quarta-feira, 23 de maio de 2018

Inteligência - como construí-la



Será que a inteligência das pessoas, ou a sua capacidade intelectual e de memória, é uma característica própria, determinada geneticamente, ou é uma característica que pode ser desenvolvida?

Se fosse uma simples determinação genética, a solução para quem tem alguma dificuldade de raciocínio ou intelectual seria apenas “estar conformado” com sua incapacidade intelectual!

A sorte de todos nós é que ela, a inteligência, é desenvolvida o tempo todo, desde o nascimento, impulsionada por uma força interior, essa sim, que nasce com a gente, e que nos acompanha toda a vida.

Essa força tem sido definida por alguns pensadores como a força da busca pelo poder, como fez o filósofo Nietzsche, ou a força da busca pelo prazer (libido), como fez Freud, o criador da psicanálise.

Seja poder ou prazer, o que nos interessa, na prática, é que é ela quem nos impulsiona para a busca do entendimento do desconhecido, para tentar entende-lo e criar meios de lidar com ele.

Tudo, no início, nos é desconhecido.

Esse trabalho de entendimento já é o primeiro passo para provocar o trabalho das nossas redes neurais, tanto para que elas sejam formadas, criando as famosas substâncias cerebrais, cinzentas e brancas, como para que elas sejam corretamente programadas, criando algoritmos de raciocínio que vão constituir toda a nossa capacidade intelectual.

Essas redes, que foram criadas e programadas pela necessidade de entender o mundo, vão dando, ao ser humano, a capacidade de entender os sons que ouve, as imagens que vê, as sensações e as emoções que sente, ou seja, tudo o que ele consegue perceber à sua volta e nele mesmo.

Mas como tudo isso funciona?

Primeiramente vamos ver como somos formados.

Nosso corpo é constituído por quase cem trilhões de células, e cada uma delas pode ser considerada como um ser vivo, bastante complexo, seguindo uma programação característica do local onde se encontra e de acordo com o órgão ao qual faz parte.

As células que nos interessam no momento são especiais, são as chamadas células neurais, ou neurônios, cerca de 100 bilhões delas, e que são responsáveis pelo nosso raciocínio e todo o comando motor de nosso organismo.

Embora nosso estudo esteja ligado ao cérebro craniano, ou seja, a essas 100 bilhões de células, é bom saber que também existem cerca de 100 milhões delas no intestino, chamado por muitos de segundo cérebro e, além disso, temos também cerca de 40 mil no coração, constituindo o cérebro cardíaco.

Esses dois outros cérebros são também muito importantes para nós, mas vamos deixar para falar sobre isso em outro momento.

Vamos ao cérebro craniano, então, que a partir de agora chamaremos apenas de cérebro, mesmo sabendo que existem aqueles outros dois, para facilitar nossa conversa.

No centro do cérebro é formado um centro de controle e comando, chamado de sistema límbico.

Esse sistema recebe informações de todo o nosso organismo e mantém o controle de tudo o que deve ser feito para mantê-lo em funcionamento perfeito.

Para garantir isso o sistema límbico determina a geração e liberação de todas as substâncias químicas, entre elas os neurotransmissores e hormônios, que sejam necessários a cada momento, para que possamos enfrentar qualquer dificuldade, doença, perigo, etc.

Ele também interfere nas nossa emoções e sentimentos, como a raiva, a tristeza, a alegria, a satisfação, a insatisfação, o medo, a coragem, a disposição, a indisposição, a motivação, ou a perda dela, ou seja, ele controla tudo.

Há muitas coisas que são automáticas e parecem não depender do sistema límbico, mas sim do cerebelo, do tronco encefálico e de outras áreas consideradas independentes do raciocínio consciente, mas não veremos agora.

O que precisamos ver agora é, como podemos estimular a formação e programação das nossas redes neurais, para que a nossa inteligência seja muito bem desenvolvida, e junto com ela a nossa capacidade de memória, a nossa velocidade de raciocínio, a capacidade de associação de ideias e, com isso, alcançarmos a inteligência ideal para:

- Conhecer
- Saber lidar com o conhecimento
- Questionar o conhecimento
- Ampliar ou alterar o conhecimento

E assim construir a inteligência necessária para ser criativo, inventivo e descobridor.

A máquina está aí, à nossa disposição. Basta estimular seu desenvolvimento e colocá-la em ação.

Dá trabalho? Não! Tudo o que precisamos é de método. Somente método. E, para isso, seguir algumas dicas fundamentais em cinco etapas, que são:

PERCEPÇÃO – PROCESSAMENTO – ENTENDIMENTO – DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES – CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA

Fase 1: PERCEPÇÃO

A percepção é um trabalho intenso realizado pelas células transceptoras existentes em todo o nosso corpo.

Elas transformam a informação externa (ondas luminosas, ondas sonoras, ondas térmicas, pressão, atrito, substâncias químicas, etc.) em sinais elétricos para serem enviados aos respectivos processadores.

Assim, são elas que permitirão entender o mundo à nossa volta, seus sons, suas imagens, os aromas, a humidade, a temperatura e tudo o mais.

Essas células devem ser estimuladas o tempo todo, para que estejam sempre em funcionamento perfeito.

DICA PARA ESTIMULAR A PERCEPÇÃO:

Procurar sempre visualizar, ouvir e sentir tudo o que estiver à disposição, em todos os ambientes em que estiver. Procurar ouvir todos os sons, procurar perceber aromas, gostos, variações de temperatura, humidade, textura etc.

Para as escolas de educação infantil devem ser realizados exercícios de percepção frequentes, revezando os elementos sensores, o que é imprescindível, por exemplo, para o desenvolvimento da criança com microcefalia.

Fase 2: PROCESSAMENTO

Cada área do cérebro, Lobo Cerebral, é especialista em processar sinais de um elemento sensor. Assim tem o processador para imagens, para sons, para aromas, para gostos, para sensação térmica, para humidade, e tudo o mais.

Nesses processadores chegam as informações PERCEBIDAS, mas chegam em forma de pulsos elétricos, para serem processados e “montarem”, dentro do cérebro, as imagens correspondentes à realidade externa.

Assim as imagens visuais, sonoras, olfativas, gustativas, etc., passa a ser conscientizadas. É o momento em que vemos, ouvimos, sentimos, etc.

DICA PARA ESTIMULAR O PROCESSAMENTO:

Concentrar toda a sua atenção em cada sabor, cada imagem, cada efeito sonoro, cada aroma, procurando sentir o prazer dessa conscientização.

Essa concentração é o que fez especialistas desenvolverem, na Europa, o processo de “Mindfull-based stress reduction”, que nada mais é do que essa concentração com foco permanente em cada momento perceptivo de seu dia, para desenvolver seu cérebro. Isso provoca o aumento da espessura da massa cinzenta cerebral.   

Fase 3: ENTENDIMENTO

O entendimento de tudo o que está sendo conscientizado é feito no hipocampo, que é parte do sistema límbico do raciocínio diário, semelhante à memória de trabalho dos computadores.

Nessa fase ocorre o raciocínio, as comparações, a atualização das informações já existentes, assim como a criatividade, a inventividade, o estímulo à descoberta, ou seja, aí está todo o trabalho intelectual.

Para esse raciocínio ocorrer, o sistema límbico traz, dos arquivos de memória existentes no córtex cerebral, todas as informações lá arquivadas e que sejam necessárias ao raciocínio do momento, num sistema semelhante ao “copiar e colar”.

Nessa fase o maior perigo é o raciocínio ser atrapalhado pelo disparo do Sistema Nervoso Simpático, já que esse disparo se dá pela excitação da amígdala cerebral, órgão colado no hipocampo.

Se a pessoa estiver com raiva, medo, muita tristeza, etc., significa que a amígdala cerebral está em atividade, atrapalhando o funcionamento correto do hipocampo, ou seja, perturbando o raciocínio.

Por isso, aqui vai a DICA PARA ESTIMULAR O ENTENDIMENTO:

Evitar estresse, raiva, etc., quando estiver em processo de estudo e raciocínio, para não disparar a amigdala cerebral.

Importante saber que o suporte da inteligência, que é a APRENDIZAGEM, ainda não ocorreu. Por enquanto só houve ENTENDIMENTO.

ENTENDIMENTO é a fase de conhecimento temporário, que dura no máximo uns dois ou três dias, já que está arquivado no hipocampo, que é a memória de trabalho, ou temporária.

Para a garantia da construção da inteligência, as duas fases finais são imprescindíveis, que são a fase 4 – definição de prioridades e a fase 5 – consolidação da memória.

Para que fique bem clara a necessidade da definição de prioridades, vamos ver, primeiro, como funciona a fase final, que é a Consolidação da Memória, ou seja, a construção da memória definitiva, para depois terminarmos a explicação com a fase 4.

Fase 5 – CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA

Esse é o processo de transferência de todo o entendimento do dia, que está no hipocampo, para as suas áreas de arquivamento definitivo, no córtex cerebral.

Se essa transferência não for realizada em cada noite, o conhecimento entendido naquele dia acabará sendo “esquecido”, em dois ou três dias, por falta de espaço suficiente para armazenagem.

Então, por isso, existe o processo de transferência. Como esse processo utiliza muita energia, ele só pode ser feito durante o sono.

Imaginemos um período de oito horas de sono, que é o mais recomendado pelos médicos.

Nos primeiros sessenta minutos a frequência cerebral vai sendo reduzida, levando a pessoa da sonolência ao sono profundo.

Dos sessenta minutos a aproximadamente duas horas, essa frequência vai aumentando até chegar ao pique máximo conhecido como MRO (Movimento Rápido dos Olhos), que é o período em que se dá a primeira de uma série de quatro a cinco períodos de transferência.

Cada período desses leva aproximadamente uns dez a vinte minutos, entremeado com períodos de redução de frequência, para aliviar o esforço.

Ao final do período de sono houve quatro a cinco desses períodos, quando a maior parte de tudo o que foi memorizado durante o dia, passa a formar a memória definitiva, no córtex cerebral.

Temos três observações importantes para essa fase:

A primeira é que o sono deve ser muito bem planejado, para que tudo corra muito bem.

Isso significa desligar todos os equipamentos eletrônicos, principalmente celulares, computadores e televisão, pelo menos meia hora antes de dormir.

A segunda é que, para o cérebro realizar todo esse processo dentro do período exato do sono da pessoa, ela precisa, ao se preparar para dormir, dizer para si mesma a hora que terá que acordar.

Assim o relógio biológico cerebral, o mais preciso do mundo, ajustará todo o processo de transferência para que ele termine uns dois minutos antes da hora determinada para acordar.

A terceira é que, se o cérebro não sabe quais são as informações realmente importantes, ele pode ter perdido muito tempo nesse processo e consumido muita energia, mas pode ter consolidado na memória informações totalmente desnecessárias, e pode não ter tido tempo de transferir as realmente importantes.

Então, exatamente para que o cérebro não perca tempo, e para que nessa transferência esteja garantida a consolidação do conhecimento que precisa ser aprendido, é que vem a necessidade da quarta fase, que é a DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES.

Fase 4: DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES

Para entender essa fase precisamos entender como se dá a elaboração de nosso raciocínio, da área de Vernicke, que é o processamento dos sons, caminhando para a nuca e passando pela área de Geschwind, que é onde sons, imagens, aromas e todas os demais percepções são associadas, e retornando em direção à parte frontal da cabeça, até a área de Broca, onde a musculatura da boca é acionada para podermos comunicar o que raciocinamos.

Todo esse trajeto de nosso raciocínio é feito por meio de sinais elétricos (pulsos elétricos) trafegando por um feixe de neurônios, como se fosse um feixe de fios elétricos

Antes da área de Broca, quando a elaboração de nosso pensamento ou raciocínio estiver em andamento, esses feixes de sinais elétricos se cruzam com os feixes elétricos do córtex motor.

Embora ainda não se tenha a evidência científica, em laboratório, de que é esse processo de cruzamento de pulsos elétricos quem alerta o sistema límbico sobre as prioridades de memórias a serem consolidadas, o resultado disso é fato comprovado.

Então, se estivermos escrevendo ao mesmo tempo em que estamos estudando ou raciocinando ou elaborando nossos pensamentos, nosso raciocínio, associado ao comando da escrita, mostra ao cérebro a importância desses arquivos.

Experiências realizadas em algumas universidades americanas mostraram que isso ainda não ocorre quando, em vez da escrita manual, o aluno estiver digitando em um computador.

Por enquanto, pelo menos, isso só é verdadeiro, para quem escreve à mão.

Dessa forma fica definida a importância dos arquivos que passarão a ter prioridade na transferência durante o sono, e as primeiras memórias a serem consolidadas serão as que, realmente, nos interessam arquivar.

Isso significa construção da memória definitiva.

Ter acesso a essa memória significa aprendizagem real.

Inteligência é a capacidade de acessar a memória, sintetizar o conhecimento e elaborar o raciocínio.

A partir daí surge a sabedoria, que é a utilização da inteligência para desenvolver a criatividade, estimular a inventividade e provocar a descoberta.

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