sábado, 13 de outubro de 2012

IUPE Educação: Entender o aluno-problema


Embora o aluno da foto não seja um aluno-problema, muito pelo contrário, é um de meus melhores alunos, preferi inserir essa foto do que a de algum que não se sentisse bem em ser assim rotulado.

Vamos tentar entender de forma muito simples, sem a hipocrisia da sociedade atual, como funciona a mente das crianças e dos adolescentes, para compreender os motivos de seus diferentes comportamentos e a melhor maneira de contribuir para a sua educação.

O enfoque desse artigo é a realidade na escola, ou seja, o papel do educador nesse entendimento e nessa formação, visando principalmente os alunos rotulados como “alunos-problema”.

Mas para podermos compartilhar melhor esse momento é importantíssimo que todos “se desarmem” das suas ideias preconcebidas para:
    
    1.   Lembrar que muitas vezes ouvimos verdades importantes provenientes de fontes que nunca imaginaríamos ouvir.

    2.   Que só exercitando com seriedade e dedicação o que se propõe é que podemos confirmar ou contestar as verdades ouvidas.

Precisamos também de muita reflexão e muita sinceridade para identificar quem somos nós, ou seja:
    
    1. Tenho competência para gostar de todos os meus alunos, sinto-me responsável por eles como se fossem meus filhos e consigo estar sempre fazendo com que eles fiquem satisfeitos comigo e assim poder intervir na sua educação?

    2.   Tenho competência para dar ótimas aulas e explicar de forma clara e dedicada os assuntos referentes ao conteúdo de minha disciplina, mas me irrito com as provocações e agressões verbais de meus alunos?

Se você se enquadra no item 1) eu o chamo de educador. Se se enquadra no item 2) eu o chamo de professor. Ambos são necessários, mas para os chamados alunos-problema o 2º pode não conseguir bons resultados.

Lembro, para evitar polêmica, que essa é a minha definição de educador e professor! Ninguém precisa concordar comigo, ainda mais que tudo passa por um problema de semântica.

Mas vamos aos pontos que realmente interessam para nossa reflexão:

Primeiro ponto a refletir: ALUNO MAL COMPORTADO

Todo comportamento inadequado da criança ou do adolescente, tanto apatia como irritação e agressividade, é consequência de algum tipo de sofrimento psíquico pelo qual ele está passando. Nenhum aluno se comporta mal simplesmente porque resolveu se comportar mal. Se ele se comporta mal é porque ele está mal, e isso pode ter diversas causas:
    1. Ele está mal porque não está satisfeito com ele mesmo, ou não está satisfeito com algum dos ambientes em que ele vive e por vezes nem sabe, direito, a razão disso.
  
    2.   Ele está mal porque está estressado devido a excesso de exposição à TV, ou ao computador ou ao videogame, mas não se dá conta disso.

    3.   Ele está mal porque se sente rejeitado, desprezado, ignorado, abusado fisicamente, abusado sexualmente ou esquecido, mas nesse caso, ele tem plena consciência disso.

Essas causas vão provocar no aluno:
    
    1. Uma acomodação e uma apatia em alto grau, perdendo todo o ânimo para o estudo e os trabalhos escolares, podendo evoluir para o estado depressivo e, em alguns casos, o “suicídio inconsciente”.

Toda escola tem alunos nessa fase. Só não percebe quem “fecha os olhos” para o grupo que está à sua frente.

O aluno que suicidou jogando-se da janela de um colégio recentemente é um exemplo. Não havia presença afetiva em sua família nem na escola, embora houvesse presença física, financeira e material de sobra em ambos os lugares.

     2.   Uma necessidade neurótica de “aparecer como transgressor”, apresentando comportamento agressivo na escola ou na rua, já que essa é a forma mais fácil de ter alguma importância para o grupo no qual ele está inserido.

Toda escola também tem alunos nessa fase. A punição é, para esses alunos, apenas mais um motivo para aumentar a revolta para com a sociedade em geral.

O papel do verdadeiro educador é procurar identificar a causa principal desse mau comportamento em cada um dos alunos para planejar a forma mais correta de intervir para ajudar.

Se um professor não se sente capaz de exercer esse papel deve, pelo menos, evitar reagir às suas provocações e pedir ajuda aos outros profissionais da escola, para tentar exercer o domínio de classe sem provocar aumento da revolta desses alunos.

Ficar irritado com o aluno ou com raiva dele só serve para aumentar o problema e dificultar o seu processo de evolução na escola.

Há necessidade de muita competência educacional, não apenas pedagógica, para lidar com esses casos. Mas todos podem contribuir identificando cada um desses alunos e pedindo ajuda aos profissionais adequados para saber como lidar com eles.

Para isso o professor deve sentir que está “do mesmo lado do aluno”, entusiasmando-o pelos estudos e compartilhando conhecimento para o seu futuro sucesso, mas nunca em oposição a ele, para julgá-lo, puni-lo e reprová-lo.

Se o aluno precisa “aparecer” que criemos meios sadios e produtivos para que ele apareça! Lidar com gente em fase de formação exige criatividade, além do conhecimento da sua matéria! Há uma infinidade de sugestões de professores para se conseguir isso!

Entre elas: auxiliar de classe, líder de tarefa, encarregado de grupo, ou até utilizar frases dele como exemplo nas explicações do dia, etc...

Se o aluno quer se isolar, que criemos um ambiente para ele, na própria sala, durante a realização de trabalhos em grupo, onde ele e o professor estarão juntos na realização de uma tarefa. O professor passa por todos os grupos e se detém um pouco mais no acompanhamento desse aluno isolado.

Aos poucos, no decorrer do tempo, o professor deve criar alguma estratégia para ir aproximando desse aluno um ou mais colegas que sejam bem aceitos por ele.

Essa sugestão já foi utilizada com muito sucesso em alunos que chegaram à escola com laudo médico de esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade e transtorno de espectro autista.

Dois deles, inicialmente isolados de todos os colegas, antes de três anos de convivência já realizavam trabalhos em grupo e apresentavam seminário sozinho! Passaram em exames vestibulares “verdadeiros” sem fazer qualquer tipo de cursinho preparatório.

Para evitar que eu seja mal interpretado, essas doenças realmente existem! 

Mas os mesmos sintomas também aparecem em alunos que não as têm. E esses alunos que não as têm, mas apresentam tais sintomas, já somam mais de oitenta por cento dos que chegaram à nossa escola.

Segundo ponto a refletir: ALUNO PRECOCEMENTE SEXUALIZADO

Todo aluno que pertence a uma família onde a sexualidade é clara e aberta, como no caso de famílias que vivem em um só cômodo e onde as mães mantêm relações com seus parceiros na frente dos filhos, criam, nesses filhos, uma precocidade sexual perfeitamente natural, difícil de ser contida em algum outro ambiente, como no caso, por exemplo, da escola.

Lares em que isso não ocorre, mas que os filhos assistem livremente, sem qualquer limitação, a qualquer programa, novela ou filme na TV, o efeito é semelhante.

Falta total de liberdade para qualquer tipo de conversa entre pais e filhos, fazendo com que os filhos tenham que recorrer à orientação de estranhos, também pode provocar o mesmo resultado.

O papel da escola, nesse caso, é o de apresentar todas as demais opções saudáveis e apropriadas de obtenção de prazer, por meio de entusiasmo pela pesquisa, participação em jogos, ensino de passatempos, opção de diversões, promoção de disputas em sala, exercício de debates sobre assuntos de muito interesse e ensino de brincadeiras adequadas à idade, para preencher o vazio que estaria sendo ocupado pela sexualidade precoce.

Dizer, simplesmente, para o aluno, que não é hora de namorar, é algo simplesmente ridículo e beira à hipocrisia.

Terceiro ponto a refletir: ALUNO NORMAL QUE NÃO ENTENDE O ASSUNTO

Todo aluno que, num momento de comparação com um irmão, um primo ou um colega, sente inferioridade em compreensão ou em habilidade, pode desenvolver um bloqueio emocional grave ao ponto de apresentar sintomas semelhantes aos da dislexia, da discalculia, do déficit cognitivo, e de outras tantas síndromes, dificuldades e demais anomalias neurológicas e psíquicas.

Como esses sintomas são imediatamente detectados na escola, cabe aos professores o papel de convencimento de sua competência compreensiva ou de sua habilidade. Cabe também, à escola, orientar os pais sobre a melhor maneira de lidar com essa dificuldade de seus filhos.

Uma forma que tem sido observada como bastante produtiva é fazer o aluno voltar, no livro ou módulo, ao ponto em que ele conseguiu entender, mesmo que isso tenha sido assunto da unidade anterior.

Ao identificar esse ponto, o professor deve ignorar o nível do resto da turma, e passar para esse aluno em especial, exercícios e atividades que ele saiba e possa realizar.

A realização de cada uma dessas atividades deve ser vista pelo professor como sucesso do aluno, para provar a ele que tem competência e assim aumentar a sua autoestima.

Esse aluno deverá ter acompanhamento especial, até que esteja acompanhando a turma. Mas o professor deve fazer isso por prazer, sem criar nenhuma expectativa de grandes resultados.

A expectativa não satisfeita traz decepções ao professor e isso é percebido pelo aluno, baixando a sua autoestima e aumentando seus bloqueios.

Todo esse acompanhamento especial deve ser registrado pelo professor e transcrito para as atas de Conselho de Classe, para facilitar decisões futuras sobre a forma de ajudar no desenvolvimento da vida escolar do aluno.

Essa sugestão já foi utilizada, com total sucesso, em alunos que chegaram à escola, não só com laudo médico de déficit cognitivo, mas também com laudos de Dislexia e Discalculia.

Conclusão e relato de caso

Para concluir preciso lembrar apenas algumas sugestões para ser um bom professor-educador:

    1.   Gostar do aluno, como se fosse seu próprio filho, e assim sentir-se responsável pela sua formação integral.

    2.   Entender o mau comportamento como sintoma (alarme) mostrando que ali existe um aluno necessitando ajuda.

    3.   Assumir que, em vez de proibir alguma coisa errada, é nossa a responsabilidade de encontrar opções de atividades empolgantes e produtivas, mas prazerosas, lúdicas, distrativas e divertidas.

E que, para todas as três etapas terem pleno sucesso, exercitar a afetividade, a compreensão e a paciência. Muita paciência!

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