Ensaio – 09/01/2020 – Como saber
se estou acertando na medida entre Afetividade e Limites na Educação?
Na primeira edição do meu livro “Afetividade na
Educação” eu começo fazendo um paralelo entre afeto e lógica, entendendo lógica
como o exercício dos limites.
Nesse paralelo vemos que: o lucro rápido; o tirar
proveito; o ter mais; parecem ter substituído os valores emocionais, os valores
humanos e as virtudes, pelos valores do consumismo.
Recomendei, na época, e continuo recomendando até
hoje, que todos assistam ao filme “Escritores da Liberdade[i]”,
um filme com ensinamentos fantásticos, não só para docentes, mas para todo
mundo!
A professora Erin Gruwell, protagonista da história,
consegue conquistar a turma e garantir o sucesso de todos os alunos de uma das
mais complicadas turmas de uma escola pública da periferia, com inteligência,
criatividade e, principalmente, muito afeto!
O único ponto negativo em sua vida, nesse período,
foi o abandono de sua vida pessoal, mas acredito que ela não estava preparada
para esse enfrentamento e, ao mergulhar na busca de soluções, acabou perdendo
seu casamento.
Nesse filme vemos, também o exemplo negativo de um
sistema de ensino e de um professor exclusivamente lógico, sem qualquer
capacidade de gostar de seus alunos.
E, ao contrário da personagem principal do filme,
que consegue tratar todos os seus alunos com limites e afetividade, esse
considera cada aluno como se fosse apenas um número, em um conjunto de outros
números.
Infelizmente sabemos que há professores assim,
espalhados por todas as escolas. São os que eu chamo de “sabotadores’,
plagiando Pichon Rivière em sua “Teoria dos Grupos Operativos”.
Mas temos que aprender a conviver com esses
sabotadores, já que eles estão espalhados por todos os lugares e em todas as
profissões!
A primeira pergunta que eu faço para esse tipo de
profissional de educação, é: “Por que quis ser professor?”
E eu repito a mesma pergunta para cada docente
revoltado que eu encontro.
As respostas variam muito, mas se analisarmos com
cuidado, veremos que todos demonstram uma incapacidade total de “se resolver”
como pessoa, alimentando uma revolta interna contra si mesmo ou contra a vida
e, portanto, jamais “se resolverá” na relação professor alunos.
Visitei cidades em que cheguei a suspeitar de
“contaminação”, ao conversar com o Secretário de Saúde e receber a informação
de que há um elevadíssimo índice de “Professores Rivotril”!
Será falta de preparação, durante a Faculdade, para a
realidade de uma sala de aula, ou será falta de preparo para o entendimento da
própria vida, erro proveniente da educação doméstica equivocada?
As duas opções estão corretas!
A realidade da sala de aula espanta muitos, ao ponto
de se arrependerem da escolha, mas não procuram ajuda de profissionais bem
resolvidos, ou não os acham, ou não conseguem a coragem para procurar outra
profissão.
Com isso se mantém no emprego como um verdadeiro
escravo, em sacrifícios diários, o que explica o uso de medicamentos
controlados.
A falta de preparo para a vida torna as pessoas
carentes sem sequer saber a razão, o que as desestrutura emocionalmente e as
impede de criar uma relação afetiva com seus alunos.
Precisamos estimular nossos docentes a “se
resolverem” na sua vida pessoal, para conseguirem estabelecer o equilíbrio
emocional necessário ao desempenho dessa relação em sala de aula.
Um acompanhamento psicológico é extremamente
importante para esses casos. Aliás, a terapia psicológica faz bem a todo mundo!
Voltando ao equilíbrio entre afeto e limites na
educação, educar é construir a capacidade de entendimento de mundo, na criança,
ou até de adultos, observando o limite entre construir a sua capacidade ou
interferir nas suas conclusões pessoais.
Esse é um dos grandes desafios, quando o correto
emprego do afeto, com limites, ajuda bastante.
Todo educador deve treinar essa relação entre o
exercício do afeto e a imposição dos limites, tanto em casa, com seus filhos,
como em sala de aula, com seus alunos.
O excesso de limites, tanto na família, como na
escola, pode levar a criança a dois extremos:
Entender o mundo exatamente da mesma forma como seu
educador entende, considerando-se incapaz de raciocinar de forma diferente e,
muito menos, de chegar a alguma concussão contrária.
Adeus criatividade! Adeus autonomia!
Se revoltar e construir um entendimento de mundo
exatamente em oposição ao passado pelo seu educador.
No primeiro caso ele passa a ser um simples
repetidor dos conceitos de seu educador.
No segundo caso ele será um revoltado para com a
própria vida e poderá assumir rumos inadequados rumo à infelicidade.
Já o limite na medida certa juntamente com o afeto, permite
a construção da capacidade criativa, inventiva e descobridora, formando mentes
autônomas.
Acertar na dosagem pode ser fácil para uns, mas
difícil para outros. O importante é ter em mente alguns princípios:
Alimentar o amor ao filho e criar o amor pelo seu
aluno, como se ele fosse seu próprio filho. Isso é fundamental, principalmente
para alunos com características especiais.
Se conscientizar de que o exercício dos limites é um
ato de amor, porque demonstra a preocupação com a segurança do filho ou com a
sua preparação para a autonomia futura.
Basta respeitar rigorosamente esses dois aspectos,
para que tenhamos um equilíbrio quase perfeito entre essas duas medidas básicas
na educação dos jovens.
Saberemos, como pais ou educadores, que estamos no
caminho errado, quando percebermos que:
- Nossos educandos, ao responder a alguma pergunta
repetem rigorosamente as nossas respostas (ou seja: não raciocinam)
- Nossos educandos assumem opiniões contrárias às
nossas sem qualquer fundamento (apenas para contrariar)
- Nossos educandos resistem a conversas conosco.
Saberemos que estamos acertando, quando:
- Nossos educandos usam nossas respostas apenas como
base para criar a sua (e essa pode ser diferente ou até contrária à nossa);
- Nossos educandos querem analisar conosco suas
próprias conclusões, principalmente quando diferem das nossas.
E a todo momento devemos avaliar nossa conduta, como
educador, já que depende desse nosso acerto, a formação de uma sociedade melhor
do que a que hoje vivenciamos.
[i]
Escritores da Liberdade (filme em DVD): baseado em história real ocorrida em
uma escola pública norte-americana, o filme mostra as estratégias desenvolvidas
pela professora para conseguir a transformação social de seus alunos, mesmo sem
qualquer apoio nem dos dirigentes da escola nem de seus colegas de trabalho.
Sua vitória espetacular na sala de aula contrasta com o seu fracasso no
relacionamento conjugal, mostrando mais uma realidade muito comum no universo
dos professores mais dedicados, que é o abandono de sua vida pessoal em
detrimento da vida profissional.
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