quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Cérebro - o uso de toda a sua capacidade


Olá, amigos!

Hoje vamos responder às perguntas de João Vitor, do CETEP em Wagner, na Bahia, e de Mateus, Alessandra e Edvaldo, do Rio Grande do Sul, todos adolescentes cursando o Ensino Médio, super curiosos nos assuntos referentes aos Mistérios da Mente Humana:

XXXXXXXXX

Primeira pergunta:

Quanto usamos de nosso cérebro em percentagem. São 10% mesmo?

XXXXXXXX

As perguntas de João Vitor, da Bahia e Mateus, Alessandra e Edvaldo, do Rio Grande do Sul, nos levam ao nosso grande mistério, que é a mente humana.

E para começar vamos ter que tentar entender a diferença entre cérebro e mente.

Vamos começar pelo cérebro:

O entendimento biológico do cérebro consiste em uma infinidade de células neurais (neurônios), que se juntam em grupos, que chamamos de redes neurais, cada uma dessas redes exercendo uma função específica.

Há redes para comandar musculaturas dos braços, pernas, corpo e tudo o mais que sejam necessárias aos nossos movimentos.

Há redes para comandar as musculaturas da boca (área de Broca), para permitir a fala.

Há redes que constituem processadores, para que possamos entender os sinais elétricos vindo da cóclea (sons), da retina (imagens), da língua (sensações gustativas), do nariz (sensações olfativas), de toda a superfície da pele (sensações táteis), e muito mais.

Há redes para raciocinar, pensar, tomar decisões, refletir, meditar e outras atividades intelectuais.

Há redes para arquivar memórias, fazer cálculos, interpretar textos, criar, inventar...

Há redes para fazer os cálculos do equilíbrio, que estão no cerebelo, recebendo informações do labirinto, acima da cóclea.   

Todas essas estão no encéfalo, nosso crânio, e constituíam o único cérebro que conhecíamos.

No início de nossa vida temos aproximadamente 100 bilhões desses neurônios realizando aproximadamente 50 trilhões de conexões.

Essas conexões significam cérebro em funcionamento, e constituem a nossa capacidade cerebral, que no início da vida ainda é baixa.

Durante o desenvolvimento da criança, essas conexões se multiplicam, sob demanda.

Isso significa que, na medida que a criança vai se exercitando intelectual e fisicamente (processo chamado de sensório motor), as conexões Inter neurais chegam a cerca de 1000 trilhões, aumentando a nossa capacidade cerebral em 2.000%.

Mas esse aumento parece ser muito superior à necessidade de funcionamento do cérebro como um todo.

Ou não precisamos dessas conexões todas, ou não evoluímos o suficiente para utilizá-las.

Afinal, todas as demandas que conhecemos já estão praticamente satisfeitas, sem que todas as conexões precisem entrar em funcionamento.

Sobram, então, muitos neurônios interconectados, mas sem parecer que tenham alguma função específica.

Isso acontece aos três anos de idade e na adolescência.

Essa “sobra” provoca a chamada “poda neural”, que elimina os neurônios a mais, assim como as suas conexões, estabilizando em aproximadamente em 100 trilhões de conexões.

Essa poda parece ser benéfica para o bom funcionamento do cérebro, que não estaria sobrecarregado com sinapses (conexões) sem finalidades específicas.

Mas isso pode significar, entretanto, que nossa capacidade cerebral que, teoricamente, estaria na faixa dos 1000 trilhões, baixa para 100 trilhões, já que não temos demanda para mais que isso.

O uso de nosso cérebro estabiliza, então, em 10% da capacidade que ele chegou a ter durante o nosso desenvolvimento quando criança.

Essa é a origem do tal do “só usamos 10% de nosso cérebro”.

XXXXXXXXXXXXXX

Segunda pergunta:

Mas todos só usam essa mesma percentagem, ou alguns podem usar mais que outros?

XXXXXXXXX

Cada pessoa vai criando a sua própria estrutura neurofisiológica, de acordo com as suas próprias demandas.

Isso significa que os que trabalham mais as atividades físicas podem possuir mais conexões nas redes correspondentes aos comandos musculares.

Os que trabalham mais as atividades intelectuais podem possuir mais conexões nas redes correspondentes a raciocínio, cálculos e memórias.

Então cada pessoa pode estabilizar suas sinapses em um determinado número de conexões, mas não rigorosamente nos mesmos 10%.

Uns podem ter mais e outros menos.

XXXXXXXXX

Terceira pergunta:

E se pudéssemos usar 100 % do nosso cérebro, qual seria a consequência?

XXXXXXXXXXX

Essa pergunta, para ser respondida com precisão, precisaria que encontrássemos pessoas utilizando todas as 1000 trilhões de sinapses, sem que a poda neural reduzisse esse número para 100 trilhões.

E temos exemplos disso! Não exatamente as 1000 trilhões, mas muito mais do que 100 trilhões!

Sim! São os autistas!

Em grande parte deles não houve poda neural, pelo menos não na intensidade dos neurotípicos.

O autista, então, mantém um número muito maior de sinapses do que o das pessoas neurotípicas.

Isso foi descoberto em 2014, num estudo realizado no Centro Médico da Universidade de Colúmbia e publicada na revista Neuron.

Só que a conclusão a que os cientistas chegaram foi a de que esse excesso de sinapses poderia ser causa dos déficits neurológicos comuns no TEA.

Então, esse nosso exemplo, se seguirmos a ideia dos pesquisadores de Colúmbia, mostraria que excesso de sinapses traria mau funcionamento cerebral.

Mas isso não tem qualquer sentido, pelo menos para mim.

Acredito que podemos, sim, utilizar o exemplo autista, desde que tomemos alguns cuidados nas comparações.

Principalmente porque, hoje, sabemos pelas comprovações científicas já publicadas, que os sintomas autistas são provenientes da inflamação cerebral, e não por excesso de sinapses.

E sabemos também, por observação e acompanhamento de autistas durante os últimos vinte anos, que muitos desenvolvem características que podem estar relacionadas ao excesso de sinapses, e que poderiam nos ajudar a responder a essa terceira pergunta de João Vitor, Mateus, Alessandra e 
Edvaldo, como por exemplo:

- Hipersensibilidade auditiva:

Como se os sinais sonoros fossem tão amplificados em seu processador auditivo, que causa dor de cabeça.

- Hipersensibilidade gustativa ou olfativa:

Como se substâncias químicas da comida fossem tão amplificadas pelo processador gustativo e o seu cheiro fosse tão amplificado pelo processador olfativo, que qualquer pequena quantidade de sal, açúcar ou tempero fosse sentido como excesso intolerável e, portanto, causando as tais seletividades alimentares.

- Hipersensibilidade tátil:

Como se o toque, em algumas partes do corpo, fosse tão amplificado pelos processadores táteis, que provocariam incômodo e, por isso, eles não gostarem de abraços etc.

- Elevadíssima capacidade intelectual em alguma das inteligências:

Como se o número excessivo de redes neurais em alguma das inteligências, aumentasse a sua capacidade de raciocínio, tornando-o um verdadeiro gênio na matemática, na física, na linguística, ou nos diferentes tipos de memória.

Então podemos, sim, usar o exemplo autista, para tentar inferir como seria, se algum de nós conseguisse ampliar o número de neurônios e formar uma quantidade maior de sinapses.

A parte positiva seria o aumento da capacidade de raciocínio.

A parte negativa poderia ser a hipersensibilidade.

Mas isso é apenas uma parte dos nossos estudos que, por acaso, estarão no meu próximo livro: “A 
Construção da Inteligência”.

XXXXXXXXXXXXXXX

Quarta pergunta:

Podemos aumentar a nossa capacidade intelectual ou tem limite?

XXXXXXXXXXXXXXXX

Podemos sim, mas com algum cuidado, já que tudo, em excesso, acaba revertendo e fazendo mal.

Como vimos anteriormente, o desenvolvimento das redes neurais é feito sob demanda.

Isso poderia ser entendido como se bastasse estudar muito ou se dedicar muito a pesquisas e raciocínios, para aumentar a capacidade intelectual.

Mas existe, em nosso cérebro, o fator estresse, que provoca reações orgânicas negativas, como por exemplo a sobrecarga de neurônios e nas próprias redes neurais.

Assim como algumas drogas que, por si só, provocam excitação em áreas neurais, o excesso de atividade intelectual sem planejamento pode provocar, também, essas sobrecargas e causar danos neurais.

Aumentar a capacidade intelectual, então, precisa apenas de planejamento e método.

Devemos evitar excesso de dedicação seguida a um só tema, ou planejar intervalos regulares, com atividades lúdicas ou, pelo menos, diferentes.

XXXXXXXXXXXXXXX

E a nossa memória? Ela tem um limite?

XXXXXXXXXXXXXXXX

A capacidade de memória de nossas redes neurais já era considerada muito grande, mesmo depois da poda neural, usando apenas 100 trilhões de sinapses.

Em alguns autistas, como não houve a poda neural, essa capacidade pode estar bem aumentada em algumas áreas da inteligência, como já comentamos antes.

Mas houve uma descoberta esse ano, em Lausanne, na Suíça, de que o funcionamento dessas nossas redes acontece em até 11 dimensões, o que elevaria essa capacidade para algo que não temos como mensurar ainda.

E, além disso, temos os estudos de Roger Tsien, um dos vencedores do Prêmio Nobel, que descobriu que cada grama do nosso DNA tem a capacidade de armazenar mil terabytes de memória.

Se essa memória é usada pela nossa mente nós ainda não sabemos, mas isso tudo pode significar que nossa memória geral pode ser ilimitada.

Pois é, amigos:

As perguntas de João Vitor de Wagner-Bahia, e de Mateus, Alessandra e Edvaldo, do Rio Grande do Sul, me levaram a antecipar algumas das informações que estão no meu próximo livro “Construção da Inteligência”.

Espero poder enviar para a editora ainda em dezembro.

Qualquer dúvida que tenha ficado, mandem para nossos endereços eletrônicos.

Forte abraço!

XXXXXXXXXXXXXXXX

Ref.
Columbia University Medical Center. Children with Autism Have Extra Synapses in Brain. Newsroom CUMC. Disponível em http://newsroom.cumc.columbia.edu/blog/2014/08/21/children-autism-extra-synapses-brain/  

Nenhum comentário:

Postar um comentário