segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Velhos burros ou jovens arrogantes



Velhos burros ou jovens arrogantes?

Me chamou a atenção uma pergunta de uma jovem jornalista a um grupo de filósofos sobre a seguinte questão:

“Como posso perdoar meu pai, já idoso, por ele ter opinião política oposta à minha?”

Lembrei que esse fato tem sido constante, nos últimos tempos, em encontros familiares, quando os mais jovens se acham tão bem estruturados em seus conhecimentos de vida e de mundo, que não admitem uma opinião contrária à sua.

É comum eles contestarem todas as opiniões contrárias às suas, e mais ainda as dos mais velhos, muitas vezes sem sequer tentarem entender as razões de seu raciocínio, como se os anos de vivência tivessem bloqueado suas mentes, emburrecendo-os definitivamente.

Já tive a oportunidade de receber, em um comentário em um dos vídeos, aqui mesmo em meu canal, de um jovem psicólogo recém-formado, uma mensagem assim: “Seu velho! Vá estudar! O mundo mudou! Deixa de ser retrógrado!”

Bem...

Esse tipo de sentimento, tentando demonstrar superioridade intelectual, sempre existiu, principalmente em pessoas recém-formadas nos mais diversos cursos superiores, mas parece ter aumentado muito nos últimos anos.

Lembro que, há uns vinte ou trinta anos, em reuniões que promovíamos, em nosso antigo instituto de filosofia e teologia no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, ficávamos, todos, sedentos para ouvir nossos antigos mestres, já idosos, alguns deles até com dificuldade para falar.

Tentávamos extrair o máximo possível de seu conhecimento, que esvaia de cada uma de suas palavras.

Suas opiniões eram analisadas e refletidas por todos nós, com um respeito total pelo conhecimento adquirido por eles, exatamente porque as suas premissas eram muito mais ricas que as nossas, provenientes de anos e anos de vivência e observação de mundo.

Aprendíamos todos a cada encontro e enriquecíamos nosso cabedal de conhecimento, incorporando vivências que estavam sendo doadas para nós pelas frases elaboradas por aqueles que chamávamos de sábios, simplesmente por terem muito mais vivência que nós.

Hoje parece que houve uma inversão na inteligência! Os certificados de conclusão de cursos, os diplomas e os títulos estão servindo como um pedestal de autoridade máxima no assunto, como se aquela formação tenha garantido o domínio de todas as fronteiras do conhecimento, tornando esses jovens formados, os verdadeiros sábios, donos de toda a verdade universal.

Se foi uma inversão real na formação da inteligência humana, tenho uma solução a propor:

A solução ideal, a ser dada por mim, para esses jovens contestadores do “saber pela vivência”, seria a de eles não envelhecerem, para evitar que a sua própria vivência, que será natural que ocorra a cada dia, a mais, que estiverem nessa vida, lhes tragam o mesmo emburrecimento de seus pais, avós e antigos mestres, o que seria terrivelmente deprimente para mentes tão inteligentes.

Assim evitarão que, um dia, seus filhos sejam obrigados a também quererem lhes perdoar, pelas suas opiniões contrárias às deles, demonstrando que, com o tempo de vivência, estabeleceu-se uma burrice coletiva em todos eles, já, então, idosos como os de hoje.

Mas se é apenas uma formação de mentalidade totalmente equivocada, precisamos encontrar as causas e consertar na origem.

De quem será a culpa? Do sistema educacional no seu nível superior? Na sociedade como um todo? Das famílias na educação doméstica? Da falha no ensino da humildade em todos esses setores, como valor humano imprescindível?

Acredito que falta exatamente o valor humildade!

Falta o ensino daquilo que eu aprendi com o nome de “escuta ativa”, que significa escutar, de verdade, todo o sentido e todos os conceitos das frases que nosso interlocutor está nos dizendo, sem interrompê-lo por pensarmos de forma diferente ou contrária.

E isso precisa ser ensinado em todos os estágios da educação, principalmente nas academias superiores.

E fiquei muito satisfeito quando Chenelle Bonavito Martinez, um dos cientistas da Academia de Ciências de Nova York, fez questão de enfatizar, em sua fala, sobre o verdadeiro cientista que precisamos ter hoje, que é o cientista empreendedor: aquele que sabe que seu conhecimento só será útil quando ele se associar ao conhecimento dos outros; quando se permitir questionar suas próprias conclusões; quando desenvolver a capacidade de observar os fenômenos à sua volta e, principalmente os comportamentais; quando ele se permitir experimentar as ideias dos colegas e; quando se convencer de que devemos, todos, nos  estabelecer em redes de conhecimento, para que possamos, realmente, ser úteis a nós mesmos, à nossa família e à nossa sociedade.

Assino cada palavra de Martinez, nosso colega na Academia de Ciências de Nova York, e espero que possamos compartilhar essas máximas com todos os nossos colegas, com todos os nossos amigos e com nossos filhos e alunos.

Antes de terminar lembro a todos para se inscreverem em nosso canal e ativem o sininho da comunicação.

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Precisamos de mais gente conosco, na transformação social pela educação.

Recebam todos um forte abraço

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