Velhos burros ou jovens arrogantes?
Me chamou a atenção uma pergunta de uma jovem jornalista a
um grupo de filósofos sobre a seguinte questão:
“Como posso perdoar meu pai, já idoso, por ele ter opinião
política oposta à minha?”
Lembrei que esse fato tem sido constante, nos últimos
tempos, em encontros familiares, quando os mais jovens se acham tão bem
estruturados em seus conhecimentos de vida e de mundo, que não admitem uma
opinião contrária à sua.
É comum eles contestarem todas as opiniões contrárias às
suas, e mais ainda as dos mais velhos, muitas vezes sem sequer tentarem
entender as razões de seu raciocínio, como se os anos de vivência tivessem
bloqueado suas mentes, emburrecendo-os definitivamente.
Já tive a oportunidade de receber, em um comentário em um
dos vídeos, aqui mesmo em meu canal, de um jovem psicólogo recém-formado, uma
mensagem assim: “Seu velho! Vá estudar! O mundo mudou! Deixa de ser
retrógrado!”
Bem...
Esse tipo de sentimento, tentando demonstrar superioridade
intelectual, sempre existiu, principalmente em pessoas recém-formadas nos mais
diversos cursos superiores, mas parece ter aumentado muito nos últimos anos.
Lembro que, há uns vinte ou trinta anos, em reuniões que
promovíamos, em nosso antigo instituto de filosofia e teologia no bairro do Rio
Vermelho, em Salvador, ficávamos, todos, sedentos para ouvir nossos antigos
mestres, já idosos, alguns deles até com dificuldade para falar.
Tentávamos extrair o máximo possível de seu conhecimento,
que esvaia de cada uma de suas palavras.
Suas opiniões eram analisadas e refletidas por todos nós,
com um respeito total pelo conhecimento adquirido por eles, exatamente porque
as suas premissas eram muito mais ricas que as nossas, provenientes de anos e
anos de vivência e observação de mundo.
Aprendíamos todos a cada encontro e enriquecíamos nosso
cabedal de conhecimento, incorporando vivências que estavam sendo doadas para
nós pelas frases elaboradas por aqueles que chamávamos de sábios, simplesmente
por terem muito mais vivência que nós.
Hoje parece que houve uma inversão na inteligência! Os
certificados de conclusão de cursos, os diplomas e os títulos estão servindo
como um pedestal de autoridade máxima no assunto, como se aquela formação tenha
garantido o domínio de todas as fronteiras do conhecimento, tornando esses
jovens formados, os verdadeiros sábios, donos de toda a verdade universal.
Se foi uma inversão real na formação da inteligência humana,
tenho uma solução a propor:
A solução ideal, a ser dada por mim, para esses jovens
contestadores do “saber pela vivência”, seria a de eles não envelhecerem, para
evitar que a sua própria vivência, que será natural que ocorra a cada dia, a
mais, que estiverem nessa vida, lhes tragam o mesmo emburrecimento de seus pais,
avós e antigos mestres, o que seria terrivelmente deprimente para mentes tão
inteligentes.
Assim evitarão que, um dia, seus filhos sejam obrigados a
também quererem lhes perdoar, pelas suas opiniões contrárias às deles, demonstrando
que, com o tempo de vivência, estabeleceu-se uma burrice coletiva em todos
eles, já, então, idosos como os de hoje.
Mas se é apenas uma formação de mentalidade totalmente
equivocada, precisamos encontrar as causas e consertar na origem.
De quem será a culpa? Do sistema educacional no seu nível
superior? Na sociedade como um todo? Das famílias na educação doméstica? Da
falha no ensino da humildade em todos esses setores, como valor humano
imprescindível?
Acredito que falta exatamente o valor humildade!
Falta o ensino daquilo que eu aprendi com o nome de “escuta
ativa”, que significa escutar, de verdade, todo o sentido e todos os conceitos
das frases que nosso interlocutor está nos dizendo, sem interrompê-lo por
pensarmos de forma diferente ou contrária.
E isso precisa ser ensinado em todos os estágios da
educação, principalmente nas academias superiores.
E fiquei muito satisfeito quando Chenelle Bonavito Martinez,
um dos cientistas da Academia de Ciências de Nova York, fez questão de
enfatizar, em sua fala, sobre o verdadeiro cientista que precisamos ter hoje,
que é o cientista empreendedor: aquele que sabe que seu conhecimento só será
útil quando ele se associar ao conhecimento dos outros; quando se permitir
questionar suas próprias conclusões; quando desenvolver a capacidade de
observar os fenômenos à sua volta e, principalmente os comportamentais; quando
ele se permitir experimentar as ideias dos colegas e; quando se convencer de
que devemos, todos, nos estabelecer em
redes de conhecimento, para que possamos, realmente, ser úteis a nós mesmos, à
nossa família e à nossa sociedade.
Assino cada palavra de Martinez, nosso colega na Academia de
Ciências de Nova York, e espero que possamos compartilhar essas máximas com
todos os nossos colegas, com todos os nossos amigos e com nossos filhos e
alunos.
Antes de terminar lembro a todos para se inscreverem em
nosso canal e ativem o sininho da comunicação.
Deem seu like e compartilhem com seus amigos e com seus
grupos nas redes sociais.
Precisamos de mais gente conosco, na transformação social
pela educação.
Recebam todos um forte abraço
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