos colegas que estarão na série seguinte. Essa análise é determinante para a promoção ou não do aluno a série posterior, independente dos resultados alcançados. Toda essa análise precisa ser registrada e enviada à Secretaria de Educação para acompanhamento e orientação.

b) Anomalias características de hiperatividade ou inquietação excessiva:

- Grande parte dos alunos considerados hiperativos ou com inquietação excessiva são apenas crianças e adolescentes dotados de elevada capacidade cognitiva e, por isso, não conseguem ficar muito tempo numa sala de aula em que nenhum desafio estimulante seja apresentado. 
- Para esses alunos os trabalhos devem ser sempre em nível desafiador, de forma que estejam sempre buscando a ampliação de sua capacidade atual.

c) Anomalias caracterizadas pelos diversos transtornos de espectro autista:

- Nesses casos deve haver uma busca constante do "foco de atenção" desse aluno, para que todo trabalho seja desenvolvido a partir desse foco.
- O professor deve "entrar" no universo particular desse aluno, para ser "aceito" por ele como igual e, assim, ser estimulá-lo a progredir.
- Nenhuma expectativa deve ser criada em torno desse desenvolvimento. O trabalho pode ser repetitivo durante um longo período e, em  determinado momento, dar um salto imenso de evolução.
- Isso significa criar técnicas e aplicá-las pelo simples prazer de criá-las e aplicá-las, sem exigir que surjam resultados imediatos e sem dar prazo para observar tais resultados.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Autismo: novos caminhos

Num artigo anterior comentei sobre um detalhe enriquecedor em relação aos autistas. Esse detalhe tem início na identificação do seu “foco de atenção” e, a partir dessa identificação, a descoberta e estímulo de alguma habilidade especial.
É sabido que, por algum motivo ainda inexplicado, grande parte das pessoas com T.E.A (transtorno de Espectro Autista) possui alguma habilidade específica num grau de desenvolvimento muito superior ao de qualquer pessoa considerada normal. Isso surpreende a sociedade!
Essas surpresas, entretanto, nem sempre ocorrem de forma positiva, mas de forma compensatória, ou seja, não se admira, simplesmente, aquela habilidade especial. As pessoas, normalmente, se espantam, tentando entender como uma pessoa “mentalmente anormal” consegue superar as “ditas normais” em atividades intelectuais, criativas, tecnológicas e outras!
Devido a essa forma de entender o autista, a exclusão acaba ficando evidente, mesmo que de forma inconsciente, o que só dificulta o desenvolvimento de todas as outras crianças portadoras de T.E.A ou de qualquer característica especial ou diferenciada.

Cada criança, seja ela autista ou não, deve ser entendida como um novo ser, com características próprias e que precisam ser entendidas, analisadas e compreendidas para que, a partir dessa compreensão, possamos começar o nosso trabalho individualizado visando o seu desenvolvimento intelectual e emocional.
As técnicas a serem desenvolvidas para cada anomalia podem até sofrer variações, mas a compreensão do novo é a base determinante e de extrema importância para todos os casos, incluindo aí aqueles considerados "normais".
Lembrando as partes principais do artigo, recomendamos a atenção ao perigo das comparações! Evitar comparações é uma necessidade básica na relação ensino aprendizagem de qualquer pessoa em qualquer nível. Cada criança é um individualidade e deve ser compreendida como tal. Toda comparação só deve ocorrer entre a criança hoje e ela mesma ontem!
Há necessidade, então, do educador ou terapeuta entrar no universo da criança, como se fosse o seu próprio universo, identificando, assim, o seu foco de interesse. Estimula-se esse interesse ampliando-o socialmente da forma que for possível. Procura-se descobrir habilidades ligadas a tal foco ou, em alguns casos, apenas identificá-las e estimulá-las.

E o mais importante: deve-se demonstrar verdadeira alegria e felicidade com cada vitória alcançada pelo aluno, por mais ínfima que ela seja, visando o aumento de sua auto-estima. Nunca criar expectativas de resultados, mas estar sempre satisfeito com os que estão sendo alcançados, sem deixar de insistir na realização de exercícios e trabalhos, sempre dentro da capacidade e habilidade desenvolvida.

Poucos meses após a divulgação dessas sugestões já surgem alguns resultados positivos. Diversos professores e terapeutas relatam que estão conseguindo conquistar uma relação interpessoal com seus alunos autistas. Esses já alcançaram a fase de "entrar no universo" do autista, identificar o seu "foco de atenção" e ser considerado um parceiro confiável.
Isso nos anima a prosseguir com as experiências e realizar a segunda parte da metodologia, essa já contando com a colaboração dos professores das disciplinas, já que consiste em adequar o ensino de algum assunto dentro de cada disciplina, a partir do foco de atenção. A forma de adaptar esse método a cada matéria é a tarefa que deve ser realizada agora por cada um dos professores envolvidos.

Há casos, entretanto, em que a relação interpessoal é praticamente impossível, principalmente em autistas com síndrome mais difíceis, como por exemplo, a síndrome de Rett. Mas até para esses casos já se vislumbram soluções, principalmente quando há um cientista brasileiro envolvido! Isso não é piada! É a pura realidade! O trabalho que está sendo realizado pelo biólogo brasileiro Alysson Muotri, visa a cura de todos os autistas, por meio da transformação de células tronco em neurônios autistas para depois iniciar o seu processo de cura.
 
Seu trabalho, publicado pela revista CELL, mostrou a criação de neurônios autistas em laboratório, identificou suas diferenças em relação aos neurônios normais e, ao final, tratou-os fazendo com que se transformassem em neurônios normais. Uma reportagem sobre seu trabalho está publicada na página 72 da Revista Época de 15 de novembro de 2010 com o título "Autismo in vitro".
 
(Lembrem de Miguel Nicolelis, outro brasileiro, esse neurologista, que está a meio caminho de descobrir a cura definitiva do Mal de Parkinson e da Epilepsia, tendo iniciado todas as suas pesquisas devido a sua curiosidade que tinha, como simples técnico de computador, em entender e analisar a sinfonia dos neurônios que apareciam nas telas dos eletroencefalogramos nos quais ele fazia manutenção.)
 
Enquanto aguardamos os resultados das pesquisas de Alysson Muotri e observamos o sucesso da trajetória de Miguel Nicolelis, vamos continuar estimulando nossos colegas a buscar melhorar a competência necessária para o entendimento e o desenvolvimento de todas as crianças e adolescentes que estiverem ao nosso alcance, sejam quais forem as suas características psíquicas, emocionais ou intelectuais.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Desânimo escolar: como entender e reverter?

Estamos acostumados a estudar todos os tipos de anomalias comportamentais, cada uma com uma classificação diferente, de simples dificuldades a síndromes e transtornos, mas todas trazendo prejuízos incalculáveis ao crescimento intelectual e emocional do aluno. Nossos estudos visam reduzir tais prejuízos a partir do entendimento dessas anomalias e do desenvolvimento de metodologias educacionais apropriadas a cada caso.
Uma delas, entretanto, tem sido ignorada pela maioria dos educadores e pelas famílias, já que a entendem como simples atitude de “revolta adolescente” ou de “apatia intelectual” típica da idade ou coisa parecida. É o “desânimo escolar”!
Esse desânimo faz com que o aluno desista de fazer qualquer esforço para aprender algo, procure sempre fazer algo, na sala, que nada tenha a ver com a aula, resista bravamente a qualquer atividade passada pelo professor ou esteja sempre com ar de cansado e desanimado.
Em casa ele nada faz. Se os pais perguntarem sobre atividades escolares, as respostas variam entre:
- Os professores não passaram nenhuma atividade para casa;
- Os professores não deram nada na aula hoje;
- Já fiz todos os deveres antes de sair da escola, hoje mesmo.
Basta observarmos qualquer sala de aula para identificarmos pelo menos dois alunos com essas características. Dois porque normalmente as atitudes desses alunos podem ser consideradas como “quase contagiosas”. Esse aluno não se sente bem sendo o único em sala a proceder assim. Devido a isso, ele trabalha, até de forma inconsciente, como “sabotador”, levando colegas a adotarem esse mesmo procedimento em sala.
Vamos hoje analisar de forma diferente. Não vamos tentar identificar as causas, mas vamos identificar meios de reduzir e até eliminar essa anomalia, principalmente por ser ela responsável pela maioria dos insucessos escolares, médias baixas, reprovações e, em casos mais graves, decepções emocionais dos pais, alguns chegando ao ponto de “desistir” da educação de seu próprio filho, como já tive a infeliz oportunidade de presenciar.
Temos um caminho simples a seguir, mas que deve ser seguido tanto pelos pais, em casa, como pelos professores, na escola.

Iniciaremos pelos pais:

Não interessa quanto tempo você tem disponível para estar com seu filho. Esse tempo deve ser verdadeiro. Esse tempo deve ser bem aproveitado com assuntos que estejam sempre contribuindo para estimulá-lo aos estudos, pesquisas, trabalhos e lazer programado.
Um dos maiores perigos nessa relação de responsabilidade é achar que o outro é o que deve dar mais atenção ao filho. Nessa relação cada um tem um papel individual importantíssimo e insubstituível. O filho precisa ter a atenção de um e de outro individualmente e em conjunto. Mas precisa de atenção verdadeira, ou seja, que seja mostrado interesse real pelo que ele faz, pelos seus estudos, pelos assuntos que está pesquisando e pelas suas próprias conclusões.
Uma criança ou um adolescente que escreve um texto e não percebe interesse de ninguém pelo que escreveu, começa a ficar desgostoso com seus estudos e pode entrar no processo do desânimo de que estamos tratando.
Assistir telejornais na companhia do filho para discutir assuntos do momento e que podem estar relacionados aos assuntos estudados na escola é uma das formas de reduzir e até evitar esse desânimo.
Dedicar-se a ler a produção diária de seu filho, não para confirmar se foi feito alguma coisa, mas para elogiar suas ideias e sugerir novos questionamentos aos mesmos fatos, é a melhor forma de “vaciná-lo” contra desânimos. Assim você também estará garantindo o seu sucesso.
Em nossa escola você ainda tem a possibilidade de fazer todo esse acompanhamento mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, já que esse contato pode ser feito diariamente pela internet, através do acesso ao BLOG individual de seu filho.

Agora os professores:

Só mesmo alunos muito bem resolvidos em sua vida pessoal e familiar podem conseguir ficar em uma sala de aula ouvindo um professor tagarelar o tempo todo, mesmo que o assunto seja interessante!
Mesmo assim se esses alunos não tiverem capacidade intelectual acima da média, já que para esses a inquietação é imediata e o sentimento de estar “perdendo tempo” pode fazer aparecer toda a sintomatologia de um aluno mal educado, desanimado, hiperativo e tudo o mais.
Uma aula precisa, antes de tudo, ter objetivos mais realistas e menos teóricos. O importante da aula não é o assunto a ser “dado”, mas a forma de entusiasmar cada aluno, na sua individualidade, pela matéria, pelo assunto, pela pesquisa e pelo questionamento sobre o tema do dia.
O ponto básico da aula é o uso de todos os minutos reservados para essa aula, sem “espaços vazios”! Espaços criam expectativas e ansiedades, a princípio, e desânimos perigosos, mais tarde. Os alunos devem sentir que estão sendo úteis para consigo mesmo, durante todo o tempo da aula. Deixá-los “à vontade” não os deixa à vontade. Cria-se uma insatisfação por perda de tempo. Eles podem até “achar” que estão gostando desse momento do nada fazer, mas sentem a “perda de tempo” e começam a ficar inquietos e estressados. O tempo parece demorar mais a passar e a campainha de final de aula fica sendo aguardada com mais ansiedade do que nunca!
Por isso que o planejamento da aula deve prever vários tipos de atividades, principalmente debates em grupo logo após o assunto do dia ter sido explanado, incluindo aí tarefas extras para quem terminar um teste antes dos outros. Um aluno não consegue ficar quieto em sala se não tiver algo importante e útil para fazer.
Visto o ponto básico do uso de todos os minutos, vamos ao entusiasmo do aluno.
Conseguir entusiasmar a todos com a mesma forma metodológica é praticamente impossível. Cada aluno reage de uma forma diferente a depender de suas características próprias.
E a única forma deles expressarem suas características e assim descobrirmos a forma de alcançá-los é deixando-os livres para trabalhar individualmente ou em grupo, assim que o tema principal da aula tiver sido apresentado. A partir desse momento o professor, passeando pelos grupos, começa a procurar entender as características dos indivíduos e dos grupos, podendo adaptar suas metodologias e conseguir melhores resultados.
Querer ensinar o assunto do programa sem procurar descobrir o que cada aluno pode aprender e de que forma ele conseguirá se entusiasmar, é desperdício de tempo e serve apenas para criar um sentimento de incompetência no professor, criando estresse e provocando descontrole emocional e intolerância. Comenius já dizia isso desde antes da didática ser criada no mundo: “Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja” (Comenius, século XVII, na Didacta Magna)
Se cada professor observar esses dois detalhes em suas aulas e se todos os pais passarem a demonstrar interesse pelos assuntos estudados pelos filhos, não haverá alunos desanimados, não haverá médias baixas e não haverá reprovações.
Somos nós os responsáveis pelo desânimo ou pelo entusiasmo dos nossos filhos e alunos. Então está em nossas mãos essa mudança! Mas precisamos todos agir independente do outro estar fazendo ou não a sua parte!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Aluno como principal referência no aperfeiçoamento da competência do professor

Interessante a formação do professor! Estudam-se todos os principais teóricos, de Piaget a Wygotsky, passando por uma interminável lista de referências. Os semestres são preenchendo com infindáveis leituras, interpretações, debates, provas, trabalhos, seminários, palestras e conferências.
Para os que se dedicam com entusiasmo e com afinco, ocorre a construção, ao longo desse período, de um alicerce de conhecimentos teóricos invejável. E para completar a carga horária e preencher os requisitos mínimos da sua formação, o educador faz um estágio em uma sala de aula, supervisionado por um professor titular.
Tudo lindo e maravilhoso até o dia em que ele assume a reponsabilidade de uma turma só sua! Nesse momento tudo começa a tomar outro rumo, principalmente quando encontra alunos, nessa turma, que não preenchem os requisitos do aluno padrão tão desejado pelo educador padrão, que acredita em resultados padronizados ao seguir as metodologias aprendidas no decorrer de sua formação.
Desse dia em diante tem início a construção da personalidade neurótica e estressada, característica de grande parte dos profissionais em educação, já que os fantasmas do meio educacional começam a aparecer em sua frente.
Eles, os fantasmas, aparecem em forma de coordenadores exigentes demais, salário baixo demais, tempo escasso demais, pais intransigentes demais, alunos desestimulados, preguiçosos, bagunceiros, irritantes, agressivos, hiperativos, doentes, marginalizados, etc., etc.
Alguns desses educadores se irritam, e desistem, “jogam a toalha”, fogem da sala e dos alunos como “o diabo foge da cruz”! (...) E vão correndo arranjar emprego em uma empresa de telemarketing...
Outros se acomodam na mediocridade profissional, esquecem os objetivos que pretendiam alcançar como educador, e seguem sua jornada automatizada de “dadores de aula”, ignorando os péssimos resultados obtidos por grande parte de seus alunos ou, pior ainda, colocando na família, na mídia, na sociedade ou no próprio aluno a responsabilidade (ou culpa) pelo seu fracasso.
Onde está o erro? Por que isso ocorre com tanta frequência? Como melhorar esse processo? Existe alguma solução? Como explicar o sucesso alcançado pela maioria dos alunos de algumas escolas de pequenos povoados, em países ainda piores do que o nosso, sem salário, sem livros, sem data-show, sem computador, sem laboratórios de ciências nem de informática, sem DVD, sem cursos de robótica, sem lousa eletrônica, sem cadeiras estofadas e sem ar condicionado?
Não precisamos ir muito longe. Basta fazermos uma viagem pelo interior de nosso próprio país que, de repente, vamos encontrar uma casinha pequena onde um educador nato está formando pessoas com excelentes resultados! Pessoas essas que poderão fazer a diferença no futuro.
E esse educador, muitas vezes, não possui sequer diploma, muito menos computador, nem acesso ao datashow. Ele não estudou Piaget, nem sabe manejar a lousa eletrônica (aliás, nem sabe de sua existência). Ele não fez estágio em nenhuma escola, mas aprendeu com os seus alunos, na prática, observando as características apresentadas por eles e tentando encontrar meios de estimulá-los para melhorar cada dia mais um pouco.
Exemplos positivos podem ser apontados em todo o mundo, com pessoas de sucesso que tiveram a oportunidade de ser orientadas por esses educadores de verdade. Alguns desses educadores tinham formação superior. Alguns deles tinham apenas completado o curso básico. Outros eram totalmente leigos, mas totalmente dedicados à compreensão dos alunos que estavam sob a sua responsabilidade. E aprenderam a educar o aluno observando-o com cuidado, analisando suas habilidades e desenvolvendo formas para estimulá-lo a crescer.
Michael Faraday, considerado um dos cientistas mais influentes de todos os tempos, foi educado por uma dessas professoras sem qualquer preparo teórico, que o ensinou a ler, escrever e entender um pouco de aritmética. Aos 13 anos começou a ser ajudado por outro educador nato, George Riebau, um simples encadernador e comerciante de livros, mas que o estimulou a buscar conhecimento nos livros que o ajudava a encadernar. Tanto a professora leiga que o ensinou a ler, escrever e fazer contas, como o encadernador leigo que o estimulou a buscar conhecimento nos livros, aprenderam a lidar com Faraday observando suas características, suas habilidades e sua forma de ser curioso, para estimulá-lo a se desenvolver. E conseguiram!
Por que não podemos fazer o mesmo com nossos alunos? Por que não podemos analisar suas características, suas habilidades, seu foco de atenção e seus interesses, para, a partir daí, desenvolvermos estratégias para estimulá-lo a crescer intelectualmente, emocionalmente e com caráter?
Nosso aluno é único. Nosso filho é único! Suas características são exclusivas dele! Algumas delas são até semelhantes às dos outros, mas essa semelhança não é necessária e nem deve servir para efetuarmos comparações. Elas, as comparações, são sempre desestimuladoras para algum dos lados.
Vamos, então, aprender com cada um de nossos alunos! Eles são a nossa principal referência prática e teórica! Mas para isso precisamos “entrar” no seu universo individual, procurar entender seus entendimentos, sentir seus sentimentos e compreender a sua forma de raciocinar e ver o mundo.
Precisamos, então, assumir a postura de entender cada aluno como um ser alienígena proveniente de uma diferente galáxia. Fazendo assim estaremos mais próximos de aprender com ele as suas formas de entendimento de vida, ao invés de querer compará-lo com seus outros colegas e exigir que tenham o mesmo desempenho! Cada pessoa é diferente. As semelhanças acabam fazendo com que padronizemos o que não deve ser padronizado.
Meninos superdotados, por exemplo, não conseguem manter o interesse por aulas tradicionais, já que nessas aulas espera-se que o aluno “normal” estude exatamente aquilo que o professor dá em sala e que realize as tarefas padrão dos livros. Os superdotados precisam de algo a mais. Eles precisam ser estimulados a pesquisas além do nível ensinado, a criar coisas novas e a desafiar o próprio professor.
Entrar no universo do superdotado é mostrar ao aluno o seu exemplo de entusiasmo pela evolução do conhecimento, pelas pesquisas e pela criatividade para estimulá-lo. Você tem que se “vestir” de um “buscador de conhecimento”!
Meninos com baixa capacidade de entendimento precisam ser estimulados a resolver questões e realizar exercícios inicialmente abaixo de seu nível de entendimento, para que elevem a sua autoestima e sejam quebrados, aos poucos os seus bloqueios emocionais. A maioria deles “esconde” por trás da dificuldade de entendimento, uma grande preguiça mental! Entra-se em seu universo mostrando nossa perseverança em pequenos trabalhos e pequenas atitudes do nosso dia-a-dia. Devemos mostrar o quanto ficamos alegres com pequenas vitórias que alcançamos todos os dias e a nossa força de vontade para realizar a cada dia mais um pouco. Da mesma forma devemos demonstrar alegria verdadeira ao ver seus exercícios realizados. Assim estaremos elevando a sua autoestima e estimulando-o a continuar e progredir a cada dia, mesmo que seu desempenho seja pequeno.
Alunos com T.E.A (Transtorno de Espectro Autista) possuem um único foco de interesse. O mundo gira em torno desse foco. Entrar em seu universo é entrar nesse foco e vivenciar suas emoções. Só assim estaremos ganhando a sua confiança, aprendendo com ele e fazendo parte de seu mundo.
Além das diferenças de entendimento e de interpretação de vida, todas as pessoas, mesmo sem perceber, possuem um foco de interesse. Essa característica marcante do autista também afeta a todos nós, em maior ou menor grau. E quando essas características saem do individual para o grupal, as técnicas a serem usadas podem ser mais gerais.
Esse foco de interesse coletivo foi o que levou a professora do filme “Escritores da Liberdade” a discutir uma música da moda e, mais tarde, realizar a atividade da “Linha de Inclusão Social”, traçada no meio da sala. Para quem viu o filme, foi marcante o momento em que ela dividiu a sala em duas partes e traçou a linha no chão. A cada pergunta feita, aqueles que se consideravam “dentro” do tema, eram orientados a ficar em cima da linha. E esse procedimento foi mostrando a cada aluno o quanto eles tinham de semelhança em suas vidas, seus costumes, suas dificuldades e, principalmente, em seus dramas pessoais.
Agindo dessa forma, podemos ter estudado, ou não, teóricos como Piaget e Wygotsky, mas estaremos utilizando, na prática, e mesmo sem saber, muitos dos conceitos desenvolvidos em suas teorias.
E tudo será sempre lindo e maravilhoso, principalmente a partir do dia em que se assume a reponsabilidade total pela formação de um grupo! Os problemas de relacionamento entre o professor e o aluno passam a constituir novos e importantes desafios para o desenvolvimento de sua competência educacional.
E, ao invés da construção de uma personalidade neurótica e estressada, constrói-se uma personalidade perseverante, dedicada e vencedora. Os fantasmas do meio educacional desaparecem, como que por encanto, já que se tornam pequenos demais em relação ao prazer de estarmos trilhando uma estrada de produtividade crescente e resultados cada dia mais estimulantes.
Esse é o resultado de usarmos o nosso próprio aluno como referência para o aperfeiçoamento constante de nossa competência educacional. 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Felicidade Relativa X Felicidade Absoluta

Há algum tempo fiz uma crítica sobre uma reportagem que divulgava, em termos mundiais, parâmetros para mensurar a felicidade dos povos. Naquela oportunidade vimos que os países apontados pela reportagem como mais felizes eram, coincidentemente, os que apresentavam os maiores índices de suicídio.
Comentei, então, que a pesquisa realizada por meio de preenchimento de questionários, nem sempre nos mostra a realidade do sentimento das pessoas, mas sim o que as pessoas gostariam de sentir.
Há pessoas com renda individual ou familiar muito elevada que não conseguiram construir verdadeiros relacionamentos afetivos, principalmente por estarem totalmente envolvidos com o aumento de seu capital. Essas pessoas, embora tenham ficado ricas não conseguem entender as razões de se sentir insatisfeitas para com a vida. Elas acabam respondendo que são felizes, simplesmente porque acham que essa é a lógica, embora não sintam isso como sua realidade pessoal.
Da mesma forma há pessoas com renda familiar baixa, mas que convivem satisfatoriamente com os filhos e amigos, sentem amor um pelo outro, ajudam-se mutuamente e não passam necessidades. Essas, muitas vezes, são levadas a entender que não são felizes, já que a mídia mostra que ser feliz é ter o poder do consumo, é comprar carro novo, é ter roupas de marca, e outras coisas mais. Elas acabam respondendo que são infelizes.
Com respostas desse tipo nenhuma pesquisa conseguirá mostrar um mapa de felicidade correto, já que sempre haverá a coincidência entre felicidade e maior poder aquisitivo, o que o mapa do índice de suicídios no mundo demonstra não ser verdadeiro.
A reportagem que comentaremos agora, publicada nas páginas 94 e 96 da revista Veja de 15 de setembro de 2010, dá um valor para a felicidade em dólares, mas não diz, absolutamente, que quem tem mais dinheiro é mais feliz. A ideia é outra. Recomendo a sua leitura.
Mas o foco principal de atenção deve estar, agora, no último parágrafo da reportagem, mostrando uma verdadeira doença emocional que deve ser combatida arduamente: a tendência dos ser humano de só ser feliz se o vizinho tem menos do que ele. Considero isso uma doença. Em uma palestra há muitos anos chamei-a de “felicidade relativa”. Talvez fosse o caso de mudar seu nome para “infelicidade relativa”, mas vamos deixar como está mesmo.
Há, na realidade, duas grandes doenças emocionais impeditivas do estado pleno de felicidade. Uma é essa felicidade relativa que vamos comentar agora. Sobre a outra, que é a necessidade do reconhecimento por tudo o que fazemos, comentaremos em outro momento.
A mídia sempre é sempre colocada como o principal vilão de todos os comportamentos inadequados da sociedade. Em parte isso é verdade. A necessidade de estimular o consumo para aumentar os lucros faz com que ela seja utilizada com essa intenção. A partir dessa ideia são produzidas peças publicitárias mostrando a realização pessoal das pessoas que desfilam defronte de seus vizinhos com carros melhores do que os deles ou que seus filhos usem roupas de marcas melhores do que as dos outros.
Ela, a mídia, colabora muito com essa forma negativa de “ver a vida”, mas temos que lembrar, a todo instante, que o principal programador de nossa mente é o nosso próprio pensamento.
Se “nos deixarmos levar” pelos determinismos consumistas do mercado, estaremos construindo dentro de nós um sentimento incontrolável de “querer mais”, mesmo sem saber o porquê e mesmo sem nem sequer precisar. Isso pode causar ansiedade e insatisfação crescente e incontrolável, como uma bola de neve!
A técnica utilizada pelo mercado é essa! Pessoas satisfeitas com o que tem não dão lucro ao mercado! Provocar a insatisfação é uma estratégia de venda que funciona em todos os lugares! Pode ser uma estratégia antiética, mas ela é usada todos os dias e é o que vemos em todos os canais de TV, é a que lemos em todos os jornais e em todas as revistas!
Provocar a insatisfação e oferecer a solução para o resgate da “felicidade relativa”, até que o vizinho consiga superá-lo novamente... E volta tudo ao estado de insatisfação anterior.
Vamos, então, lembrar, que o tratamento adequado, para que todos consigam iniciar o seu processo de “libertação” dessa ansiedade constante e inibidora do estado pleno de felicidade está dentro de nós mesmos! É a força de vontade para criar verdadeiros objetivos de vida e viver para eles.
Tudo passa pela criação desse seu objetivo de vida! Sim! Um objetivo bem pensado, um objetivo criado após reflexões e que preencha as suas reais necessidades e contemple as suas perspectivas atuais de vida. Para quem já conhece o “Diário do Futuro”, que criei há alguns anos e venho ensinando em minhas palestras, isso é fácil de fazer, já que a criação dessas perspectivas passa a fazer parte da rotina diária.
Não quer dizer que esse objetivo tenha que ser imutável a partir dessa criação! Nada disso! Ele poderá ser revisto e ampliado a cada dia, exatamente como fazemos em nosso “diário de futuro”.
Mas o importante é que, após a criação desse objetivo de vida, trabalhemos nas metas práticas para o alcance do que desejamos, fazendo o planejando diário para a realização de cada uma dessas metas.
Qualquer sugestão de consumo fora desses planos deve ser analisada com cuidado para verificar se está dentro da nossa lista de prioridades. A falta dessa análise consciente é o que nos leva a fugir dos objetivos traçados e entrar pela febre do consumo inadequado e angustiante.
E, em paralelo com isso, criar dentro de nós um sentimento de satisfação para com as coisas que temos. Qualquer momento de reflexão voltado para a análise de nossas conquistas mostrará o quanto já produzimos e permitirá que reconheçamos os valores de tudo o que temos e somos.
Assim pensando estaremos desenvolvendo a nossa capacidade de estar feliz com o que temos, juntamente com o discernimento para criar novas perspectivas de vida e novos planejamentos de futuro.
A satisfação pessoal decorrente da análise de nossas conquistas possibilita nossa libertação da tendência de fazer comparações com os outros. Estaremos trabalhando mentalmente centrados em nós mesmos e em nosso núcleo familiar.
Aprendemos assim que a construção de uma estrutura de felicidade será facilitada pelo exercício de uma comparação diferenciada, ou seja: Entre nossos planejamentos de ontem, nossas conquistas de hoje e nossas perspectivas para amanhã.