quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Como adaptar conteúdo na Educação Inclusiva

Como adaptar conteúdo na Educação Inclusiva

 

Quando se fala em adaptação de conteúdo, uma parte dos nossos colegas “treme na base”, principalmente quando imaginam o imenso trabalho que terão para fazer isso!

Como adaptar conteúdo de forma simples e prática

Teria como não precisarmos adaptar conteúdo?

Sim, claro! Bastaria matricularmos o aluno exatamente na série correspondente ao seu nível de conhecimento e capacidade cognitiva.

Mas isso é possível? Possível até é, mas totalmente inconveniente e improdutivo, por vários motivos:

Imagine um menino com deficiência e com 14 anos, já na fase adolescente, na mesma turma de crianças de seis e sete anos, já que ele ainda não está alfabetizado. Vai dar certo? Claro que não.

Primeiro porque os pais das crianças não vão ficar satisfeitos que suas filhas compartilhem uma sala de aula com adolescentes sexualmente ativos e sem maturidade para se conter.

Segundo porque esse adolescente não se sentirá bem em estar com colegas muito mais novos que ele. Obviamente ele se sentirá inferiorizado, o que abaixa a sua autoestima e, com isso, ele não terá um fácil desenvolvimento.

Então isso nos leva a uma necessidade natural, que é:

Esse aluno com deficiência, embora esteja em nível muito abaixo dos colegas da sua idade, só se sentirá bem entre eles. Isso é fato em qualquer faixa etária.

Além disso, afastar a criança ou o adolescente do convívio com colegas da sua faixa etária sempre traz consequências desastrosas, principalmente na sua estrutura psíquico-emocional.

Basta analisarmos os casos, não de deficientes, mas de diversas crianças super dotadas e que foram avançadas exageradamente, deixando de acompanhar seus colegas durante as fases de desenvolvimento, dos dois aos 12 anos, para detectarmos os males causados por essa separação.

Então, para que o aluno com deficiência possa progredir na aprendizagem e adquirir o conhecimento necessário ao desenvolvimento da sua autonomia, ele precisa, não só sentir bem em sala, mas, é claro, se sentir verdadeiramente incluído pela escola, pelo seu professor e por seus colegas.

Ele tem que sentir que todos os seus colegas “são seus colegas de verdade”, que o professor dos seus colegas é também o seu professor, e que aquele tema da aula que está sendo dada, é o mesmo para todos na sala, embora cada um trabalhe o tema de acordo com o seu nível de conhecimento, como em uma sala multisseriada ideal.

Para isso ser verdade:

Primeiro:

A turma toda deve ser preparada para a cultura da inclusão verdadeira, em encontros de “Assembleia de Classe”.

Segundo:

O professor regente de classe precisa ser preparado para aplicar alguma metodologia inclusiva, como a Dinâmica Grupal, por exemplo.

Terceiro:

O professor precisa aprender a fazer a adaptação de conteúdo a partir do resultado da avaliação diagnóstica realizada no início do ano letivo.

Quarto:

Os pais devem ser preparados em “Treinamentos Parentais” para entender como será o desenvolvimento de seu filho, para que evitem baixar a sua autoestima durante a realização das tarefas para casa.

Quinto:

Os profissionais de AEE (Atendimento Educacional Específico) devem estar preparados para realizar o trabalho de desenvolvimento cognitivo do aluno, no turno oposto.

Todas essas cinco etapas fazem parte dos nossos cursos de formação continuada, claro, e são temas elencados, também, para os minicursos mensais.

Mas vamos ao terceiro passo: adaptação de conteúdo!

Para evitar trabalho para o professor, o ideal seria que as editoras lançassem o módulo inclusivo, conforme está descrito nas páginas 166 a 169 do meu livro Estudos sobre educação: inclusão responsável. Mas até hoje nenhuma se dignou a, sequer, estudar a ideia. Com esse desinteresse temporário, a ideia ainda é uma utopia.

Vamos, então, ao trabalho necessário a ser realizado.

Devemos iniciar deixando de lado a HIPOCRISIA de considerar que todos os alunos neurotípicos aprendem todo o conteúdo de todas as disciplinas. Isso não corre em escola nenhuma, muito menos nos cursos tecnológicos e superiores.

Então, deixando essa HIPOCRISIA de lado, o que precisamos é saber qual o ponto de entendimento do aluno a ser incluído, para planejarmos a adaptação rigorosamente dentro do seu nível de entendimento.

E, para planejar a adaptação, vamos analisar cada capítulo do assunto a ser dado e extrair os conceitos básicos, mais fundamentais e que são realmente importantes para que qualquer pessoa entenda um pouco e, a partir dessa identificação, traduzi-los e, uma linguagem que os alunos com deficiência entendam e consigam aprender.

O processo é muito simples.

Vejamos em uma aula de física, por exemplo, quando os alunos estão aprendendo gravidade ou queda livre.

Enquanto os alunos no nível do 1º ano do Ensino Médio aprendem e calculam velocidade, tempo de queda etc., os alunos com deficiências fazem experiências com diferentes objetos largados da mesma altura, como um chumaço de algodão e um apagador, experiência que pode ser, inclusive, socializada por todos, em momento de inclusão total.

Os conceitos básicos serão aprendidos por todos. Os cálculos serão aprendidos pelos que podem aprender os cálculos.

Então, todos aprenderão o mesmo tema, que é, no caso, gravidade ou queda livre, cada um seguindo os seus respectivos roteiros, dentro de seus diferentes níveis.

O importante é que todos se sintam aprendendo alguma coisa, todos os dias, a partir daquilo que já sabem e, todos no mesmo tema e com o mesmo professor.

Mas precisamos identificar, com muito cuidado, o verdadeiro nível de entendimento e capacidade cognitiva dos alunos com dificuldades.

Isso porque temos encontrado, em muitos deles, exteriorização de dificuldades inexistentes.

Sim, são dificuldades que surgiram devido, muitas vezes, a bloqueios emocionais, normalmente provenientes da violência simbólica a que são submetidos desde que se entenderam como deficientes.

Esse mesmo tipo de bloqueio ocorre, também, com alunos neurotípicos, normalmente irmãos, quando um deles apresenta muita facilidade em uma matéria e o outro se sente inferiorizado a tal ponto que bloqueia totalmente o seu entendimento naquilo.

Pois é, amigos, essa é a ideia da adaptação. Todos aprendem todos os dias alguma coisa, a partir do que já sabem e em seu nível de entendimento.

Isso é aprendizagem real para todos os alunos, sem exceção.

É sempre um prazer estar com vocês.

Recebam todos um forte abraço!


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