Olá, amigos!
Hoje vamos responder às perguntas de João Vitor, do CETEP em
Wagner, na Bahia, e de Mateus, Alessandra e Edvaldo, do Rio Grande do Sul, todos
adolescentes cursando o Ensino Médio, super curiosos nos assuntos referentes
aos Mistérios da Mente Humana:
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Primeira pergunta:
Quanto usamos de nosso cérebro em percentagem. São 10% mesmo?
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As perguntas de João Vitor, da Bahia e Mateus, Alessandra e
Edvaldo, do Rio Grande do Sul, nos levam ao nosso grande mistério, que é a
mente humana.
E para começar vamos ter que tentar entender a diferença
entre cérebro e mente.
Vamos começar pelo cérebro:
O entendimento biológico do cérebro consiste em uma infinidade
de células neurais (neurônios), que se juntam em grupos, que chamamos de redes
neurais, cada uma dessas redes exercendo uma função específica.
Há redes para comandar musculaturas dos braços, pernas,
corpo e tudo o mais que sejam necessárias aos nossos movimentos.
Há redes para comandar as musculaturas da boca (área de
Broca), para permitir a fala.
Há redes que constituem processadores, para que possamos
entender os sinais elétricos vindo da cóclea (sons), da retina (imagens), da
língua (sensações gustativas), do nariz (sensações olfativas), de toda a
superfície da pele (sensações táteis), e muito mais.
Há redes para raciocinar, pensar, tomar decisões, refletir,
meditar e outras atividades intelectuais.
Há redes para arquivar memórias, fazer cálculos, interpretar
textos, criar, inventar...
Há redes para fazer os cálculos do equilíbrio, que estão no cerebelo,
recebendo informações do labirinto, acima da cóclea.
Todas essas estão no encéfalo, nosso crânio, e constituíam o
único cérebro que conhecíamos.
No início de nossa vida temos aproximadamente 100 bilhões
desses neurônios realizando aproximadamente 50 trilhões de conexões.
Essas conexões significam cérebro em funcionamento, e constituem
a nossa capacidade cerebral, que no início da vida ainda é baixa.
Durante o desenvolvimento da criança, essas conexões se
multiplicam, sob demanda.
Isso significa que, na medida que a criança vai se exercitando
intelectual e fisicamente (processo chamado de sensório motor), as conexões Inter
neurais chegam a cerca de 1000 trilhões, aumentando a nossa capacidade cerebral
em 2.000%.
Mas esse aumento parece ser muito superior à necessidade de
funcionamento do cérebro como um todo.
Ou não precisamos dessas conexões todas, ou não evoluímos o
suficiente para utilizá-las.
Afinal, todas as demandas que conhecemos já estão
praticamente satisfeitas, sem que todas as conexões precisem entrar em funcionamento.
Sobram, então, muitos neurônios interconectados, mas sem
parecer que tenham alguma função específica.
Isso acontece aos três anos de idade e na adolescência.
Essa “sobra” provoca a chamada “poda neural”, que elimina os
neurônios a mais, assim como as suas conexões, estabilizando em aproximadamente
em 100 trilhões de conexões.
Essa poda parece ser benéfica para o bom funcionamento do cérebro,
que não estaria sobrecarregado com sinapses (conexões) sem finalidades
específicas.
Mas isso pode significar, entretanto, que nossa capacidade
cerebral que, teoricamente, estaria na faixa dos 1000 trilhões, baixa para 100
trilhões, já que não temos demanda para mais que isso.
O uso de nosso cérebro estabiliza, então, em 10% da
capacidade que ele chegou a ter durante o nosso desenvolvimento quando criança.
Essa é a origem do tal do “só usamos 10% de nosso cérebro”.
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Segunda pergunta:
Mas todos só usam essa mesma percentagem, ou alguns podem
usar mais que outros?
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Cada pessoa vai criando a sua própria estrutura
neurofisiológica, de acordo com as suas próprias demandas.
Isso significa que os que trabalham mais as atividades
físicas podem possuir mais conexões nas redes correspondentes aos comandos
musculares.
Os que trabalham mais as atividades intelectuais podem
possuir mais conexões nas redes correspondentes a raciocínio, cálculos e memórias.
Então cada pessoa pode estabilizar suas sinapses em um
determinado número de conexões, mas não rigorosamente nos mesmos 10%.
Uns podem ter mais e outros menos.
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Terceira pergunta:
E se pudéssemos usar 100 % do nosso cérebro, qual seria a
consequência?
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Essa pergunta, para ser respondida com precisão, precisaria
que encontrássemos pessoas utilizando todas as 1000 trilhões de sinapses, sem que
a poda neural reduzisse esse número para 100 trilhões.
E temos exemplos disso! Não exatamente as 1000 trilhões, mas
muito mais do que 100 trilhões!
Sim! São os autistas!
Em grande parte deles não houve poda neural, pelo menos não
na intensidade dos neurotípicos.
O autista, então, mantém um número muito maior de sinapses
do que o das pessoas neurotípicas.
Isso foi descoberto em 2014, num estudo realizado no Centro
Médico da Universidade de Colúmbia e publicada na revista Neuron.
Só que a conclusão a que os cientistas chegaram foi a de que
esse excesso de sinapses poderia ser causa dos déficits neurológicos comuns no
TEA.
Então, esse nosso exemplo, se seguirmos a ideia dos
pesquisadores de Colúmbia, mostraria que excesso de sinapses traria mau
funcionamento cerebral.
Mas isso não tem qualquer sentido, pelo menos para mim.
Acredito que podemos, sim, utilizar o exemplo autista, desde
que tomemos alguns cuidados nas comparações.
Principalmente porque, hoje, sabemos pelas comprovações
científicas já publicadas, que os sintomas autistas são provenientes da
inflamação cerebral, e não por excesso de sinapses.
E sabemos também, por observação e acompanhamento de
autistas durante os últimos vinte anos, que muitos desenvolvem características
que podem estar relacionadas ao excesso de sinapses, e que poderiam nos ajudar
a responder a essa terceira pergunta de João Vitor, Mateus, Alessandra e
Edvaldo, como por exemplo:
- Hipersensibilidade auditiva:
Como se os sinais sonoros fossem tão amplificados em seu
processador auditivo, que causa dor de cabeça.
- Hipersensibilidade gustativa ou olfativa:
Como se substâncias químicas da comida fossem tão
amplificadas pelo processador gustativo e o seu cheiro fosse tão amplificado
pelo processador olfativo, que qualquer pequena quantidade de sal, açúcar ou
tempero fosse sentido como excesso intolerável e, portanto, causando as tais
seletividades alimentares.
- Hipersensibilidade tátil:
Como se o toque, em algumas partes do corpo, fosse tão
amplificado pelos processadores táteis, que provocariam incômodo e, por isso,
eles não gostarem de abraços etc.
- Elevadíssima capacidade intelectual em alguma das
inteligências:
Como se o número excessivo de redes neurais em alguma das
inteligências, aumentasse a sua capacidade de raciocínio, tornando-o um
verdadeiro gênio na matemática, na física, na linguística, ou nos diferentes
tipos de memória.
Então podemos, sim, usar o exemplo autista, para tentar inferir
como seria, se algum de nós conseguisse ampliar o número de neurônios e formar uma
quantidade maior de sinapses.
A parte positiva seria o aumento da capacidade de
raciocínio.
A parte negativa poderia ser a hipersensibilidade.
Mas isso é apenas uma parte dos nossos estudos que, por
acaso, estarão no meu próximo livro: “A
Construção da Inteligência”.
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Quarta pergunta:
Podemos aumentar a nossa capacidade intelectual ou tem
limite?
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Podemos sim, mas com algum cuidado, já que tudo, em excesso,
acaba revertendo e fazendo mal.
Como vimos anteriormente, o desenvolvimento das redes
neurais é feito sob demanda.
Isso poderia ser entendido como se bastasse estudar muito ou
se dedicar muito a pesquisas e raciocínios, para aumentar a capacidade
intelectual.
Mas existe, em nosso cérebro, o fator estresse, que provoca
reações orgânicas negativas, como por exemplo a sobrecarga de neurônios e nas
próprias redes neurais.
Assim como algumas drogas que, por si só, provocam excitação
em áreas neurais, o excesso de atividade intelectual sem planejamento pode
provocar, também, essas sobrecargas e causar danos neurais.
Aumentar a capacidade intelectual, então, precisa apenas de
planejamento e método.
Devemos evitar excesso de dedicação seguida a um só tema, ou
planejar intervalos regulares, com atividades lúdicas ou, pelo menos,
diferentes.
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E a nossa memória? Ela tem um limite?
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A capacidade de memória de nossas redes neurais já era
considerada muito grande, mesmo depois da poda neural, usando apenas 100
trilhões de sinapses.
Em alguns autistas, como não houve a poda neural, essa
capacidade pode estar bem aumentada em algumas áreas da inteligência, como já
comentamos antes.
Mas houve uma descoberta esse ano, em Lausanne, na Suíça, de
que o funcionamento dessas nossas redes acontece em até 11 dimensões, o que
elevaria essa capacidade para algo que não temos como mensurar ainda.
E, além disso, temos os estudos de Roger Tsien, um dos
vencedores do Prêmio Nobel, que descobriu que cada grama do nosso DNA tem a
capacidade de armazenar mil terabytes de memória.
Se essa memória é usada pela nossa mente nós ainda não
sabemos, mas isso tudo pode significar que nossa memória geral pode ser
ilimitada.
Pois é, amigos:
As perguntas de João Vitor de Wagner-Bahia, e de Mateus,
Alessandra e Edvaldo, do Rio Grande do Sul, me levaram a antecipar algumas das
informações que estão no meu próximo livro “Construção da Inteligência”.
Espero poder enviar para a editora ainda em dezembro.
Qualquer dúvida que tenha ficado, mandem para nossos
endereços eletrônicos.
Forte abraço!
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Ref.
Columbia University Medical Center. Children with
Autism Have Extra Synapses in Brain. Newsroom CUMC. Disponível em http://newsroom.cumc.columbia.edu/blog/2014/08/21/children-autism-extra-synapses-brain/
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