A competição entre o ser humano e a inteligência artificial
(Comentário comparativo entre ideias de Jerry Hultin, da
Academia de Ciências de Nova York; Hugo de Garis – cientista chefe da
Starlab-Bélgica; Steven Spielberg, em seu filme IA – Inteligência Artificial; e
mais Isaac Azimov, escritor; Stuart Armstrong, do Instituto Futuro da
Humanidade, da Universidade de Oxford; e nossas próprias observações)
Num dos últimos encontros do ano na Academia de Ciências de
Nova York, Jerry Hultin apresentou uma análise preocupante, sobre a competição
entre o ser humano e a inteligência artificial.
Essa análise me lembrou da obra “Artilect War”, escrita por Hugo
de Garis, cientista chefe da Starlab, na Bélgica, que eu tive acesso no ano
2000.
De Garis alertava o mundo para o perigo do desenvolvimento,
sem controle, da inteligência artificial.
Naquela época muitas pessoas ainda achavam que as 3 leis de robótica,
muito bem-criadas por Isaac Azimov, seriam sempre respeitadas pelos robôs, mesmo
sem terem perguntado isso a eles...
De Garis alertava que essa falta de controle poderia
desenvolver inteligências criativas, ao ponto de os robôs assumirem sua própria
criação e destruir a humanidade.
Para quem não lembra, essas três leis deveriam ser seguidas
à risca e rigorosamente na ordem, pelos robôs:
1) um robô não pode ferir um humano ou permitir que um
humano sofra algum mal;
2) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos
casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; e
3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que
não entre em conflito com as leis anteriores.
Mas o mundo está claramente caminhando para competitividade
econômica, fazendo com que a ética esteja descartada, quando o objetivo
principal é o lucro.
De Garis descreveu como estava, naquela época, o
desenvolvimento antiético, com fins puramente lucrativos, de sistemas
inteligentes que, por terem que ser, a cada dia, mais competitivos com os
concorrentes, acabariam por fazer seus criadores perderem o controle e assim
iniciaria a famosa “Artilect War”, ou seja, a guerra entre o homem e o robô, que
é o título de seu livro, onde o vencedor é, naturalmente, o robô.
De repente, como se fosse uma reação às suas conferências, Steven
Spielberg lançou seu filme IA – Inteligência Artificial, baseado num projeto de
Stanley Kubrick, sobre a criação de robôs com sentimentos.
Esse projeto, por sua vez, foi baseado num conto de Brian
Aldiss: “Supertoys last all summer long” – “Os superbrinquedos duram por todo o
verão”, o que na realidade significaria: Os superbrinquedos vivem para sempre.
No filme Spielberg tenta defender as fábricas de
inteligência artificial contra um possível controle ético exigido pela
população, a partir da leitura da obra de De Garis, de uma forma bastante
sutil.
Ele nos apresenta a beleza de um menino robozinho, super
sentimental e lindo, que poderia ser adotado pelos casais como filhos, sem as
despesas e dificuldades educacionais de uma criança normal.
No enredo, os espectadores são levados a se apaixonar pelo menino
robozinho, pela sua beleza e pela sua doçura.
Quando, entretanto, tem início a parte de destruição dos
robôs que começaram a tomar decisões contra os humanos, Spielberg apresenta
essa “caça aos robôs”, como uma verdadeira “carnificina sem carne envolvida”.
Mas faz com que os espectadores se voltem contra os perseguidores
dos robôs, ou seja, ele não deixa de mostrar que houve necessidade de parar com
a liberdade tecnológica do robô, mas mostra o ser humano como o grande vilão!
A maioria dos espectadores passa a defender os robôs, sem
perceber que estão se aliando à indústria antiética da inteligência artificial
e contribuindo para a eliminação da humanidade!
Só no final do filme é que é mostrado, por Spielberg, que a
criação de robôs inteligentes acabou por destruir toda a humanidade, mas isso é
só bem no final, quando muita gente já está tão envolvida com os sentimentos
dos robôs, que nem percebe o mal que estão aceitando.
Já em seu artigo na Academia de Ciências de Nova York, Jerry
Hultin chama de “Revolução da Inteligência” essa época que estamos vivendo e analisa
que ela trará muito mais benefícios e danos que as outras três revoluções
industriais que o mundo já teve.
E, mais que isso, essa revolução nos traz uma nova questão
fundamental, e que tem sido discutida bastante em nossos encontros, que é: “O
que significa ser um humano?”
O enfoque de Hultin é mais para a automação e a eliminação
de empregos, do que sobre o perigo da capacidade de decisões a serem tomadas
pelas máquinas.
Mas minha preocupação, nessa nossa conversa, está mais para
essa parte da capacidade de decidir, a ser absorvida pela IA, que coincide com
a preocupação de Hugo de Garis em seu Artilect War.
Eu lembro que já comentei com vocês, também, sobre outro
aspecto importante, que é o projeto da “Singularidade”, que tem tudo a ver com
o que estamos conversando.
Singularidade, nesse caso, significa a integração
homem-máquina substituindo partes humanas por partes cibernéticas, para
melhorar nosso desempenho.
Uma das polêmicas em torno disso é a possível imortalidade
cibernética, substituindo partes deterioradas do corpo humano por partes
cibernéticas e prolongando a vida para sempre.
Muita gente me disse que eu estaria imaginando coisas
impossíveis, mas vamos analisar?
Em 2012 aconteceu a “Cúpula da Singularidade”, quando Stuart
Armstrong, do Instituto Futuro da Humanidade, na Universidade de Oxford, apresentou
suas previsões de que a “Era Humana Pura” deve terminar por volta de 2040. Não
fui eu quem disse! Foi ele!
Ele estava se baseando no ensaio publicado em 1993, por Vernor
Vinge, quando ele prevê o fim da era humana, a partir da evolução da
singularidade.
Os estudiosos e defensores da singularidade dizem que é
irreversível a integração homem-máquina, criando um “agente inteligente atualizável
com capacidade de autoaperfeiçoamento”, da mesma forma que fazemos com nossos
computadores e celulares.
Isso gerará indivíduos dotados de uma superinteligência
poderosa, muito superior à inteligência humana pura.
Então, amigos, como conclusão de tudo isso:
EVOLUÇÃO NECESSÁRIA:
Eu vejo que a evolução científica e tecnológica é
imprescindível para o enfrentamento dos grandes desafios que poderão surgir a
cada momento, tanto em relação às doenças e epidemias, quanto a diversos outros
tipos de perigos de toda ordem.
ARTILECT WAR
Vejo, entretanto, que a inteligência artificial sem controle
ético pode, realmente, servir para criar máquinas, com pensamento independente
que, conforme a ficção nos mostra, pode ser a destruição da humanidade. A
guerra entre o homem e a máquina.
SINGULARIDADE
Mas vejo um outro perigo, não sei se maior ou menor, que é o
aumento de nosso desempenho humano por meio do processo da singularidade,
tornando-nos verdadeiros meio-homem, meio-ciborgue.
Isso também pode se constituir um caminho irreversível de
destruição, senão da espécie humana, mas pelo menos da nossa essência emocional
humana.
SOLUÇÃO:
Qual a solução para essas polêmicas? Não sabemos, mas temos
que buscá-las!
Na Academia de Ciências de Nova York todos nós fomos
chamados a discutir o assunto, devido à preocupação de Ellis Rubinstein, nossa presidente,
com assunto tão polêmico e decisivo para o futuro da própria humanidade ou,
pelo menos, das atuais características que conhecemos do ser humano.
Precisamos, então, da participação de todos, comentando e
mandando suas sugestões, seus questionamentos e suas ideias para que, por meio
da Academia, possamos sugerir controles específicos e evitar problemas
irreversíveis para todos nós.
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